sexta-feira, 1 de março de 2013

TEXTOS DE APOIO 9º ANO ( 8ª série )


1º BIMESTRE

1. Relações entre espaço geográfico e globalização

A principal forma de expressão da chamada globalização é o aumento das relações na escala global.

Globalização: escalas e tecnologias
O que é a globalização? Quais as implicações desse processo em nosso cotidiano? Há vantagens? Quais? Há problemas? Quais?
O texto de Ralph Linton, na página 3 do caderno do aluno, permite uma reflexão sobre o significado das relações que se desenvolvem na escala mundial. Refere-se a uma longa história de trocas culturais entre diversos grupos sociais e nações. Considerando que as trocas atuais são muito mais volumosas e aceleradas, até onde terão chegado as influências entre os povos? Isso não dará condições para perceber-se que, na atualidade, a escala mundial está bem mais plena de relações? Será que estamos nos transformando em “cidadãos do mundo”, bem mais do que apenas cidadãos nacionais?
O espaço geográfico é uma construção humana sobre uma superfície natural transformada, composta por edificações e obras diversas, dispostas para possibilitar a constante interação dos homens entre si e entre os bens que eles produzem e os bens naturais. Por tudo isso, o espaço geográfico é parte integrante da sociedade.
Tendo esse entendimento de espaço geográfico em mente, podemos retornar à análise do processo de globalização. Teria a globalização uma dimensão espacial clara na sua constituição? O espaço geográfico transformou-se para que a globalização, que corresponde ao aumento extraordinário das relações na escala mundial, pudesse acontecer.
O que percebem da globalização, com situações observadas em seu cotidiano?
Como o lugar se insere no mundo?
Em um primeiro momento, ficará mais fácil entender como a escala global se insere no lugar, na escala local. Identificar o global no local é algo que observamos diariamente: as influências de outros países, de outras culturas no nosso dia a dia é um exemplo de algo global que se insere no local. A escala global passa pelo seu lugar, e seu lugar está nesse mundo que está se construindo.
Na medida em que o global vai se inserindo no lugar e transformando-o, o lugar também vai transformando o mundo. Entretanto, vários fatores condicionam as possibilidades concretas de inserção do lugar no mundo. Como isso acontece?
Pode-se trabalhar com os três grandes níveis de escala: local, regional (nacional) e global. Os dois últimos níveis (o nacional e o global) agem sobre o primeiro (o local), mas não podem substituí-lo. O local, por mais influências alheias absorva, sempre tem sua particularidade.
A globalização é o encurtamento das distâncias em razão dos avanços tecnológicos, é a homogeneização dos lugares a partir da uniformização dos processos produtivos, do consumo, dos hábitos, a expansão das corporações para regiões fora de seus países de origem.
Qual é o “motor” da globalização? A globalização é um processo que já vem ocorrendo há muito tempo?
As grandes navegações e o processo de colonização de novos espaços pelos europeus ocorreram no chamado Período Técnico. Esse longo período foi pródigo em avanços: a bússola, os portulanos, a imprensa, e posteriormente a máquina a vapor e o telégrafo são alguns exemplos do que a humanidade incorporou nesse período.
Esses aparatos técnicos possibilitaram, a certos países, atuar numa escala global: acelerar os contatos e as trocas, ter acesso a novos bens e outras culturas, expandir sua força econômica, construindo um regime capitalista. Mas não era, nesse momento, globalização.
A globalização, no presente, tem outra força e outra qualidade. Antes de tudo, ela é fruto de uma revolução tecnológica nas comunicações e na eletrônica, que encurtou distâncias e criou novas formas de comunicação e organização. Tais alterações também podem ser consideradas como responsáveis pelas grandes mudanças no cenário geopolítico do século XX, alimentando novas formas de organização econômica ao aproximar mercados e reorientá-los em blocos comerciais (Nafta, MERCOSUL, etc).
Essa reorganização é diferente daquele manifestada durante o período da “Guerra Fria”, quando o mundo era polarizado por forças hegemônicas lideradas pelos Estados Unidos da América (EUA) e pela extinta União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS), que utilizaram seus sistemas econômicos – capitalismo e socialismo – como forças de pressão internacional.
Contemporaneamente, os progressos técnicos estão intimamente ligados à aceleração do tempo, característica-chave do processo de globalização. Essa aceleração muda nossas relações com a distância geográfica, agora mais facilmente transposta. Trata-se da compressão do tempo-espaço: o encolhimento do mapa do mundo, graças a inovações nos transportes que encolhem o espaço por meio do tempo.
A figura “O encolhimento do mapa do mundo”, na página 7 do caderno do aluno, demonstra a metáfora do “encolhimento” ou da nova relação das sociedades com a distância, relacionada ao desenvolvimento dos meios de transporte. Pode-se afirmar, portanto, que o mundo ficou menor para o ser humano. As pessoas, os remédios, as mercadorias chegam muito mais rapidamente a seus destinos.
O que permite compreender o processo de globalização é a incorporação de novas tecnologias no espaço, ou seja, o advento da revolução tecnológica, ainda em andamento e responsável, também, pela integração de economias e mercados. No entanto, é possível perceber que se trata de um fenômeno que vai muito além da integração econômica e de mercados, que por si só já é um evento de grande complexidade.
As empresas multinacionais transformaram-se em transnacionais e atualmente são empresas globais. Os mercados não são mais apenas locais, mas planetários. Temos a universalização do sistema produtivo, do sistema financeiro e das formas de comunicação. Mas essa universalização não engloba todos os segmentos de uma sociedade: por exemplo, uma universalização da política. Não é possível afirmar a existência de um espaço global. O que na verdade existe é um conjunto de espaços nacionais e algumas redes que atuam na escala global. Será que todos os lugares e povos são atingidos pela globalização com a mesma intensidade? A resposta é não!
Alguns exemplos de comunidades que não são favorecidas são as comunidades indígenas, as comunidades quilombolas (grupos humanos remanescentes dos antigos quilombos – povoados de escravos fugidos à época da escravidão no Brasil), as comunidades camponesas, praticantes ainda da agricultura de subsistência, pescadores ou caiçaras.
Por isso, por mais contraditória que seja a expressão, a globalização não é universal. Mas podemos afirmar que a globalização já implica num maior interdependência dos países entre si e das pessoas de certa maneira, numa articulação instantânea entre os diferentes lugares do mundo (conexão on-line), numa certa tendência à uniformização de padrões culturais.
Pode-se dizer que, a multiplicação dos espaços de lucro (domínio de mercados, locais de investimento e fontes de matérias-primas) foi uma força que conduziu o mundo à globalização. Entretanto, até este momento, há limitações para a amplificação do fenômeno: o progresso técnico atinge poucos países e regiões e, ainda assim, de forma circunscrita (limitada, restrita, com limites determinados) e com efeitos que não vão se generalizar.
Está em construção uma nova cartografia do mundo, com as redefinições no espaço geográfico.

2. Diferenças regionais na era da globalização

            Vamos aprofundar o conceito de globalização, identificando seus efeitos na economia e no cotidiano dos indivíduos, a produção das diversidades e desigualdades regionais, apesar da maior tendência de homogeneização (igualar, já que todos têm acesso a tudo) desencadeada por esse processo. Vamos identificar a existência de divisões de trabalho, tanto no processo produtivo – divisão social do trabalho – como entre atividades econômicas, que se territorializam – a divisão territorial do trabalho (cada região pode desenvolver determinado tipo de trabalho).
           
Globalização: regionalização e identidades locais
Como há uma crescente interligação econômica no plano da escala mundial, podemos aprofundar esse entendimento com os exercícios do caderno do aluno.

3. As possibilidades de regionalização do mundo contemporâneo

O mundo contemporâneo, por conta da globalização, permite diversas interpretações e classificações das regionalizações na escala mundial. Vamos comparar as diferentes propostas de regionalização e de onde vêm estas idéias.

Os modos de ver a ordem mundial
A leitura e a interpretação de diversos mapas é uma das habilidades mais importantes da Geografia. Sua aprendizagem possibilita aplicá-la sistematicamente em todos os conteúdos da Geografia, além de contribuir para a solidificação do aprendido. A car­tografia expressa, graficamente, rela­ções espaciais entre fenômenos que tenham expressão geográfica. Envolve, necessariamente, comparação, diferenciação e classificação dos objetos, além da análise das relações entre eles. Os mapas e gráficos complementam as idéias expressas pelos conceitos, permitindo observar diversos aspec­tos da realidade sintetizados no mapa ou mes­mo no gráfico, tornando-nos aptos a compreender, interpretar e analisar a realidade que os cerca e o mundo em sua complexidade.
A divisão regional mais tradicional de todas e a primeira natural do mundo é a divisão por continen­tes: Améri­cas, Europa, Ásia, África e Oceania. Baseada em fatores naturais, apresenta a divisão entre terras emersas (continentais e ilhas), os oceanos e mares.
O mapa que fizemos no capítulo 1 (Relações entre espaço geográfico e globalização), apresentando o sentido dos fluxos de países e regiões mais dinâmicos economicamente (ou seja, onde as coisas que usamos são produzidas) é um exemplo de regionalização, a partir desses fluxos econômicos.
Quando pensamos nos países ou nas regiões mais desenvolvidos, com empresas mais poderosas lembramos dos Esta­dos Unidos, Canadá, Japão, Europa ou países da Europa Ocidental, ou ainda a Austrália. Temos uma visão que esses países e continentes são referências em tecnologia avançada, em riqueza da economia e das pessoas. O mundo contemporâ­neo é muito influenciado pelos países com econo­mia mais dinâmica, os países mais desenvolvidos (aqueles que regis­tram o maior número de empresas e marcas que consumimos). Essas relações entre os diferentes países e/ou continentes do mundo se estabeleceram através da tecnologia, em especial as de transporte e comunicações e até a proximidade pode ser um fator. Nossos hábitos, modos de vida, esporte, itens de consumo (vestuário, automóveis, eletrodomésticos), além dos produtos da indústria cultural e de entretenimento (principalmente música e cinema) têm uma grande influência dos Estados Unidos. Afinal, estamos inseridos na sociedade de consumo e os apelos publicitários são muito eficazes.

Principais processos de integração regional, 2007
Os processos de integração regional representados no mapa “Principais processos de integração regional, 2007”, na página 18 do caderno do aluno, são a expressão de uma nova ordem que é multipolar. Alguns blocos estão polarizando forças econômicas e políticas, interferindo inclusive na ordem geopolítica, que envolve a força militar dos países e blocos. O mundo contemporâneo é muito influenciado por países com economias mais dinâmicas.
O bloco americano (NAFTA – Acordo de Livre Comércio da América do Norte) tem o dólar como referência monetária e está sob a lide­rança dos Estados Unidos. Eles exercem incontestável influência regional, mas, acima de tudo, sua influência se dá na escala global.
O segundo bloco é o europeu (UE – União Européia), cuja referên­cia monetária é o euro, sob comando dos países que compõem a União Européia e com área de influência abrangendo o norte da África e par­te do Oriente Médio. Esse bloco também exer­ce poderosa influência na escala global.
Finalmente, temos o Bloco da Ásia ou do Pacífico (ASEAN). A referência monetária ainda é o iene (moeda japonesa) e a área de projeção econômica compreende o chamado Cinturão do Pacífico (China, Austrália e Nova Zelândia). Neste bloco, a influência dos Es­tados Unidos é, também, muito significativa.
Essa atual configuração encontrada já está mudan­do, o que demonstra a mudança constante das regionalizações. A China, por exemplo, com seu dinamismo econômico, destaca-se no blo­co do Pacífico, colocando em cheque a lide­rança do Japão na região.
Mas, não somente entre os blocos, o poder das influências se altera. Entre blocos e regiões, novos laços se estabelecem. O Brasil, por exemplo, tem procurado, estrategica­mente, incrementar o intercâmbio comercial com a China, fazendo acordos comerciais com esse país, e com isso diminuir sua de­pendência (e do restante da América do Sul) com os EUA. O Brasil já é o principal par­ceiro comercial da China na América Latina. Empresas brasileiras têm ampliado seus ne­gócios naquele país, exportando, por exem­plo, as turbinas geradoras para a hidrelétrica de Três Gargantas. A cooperação estende-se para o setor aeroespacial, com o desenvolvi­mento conjunto de satélites para meteorolo­gia e telecomunicações.
O mapa “A bipolaridade e a ordem westfaliana, 1950-1980” na página 20 do caderno do aluno, representa e exemplifica uma regionalização de acordo com os sistemas econômicos vigentes na maior parte do século XX, isto é, o grupo de países capitalistas (sob a liderança dos Estados Unidos) e o grupo de países socialistas (União das Repúblicas Socialistas Soviéticas).
Depois de um período de crescimento econômico, marcado por intensa industrializa­ção do país e posteriormente pela corrida es­pacial estabelecida entre EUA e URSS, a eco­nomia da URSS perdeu terreno para os países capitalistas desenvolvidos e, pela primeira vez, em 1985, o PIB do Japão supe­rou o soviético. Além disso, a URSS acumulou um atraso em relação ao desenvolvimento tecnológico em setores importantes, como o das telecomunicações e da informática (o chamado segmento das TICs – tecnologias de informação e comunicação), um dos fatores responsáveis pela desintegração do império soviético. Para enfrentar a crise econômica, a União Soviética passou a investir menos em armamentos am­pliar as aplicações na agricultura e na indús­tria de bens de consumo. Ao mesmo tempo, passou a desenvolver uma política de reaproximação com os Estados Unidos. Esta abertura estendeu-se aos países socia­listas que estavam sob a esfera de dominação da URSS, em especial no Leste Europeu. Dois acontecimentos marcam emblematicamente este período:
1. A queda do Muro de Berlim, em 1989 (sím­bolo do fim da Guerra Fria) e a reunifica­ção da Alemanha, dividida em capitalista e socialista, ao término da segunda Guer­ra Mundial. O Muro de Berlim dividia a cidade em duas partes - Berlim Oriental (socialista) e Ocidental, (capitalista);
2. A independência de várias das repúblicas que compunham a URSS. Em 1991, dez repúblicas das quinze anteriores que compunham a URSS fundaram a CEI - Comunidade de Estados Independentes: Armênia, Belarus, Casaquistão, Federação Russa, Moldávia, Quirguistão, Tadjiquistão, Turcomenistão, Ucrânia, Uzbequistão. Em 1993, mais duas repúblicas ingressaram na CEI: Geórgia e Azerbaijão. Ficaram de fora a Estônia, a Letônia e a Lituânia, que se incorporaram à União Européia. Assim a URSS deixou de existir, e pode-se dizer que a Guerra Fria chegou ao fim, rompendo o poder bipolar dividido entre EUA e URSS.
Começa um novo período, após a crise e a dissolução da URSS, uma NovaOrdem Mundial, com um mundo multipolarizado, como observamos no mapa “Principais processos de integração regional, 2007”, na página 18 do caderno do aluno, que representa um mundo dividido entre países desenvolvidos e subdesenvolvidos ou um mundo subordinado ao sistema capitalista, e com a hegemonia dos Estados Uni­dos e das grandes corporações internacionais. A contraposição desenvolvimento/subde­senvolvimento, em escala mundial, corresponde a um processo histórico, de interdependência entre países e marcado por relações comerciais (de troca) desiguais, que produzem estruturas econômicas, sociais e espaciais diferenciadas. Trata-se também de uma forma de dividir o mundo, resultante da posição ocupada pelas regiões no interior do sistema mundial e em cada momento histórico.
Para entendermos essa condição de desigualdade, o comércio mundial de mercadorias indica três pólos dominantes: América do Norte; União Européia e; Ásia e Oceania, enquanto o restante do planeta fica numa condição periférica, numa condição de maior fragilidade, formando um comércio tripolar, como observamos no mapa “Comércio mundial de mercadorias, 2006” na página 21, do caderno do aluno. A condição marginal na participação na troca mundial de mercadorias de certas áreas do planeta (América do Sul e Central, África e partes da Ásia) corresponde a uma indicação, entre outras possíveis, da condição de subdesenvolvimento (ou de atraso econômico) de alguns países, o que corresponde a uma possível visão de uma divisão do mundo entre países desenvolvidos e subdesenvolvidos. Essa condição, à margem dos grandes fluxos comerciais do mundo, não significa que os países da “periferia” não se relacionam com os dos “centros”. Eles se relacionam, mas são relações marcadas por várias desigualdades e desvantagens no valor econômico das transações e no poder de decisões. Os quadros “O que os países periféricos recebem dos países centrais” apresentam as relações entre o “centro” e a “periferia”, na página 23 do caderno do aluno, e esquematizam as relações que estão se transformando, mas que foram marcadas ao longo das últimas décadas pelas características apresentadas. Ainda é possível enxergar nesse mundo, agora multipolar, um centro e uma periferia, com a existência de desigualdades.

4. Os principais blocos econômicos supranacionais
           
            Vamos comparar os blocos econômicos supranacionais, para compreender as conseqüências de seu funcionamento na escala regional e mundial, os impactos sobre os países membros, as estratégias de agrupamento como parte do processo de integração econômica na escala mundial e a concorrência entre empresas e nações. Os blocos econômicos são uma possibilidade para a afirmação econômica e política dos países envolvidos.

A formação dos blocos supranacionais
            Quais os motivos que levaram esses países a se unir e não agir solitariamente no mercado internacional? Vamos estudar a respeito da área de abrangência dos diversos blocos econômicos supranacionais, a compreensão dos impactos territoriais e as conseqüências para os países membros e para os demais.
Ao interpretarem esses blocos, vocês irão aprender que essas localizações não são dados meramente pontuais, mas que têm, de fato, um significado estratégico e político.
Um bloco econômico é uma associação de países com vistas a defender interesses comuns na área do comércio ou mesmo de outros envolvimentos de caráter econômico e político. A intensificação das relações econômicas, na escala mundial, estimulou os países a se agru­parem para fazer frente à nova configuração econômica após o fim da Guerra Fria. Países que fazem parte de um bloco disputam a he­gemonia em função da concorrência comercial por meio de isenção de tarifas alfandegárias, ou mesmo a partir de uniões mais amplas.
São vários os modos de organização dos blocos supranacionais, a começar que alguns são uniões mais profundas, e outros mais par­ciais. Alguns exemplos:
1. Áreas de livre co­mércio (ALCA e Nafta);
2. União aduaneira (MERCOSUL);
3. Mercado comum (União Eu­ropéia).
Alguns blocos se organizaram já há algum tempo, buscando uma maior integração, como é o caso da União Européia, enquanto outros desenvolveram integrações de caráter apenas comercial, como o Nafta, e outros ainda alme­jam ampliações de caráter aduaneiro, como o MERCOSUL. Portanto, esses blocos apresentam distinções técnicas importantes.
O mercado comum apresenta um processo de integração, que leva em consideração a livre circulação de mercadorias, pessoas, capitais e moeda. Além disso, promove a formação de órgãos integrados em diferentes níveis, como o Parlamento Comum e Banco Central Comum e almejam ainda uma política militar comum.
A União aduaneira, como é o caso do MERCOSUL, abrange uma área de livre comércio e uma união aduaneira, ou seja, as tarifas de importação para países fora do bloco devem ser combinadas e aceitas por todos seus mem­bros. Neste sentido, o MERCOSUL apresenta for­mas de integração um pouco mais sofisticadas do que o Nafta.
A área de livre comércio apenas estabele­ce a isenção total de tarifas para mercadorias produzidas e comercializadas entre os seus membros. Este é o caso do Nafta e do bloco da Bacia do Pacífico (Apec). Neste caso, cada país estabelece o imposto de importação para os produtos dos países não-signatários (não participante) do acordo, e apresentam moeda própria. Com relação às áreas de livre comércio, a Organiza­ção Mundial do Comércio (OMC) define que uma região desse tipo só se constitui como tal quando 85% ou mais do comércio é livre.


2º BIMESTRE

5. A declaração dos direitos universais do homem

A ONU surgiu durante a Segunda Guerra Mundial. É uma importante organização voltada para a promoção da paz e da segurança coletiva. A história e o funcionamento da ONU serão abordados no próximo tema. Porém, é importante informar que a Declaração Universal dos Direitos Humanos foi proclamada pela Assembléia Geral em 1948, e que se tornou uma espécie de documento-síntese do ideário (planejamento) das Nações Unidas, a ser atingido por todos os povos e todas as nações. Qual a sua compreensão acerca dos direitos básicos da pessoa humana?

Apresentação da Declaração Universal dos Direitos Humanos e discussão de alguns de seus artigos
Vamos ler um trecho da Declaração Universal dos Direitos Humanos, nas páginas 9 e 10 no caderno do aluno: é importante que acompanhem com atenção a leitura destes artigos e tirem as possíveis dúvidas sobre o significado de cada um.

6. A Organização das Nações Unidas (ONU)

Os objetivos desse capítulo são:
- investigar o mecanismo de financiamento da ONU;
- a tensão entre o Conselho de Segurança (instância deliberativa maior das Nações Unidas) e o poderio dos EUA, tornada explícita em 2003, por ocasião da II Guerra do Golfo;
- o significado da proposta de reforma do Conselho de Segurança, com destaque para a posição da diplomacia brasileira neste processo, e;
- analisar criticamente os resultados dos Objetivos do Milênio, conjunto de metas estabelecidas pelas Nações Unidas em 2000, em cujo horizonte estava a drástica redução da pobreza no mundo até 2015.
A ONU (http://www.onu-brasil.org.br/) foi criada em 1945, na Conferência de São Francisco, por representantes de 51 países, que buscavam garantir a paz entre os povos e estabelecer um sistema de segurança coletiva. Atualmente, 192 países fazem parte da organização. A Assembléia Geral e o Conselho de Segurança são os órgãos deliberativos (capazes de resolver, após exame, discussão) das Nações Unidas.
Na Assembléia Geral, cada Estado dispõe de um voto; as principais decisões são tomadas por maioria qualificada de dois terços, enquanto as decisões corriqueiras só necessitam de maioria simples. Nas questões de paz e segurança, a Assembléia Geral produz apenas recomendações, pois a tomada de decisões é atribuição do Conselho de Segurança.
O Conselho de Segurança é composto por cinco membros permanentes e dez rotativos, eleitos pela Assembléia Geral. Os membros permanentes são Estados Unidos, Federação Russa, China, Grã-Bretanha e França. Qualquer um deles pode bloquear uma proposta com a apresentação de um voto negativo, mesmo que os outros quatro membros permanentes e os dez membros não-permanentes tenham votado a favor. Chama-se a esta situação de “poder de veto”. As decisões sobre temas de paz e segurança dependem de uma maioria de nove votos e da inexistência de um veto.
Atualmente, o Sistema das Nações Unidas é composto por agências, fundos e programas especializados que trabalham em áreas diversas, como saúde, trabalho, agricultura, educação e meio ambiente. Algumas das importantes são:
- Organização Mundial da Saúde (OMS): discute e propõe novas práticas de erradicação de doenças e de promoção da saúde;
- Organização Internacional do Trabalho (OIT): elabora regras internacionais para assegurar os direitos do trabalhador e para combater todas as formas de trabalho escravo;
- Organização das Nações Unidas para a Agricultura e a Alimentação (FAO): desenvolve programas de combate à fome e de incremento da produtividade agrícola e pecuária;
- Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO): elabora programas de educação e cultura e estimula a cooperação científica internacional;
- Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF): atua em programas de saúde e de bem estar das crianças;
- Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD): busca combater a pobreza e promover o desenvolvimento;
- Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA): responsável pela proteção do meio ambiente, cujo objetivo é capacitar nações e povos a aumentar sua qualidade de vida sem comprometer a das futuras gerações.
O momento de fundação da ONU e de seus mecanismos foi a favor da paz com o contexto da Segunda Guerra Mundial. O sentido e a necessidade de organizações multilaterais no contexto histórico global são marcados pela intensificação dos fluxos de idéias e de mercadorias entre os países do mundo e pela dimensão igualmente global da problemática ambiental.

Quem financia as atividades da ONU?
Os recursos para a manutenção da estrutura da ONU e para o cumprimento das decisões do Conselho de Segurança e da Assembléia Geral são provenientes das contribuições anuais dos países membros. A ONU é composta por 192 países, mas eles não contribuem igualmente para o orçamento da instituição, pois a contribuição é calculada a partir da capacidade econômica de cada país.
Observando o mapa “Quem financia a ONU?”, na página 14 do caderno do aluno, verificamos que os maiores financiadores dos programas e agências da ONU são os Estados Unidos, os países da União Européia e o Japão. Isso se deve ao fato de estas serem algumas das maiores economias do mundo. O Brasil é o principal financiador da ONU porque a nossa economia ocupa o primeiro lugar na América do Sul. No continente africano, apenas quatro países contribuem com somas anuais superiores a 1 milhão de dólares: África do Sul, Argélia, Líbia e Nigéria. Isso ocorre porque a esmagadora maioria dos países africanos vive em condições de extrema pobreza.
Entretanto, nem todos os países cumprem regularmente suas obrigações para com a ONU. A ONU é, sobretudo, financiada pelos países ricos e pelas economias mais fortes. A escassez de recursos compromete muito os programas em prol da melhoria da qualidade de vida da população mundial, essencialmente daquela parcela que vive nos países mais pobres. Os EUA são a maior economia do mundo e um dos principais financiadores da ONU, mas são responsáveis por sucessivos e significativos atrasos de suas contribuições. Desde 1986, a dívida tem sido superior à dívida somada de todos os demais países-membros. Os atrasos sucessivos que o país acumula com a organização resultam em escassez de recursos materiais para investimento em programas essenciais para a comunidade internacional, tais como os de auxílio ao desenvolvimento (PNUD) e de proteção ao meio ambiente (PNUMA).

O Conselho de Segurança
É o órgão da Organização das Nações Unidas que discute e decide sobre assuntos relacionados aos conflitos armados e à segurança do mundo. Ele é composto de 15 membros, sendo que apenas cinco são permanentes e possuem direito a veto: Estados Unidos, Federação Russa, China, Grã- Bretanha e França.
Na década de 1990 foi lançada uma ampla discussão sobre a reforma do Conselho de Segurança das Nações Unidas. Desde então, em compasso com a nova ordem econômica e política do mundo, o Japão e a Alemanha, potências derrotadas na Segunda Guerra Mundial, aspiram (desejam) a se tornarem membros permanentes, assim como países subdesenvolvidos de grande expressão econômica e estratégica, tais como Índia e o Brasil.
As propostas de reforma, porém, esbarram na resistência dos Estados Unidos e, também, na ausência de consensos regionais. De um lado, os Estados Unidos temem um Conselho de Segurança mais democrático e ainda mais difícil de controlar do que o atual. De outro, países como o Paquistão e a Argentina não enxergam com bons olhos a perspectiva de consolidação da liderança regional da Índia e do Brasil, respectivamente.
A segunda ofensiva norte-americana ao Iraque, iniciada em 2003, ocorreu à revelia (ao acaso) do Conselho de Segurança. A China, a França e a Federação Russa se opuseram à operação. Assim, o Conselho de Segurança foi desrespeitado pela maior potência do mundo.
Em maio de 2005, o Brasil, a Alemanha, a Índia e o Japão apresentaram uma proposta de expansão do Conselho de Segurança da ONU. Estes quatro países, conhecidos como G-4, reivindicaram assento permanente no Conselho de Segurança da ONU para eles e para mais dois países do continente africano (escolhidos posteriormente). Entretanto, todos os atuais membros do Conselho de Segurança, com exceção da França, se pronunciaram contra a proposta. Os Estados Unidos, por exemplo, defende que a reforma do Conselho de Segurança ocorra desde que os novos membros, quaisquer que sejam eles, abram mão do direito de veto, que continuaria prerrogativa exclusiva dos cinco membros permanentes originais. A Argentina e o Paquistão se pronunciaram contra a candidatura do G-4, pois não aceitam a liderança regional dos seus vizinhos (Argentina – Brasil e Paquistão – Índia).
 
Os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio
Em uma reunião histórica, realizada em setembro de 2000, a ONU apresentou um amplo programa de metas orientadas para reduzir a pobreza no mundo até 2015. Trata-se dos oito Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODM):
1.            Reduzir a pobreza extrema e a fome;
2.            Assegurar o ensino fundamental para todas as crianças do mundo;
3.            Promover a igualdade entre os sexos e a autonomia das mulheres;
4.            Reduzir a mortalidade infantil;
5.            Melhorar a saúde materna;
6.            Combater as principais doenças epidêmicas;
7.            Assegurar um meio ambiente sustentável e;
8.            Estabelecer um mecanismo mundial de auxílio ao desenvolvimento.
Os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio procuram assegurar a satisfação universal das necessidades humanas básicas, principalmente nas áreas de saúde, educação, ambiente e a promoção da melhoria da qualidade de vida da população mundial. Para cada um dos sete primeiros OMD, foi estabelecido um conjunto de metas específicas.
Analise a tabela “Para onde vai o dinheiro do mundo?” na página 20 no caderno do aluno. A persistência de parcelas da população mundial que não são atendidas em suas necessidades básicas não é conseqüência de falta de recursos, mas das decisões tomadas pelos países ricos sobre como despendê-los. Afinal, os gastos com armamentos, publicidade, cosméticos e guerras são, muitas vezes, superiores aos gastos necessários para melhorar a qualidade de vida das populações mais pobres do mundo.

7. A Organização Mundial do Comércio (OMC)

Os objetivos dessa situação de aprendizagem são:
- apresentar o contexto de surgimento e os mecanismos de funcionamento da OMC;
- sensibilizar para o assunto e apresentar, em traços gerais, os principais eixos estruturantes dos fluxos internacionais de mercadorias;
- analisar os fluxos de comércio mundial, de forma a iluminar a correspondência entre desenvolvimento econômico, competitividade e controle sobre os mercados mundiais e;
- abordar o sentido e o resultado das rodadas de liberalização do comércio mundial encabeçadas pela OMC.
A Organização Mundial do Comércio (OMC) tem sua origem no Acordo Geral Sobre Tarifas e Comércio (GATT, pela sigla em inglês), assinado por 23 países em 1947. O objetivo principal era dimi­nuir as barreiras que a maior parte dos países impunha ao comércio internacio­nal, facilitando os fluxos internacionais. No entanto, os produtos de interesse dos países pobres, especialmente os dos setores agrícolas e têxteis, foram desde logo sujeitos a regras especiais e não foram liberalizados.
Em 1995, O Acordo Geral de Comércio e Tarifas (GATT) se transformou na Organi­zação Mundial de Comércio (OMC), que atualmente conta com 148 países membros (responsáveis por 97% do comércio mundial) e continua com o propósito de zelar pelo livre comércio, evitando as taxas alfandegárias exageradas e o protecionismo. Com a criação da OMC, os setores agrícola e têxtil entraram na arena das rodadas de liberalização.
Desde a sua criação, a OMC encarrega-se de estabelecer regras para o comércio internacional e buscar a solução de contro­vérsias entre os países membros, mas muita gente considera essas regras injustas, pois elas são iguais para todos, independen­temente de seu grau de desenvolvimento e competitividade. Assim, os países ricos, detentores das tecnologias mais avançadas e, por isso mesmo, mais competitivos, ten­dem a ampliar o controle que já exercem sobre os mercados mundiais.
Um dos sinais mais claros do desenvol­vimento econômico é o controle de uma parcela do mercado mundial. A repartição desse mercado entre os países é extrema­mente desigual. Os países industriais cen­trais controlam mais de 70% das exporta­ções mundiais, deixando, portanto, menos de 30% das exportações para todos os de­mais países juntos. Sozinha, a UE (União Européia) tem quase a metade das exporta­ções mundiais e o G-7 (grupo dos sete pa­íses mais ricos do mundo, formado por Grã-Bretanha, Canadá, França, Alemanha, Itália, Japão e Estados Unidos) tem um pouco mais da metade. O comércio entre as zonas subdesenvolvidas é muito pequeno. Assim, a maior parte do comércio internacional é realizada entre os países ricos, e um dos motivos é o controle que eles exercem sobre as tecnologias avança­das, que garantem maior produtividade às economias, e o controle que têm sobre os mercados mundiais.
A maior parte dos países busca proteger seu mercado interno, erguendo barreiras à importação de mercadorias. As barreiras protecionistas, na forma de tarifas e regras específicas, incidem sobre as mercado­rias importadas; assim, a maioria dos países busca proteger seu mercado interno.

As desigualdades no comércio mundial
            O comércio mundial está estruturado em torno de três polos: Europa, América do Norte e Ásia/Oceania. Isso mostra o domínio que os países ricos exercem sobre o comércio mundial. As Américas do Sul e Central e a África ocupam posições marginais, com um fluxo relativamente reduzido de importações e exportações.

O mercado mundial do algodão
A participação dos países pobres nos fluxos do comércio internacional é, em grande parte, limitada pela baixa pro­dutividade das economias e pela escassez de tecnologias disponíveis. Entretanto, no mer­cado de produtos agrícolas, existe um outro fator que pesa fortemente contra o conjunto dos países pobres exportadores de alimentos: os subsídios agrícolas concedidos aos produ­tores dos países ricos. Subsídio é a ajuda em dinheiro ou de outra ordem, como descontos em impostos, dada a qualquer empresa ou a particular. Em conjunto, os países desenvolvidos, em especial os países mem­bros da União Européia e os Estados Unidos, concedem cerca de US$ 315 bilhões anuais em subsídios agrícolas, quase um quarto do PIB brasileiro ou três quartos do PIB argen­tino. Isso significa que o governo remunera os agricultores, que assim, podem comercia­lizar seus produtos por preços inferiores ao custo de produção. Nestas condições, a con­corrência se torna muito difícil.
Com o surgimento da OMC e das rodadas multilaterais de negociação, a redução dos subsídios agrícolas finalmente entrou em pau­ta. Entretanto, elas têm fracassado sistemati­camente, principalmente devido à insistência dos EUA e da União Européia em subsidiar seus produ­tores. O gráfico “Subsídios agrícolas na Europa e nos Estados Unidos 1999-2004”, na página 24 do caderno do aluno, pode dar uma idéia da dimensão destes subsídios. Os subsídios agrícolas têm efeitos perversos para os países pobres, que dependem das exportações dos seus produtos da agricultura.

8. O Fórum Social Mundial

Os objetivos desse capítulo são:
- apresentar as concepções que embasam o Fórum Social Mundial;
- apresentar o sentido das práticas sociais que sustentam a idéia de que “um outro mundo é possível”;
- dialogar propostas que defendam a democratização da informação e;
- conscientizar a participação da sociedade civil como pilar para a construção deste “outro mundo”.
O Fórum Social Mundial, cuja primeira edição ocorreu em 2001, em Porto Alegre, não é uma entidade ou uma instituição, mas um espaço de debate e de troca de experiências que articulam movimentos sociais, organizações não-governamentais e representantes da sociedade civil (pessoas comuns) do mundo todo para propor alternativas ao domínio que o capital e as grandes corporações exercem sobre a vida dos países e povos do mundo. Trata-se, portanto, de uma proposta inteiramente nova de articulação da sociedade civil, que independe das instâncias governamentais tradicionais e proclama a idéia de que “um outro mundo é possível”, socialmente mais justo e menos atrelado aos interesses hegemônicos que comandam a globalização contemporânea.
Alguns objetivos desse Fórum são adoção de práticas ambientalmente sustentáveis, eliminação da pobreza, universalização do acesso à educação e à informação, entre outros.
A última edição do Fórum Social Mundial aconteceu em 2009, na cidade de Belém, Pará. A democratização da informação, o combate à pobreza e à exclusão social e a busca por um modelo de desenvolvimento socialmente justo e ambientalmente responsável estavam na pauta.
Para maiores informações: http://www.forumsocialmundial.org.br/

3º BIMESTRE

9. As populações e o espaço geográfico

Quando nos referimos às coletividades humanas, usamos diversas palavras. Ao mencionar a palavra população (humana), o sentido imediato é quantitativo: população quer dizer volume de pessoas; em julho de 2009, população mundial significava 6,8 bilhões de pessoas.
O estudo quantitativo das populações é uma das atribuições da demografia, mas ao relacionar as populações ao espaço onde elas se distribuem, na verdade onde elas se concentram, entramos no horizonte da Geografia das Populações. Os grupos humanos não são apenas volumes estatísticos. É bom não esquecer a complexidade que cerca a vida humana no planeta e não há resposta fácil às perguntas quantitativas. Por exemplo: Quantos habitantes você acredita que há no mundo hoje? Você considera esta quantidade grande ou pequena? Por quê? Em sua opinião, qual deveria ser a população ideal do mundo? Nenhuma dessas respostas pode prescindir (recusar) de análises de situações que envolvam diversas variáveis; em especial, é preciso uma resposta que articule população e espaço geográfico.
Nas grandes cidades, os congestionamentos de automóveis, as filas nas quais pessoas aguardam um serviço, o número elevado de desempregados e a multiplicação do número de moradias precárias são problemas sociais dos quais já tomamos conhecimento e assim, percebemos a presença comum de um elemento quantitativo:
- congestionamento – volume elevado de automóveis;
- fila – uma espécie de congestionamento de pessoas;
- número elevado;
- multiplicação.
            E aqui é provável que surja um poderoso senso comum: esses problemas teriam como razão fundamental o fato de que há “muita gente no mundo” ou algumas alternativas parecidas como “muita gente na cidade”, “os pobres têm muitos filhos” etc. Levamos muito a sério o senso comum que os problemas se devem à existência de “muita gente no mundo”. E é compreensível que assim o seja, em especial no mundo contemporâneo. Afinal, as sociedades modernas se caracterizam pela existência de grandes grupos populacionais vivendo juntos, nas mais simples práticas cotidianas. É só observar os índices de freqüência nas praças esportivas de futebol, por exemplo: números como 80 mil pessoas ou mais são freqüentes.
Problematizando: há muita gente no mundo?
- Referências para medir, para quantificar: Qual a referência para afirmar que há muita gente, ou que havia pouca gente no mundo? Gente demais é uma medida que deve se relacionar a algo, o que não parece acontecer quando se enuncia esse senso comum. Logo, a afirmação “há gente demais no mundo” só terá força de fato se houver relações a se estabelecer.
- O combate à mortalidade: o Rei Henrique VIII, da Inglaterra, que viveu entre 1491 e 1547, teve seis filhos com Catarina de Aragão. Apenas uma menina sobreviveu à primeira infância. Isso com um rei todo-poderoso. O grande problema eram as doenças infectocontagiosas, que hoje se sabe combater. Logo, o controle das doenças é um fator de crescimento populacional. Resolvemos um problema que ameaçava a humanidade e essa resolução gerou outros problemas agora relacionados ao excesso de gente. Faz sentido?
- Desigualdade na distribuição populacional: a distribuição da população é desigual no interior dos blocos continentais. Há grandes vazios populacionais. Então, há um número elevado de pessoas nos locais de concentração, por exemplo, nas grandes cidades. Um bom exemplo é a cidade de Tóquio, a maior delas: nenhuma outra metrópole do mundo consegue tanta eficiência na circulação de sua população e nela há o maior volume de gente concentrada.
- População e desenvolvimento social: no Paquistão, o adensamento populacional (número de habitantes por km2) é de 227 hab./km2. Já na Holanda essa densidade é de 409 hab./km2. Logo, tendo em vista esse resultado a Holanda é mais povoada. Tem mais gente proporcionalmente ao tamanho do seu território. No entanto, qualquer que seja a comparação entre índices que medem qualidade de vida, a Holanda leva vantagem. Assim, o número menor de habitantes por km2 não parece aqui, ser a questão decisiva.
            A esses exemplos de problematização podem ser acrescentados outros. O que será necessário para que afirmações sobre a população mundial façam sentido? Afinal, podemos medir a população sob múltiplos aspectos, mas que conclusões podem ser tiradas dessas medidas?
A população mundial está concentrada em alguns pontos, e não dispersa pelo planeta. E isso pode ser detectado já no início da era cristã e muitos desses principais centros de povoamento são os mesmos de antigamente. Se há gente demais no mundo e isso causaria problemas, não parece haver uma contradição enorme e de fundo com um dado da Geografia das populações: o modo de o ser humano viver é se concentrando, aglomerando-se?
O ser humano busca viver em meio a muita gente. Tanto é assim, que se constroem centros de grande concentração – eliminando a distância geográfica – que nada mais são do que as cidades, as grandes cidades especialmente. Agora se encontrou um parâmetro, uma referência, para avançar na discussão sobre a população ideal do mundo?
Seguramente encontrou-se uma lógica na forma de produção e organização dos espaços humanos: os seres humanos vivem juntos, concentram-se preferencialmente. Espalhar-se, criar distâncias entre seus membros, não foi e não é a lógica dominante de vida entre as populações humanas. Pelo menos, desde o período Neolítico da história humana. Nós formamos centros de densidade demográfica que são parâmetros para discutir medidas de população: a densidade demográfica relaciona volume populacional e extensão territorial. Agora estamos em um dos caminhos para dar sentido aos números populacionais. Esse caminho relaciona população e espaço geográfico. Há muito que discutir a respeito dessa relação, em especial sobre a escolha do ser humano em viver aglomerado. Porém, essa não é a única referência para discutir a dimensão de um país e outros números populacionais.


10. As referências geográficas e econômicas da demografia

A demografia não vale por si só. Saber quais são os volumes populacionais e suas dinâmicas (o ritmo de seu crescimento, índices de natalidade e mortalidade, estrutura de idades – envelhecimento e rejuvenescimento) são informações sem dúvida muito importantes. Mas, sozinhas, elas pouco significam.
Para lhes dar mais sentido é preciso saber as condições geográficas dos territórios onde se encontram os volumes populacionais. Por exemplo: se a população estiver em sua maioria nas cidades ou se estiver no campo, as diferenças na vida e nas condições sociais serão enormes. É preciso também conhecer as condições econômicas: é comum se encontrar casos de grandes populações mais bem protegidas, pois têm acesso à moradia, à alimentação, assim como é igualmente comum encontrar populações pequenas sofrendo enormes carências.
Nesse tema, a prioridade será trabalhar as referências concretas que dão sentido aos números populacionais: as condições dos espaços geográficos e da economia. Vale ressaltar que outras dimensões da vida humana (cultura, regime social, política) também contribuem para dar sentido aos números populacionais. E é sempre oportuno lembrar-se disso.

As relações complexas da população com o espaço geográfico
Por si só, a evolução do crescimento da população mundial tem vários aspectos que chamam muito atenção. Observe o gráfico “População mundial” da página 14 no caderno do aluno; ele mostra que há 2.400 anos a população mundial era de 250 milhões de habitantes e que após 1.900 anos (início do século XVI) essa população havia apenas dobrado (500 milhões), e que em apenas 505 anos a população mundial multiplicou-se 13 vezes, chegando ao número atual de 6.500 bilhões de habitantes. Está visível, a curva do gráfico não engana: quanto mais nos afastamos do passado mais a velocidade de crescimento populacional se acelera.
Algumas informações complementares que dão a dimensão do que tem sido o crescimento populacional no mundo:
- Somente no período entre 1980 e 1990 o número de pessoas no planeta aumentou aproximadamente 923 milhões. Esse número é bem próximo da população total do mundo inteiro na época de Thomas Robert Malthus (1766-1834), um economista sempre lembrado quando se discutem números da população. Na época, ele não via como a humanidade conseguiria se sustentar caso a população continuasse a crescer no ritmo de sua época, que era bem mais lento do que hoje;
- Nota-se facilmente que em nossa era os seres humanos se comunicam mais. Isso se deve, sem dúvida, ao desenvolvimento dos meios de comunicação. Mas além desse fato, os homens estão mais próximos uns dos outros pela singela razão de que há mais homens na superfície terrestre. Se imaginarmos os homens igualmente distribuídos sobre as “terras emersas habitáveis”, a distância entre duas pessoas há dois milênios era de 1 km. Hoje em dia, a distância seria menos de 150 metros. Uma distância ao alcance da voz (GRATALOUP, 2007);
- Leia mais um item na página 15 do caderno do aluno.
            Que relações os números da população e seu ritmo de crescimento têm com o espaço geográfico? Até aqui foram observados e discutidos dois aspectos dessa relação:
- O ser humano produz de forma dominante espaços concentrados (muita gente, muitos objetos e equipamentos, muitas edificações) e a relação população e espaço deve levar isso em conta;
- Uma maneira razoável de se captar isso é a relação entre o volume de população e a extensão territorial. E essa relação é denominada densidade demográfica.
            Mas há outras relações estabelecidas entre população e espaço geográfico que devem ser consideradas para se pensar de maneira qualificada na questão das quantidades adequadas de população. Duas dessas relações básicas e imediatas, dentre muitas possibilidades, são:
- o quanto a natureza suporta: vêm do meio físico (que denominamos natureza), em especial do modo como ela se manifesta na superfície terrestre, as condições para o ser humano construir seus espaços e prover sua vida. Os recursos naturais, tal como diversos grupos sociais os usam, são inesgotáveis? Qual a “carga” de seres humanos e de seus engenhos (e modos de vida), que a natureza pode suportar, sem que surjam problemas? E mesmo que a natureza ainda possa suportar muito de nossa ação sobre ela, até que ponto se deve fazer isso, até onde é ético modificá-la? Sobre esse aspecto, muitas outras interrogações podem e devem ser adicionadas;
- quais os espaços que são habitáveis: um geógrafo do começo do século XX, Max Sorre, atualizou uma noção dos gregos antigos sobre quais são os espaços que podem ser habitados. Esses constituem, na designação dos gregos, o ecúmeno. Anecúmeno seria exatamente o contrário: áreas que não podem ser habitadas. Diante da tendência humana de se concentrar e também da extensão das terras emersas, há ainda, nesse sentido, espaço a ser habitado. Mas, existem anecúmenos? Podemos habitar os desertos quentes, como o núcleo do Saara? Ou a Antártida?
            Agora dois casos específicos de relação população e espaço, como exemplo, para concluirmos. Leia os casos na página 18 do caderno do aluno. Comparando os dois casos é certo que há um distanciamento crescente a favor da Ásia tropical na produtividade agrícola. E aí um dado notável: é a Ásia, o continente mais densamente povoado, que alimenta melhor sua população enquanto a África, com frágeis densidades, experimenta dificuldades crescentes para alimentar sua população (BRUNET & DOLLFUS, 1990). Podemos afirmar que na Ásia tropical não há gente demais, embora a densidade demográfica da região seja alta, mas a população vive em melhores condições de vida em termos de alimentação. Nas chamadas sociedades desenvolvidas há mais gente nas cidades, mas ao mesmo tempo essas sociedades possuem grande produção agrícola porque no campo de alguns países desenvolvidos estão em vigência elementos do que se convencionou chamar de revolução verde (referência ao impressionante aumento da produção agrícola na segunda metade do século XX, marcado pelo uso intensivo de tecnologias – irrigação, máquinas e implementos agrícolas, fertilizantes e agrotóxicos etc. – e pela monocultura, produção intensiva de um único tipo de lavoura, redução do custo de manejo e que obtém maior produtividade com menos mão de obra).

As relações complexas da população com a economia
            A economia é uma atividade humana complexa. Em nossos dias, essa complexidade aumentou tanto que ao cidadão comum tornou-se praticamente impossível acompanhá-la. Economia é o conjunto de ações que o ser humano realiza para resolver sua vida material (biológica, inclusive). Por exemplo, conseguir e produzir alimentos para comer e sobreviver é o princípio absoluto das práticas econômicas.  Depois dela é que as outras podem vir.
            Por essa razão, a questão primeira, a mais básica, que envolve a relação “tamanho das populações e economia” é a produção de alimentos. Se o tamanho de uma população, num dado território, for maior do que a capacidade que essa população tem de produzir alimentos, o que vai acontecer com ela? Malthus afirmou, há dois séculos (1798), que a produção de alimentos vinha perdendo terreno e prognosticou desastres terríveis resultantes do consequente desequilíbrio “na proporção entre o aumento natural da população e os alimentos”. Será que o medo dele era justificado? Numa corrida entre o crescimento da população e a produção de alimentos, quem está ficando para trás?
            Não há indícios que justifiquem (na escala do mundo) os temores de Malthus. Aliás, ele estava redondamente enganado. Contudo, isso não significa que em certas situações do passado, e mesmo em algumas do presente, a falta de capacidade de produção de alimentos não tenha pesado no ritmo de crescimento populacional. É só verificar quanto tempo a população se manteve no mesmo tamanho (veja o gráfico novamente da página 14). Os números que aparecem na tabela “Índices de produção de alimentos per capita segundo regiões”, da página 19 do caderno do aluno, são índices estatísticos. Ela trata da produção de alimentos por pessoa (per capita). É necessário destacar a coluna correspondente ao período 1979-1981. Ela foi transformada em base do índice e, por isso, todos os seus números são 100,0. Nas outras colunas aparecem as variações para cima e para baixo em relação a esse índice de 100,0. Quer dizer:
- variação para cima: produção de alimentos por pessoa aumentou, ou era mais alta;
- variação para baixo: produção de alimentos diminuiu, ou era mais baixa.
            Vamos analisar o caso particular da África: há crescimento na produção por pessoa em todos os continentes e países citados, menos na África, inclusive nos continentes mais povoados atualmente. Para finalizar: a produção e o consumo de alimentos por pessoa são hoje consideravelmente maiores que no tempo de Malthus, o que ocorreu junto com uma grande elevação nos padrões gerais da vida. Não existe na realidade nenhuma crise significativa na produção mundial de alimentos. A taxa de expansão dessa produção evidentemente pode variar, mas a tendência de crescimento é bem clara. Há gente demais no mundo?

Rizicultura inundada: plantação de arroz em terreno encharcado de água;
Técnicas hidráulicas e irrigação: sistemas e técnicas para acesso a água na produção agrícola.

11. Populações: perfil interno, desigualdades, migrações internacionais

            Lembramos anteriormente que a palavra população nos remete para o quantitativo: volume de pessoas. A dinâmica do crescimento populacional e o modo como ela se distribui podem ser captados pelas técnicas estatísticas. Elas funcionam como ponto de partida para entender a vida humana no planeta, e não como ponto de chegada. Para além das medidas, há muita complexidade a ser compreendida. Para se ter dimensão do quanto há para ser compreendido, a própria estatística pode ampliar seu olhar e mergulhar em aspectos internos dos perfis da população. Outras medidas da população vinculadas à organização geográfica aprofundam nosso entendimento da Geografia das populações. Em especial, porque por esse meio podem ser identificados padrões populacionais que vão contribuir para se entender uma série de questões relevantes e difíceis na vida das sociedades contemporâneas.
Nesse tema vamos sugerir e indicar alguns caminhos possíveis para confrontar o perfil interno das populações e identificar certos padrões que estruturam as desigualdades existentes entre as populações dos países, das regiões e entre a população interna de um único país. Para abordar o tema das populações no mundo atual, um bom recurso é expor ditos muito repetidos, tratados como verdadeiros. Um exemplo comum é a afirmação de que há gente demais no mundo, o que já se discutiu levando-se em conta as variáveis presentes na relação da população com o espaço e a economia (e outras dimensões do social). Aproveitando a oportunidade desse comentário, temos mais um senso comum: o Brasil é um país jovem, por isso um país do futuro. A primeira afirmação se refere à nossa curta história após a chegada dos portugueses (500 anos). Essa nossa juventude justificaria as dificuldades socioeconômicas do Brasil. Mas, isso é bastante duvidoso visto que nos EUA, que possuem a mesma curta história, há uma realidade socioeconômica bastante distinta da brasileira. Quanto a segunda afirmação, que é a que serve para explorar a questão demográfica, o senso comum se refere ao Brasil como país jovem utilizando como referência o fato de a nossa população ter um número elevado de crianças e jovens. E isso seria algo que nos dá uma vantagem, que nos indica um futuro melhor. Pensar nesta questão, coloca-nos no centro das discussões mais importantes sobre a dinâmica das populações e sobre as questões do desenvolvimento.

As desigualdades entre as populações do mundo
            Será que o perfil interno das populações dos países mais ricos se assemelha ao perfil das populações dos países mais pobres? Será que há padrões, quer dizer: países desenvolvidos teriam uma estrutura populacional própria e os menos desenvolvidos também teriam seu padrão? Observem os mapas ”Mundo: população com menos de 15 anos “ e “População com mais de 60 anos” na página 23 do caderno do aluno: eles apresentam o mesmo fenômeno, a idade das populações (estrutura etária). A diferença é que um representa a população infantil (até 15 anos) e o outro a população idosa (acima dos 60 anos). Em ambos os mapas os dados formam classes, e são números relativos (em percentual), não absolutos. O mapa é a de distribuição da população infantil no mundo e mostra visualmente as áreas de maior população contrastando com as de menor, numa seqüência ordenada. Para representar visualmente essa ordem – que vai dos que têm mais aos que têm menos – foi utilizada a seqüência de cores quentes (vermelho, laranja) para cores frias (verde). Visualmente, essa ordem não faz sentido, pois a única maneira de entender o que o mapa representa é consultando a legenda. No mapa de população idosa foram utilizadas as tonalidades de uma única cor. Onde a tonalidade é mais escura (maios intensidade de pigmentos), maior é o percentual de idosos e onde a tonalidade é mais clara, o contrário. Sem dúvida o mapa de população idosa consegue uma comunicação mais eficiente. A ordem dos dados é representada por uma ordem visual das tonalidades de uma única cor, enquanto a ordem de cores apresentada no primeiro mapa (população infantil) não é uma ordem visual natural, e sim uma escolha arbitrária, baseada na lógica das cores frias e quentes. Por exemplo: para qualquer observador, o vermelho, o laranja, o amarelo e o verde representam visualmente cores diferentes, sem dar sensação de mais ou menos intensas. Logo, não criam, juntas, uma ordem. No caso do mapa de idosos, para perceber a lógica geográfica do fenômeno representado, nem é preciso a consulta da legenda, pois o observador perceberá onde o fenômeno é mais intenso e onde o fenômeno é menos intenso. Um bom critério para resolver sobre a eficiência dos dois mapas é perguntar “qual mapa consegue responder visualmente, de forma mais rápida onde se concentram os maiores índices da população na faixa de idade representada?”
            Analisando esses mapas, vocês terminam tendo uma visão correlacionada entre a distribuição da população de idosos e a população infantil e vai notar uma coincidência invertida que pode ser expressa nos enunciados: países com maior população idosa têmmenor população infantil e; países com menor população idosa têm maior população infantil. Se listarmos os países e as áreas extremas das duas situações: mais idosos e mais população infantil. O que acontece nas situações intermediárias, por exemplo, no caso do Brasil? Se o Brasil está numa posição intermediária em relação ao volume de população infantil, isso significa que ele também está numa posição intermediária à população idosa? Existem, de grosso modo, três grandes padrões no perfil populacional, em termos de idade (veja tabela na página 24 do caderno do aluno). Por exemplo, existe um padrão na Europa ocidental que está presente em vários países vizinhos e que o mesmo se dá, em alguma medida, na América do Sul. Mas os países não estão condenados a permanecer com esses padrões populacionais: os países do padrão 3 já tiveram uma situação semelhante aos de padrão 1. Aliás, na altura do século XVIII todas as populações estavam próximas ao padrão 1 (muita população infantil e baixa população idosa). O regime demográfico era marcado por fortes natalidade e mortalidade. Atualmente os países do padrão 3 são aqueles onde nascem poucas pessoas e a vida se estende bastante. Pode-se dizer que o padrão 1ao padrão 3 houve uma transição demográfica, que de certa maneira vem atingindo as populações em geral. O Brasil recentemente encontrava-se no padrão 1, mas se pode dizer que ele se encontra atualmente no padrão 2. Essa transição demográfica está em constante andamento, mas não mudam naturalmente, tanto que a situação do padrão 1 se manteve por grande parte da história humana. Mudanças na organização social têm relação direta com a transição demográfica: o progresso econômico e as ações sanitárias fizeram baixar a mortalidade e propiciaram o enorme crescimento da população mundial. Outras mudanças nas estruturas sociais (o que inclui o espaço geográfico) e no comportamento dos indivíduos serão responsáveis pela queda da natalidade que num futuro não tão distante irá estabilizar o crescimento populacional.
            Dessa identificação dos padrões populacionais e de sua dinâmica (transição demográfica) é importante destacar a seguinte afirmação: os padrões populacionais não são independentes das condições sociais (econômicas, geográficas, culturais, políticas etc.). Essa constatação é um portal para se ingressar na complexidade da vida humana no planeta. Demonstrações muito conhecidas e objetivas confirmam a relação padrão populacional e condições sociais. Vamos confrontar os padrões populacionais (1, 2 e 3) com as condições apresentadas nos mapas “Esperança de vida” e “Desigualdade de renda” da página 26 do caderno do aluno que tratam da expectativa de vida no mundo e índice de desigualdade econômica respectivamente. Os países de padrão 1 estão bem em termos de expectativa de vida e de distribuição da riqueza? E o contrário, é verdadeiro? Falta pensar nas conseqüências sociais dos padrões populacionais. Até aqui se investiu em mostrar que as condições sociais interferem nos padrões populacionais. E como os padrões populacionais interferem nas condições sociais? Tendo bem sedimentado o que é o padrão 1 (uma grande parcela de população infantil em relação ao total), precisamos pensar a respeito das tarefas sociais que devem ser executadas para se conseguir boas condições sociais num “país jovem”). O mundo do padrão 1 é também aquele de pior expectativa de vida, de muitas desigualdades sociais, países e regiões pobres. Certas situações semelhantes são encontradas nos países de Padrão 2, como no caso do Brasil. Vamos ler um texto na página 27 do caderno do aluno. O envelhecimento da população também é, obviamente, uma conquista social, pois está associado ao aumento da expectativa de vida. Mas coloca uma questão importante num país como o Brasil: não sabemos conviver com esse novo fenômeno e é preciso aprender. São vários os aspectos que devem ser notados:
- o Estado brasileiro está pouco preparado, e a discussão a respeito não tem sido feita de forma realista e criativa para arcar com as obrigações financeiras das aposentadorias;
- novas estruturas precisam ser providenciadas no campo da saúde e da assistência ao idoso sem família. Elas não são baratas, mas são indispensáveis;
- as cidades devem contemplar em suas políticas urbanas uma série de serviços e meios para dar condições dignas de vida aos idosos. O espaço geográfico das cidades deve ser preparado para a plena locomoção do idoso e todos os cidadãos ganharão com isso. Eles não podem ficar confinados em suas casas e abrigos. Não podem ficar apartados da vida social e, na medida do possível, devem ter vida privada e individual;
- é preciso combater os preconceitos sociais que vitimam os idosos, que tratam a velhice como doença, como um estado de alienação e incapacidade.
            Mas nosso aprendizado já começou. Em 1º. de outubro de 2003, entrou em vigor a Lei no. 10.741, que dispõe sobre o Estatuto do Idoso. Somente a lei não basta, mas ajuda muito. Vamos ler o trecho inicial dessa lei na página 28 do caderno do aluno.

O impasse das migrações internacionais
            Entender o povoamento de uma região implica conhecer algo muito importante na dinâmica atual: os movimentos migratórios. O ser humano não nasce, vive e morre no mesmo lugar, necessariamente. Se isso não era verdade para quase todo mundo no passado, hoje a situação se inverteu. O ser humano vem se construindo como um ser móvel (tem aumentado sua mobilidade) e, em função dessa nova condição e outras mudanças sociais, sua vida se desenvolve com outras possibilidades geográficas: ele pode nascer num lugar e viver em vários lugares diferentes: o ser humano pode migrar. Os movimentos migratórios estão na origem e formação, por exemplo, dos países das Américas. O século XX foi um período dos maiores movimentos migratórios, com esses movimentos atingindo escala mundial, o que a imigração japonesa para o Brasil exemplifica.
Atualmente, a mobilidade humana atingiu potenciais inimagináveis: pode-se ir de um extremo a outro da Terra com extrema velocidade, o que abrevia o tempo necessário para percorrer as distâncias (24 horas de vôo). E de fato, mercadorias e informações circulam em grande quantidade e cada vez mais livremente no planeta. Mas será que o mesmo pode ser dito dos seres humanos, das migrações? Vamos ler duas afirmações sobre na página 30 do caderno do aluno. A contradição fica maior se levarmos em conta que atualmente, pelo menos tecnicamente, é mais fácil imigrar, a mobilidade humana é maior, as distâncias não são mais intransponíveis etc.
Vamos analisar alguns sistemas migratórios contemporâneos na página 30 do caderno do aluno:
- o primeiro item do quadro diz respeito a uma referência geral, diz respeito à escala mundial;
- é fácil perceber e concluir que as migrações mencionadas têm uma direção social: dos países pobres para os países ricos;
- no caso dos outros grupos, o fluxo é regional (de escala regional);
- no fluxo América do Sul e Central para os EUA, há sérios problemas, pois boa parte dessa imigração é ilegal, os imigrantes correm grandes riscos para atravessar as fronteiras dos EUA e, se bem-sucedidos, continuam correndo riscos na sua futura vida.

12. Populações e cultura: mundo árabe e mundo islâmico

Os volumes populacionais contêm internamente uma complexidade que as estatísticas nem sempre apreendem. As características sociais dos grupos populacionais, assim como as condições econômicas, as formas de organizar e operar a partir do espaço geográfico e as práticas culturais, interferem na lógica de funcionamento das populações, inclusive no seu crescimento e distribuição geográfica. Nesta etapa vamos destacar um dos aspectos relevantes no funcionamento das populações: suas práticas culturais. O caso que servirá de ilustração refere-se ao mundo árabe e islâmico. As práticas culturais constituem-se como elementos que produzem diversidade entre as populações e diversidade nos comportamentos.
Por outro lado, olhar a dinâmica das práticas culturais, suas influências, o modo como se expandem, nos auxilia também a compreender a própria dinâmica de povoamento das várias regiões do planeta e a dinâmica das relações contemporâneas entre os povos.
Há uma série de referências geográfico-culturais para a divisão regional do globo: Mundo ocidental, Oriente Médio, Extremo Oriente, Mundo cristão, Mundo árabe e Mundo islâmico (o Islã). A intenção é delimitar mundos à parte, mundos próprios, mundos diferentes. Em geral, sobre os “outros mundos” criam-se muitas fantasias. O que vocês entendem da definição “outros mundos”? Por exemplo: Qual o tamanho do mundo cristão e como ele se construiu? Essa prática religiosa – elemento central de nossa cultura – surge no Oriente Médio e sua configuração geográfica atual é muito mais larga e expandida. Refletir sobre nossa própria realidade é um bom estímulo para refletir sobre a realidade do outro, até para perceber que o outro não é tão outro assim.

A lógica expansionista do islamismo
            Observe alguns dados relativos às práticas religiosas da população mundial, comuns quando se discutem questões populacionais e alguns aspectos da lógica geográfica: há no mundo atual cerca de 2 bilhões de adeptos do cristianismo, o segmento religioso com o maior número de seguidores. Em segundo lugar, vamos encontrar o islamismo (muçulmanos ou maometanos), com 1,3 bilhões de adeptos. Depois aparecem: o hinduísmo (900 milhões), a religião tradicional chinesa (394 milhões) e o Budismo (394 milhões). Essas são as principais, mas existem muitas outras.
            Que populações praticam essas principais religiões? De que países elas são? As duas maiores religiões são multinacionais (cristianismo e islamismo). São praticadas em vários países; as outras religiões são mais circunscritas a um único país (hinduísmo na Índia; tradicional chinesa na China).
            É costume referir-ser ao mundo cristão e ao mundo islâmico (o Islã). Mundo é mais que país. Quer dizer: nessa realidade e nessa forma de se expressar, está embutida a idéia que o cristianismo e o islamismo são religiões expansionistas. Afinal de contas, China e Índia possuem as maiores populações e seria de se esperar que as religiões que essas populações praticam fossem as maiores do mundo. Mas não são. Perdem para aquelas religiões que são praticadas em vários países ao mesmo tempo. Seria interessante agora ver qual a distribuição geográfica do islamismo. Será que ele está bem distribuído no planeta? Os países com maiores populações islâmicas são Indonésia, Índia, Paquistão, Bangladesh, Egito, Turquia, Irã e Nigéria. Uma pequena lista dos países que possuem as maiores populações muçulmanas (página 34 do caderno do aluno), com dados divulgados pela CIA (norte-americana), pode começar a responder esta questão. Observe esta lista tendo como apoio de um atlas, para situar geograficamente os países citados.
            Numa comparação com o número total de islâmicos no mundo (1,3 bilhões) nota-se que nesses oito países encontram-se aproximadamente 68% dos muçulmanos do mundo. Islâmicos e muçulmanos são designações a respeito de uma prática religiosa associada aos árabes porque a origem do islamismo ocorreu entre os povos árabes. Seu profeta foi o árabe Maomé. E foram os povos árabes que difundiram e expandiram as áreas onde se pratica o islamismo. O território habitado pelos povos árabes é o que se chama de península arábica. Esses povos, em função de sua história ao longo do tempo, construíram vários países (Arábia Saudita, Omã, Emirados Árabes Unidos, Kwait, Egito, Síria, Territórios Palestinos etc.). Houve também uma expansão dos próprios árabes para o norte da África, abrangendo o Iêmen do Sul e do Norte, Líbia, Marrocos, Tunísia. Enfim, todos são árabes, não apenas os da Arábia Saudita. Na lista dos oito países que têm mais população islâmica, apenas o Egito é um país árabe mais populoso. Os países árabes terminam não sendo muito populosos, entre outras razões, pela condição de seus territórios dominados por um grande deserto. Os árabes, na verdade, representam apenas 1/5 dos muçulmanos do mundo. Mas, o islamismo, que é criação árabe (e que em si já possui muitos elementos da cultura árabe propriamente dita), é o principal fenômeno de identidade cultural de uma vasta região que inclui o Paquistão, o Afeganistão, Bangladesh, Irã, que constituem uma espécie de Oriente Médio expandido. Isso, mais imediatamente, mas como os dados mostram, essa influência chegou ao oeste da África e ao leste asiático (Filipinas e Indonésia).
            Nos territórios árabes não se encontra a maioria da população islâmica, apenas 1/5. Será então que a civilização árabe ficou menos importante no mundo islâmico? A resposta é não, muito pelo contrário. Nem tudo que é ligado aos grupos populacionais humanos depende da quantidade. O centro do Islã é ainda a civilização árabe. O território árabe e a cidade de Meca (página 36 do caderno do aluno) são as conexões geográficas para onde ainda todos vão e de onde tudo partiu. Leia o texto “Como se expandiu o islamismo” na página 38 do caderno do aluno.
No mundo católico cristão também não é assim? O Brasil é o país católico mais populoso, mas não é aqui o centro principal dessa prática religiosa. O centro principal está na Itália (Vaticano).


4º BIMESTRE

13. Espaços relacionais, espaços de conexão

Quais os significados e os efeitos sociais da configuração espacial que é a cidade? As cida­des são espaços relacionais por excelência, nas quais se produziu e se produz o fundamental dos elementos estruturadores do mundo mo­derno, incluindo o campo da cultura, em seu sentido mais amplo. Não são apenas espaços que promovem relações no seu interior, mas que conectam seus habitantes a redes sociais de outra escala geográfica, com outras cidades, com outras culturas, com o mundo.
Nas cidades, os seres humanos aglome­ram-se e diminuem as distâncias entre si, mas, ao mesmo tempo, conectam-se e associam-se a espaços distantes. Elas são, portanto, a an­títese do isolamento geográfico. Vamos estudar as características essenciais das cidades, em especial as das grandes cidades.
O que é uma cidade? É comum encontrarmos dificuldade para discursar a respeito. Sobre cidade, vive-se o mesmo impasse que o filósofo católico Santo Agostinho (354-430) mencio­nava quando o tema era o tempo. Dizia ele algo assim: "O tempo... se não me pergun­tam sei o que é, mas se me perguntam... já não sei mais".
Normalmente, esse tipo de situação ocorre quando estamos diante de fenômenos que, de tão presentes em nossas vidas, não são mais alvo de nossa atenção, porque evidentemente já o conhecemos. Isso ocorre com o tempo, com o espaço, com o rural, com o urbano e com a cidade, por exemplo. Mas o que sa­bemos? E por que isso é importante? Porque, ape­sar de imersos nessa configuração espacial que é a cidade, muito dos seus sentidos e de sua força em nossa vida escapa de nossas consciências. É provável que pensam palavras e expressões como: concentração, aglomeração, muita gente junta, lugar que tem muitas coisas, lugar que tem confusão etc. Na maioria delas, há um componente espacial: concentração, muita gente e objetos em direção a um cen­tro, a um único ponto do espaço; aglomeração tem o mesmo sentido; muita gente junta, lugar que tem muitas coisas são formas comuns de se referir a aglomeração e a concentração; lugar que tem confusão já é uma afirmação que ava­lia o ajuntamento no espaço como algo difícil de ordenar, logo, a bagunça. Concentração, aglomera­ção e ajuntamento são formas espaciais, ma­neiras de se construir espaços, que diminuem a distância entre as pessoas e os objetos, e são conceitos opostos à expansão, à dis­persão e ao espalhamento, que são ocorrên­cias espaciais que aumentam as distâncias entre as pessoas e os objetos. Uma questão pode ficar para reflexão dos estudantes:Não será essa forma espacial, a concentração, a essência da cidade? Como a Geografia é uma dis­ciplina que volta sua atenção às lógicas es­paciais que percorrem nossas sociedades, ela tem a responsabilidade de trazer à luz do dia o que essas lógicas escondem.

Abrindo a caixa-preta das cidades
Observe o mapa “Estado de São Paulo: cidades mais importantes”, na página 4 do caderno do aluno, com suas principais cidades assinaladas. As várias bo­linhas pretasrepresentam o conjunto das ci­dades. A única diferente é a cidade de São Paulo, que recebe destaque ao ser representada por uma bolinha preta com um círculo em volta. Amaior concentração des­sas bolinhas acontece nas proximidades da capi­tal e elas se dispersam em direção ao interior.
A Geografia não mapeava os espaços internos das cidades, reduzia-os a bolinhas pretas em mapas de outra escala, como o do Estado de São Paulo. Os mapas da Geografia são dominantemente de escala geográfica regional, nacional ou mundial, quer dizer, são mapas em que a maior parte da representação diz respeito aos vazios demográficos, já que nessas escalas as cidades viram bolinhas. Raramente se vê numa aula de Geografia, em atlas geográficos escolares e nos livros didáticos mapas dos espaços internos das cidades. Os espaços humanos mais complexos - centros geradores e comandantes da economia e da cultura modernas e espaços de moradia da maioria da população - são negligenciados pela Geografia e pela Cartografia. Assim, nega-se o acesso direto às realidades geográficas que lhes são mais imediatas.
Agora, observe os mapas das duas áreas metropolitanas mais importantes do Estado: “São Paulo: região metropolitana”, na página 8 e 9 do caderno do aluno, que está entre as maiores aglo­merações do mundo de escala local, e “Campinas: região metropolitana”, na página 10 e 11 do caderno do aluno.
No mapa de São Paulo, as manchas assinaladas em rosa, que incluem o município de São Paulo, compõem a área urbana, cuja população, em 2007, era de cerca de 18,8 milhões de habitantes. O número de edificações, de infraestruturas urbanas, de negócios diversos e de recursos cul­turais é imenso nessa grande metrópole que é, em si, um mundo. Ser um mundo em si significa que, em sua relativa pequena extensão espacial, há um máximo de concentração de população e de objetos geográficos construídos pelos se­res humanos.
Trata-se de um mundo isolado geograficamente, ou ao contrário: seria vocação dessa impressionante aglomeração humana a abertura e o relacionamento com os mundos externos?
Essa questão revela o potencial relacional de uma grande cidade e como esse gênero de configuração espacial é decisivo para a compreensão da geografia do mundo que vivemos, pois, para além do seu espaço interno, uma grande cidade estende seus tentáculos - a metrópole de São Paulo, que soma vários municípios -, cria imensas redes sociais, que, por vezes, alcançam a escala global.
Provavelmente, ninguém entende uma grande cidade como um espaço isolado geograficamente, mas certamente é necessário examinar com detalhes todos os elementos de uma grande cidade, que comprovam sua articulação com regiões bem mais amplas.
Alguém, em sã consciência, poderia entender que uma grande cidade teria uma população composta apenas por pessoas nascidas em seu território? Como se poderia reunir num espaço concentrado, de distân­cias reduzidas, cerca de 18,8 milhões de pessoas, como no caso de São Paulo (dados de 2007)? Ainda mais considerando que, há 50 anos, essa população não ultrapassava 4 milhões de habitantes. O que explica essa multiplicação acelerada da população? A migração de pessoas de outras partes do Estado de São Paulo, do Brasil e do mundo é a principal fonte do povoamento de uma grande cidade. Antes de tudo, toda grande cidade é uma concentração de migrantes e imigrantes que, em geral, não perdem o vínculo com suas localidades de origem (no mínimo se correspondem). Isso, por si só, já significa ligações da cidade com outras sociedades e outros espaços. Já significa a formação de redes sociais, inerentes a qualquer grande cidade.
No quadro “Até onde vão as redes sociais e geográficas das grandes cidades”, na página 12 e 13 do caderno do aluno, são apresentados algumas características de uma grande cidade, por exemplo, São Paulo. Esses são 15 pontos que ajudam a abrir um pouco a caixa-preta das cidades, em especial das gran­des cidades. Podem-se acrescentar vários outros ou organizá-los de diversas formas. Eles servem de exemplo dos elementos geográficos de uma grande cidade que exercem seu papel muito além do espaço local, da escala local.
Esse quadro pode ser enriquecido com fatos concretos, usando diretamente uma cidade real, como por exemplo São Paulo. Vejamos dois exemplos:
- Atividades artísticas: a cidade pode sediar uma mostra in­ternacional de cinema anual de muito pres­tígio e festivais de música de vários géneros; tem uma estrutura razoável de salas de ci­nema e de espetáculos e recebe espetáculos e artistas do Brasil e do mundo rotineira­mente; tem museus e exposições bem visita­dos, inclusive recebe público que viaja com esse objetivo etc.;
Poder político: a cidade não é a capital do Brasil, mas é a maior e a mais influente cidade do país. Alguns dos principais partidos que atuam na política nacional têm origem na metrópole paulista, assim como algumas das principais lideranças saíram dessa cidade (que vai além do município de São Paulo). Os interesses formados nessa cidade costumam ter força política no quadro nacional.
Não faz sentido afirmar que as cidades, em es­pecial as maiores, são espaços relacionais por excelência?

Cidades: plataformas para a transição das escalas geográficas
O mesmo quadro pode agora ser utilizado para avaliar outras cidades. Se a cidade for média ou pequena, pode ocorrer algo semelhante aos dois exemplos seguintes:
- Atividades educacionais I ↔ Cidade média (+ 70 mil habitantes) = por escassez de demanda, é bem provável que alguns níveis de ensino não existam, por não haver público suficiente, nem interesses estabelecidos para que existam esses cursos, por exemplo. Os interessados dessa cidade em frequentar cursos superiores deverão procurar vagas em outras cidades maiores.
- Infraestrutura de trans­portes ↔ Cidade média (+ 100 mil habitan­tes) = boa malha rodoviária em sua direção; bom número de linhas de ônibus para cidades da região e para a capital, mas para outras localidades do país é preciso ir para outra ci­dade maior onde se pega outro ônibus; para uma viagem aérea, deve-se ir para a capital ou para outra cidade maior do Estado que possui aeroporto.
Qual o objetivo dessa comparação? O que está sendo medido é a força da cidade de extrapolar seus próprios limi­tes; de alimentar redes sociais de outras escalas; de atrair mais moradores, negócios e eventos. É evidente que uma cidade média perderá, por comparação, para uma cidade grande, que tem mais recursos para saltar para outras escalas geográficas de relações. Porém, nem sempre o tamanho é inteiramente decisivo. Uma cidade como Londres, em 2007, contava com uma população de cerca de 8,6 milhões de habi­tantes, ou seja, bem menor que São Paulo, mas ela levaria vanta­gem em vários itens do inventário construído, se comparada à capital paulista.
Com o objetivo de caracterizar a condi­ção das cidades quanto à sua capacidade de influenciar e se articular com outros espaços e outras sociedades, os estudiosos do fenômeno urbano têm procurado classificá-las. Nesse esforço, vários termos vêm sendo emprega­dos: metrópoles; megalópoles (megapólis e gigapólis); cidades mundiais ou globais; arqui­pélago megalopolitano mundial; entre outros.
Todos esses termos referem-se a cidades ou reunião de cidades (espaços urbanos) que têm a capacidade de se inserir em escalas mais elevadas e, no limite, na escala mundial. A de­finição mais comum de metrópole diz respeito à sua capacidade de comandar territórios, so­ciedades e negócios para além de seu próprio território.
São Paulo corresponderia a essa situação? São Paulo é, sem dúvida nenhuma, uma grande metrópole. Se fosse Campinas, certa­mente seriam encontradas características para catalogá-la como uma metrópole, embora menor e menos influente que São Paulo. Outros centros urbanos do Estado não chegam a essa condição, mas poderá se notar a presença de alguns elementos metropolitanos em algumas delas: São José dos Campos, Ribeirão Preto e São José do Rio Preto, por exemplo.
E olhando para o mundo? Vamos lembrar uma expressão que está sendo muito utilizada desde os anos 1990: cidades globais (ou mun­diais). Como o próprio nome diz, são aquelas cujas influências têm escala mundial de fato. Mais até: seriam os lugares mais estratégicos da globalização, os principais lugares da rede de relações econômicas que forjam a globali­zação. Nos anos 1990, admitia-se que apenas três metrópoles chegavam a tanto: Tóquio, Nova Iorque e Londres. Hoje, já se admite que há outras que podem ser consideradas cida­des mundiais. E São Paulo? Ainda, segundo esse modo de classificar as cidades, não teria alcance global, mas teria forte alcance regional ou zonal.
Mas essa forma de classificar isoladamente cidades é bem discutível. Talvez o ideal fosse apenas verificar se a cidade propicia o acesso cotidiano de sua população e de suas rela­ções à escala mundial. E isso São Paulo proporciona de forma evidente. Nesse caso, seria uma cidade global. Não somente porque in­fluencia, mas porque recebe a influência e pertence à rede geográfica da globalização.
São Paulo é uma cidade global enão é uma cidade global. Mas qual é a reali­dade? É ou não é? A realidade existe, mas ela somente chega até nós conforme a olhamos. E, no caso, mencionamos duas formas de in­terpretar essa realidade:
1.  Conforme o critério de capacidade isolada de influência, São Paulo tem força para in­fluenciar muito pouco na escala mundial, logo não é uma cidade global (uma metró­pole global).
2.  Segundo o critério de pertencimento a redes sociais e econômicas de relações que carac­terizam a globalização, São Paulo é plena­mente uma metrópole global.
Qual dos dois critérios mencionados revela melhor a realidade que vivemos?Essa discus­são é mais importante do que simplesmente discutir se São Paulo é ou não uma cidade global.
Algo mais pode ser acrescentado à questão das cidades e às suas relações que se estendem a outras escalas: certas regiões do mundo reú­nem em espaços de pequenas extensões mais de uma metrópole, que articulam de tal modo as relações entre si que é justo se falar num espaço urbano de outra escala, a escala regio­nal. Esse espaço urbano que articula intensa­mente mais de uma metrópole é comumente designado como megalópole. Numa megalópole, encontram-se mais claramente os ele­mentos de integração na escala global.
No quadro “Arquipélago Megalopolitano Mundial (ou Global)”, na página 18 do caderno do aluno, estão mencionados e localiza­dos os principais centros urbanos, que, como grandes ilhas em conjunto, formam uma espécie de arquipélago: Arquipélago Megalopolitano Mundial. Essa seria, como alguns autores dizem, a estrutura espacial básica da globaliza­ção. E São Paulo faz parte dessa estrutura. Em cada um dos conjuntos, seus núcleos são bem articulados.
Até onde vão e de onde vêm os bens materiais (mercadorias) e imateriais (informações, influências) que cercam nossas vidas no Estado de São Paulo. Afinal, é justo incluir São Paulo como uma metró­pole integrada na realidade da escala global?

14. As cidades: criação e irradiação do consumo

As configurações urbanas reúnem, em uma dis­tância mínima, um número máximo de pes­soas e recursos. Além da imensa massa de relações que se estabelecem entre os habitan­tes e os recursos de um espaço urbano, a vida na cidade permite relações em outras escalas geográficas, com outros espaços e sociedades. É por isso que uma cidade chega à condição de metrópole.
Não é por acaso que o fundamental da vida humana, no mundo moderno, se orienta por criações que têm origem nas cidades. Esses são os casos da criação econômica e seu comando, das ciências, das diversas faces da cul­tura, da política. Entre as práticas modernas, uma que tem um peso importante em nossas vidas e uma complexidade de múltiplos signi­ficados é o consumo. O local fundamental do consumo é a cidade. Não somente o ato em si, mas também no que diz respeito à sua inven­ção,  e à invenção das necessidades nas cidades e a sua irrigação para o mundo a partir das cidades que participam das redes sociais de escala global.
Quais as relações entre consumo e cidade? Como é o consumo em suas vidas?
Vamos ler o texto “A Revolução Industrial e o consumo” na página 22 do caderno do aluno. O que a transferência desses contingentes populacionais para as cidades, que a nova industrialização estimulou ou mesmo obri­gou, impôs a essas pessoas? Um novo estilo de vida. Elas não puderam mais produzir os bens para sua sobrevivência e passaram a ter que comprá-los. A vida urbana, nesse sentido, criou o consumo como meio necessário de sustentação material dos novos habitantes. A vida urbana estava criando um mercado que, antes, não existia. Logo, o consumo, para co­meço de conversa, é resultado de um modo de vida num espaço no qual os alimentos são produzidos em outras áreas. O consumo de nossos meios de vida não é, portanto, algo natural. É uma construção social fortemente vinculada às cidades.
O que os habitantes do meio urbano preci­sam comprar em razão de viverem nesse tipo de espaço, de praticarem um modo de vida especí­fico? Vivendo em áreas rurais, e assim tendo ou­tro modo de vida, as necessidades de consumo seriam as mesmas?
Os espaços geográficos sociais têm modos de vida e uma prática específica, no caso, o consumo.
Essa reflexão é um passo importante para o enriquecimento do olhar sobre   as  realidades: a desnaturalização de ocorrências, que na verdade, são construções sociais e históricas.

Os novos modelos de consumo e as metrópoles
Qual a relação entre o elemento es­pacial e as necessidades do consumo? A ideia agora é verificar alguns aspectos desta relação (cidade ↔ consumo) numa situação contem­porânea e real: na metrópole global que é São Paulo. O primeiro passo é a leitura do texto “O consumo e o espaço interno das metrópoles: o caso de São Paulo”, na página 22 do caderno do aluno”.
A reflexão se inicia com a grande cidade que é São Paulo. É importante saber raciocinar a partir de informações indiretas, porque esta é, aliás, uma prática comum no mundo do conhecimento. A ampliação das redes de supermercado e hipermercado nas grandes cidades prejudica o pequeno comércio de rua. Os grandes supermercados são concorrentes poderosos demais para os pequenos negó­cios distribuídos nas ruas dos bairros, mais próximos das residências. Os pequenos co­merciantes não podem competir em preços e na diversidade de produtos e perdem para a força cultural associada ao consumo das grandes redes de supermercado. Com isso, esse tipo de comércio entra em decadência, juntamente com a vida econômica das ruas.
Os grandes supermercados são os princi­pais centros de abastecimento nas grandes cidades. No entanto, não existe um a cada esquina e, na maioria dos casos, as pessoas têm de realizar deslocamentos longos para chegar até eles. Assim, é difícil fazer com­pras usando transporte coletivo. O automóvel praticamente se impõe nessa forma de abas­tecimento, o que o torna mais dispendioso, aumenta o gasto de tempo e sobrecarrega o sistema viário da cidade.
As práticas em São Paulo terminam sendo transpostas para outras cidades menores, tal é a influên­cia do seu modo de vida e de suas práticas cotidianas. Vamos tratar de outro exemplo: em São Paulo, a moradia em condomínio fechado é um bem econômico muitíssimo valorizado. O setor imobiliário é o mais poderoso e lucrativo segmento da economia urbana. A onda de condomínios fechados é justificada pelo problema de segurança, e isso justificaria as famílias se enclausura­rem em ambientes protegidos. Pois bem, em cidades menores do Estado, nas quais não existem problemas sérios de segurança, esse modelo de moradia também está sendo adotado. É moderno, é da capital, com toda sua capacidade de influenciar os hábitos de consumo.
O consumo e seus novos modelos de espacialização são suficientemente fortes para interferir na estruturação de uma cidade mundial, como São Paulo, por exemplo. Além disso, outras ci­dades terminam sendo influenciadas pelas for­mas e pelos hábitos de consumo das grandes cidades. Essa lógica é cada vez mais acentuada na medida em que as conexões entre as cida­des intensificam-se formando redes geográficas urbanas de caráter cada vez mais mundial. As corporações transnacionais do consumo en­contram, nessa estrutura geográfica que elas ajudaram a criar, um terreno propício para expandir seus negócios. Essa nova situação geográ­fica sedimenta uma nova estrutura urbana mundial. As formas de consumo surgi­das no interior das cidades terminaram se expandindo em escala mundial.
Na experiência cotidiana da vida urbana moderna, não somente nas grandes cidades, mas também nas cidades médias, o consumo apresenta-se muitas vezes organizado em re­des. Aliás, essa é a forma popular de os consu­midores se referirem a certos tipos de negócios. Essas redes estão nos ramos de alimentos (lanchonetes fast-food, pizzarias, restauran­tes); de roupas e calçados; de equipamentos esportivos; de cosméticos; e de vários outros. Muitas dessas redes não se restringem à escala do Brasil, pois são, na verdade, redes que se estruturam na escala mundial, instalando-se, no mínimo, em capitais de diversos países.
Faz parte da lógica desses negócios procurar forta­lecer sua imagem, realçando o tempo todo seu caráter mundial, o que pode ser expresso com slogans publicitários tal como: "...finalmente, chegou ao Brasil o produto X, que já era objeto de consumo das principais cidades do mundo (ou das sociedades mais modernas.)". O fato de ser mundial, de ser objeto de consumo de outras cidades, acrescenta desejo de consumir nas po­pulações de cidades que ainda não têm acesso ao bem de consumo, e as redes mundiais desses negócios sabem como se promover e despertar grande interesse. Não é incomum aglomera­ções e filas para experimentar, por exemplo, um alimento fast-food"mundialmente conhecido", recém-introduzido numa cidade.
Essas redes de negócios em escala global são as primeiras a querer informar sobre sua força mundial e, por esta razão, mantêm sites que oferecem boa parte das suas informações e também por meio de outros materiais.
Isso quer dizer também que, além das pró­prias empresas, muitos estudiosos, muitas pu­blicações (inclusive livros didáticos) organizam dados sobre essas empresas. Nas pró­prias lojas, haverá quem forneça material ou informe os caminhos para se obter as informa­ções.

A representação cartográfica 
É insuperável o valor da visualização cartográfica para que se possa vislumbrar a dimensão global de um bem de consumo urbano e detectar a irradiação dos hábitos de consumo por intermédio de redes,  utilizando informações relacionadas à localização geográfica das unidades da rede e também em relação ao volume de unidades. O mapa permite uma visualização do fenômeno sob vários pon­tos de vista. Além da configuração da rede (articulação, pontos mais densos, áreas mais antigas, áreas mais novas, velocidade de ex­pansão da rede), algumas outras observações podem ser feitas sobre a força de irradiação do consumo que certas cidades (e certas redes) possuem.
A ex­pansão de uma rede, segundo o seu tipo de produto, pode ou não acontecer por uma questão cultural. Essa é uma di­mensão da força das redes que vale a pena des­tacar. Por exemplo: como uma rede de fast-food que vende hambúrguer, consegue se insta­lar em países que restringem culturalmente o hábito do consumo de carnes? Ou, então: como uma rede de roupas jeans consegue penetrar em áreas cujos vestuários masculino e feminino são bastante diferentes desse tipo de vestimenta? Nesses casos, não é possível falar em transformação cultural produzida pela irradiação do consumo?
A cidade, de acordo com seu consumo, pode ser inserida no grupo das cidades mundiais (rede de cidades), que interferem na expansão de modelo de consumo e nas transformações culturais.

15. As redes turísticas: o consumo dos espaços urbanos

Em um mundo em que aumenta a mobi­lidade humana, em que as conexões entre os lugares se intensificam (fato que se nota espe­cialmente nas cidades), potencializa-se uma atividade humana que está em crescimento: o turismo.
Para a atividade turística, os lugares do mundo são mais acessíveis em razão das novas tecnologias de transporte, da queda no custo das viagens, da ampliação do tempo livre das pessoas e da melhoria da capacidade de recep­ção ao turista nos lugares de destino. Num mundo assim, o ser humano seria inevitavel­mente um turista.
Em torno dessa atividade, formam-se redes geográficas e econômicas. Desse modo, cresce o pertencimento dos viajantes-turistas aos lu­gares do mundo, e eles podem agora consumir os diversos lugares atrativos com mais frequên­cia e regularidade.
O fenômeno turístico é muito conhecido no mundo contemporâneo, em especial em certas áreas do Brasil. Seguramente, percebemos o turismo, se não de forma direta, ao menos de forma indireta, pois a prática turística é bem presente nos meios de comunicação, por exemplo.
Imagine, numa grande cidade, uma loca­lidade muito conhecida, onde se encontra um monumento (uma igreja muito antiga, uma grande torre, uma estátua importante, um mu­seu etc.) ou então uma localidade que é muito conhecida por ter sido palco de um grande acontecimento (um ponto onde se declarou a independência de um país, por exemplo). Áreas assim são atrações e, por isso, recebem muitos visitantes, que nelas exploram todos os detalhes, tiram fotografias etc.
Esses vi­sitantes podem ser todos caracterizados como turistas? Todos estão praticando o turismo?
Alguns visitantes podem ser moradores da cidade ou de suas cercanias e estão apenas visi­tando aquele ponto porque também o apreciam. A cidade é muito grande, não é sempre que seus moradores conseguem ir até ali, a não ser em momentos especiais, no seu tempo livre, nas festas. Ali, como visitantes, vão se comportar do mesmo modo que qualquer outro visitante.
Como distinguir os turistas em meio a uma realidade mais ampla, a de todos os visitantes de locais turísticos? Nesse esforço de distinguir os visitantes do lugar atrativo, a palavra-chave é viagem. Essa pa­lavra é um divisor de águas entre o visitante comum de um lugar e o visitante-turista. O conceito de turismo pode ser construído ba­seado nesta condição.
Segundo a Organização Mundial do Tu­rismo (2001), compreende-se por turismo as atividades (de lazer, de negócios etc.) que as pessoas realizam quando viajam por mais de um dia consecutivo para lugares diferentes do seu entorno habitual.
O visitante que viajou está fora do seu cotidiano, está em outro lugar, não mora ali, está hospedado. Ele está viajando. Já o visitante da própria cidade não está fora do seu cotidiano, mora ali, não está hospedado, logo, não está viajando. São dois personagens diferentes e em situações distintas.

O turismo: um fenômeno que constrói espaços
Aqueles visitantes que não eram turistas, que moravam no lugar, estavam praticando lazer. Todos visitavam a atração da cidade, mas alguns praticavam o turismo e outros praticavam o lazer.
Um elemento que compõe o cotidiano de qualquer pessoa é o lugar, o lugar geográfico. Lugar é o quadro geográfico de vida, no qual a distância não impede que as relações do dia a dia (moradia, trabalho, escola, lazer, relações pessoais) se realizem. O que não podemos realizar no dia a dia, porque é muito longe para nós, está fora de nosso lugar. Uma frase resume essa conceituacão: o lugar é o tamanho geográfico de nosso cotidiano. Ele representa a escala local.
Assim, pode-se utilizar a contextualização da Organização Mundial do Turismo (2001) para complementar a caracterização:
- Turismo: viagem de mais de 24 horas para fora do lugar;
- Excursão: viagem de menos de 24 horas para fora do lugar;
- Lazer: visita a um ponto turístico ou de lazer feita por um morador do lugar.
            Essa caracteri­zação estabelece um vínculo entre o lazer e a atividade turística, mas o conceito de lazer possui uma amplitude maior: consi­dera todo o tempo disponível, excluindo-se as horas de trabalho, que pode ser dedicado às atividades que dão prazer às pessoas. Esse tempo poderá servir para visitar algum ponto atrativo local.
Todas as viagens podem ser caracterizadas como turismo? Se, por exemplo, alguém vai a uma festa de casamento de um parente, não foi fazer turismo. Mas há práticas que envol­vem viagens que estão sendo chamadas de turismo, e o melhor exemplo é o chamado turismo de negócios. Faz sentido dizer que pessoas que viajam a negócios praticam algo que possa ser cha­mado de turismo?
O turismo de negócios também é um tema polêmico na própria área, com defesas favoráveis e contrárias a essa categoria turística. Alguns pesquisadores, como Cunha (2001), conciliam a questão dos negócios com a atividade turística, ao afirmar que o turismo de negócios com­porta as atividades de visitação que decor­rem de viagens com a finalidade de realizar negócios ou outras atividades profissionais. Reforçando essa posição, o Ministério do Turismo (2008) afirma que as atividades tu­rísticas decorrentes de viagens de negócios (participação em feiras e convenções, reu­niões comerciais etc.) caracterizam-se como turismo de negócios e eventos.
As motivações para o turismo são variadas e os lugares procurados também, es­pecialmente onde há mais tempo e as pessoas se organizam para a prática do turismo. No passado, as atrações turísticas eram outras e novas motivações foram acrescentadas a elas. Alguns exemplos:
- Hidroterapia, climatismo, alpinismo, es­portes de inverno, esportes de verão: re­ferem-se às diferentes práticas do passado, algumas ainda são muito procuradas, como os esportes de inverno nos países temperados;
- "Turismo cultural", "turismo balneário ou litorâneo", "turismo de montanha", "turismo verde" (ecoturismo e "turismo rural"): são termos referentes a certas rea­lidades espaciais e sociais (grupos sociais tidos como exóticos, praias, montanhas, santuários ecológicos, área rural);
- O descanso, o divertimento, a procura de outras experiências e a realização de uma necessidade existencial são referências às finalidades buscadas pelos turistas.
Como se dá a organização espacial do tu­rismo e de suas redes?
Em função da sua capacidade de recepção, população local e funções urbanas diversificadas, os espaços turísticos são classificados em sítio turístico, infraestrutura turística, estações turísticas e cidade turística, como observamos no quadro “Distinção de diferentes espaços turísticos”, na página 32 do caderno do aluno. Os lugares turísticos funcionam articulada­mente. Vale a pena defini-los rapidamente:
- Sítio turístico: É a atração turística propriamente. Uma área destacada no interior de outros espaços e que possui a função turística pura. Esse é o caso das pirâmides do Egito (e de outras ruínas daquela civilização antiga); das pirâmides maias na América Central; de formações naturais (quedas d'água, picos de montanhas, por exemplo). Nos sítios turísticos não se hospeda e não mora ninguém. Os tu­ristas dirigem-se até eles, visitam-nos e retiram-se.
- Infraestrutura turística: Lugar pouco conhecido em nosso território, mas muito comum em paí­ses turísticos. Por exemplo, nas escaladas e trilhas em regiões montanhosas existem lugares que apoiam o turismo, até com serviços de hospedagem. Não mora ninguém nesses lugares, não são eles a atração, mas foram construídos como parte necessária das redes espaciais do turismo. Aeroportos em lugares afastados por vezes cumprem esse papel. São portas de entrada para áreas exploradas por certas práticas turísticas.
- Estação turística: Esse gênero de lugar turístico já é mais familiar. Estrutura-se em áreas po­voadas, pequenas cidades em geral, com grande capacidade de hospedagem para o período da estação turística. Suas atrações vinculam-se às estações do ano. Esse é o exemplo dos pequenos povoados em regiões montanhosas que lotam de turistas na estação do inverno, ou, então, das pequenas cidades litorâneas que se transformam no verão. Sem o turismo, são áreas urbanas sem a diversidade de atividades e recursos de uma grande cidade. Um exemplo bem conhecido de São Paulo: Campos do Jordão, estação turística de inverno.
- Cidade turística: São as cidades que recebem muitos turistas, mas têm uma vida ampla e diversi­ficada para além dessa atividade. São centros urbanos plenos, que exercem todas as funções das áreas metropolitanas e são visitadas inclusive por isso. Entre eles, estão os principais destinos dos turistas do mundo e exemplos não faltam: Paris (França), Londres (Inglaterra), Nova Iorque (EUA), Rio de Janeiro, Salvador, Sydney (Austrália), Barcelona (Espanha) e muitas outras cidades.
            Qualquer lugar turístico se encaixa em uma dessas quatro categorias. Elas compõem a rede espacial do turismo e sua escala de abrangência pode ir do local até o global.
As reações, as conseqüências e os efeitos do turismo no mundo, um fenômeno novo (na proporção atual) na his­tória da humanidade, não estão ainda absorvidos.

A escala do fenômeno turístico: o apoio na rede de cidades
O turismo tem uma dimensão econômica importante que contribui para a criação de riqueza em diferentes escalas. Na escala mun­dial, com mais de 700 milhões de deslocamen­tos, o turismo contribui com cerca de 10% da riqueza mundial. Em países em desenvolvi­mento, uma porcentagem ainda maior de sua riqueza provém do turismo; porém, países ricos, como a França ou a Espanha, arreca­dam perto de 10% de suas riquezas dessa atividade.
que significam as práticas turísticas no mundo contemporâneo? Observe a representação cartográfica “Destinações do turismo internacional, 2005” apresentada na página 36 e 37 do caderno do aluno
Podemos utilizar esse mapa também para trabalhar sua linguagem visual. Ele foi elaborado pelo Ateliê de Cartografia de Sciences Po (instituição de pesquisa francesa na área de Ciências Políticas), de acordo com os preceitos definidos por Jacques Bertin, em sua obra Semiologia gráfica. Para esse autor, que elaborou teorias de tratamento da informação, a imagem gráfica (no caso, o mapa) bem trabalhada favorece o apren­dizado, ajuda a construir um pensamento lógico com base em uma forma visual de interpretação.
Por que uma coleção de mapas? Na repre­sentação dos fluxos turísticos, os autores criaram mapas separados para cada con­tinente. Em cada um deles, encontra-se a origem dos fluxos que partem em direção aos outros continentes. Com isso, criaram uma coleção de mapas para representar um único fenômeno. A decisão foi toma­da porque, se os fluxos todos fossem repre­sentados num único mapa-múndi, haveria sobreposição, e isso dificultaria a inter­pretação do mapa. Olhando a coleção de mapas, pode-se responder de imediato à pergunta: onde estão os maiores fluxos de turistas no mundo? E esse olhar de conjun­to somente é possível porque os mapas são comparáveis. São mapas do mesmo tema e feitos com a mesma linguagem (mesma legenda, mesmos símbolos, e, no caso, a largura das setas têm a mesma proporcio­nalidade em todos os mapas).
O que mostra a coleção de mapas? Re­presenta quantidades em forma de setas que indicam direções (de um continente a outro), formando fluxos quantitativos. Representa também quantidades inter­nas a um único continente, por meio de círculos sobre os continentes ou regiões. A largura das setas mostra a quantidade de turistas viajando de um continente a outro; o tamanho dos círculos mostra o volume de turismo no interior do conti­nente.
O fluxo quantitativamente mais sig­nificativo de turismo intercontinental (entre continentes) é o da Europa para a América do Norte (em laranja), representado no mapa que centraliza a Europa pela seta proporcionalmente mais larga dos quatro mapas. Já o maior volume de turismo intra-regional (dentro do mesmo continente) está na Europa (em laranja) e está representado pelo maior dos círculos dos quatro mapas, indicando tam­bém o domínio do turismo de distâncias menores. A Europa é a área do mundo que mais recebe turistas intercontinentais vindos principalmente das Américas e da Ásia. É também o continente que mais envia turistas para os outros continentes, inclusive a África. Além de tudo isso, tem o maior turismo intra-continental. Isto é, ao mesmo tempo, sintoma de riqueza eco­nômica; boa qualidade de vida de seus habitantes que conquistaram parcelas de tempo livre; presença de localidades atrativas e de estruturas para atrair o turista e facilitar o turismo para o exterior. Em menor escala, essa situação se repete na América do Norte e no Japão.
A Europa é uma região bastante urbanizada. Os turistas que vão à Europa buscam as atrações urbanas, em suas grandes e muito conhecidas cidades. Paris é a cidade mais visitada do mundo; em 2008, recebeu cerca de 28 milhões de tu­ristas, sendo 9 milhões de estrangeiros. A única concorrência que as cidades européias sofrem vem das praias, no verão. As praias da Espanha e da Grécia, por exem­plo, são muito procuradas, em especial pelos europeus dos países mais frios. Em busca de sol e praia, muitos europeus vão também para a África.
A América do Norte, que é um destino de muitos turistas europeus, asiáticos e sul-americanos, tem várias atrações turísticas, mas as principais também são suas cidades e suas instalações urbanas, com destaque para Nova Iorque e os parques temáticos localizados em Orlando e em Los Angeles, por exemplo.
Algumas cidades atraem mais turistas que as outras localidades, que também têm atra­ções turísticas, por conta da riqueza de seus monumentos históricos ou arquitetônicos, paisagens populares ou ro­mânticas e seus grandiosos recursos culturais. A esses fatores tradicionais, exposições, congressos, eventos cultu­rais e desportivos alcançam uma grande difusão internacional As cidades têm várias situações estratégicas para atrair os turistas: infraestruturas de comunicação e de trans­porte, que partem e se dirigem para as cidades; concentração de recursos de hospedagem, de comércio, mercados populares e "étnicos", parques de lazer etc.
Apoiado nas redes de cida­des, o turismo intercontinental movimenta mais de 100 milhões de pessoas anualmente. Isso, adi­cionado ao turismo dentro dos continentes (cerca de 600 milhões), demonstra quanto no mundo contemporâneo as relações huma­nas estão se estreitando e quanto os espaços estão se transformando em espaços de todos. Por enquanto, os números da movimentação turística representam 10% da população mundial, mas todas as tendências indicam que esse processo de "consumo dos espaços" mal se iniciou.

16. Um mundo mais fluido: os caminhos geográficos das redes ilegais

Num mundo mais interconectado, que es­trutura seus principais núcleos urbanos em re­des e por onde circula um volume imenso de turistas, de novos bens e hábitos de consumo, circulam também pessoas, bens e informações fora do controle das leis vigentes.
Ao contrabando de mercadorias, à circu­lação de imigrantes clandestinos, ao tráfico de drogas e de armas, às redes de ilegalidade tradicionais (embora atualmente mais profis­sionais e mais sofisticadas), juntam-se: as no­vas formas de organização dos agrupamentos terroristas; os novos meios de fuga de recursos financeiros em "paraísos fiscais" (que não co­bram impostos sobre determinadas operações financeiras); a "lavagem" e o "esquentamento" de dinheiro sujo; e o comércio de produtos e de bens culturais com marcas famosas falsifi­cadas: a pirataria.
A rigor, as redes de ilegalidade se fortale­cem porque é possível fazer circular bens em escala global, há demanda para eles, e os con­troles que são feitos pelos Estados nacionais (países) não estão bem preparados para re­primir as organizações ilegais mundiais, bem mais poderosas e engenhosas do que eram antes.
Algumas atividades ile­gais, em nosso país, estão muito presentes em nosso cotidiano, direta ou indiretamente, pelos meios de comunicação, por exemplo:contrabando, pirataria, falsificação, "laranjas", tráfico de drogas ou de armas, muambas, sacoleiros, lavagem de dinheiro, dinheiro sujo, etc.
            Os piratas são personagens históri­cos, navegadores que viviam de saquear navios que transportavam mercadorias das regiões colonizadas pelos europeus. A pi­rataria clássica, de rapto e saque de navios, parece ter retornado, a partir da Somália, país que vive uma guerra civil desde 1990. Desde 1997, há re­latos de roubos de navios nas proximidades desse país. Hoje, quando se fala em produ­tos piratas e pirataria, são produtos falsificados, copiados de outros produtos famo­sos. A pirataria é um negócio ilegal, apoiado por redes e organizações poderosas, que vivem de copiar, de falsificar, de usar a identidade alheia. Produtos piratas são mais baratos: não pagam impostos e geralmente usam materiais de baixa qualidade.

Um mundo interligado: as redes da ilegalidade se fortalecendo
Os negócios legais ou as redes de ilegalidade operam em escala glo­bal, aproveitando diferentes oportunidades no mundo desigual e de controles e necessidades variadas.
O enfraquecimento do controle dos Estados nacionais favorecem a circulação de bens ilegais, e, depois, "purificam" seus resultados, dando condição legal ao dinheiro obtido.
Mui­tas vezes inexistem controles às redes de ilegalidade. Um exemplo é o próprio Brasil e sua maior cidade (São Paulo), cuja paisagem urbana atual está marcada por locais que concentram abertamente a comercialização de "produtos pirateados". Nesse comércio, mobiliza-se um volume muito grande de mão de obra e de compradores, que de outro modo não teriam emprego ou condição de comprar certos produtos. Mesmo quem poderia comprar produtos mais caros, termina se be­neficiando desse comércio. Aí, a ilegalidade se mistura com problemas sociais e econômicos do país. Esse é um aspecto da complexidade do problema. Outro aspecto são os malefícios que esse comércio ilegal produz sobre várias atividades legais que vão sofrer com perda de mercado, o que vai ocasionar desemprego, por exemplo. Além disso, muitos outros riscos - de saúde, de segurança etc. - estão implica­dos no comércio ilegal.
O mapa “Os paraísos fiscais”, na página 44 do caderno do aluno, mostra a localização dos paraísos fiscais, mas não mostra a importância deles por meio de uma relação visual de ordenação ou de quantidade e não há representação das movimentações financeiras de cada um deles, que certamente são diferenciadas.
No paraíso fiscal, as operações são secretas. Se não houvesse sigilo e todos soubessem para onde vai o dinheiro dos traficantes, quais negócios legais foram abertos com esse dinheiro, enfraque­ceria os paraísos fiscais e as organizações criminosas em suas operações no mundo. As transações ilícitas  se­riam reveladas e a expulsão do "paraíso", mais eminente.
No mapa, pode-se ver a distribuição geográfica desses lugares. Por que ocorre a concentração dos paraísos fiscais na região da América Cen­tral, no mar do Caribe? Os Estados nacionais identificados como paraísos fiscais são quase todos ilhas, quase todos de pequena extensão territorial e, seguramente, com poucos recur­sos econômicos próprios. Sua vida econômica depende do turismo (que neles é bem forte) e espaço livre de controles aos capitais.
A segunda maior concentração de paraísos fiscais, que o mapa nos mostra, é na Europa. São áreas de pequena extensão, espécies de recortes que ficaram fora da divisão territorial dos principais países europeus. Encontram-se num continente rico e ser­vem de algum modo para que muitos milio­nários europeus, por exemplo, mudem para esses paraísos para fugir de impostos nos seus países de origem. São paraísos fiscais tanto quanto os outros e também mais ou menos fora do controle das leis interna­cionais. Logo, servem de apoio às redes de ilegalidade.