1ºBIMESTRE
1. Fronteiras da
República Federativa do Brasil (uso do vídeo)
Vamos iniciar
nossos estudos a partir das fronteiras e limites do território brasileiro,
tendo em vista o ordenamento jurídico administrativo da República Federativa do
Brasil. Como exemplo, vamos interpretar o mapa político do país, assim como de
outros mapas em diferentes escalas, tornando possível situar a unidade escolar
no município, na região administrativa e no Estado de São Paulo.
A República
Federativa do Brasil é organizada em três níveis de poder: o municipal, o
estadual e o federal. Assim, para estudar o território brasileiro é preciso
considerar mapas em diferentes escalas, do território do município ao
território da nação.
O mapa na página 3
do caderno do aluno apresenta a divisão política do Brasil. O Brasil é um país,
uma nação e está no âmbito federal. Quando algo se refere como federal, devemos
entender que é no sentido do país. Por exemplo, quando vemos uma informação que
tal obra é realização do Governo Federal, é algo que o presidente do país
determinou, tem uma abrangência maior.
O país está
dividido em vários “pedaços” que chamamos de Estado. Como exemplo, temos
Roraima, São Paulo, Minas Gerais. Os estados são administrados pelos
governadores. No “Mapa da divisão municipal do Estado de São Paulo”, na página
4 do caderno do aluno, observamos o Estado de São Paulo dividido em vários
“pedaços”: os municípios ou cidades. Os municípios (cidades) são administrados
pelos prefeitos. Como exemplo mais próximo temos Osasco, Cotia, Guarulhos, São
Paulo, Santo André. Tente localizar a cidade de São Paulo no mapa da página 4.
Para enriquecer
nosso entendimento, vamos analisar o exemplo da família de um menino que vive
no município de Araruama, no estado do Rio de Janeiro. O vídeo “Araruama, o
espelho das águas” apresenta aspectos históricos, econômicos e políticos da
formação do município de Araruama, com base em situações da vida cotidiana.
A
Região dos Lagos, localizada no Estado do Rio de Janeiro, historicamente foi
uma região ocupada para a produção de sal. Aos poucos, as salinas foram sendo
substituídas por loteamento para a exploração turística, principalmente de
segunda residência (casas de veraneio). No litoral do Estado do Rio de Janeiro,
há várias formações lagunares (lagoas), principalmente na região conhecida como
Região dos Lagos. Dentre elas, a Lagoa de Araruama banha seis municípios do
Estado do Rio de Janeiro: Saquarema, Araruama, Iguaba Grande, São Pedro da
Aldeia, Cabo Frio e Arraial do Cabo. A Lagoa estabelece o limite administrativo
entre vários municípios fluminenses, mas não divide esses municípios. Pelo
contrário, os unifica em uma mesma fronteira: a do turismo litorâneo. Apenas
uma parte da lagoa de Araruama pertence ao município de Araruama, que faz
limite com outros municípios cariocas, como Cabo Frio. Ainda que todos esses
municípios façam parte de uma mesma realidade, por estar localizados em uma
região, a da Lagoa de Araruama, com intensa exploração turística, existe
limites entre os diferentes municípios.
No Brasil, os
estados de maior extensão territorial são aqueles que se formaram mais tarde e
que ofereciam alguma dificuldade de acesso aos exploradores, como Amazonas,
Pará e Mato Grosso. O mesmo acontece com os estados de maior extensão
territorial de terras indígenas: Amazonas, Pará, Roraima e Rondônia. Já as
maiores concentrações populacionais estão nos estados localizados na faixa
litorânea (onde começou o povoamento).
2. Fronteiras
permeáveis
No estudo do
território brasileiro, vamos aprofundar o estudo das fronteiras nacionais.
Diferentemente da idéia de limite, o termo fronteira é mais amplo e pode ser
compreendido como a margem do mundo conhecido e habitado. Neste caso, a idéia
de fronteira como frente pioneira ou área de expansão em direção a territórios
“vazios” ou “a conquistar” sempre foi muito forte no caso brasileiro. Contudo,
a emergência dos Estados nacionais no século XVIII e processos de demarcação de
terras coloniais, como ocorreu com Portugal, na América, associaram fronteira à
linha de divisa entre Estados vizinhos. Ou seja, a palavra limite tem sua
origem no fim daquilo que mantém coesa uma unidade político-territorial. Assim,
limite é uma linha de separação abstrata, porém definida juridicamente (fator
de separação), enquanto fronteira configura uma zona de contato (fator de
integração).
Leitura e comparação de mapas da zona de fronteira do Brasil com seus
países vizinhos
Vamos estudar a
situação do Brasil na zona de fronteira com seus países vizinhos (zona de
fronteira internacional), a partir de exemplos de cidades gêmeas, contíguas
territorialmente com outras cidades de países vizinhos. No caso do Brasil, há
inúmeras cidades na zona de fronteira, inclusive 123 delas consideradas
cidades-gêmeas.
No mapa “Zona de
Fronteira – Cidades e Vilas”, na página 10 do caderno do aluno, observe a faixa
laranja, que apresenta a zona de fronteira. Observe os outros países.
Os únicos países
sul-americanos que não possuem fronteira com o Brasil são o Chile e Equador. No
caso do Chile, o contato por terra com o Brasil se estabeleceu por meio da
Argentina, tendo a cidade de Mendonza como ponto de apoio para a travessia da
Cordilheira dos Andes; se observarmos o mapa, podemos atravessar o Paraguai ou
a Bolívia. O Equador pode ser acessado através do Peru e da Colômbia. Bolívia é
a fronteira mais permeável e extensa, com inúmeras interações. No sentido do
sul para o norte, observam-se grandes cidades como Corumbá, Cáceres, Vilhena e
Rio Branco, localizadas na faixa de fronteira. Há uma rodovia que liga Corumbá
a Santa Cruz de la Sierra. Mais ao norte, podemos observar várias
cidades-gêmeas, como Brasiléia (Acre) e Guajará-Mirim (Rondônia). O estado
brasileiro que possui uma ocupação mais densa na zona de fronteira é o Paraná.
Fazendo divisa com o Paraguai e a Argentina, possui inúmeras cidades na zona de
fronteira e um intenso comércio com os países vizinhos.
Análise das interações econômicas em
zona de fronteira
Um exemplo de
cidade-gêmea e as interações existentes em sua zona de fronteira é o de
Guajará-Mirim, Rondônia. Ela está separada de sua cidade-gêmea boliviana
Guayaramerín apenas pelas águas do rio Mamoré, como mostra a foto de satélite
“Guajará-Mirim e Guayaramerín” na página 11. É possível avistar pessoas que
vivem na outra cidade, na margem oposta. Apesar de essas pessoas viverem em países
diferentes, elas podem fazer parte de várias interações. Do Brasil para a
Bolívia circulam produtos alimentícios, calçados e eletrodomésticos. Da Bolívia
para cá circulam madeira, borracha, gado bovino e castanha. As capitais Porto
Velho (Rondônia) e Rio Branco (Acre) mantêm relações econômicas com a Bolívia
através de Guajará-Mirim. São comercializados, principalmente, combustível e
gêneros alimentícios, por via terrestre.
Outro exemplo é o
caso de Tabatinga (Brasil) e Letícia (Colômbia). Diferente de Guajará-Mirim,
para o viajante cruzar a fronteira internacional entre Tabatinga e Letícia não
precisa atravessar um rio. Basta atravessar ou ir em frente por uma das
avenidas da cidade brasileira e o visitante já se encontra em outro país, como
podemos observar na foto de satélite “Tabatinga e Letícia”, na página 13. Essa
é a situação cotidiana de milhares de brasileiros que vivem na fronteira. O
Brasil estabelece interações econômicas com o mundo por meio de Tabatinga. Além
do intercâmbio que se estabelece com a Colômbia e o Peru, por essa zona
fronteiriça o Brasil conecta essa região com outros países, como os Estados
Unidos e a China. Os produtos industrializados provenientes da China e Estados
Unidos chegam nessa zona de fronteira através do transporte marítimo,
desembarcados no porto de Manaus. De Manaus, essas mercadorias seguem para
Tabatinga por via fluvial e de lá são distribuídas para o interior da Colômbia
e do Peru. Em Tabatinga comercializam-se produtos alimentícios, material de
construção e pescado. Em Letícia, os brasileiros compram gasolina, autopeças,
cigarros e produtos eletroeletrônicos.
3. Estudo da
formação territorial do Brasil por meio de mapas
Como se consolidou
a formação territorial do país? Vamos analisar as ações políticas e territoriais,
responsáveis pela consolidação histórica de nossas fronteiras e que culminaram
em um país de dimensões continentais.
Os mapas mais
antigos do Brasil revelam a forma de ocupação do território durante os
primeiros séculos de dominação portuguesa: o interior da Colônia, ainda
desconhecido, “enfeitado” com ilustrações indígenas, plantas e animais
“exóticos”, e o litoral, que estava sendo explorado, ocupado e nomeado. Durante
muito tempo, as atividades econômicas mais importantes do Brasil colonial – responsável
pela produção de mercadorias extrativas e agrícolas para comercialização nos
mercados europeus – permaneceram nas proximidades do mar e dos portos
marítimos.
Os mapas da América
Portuguesa do século XVIII revelam uma mudança muito importante: as cartas
náuticas foram substituídas pelas cartas topográficas e passaram a ser
valorizadas como recurso fundamental para localizar as riquezas encontradas no
interior da Colônia. As cartas topográficas transformaram os conhecimentos da
Cartografia em importantes instrumentos para o registro das informações obtidas
do território na ocupação do interior do continente. Esse detalhamento dos
mapas das terras brasileiras foi um recurso técnico fundamental para o sucesso
das negociações diplomáticas que garantiram a posse portuguesa do atual Rio
Grande do Sul e uma parcela considerável da Bacia Amazônica, conforme ficou
estabelecido no Tratado de Madri (1750).
Introdução à comparação de cartas
seiscentistas
A configuração do
território mudou ao longo do tempo, por isso é importante estudar os mapas
históricos para compreender como ocorreu esse processo.
Os mapas mais
antigos do Brasil e da América do Sul revelam a forma de ocupação do território
pela Coroa Portuguesa durante as primeiras décadas da colonização. Observe o
“Planisfério de Ptolomeu, 1486”, nas páginas 20 e 21 do caderno do aluno.
Cláudio Ptolomeu viveu no século II e era geógrafo, astrônomo e matemático
alexandrino. Ele escreveu duas grandes obras: “Composição matemática, estudo
sobre Astronomia” e “Geografia, um manual com instruções para a elaboração de
mapas e uso de projeções”. A obra de Ptolomeu foi conservada pelos árabes e
introduzida no ocidente durante a Idade Média. Mantida nas bibliotecas
européias, seus mapas representam a visão que os europeus tinham do mundo pouco
antes das grandes navegações, com base nos conhecimentos acumulados desde a
Grécia antiga e era a principal fonte de consulta para o estudo do mundo
conhecido antes das grandes navegações. Essa edição se encontra na Biblioteca Nacional.
Os
continentes conhecidos pelos europeus eram Europa, Ásia e África. As
ornamentações da moldura do mapa eram pessoas soprando o vento (deuses do
vento). Essas figuras, desenhadas na decoração do mapa, estão associadas com o
uso das cartas nas navegações (eles usavam as direções dos ventos e das marés
para orientação). Para os europeus daquela época, não existia a América.
O
segundo mapa da série, o “Planisfério de Wytfliet (detalhe), 1597”, na
página 22 do caderno do aluno, é considerado o primeiro atlas americano, rico
em detalhes, principalmente ao se considerar o traçado de alguns rios. Seu
autor foi um belga que simplesmente inseriu na base cartográfica de Ptolomeu as
terras recentemente descobertas. Os elementos geográficos da América do Sul
utilizados na representação desse mapa eram rios e montanhas e as duas
principais bacias hidrográficas representadas no mapa eram a Bacia Amazônica e
a Bacia do Prata.
Preparação da leitura e comparação de
cartas seiscentistas
Os mapas
seiscentistas apresentam um rico detalhamento de informações sobre o litoral
brasileiro.
Se observar um mapa
do relevo brasileiro atual, preste atenção nas bacias hidrográficas: percorra o
curso d’água do rio Amazonas e depois do rio Paraná, desde a nascente até a
foz. Faça o mesmo procedimento para reconhecer o trajeto percorrido por outros
rios brasileiros, como o São Francisco, o Araguaia e o Tocantins. Esses três
últimos rios correm no sentido sul-norte (representados cartograficamente, na
folha de papel, como se fosse um traçado “de baixo para cima”). Nem “tudo que
está em cima desce”. O mapa é apenas uma representação e, portanto, vocês devem
considerar o traçado em solo.
Para finalizar essa
leitura exploratória, vamos estudar o “Planisfério de Cantino,1502”, nas
páginas 24 e 25, e o mapa “Terra Brasilis”, de Lopo Homem nas páginas 26 e 27:
as desembocaduras dos rios das principais bacias hidrográficas eram referências
para a navegação costeira no novo continente. As informações mais precisas que os
portugueses possuíam das novas terras, em 1502, conforme registro no
“Planisfério de Cantino” é o traço da linha de Tordesilhas, que dividia as
possessões das novas terras e as que porventura fossem descobertas pela Espanha
e Portugal. Do novo continente, já estão traçados, dentro da precisão da época,
o perfil atlântico do Brasil e, de forma bem detalhada, as ilhas do Caribe.
Trata-se de uma carta náutica, na qual é possível observar o traço da direção
dos ventos em toda a superfície representada. Já em 1519, em “Terra Brasilis”,
de Lopo Homem também há os rumos dos ventos, mas o detalhamento das informações
da costa brasileira é muito maior, inclusive com a indicação dos nomes de
inúmeras localidades. As ilustrações ornamentais desses dois mapas, tecnicamente
chamadas iluminuras, complementam as informações mais precisas do mapa com uma
série de aspectos pitorescos como naus, caravelas, cidades, homens e animais,
desenhados de maneira figurativa. Os pontos extremos do avanço português, tanto
para o Norte como para o Sul foram a foz do Amazonas (Norte) e a foz da Bacia
do Prata (Sul).
A interpretação dos
mapas é uma habilidade muito importante para a compreensão da Geografia: é a
transposição de um conhecimento expresso em uma linguagem para outra.
Leitura comparativa de cartas dos
séculos XVII e XVIII: a ocupação do interior
O acervo documental
dos séculos XVII e XVIII é bastante rico em detalhes em função da forte
expansão dos portugueses em direção ao interior da América. Alguns traços
comuns nas narrativas são as situações que ocorreram no litoral, envolvendo
embarcações ou o contato com indígenas. As cartas e diários, como fonte de
registros históricos, são importantes porque não havia outra forma de
comunicação naquela época. Hoje, as formas de comunicação do mundo atual
(internet, rádio, televisão) facilitam a disseminação de novas idéias e
notícias.
Além dos mapas,
muitas bibliotecas, arquivos e museus do Brasil e de Portugal possuem
documentos como cartas e diários de bordo, importantíssimos para o estudo da
História e Geografia de nosso país. Este é o caso do material existente no
Arquivo Nacional que, a exemplo da Biblioteca Nacional, possui um site muito
interessante – um exemplo das novas formas de comunicação e de divulgação das
informações no mundo contemporâneo.
A carta “Contato
entre brancos e índios”, nas páginas 29 e 30 no caderno do aluno, foi extraída
desse site e retrata as condições sob as quais os portugueses viviam nas
localidades distantes do litoral. Os personagens envolvidos na situação são
padres, bandeirantes e índios. O autor da carta escreve para seus superiores a
respeito do receio de um padre de viajar por alguns caminhos onde vivem índios
hostis aos portugueses. Segundo relato do padre, quando houve a tentativa de
aproximação, os desbravadores foram atacados pelos índios, o que exigiu o uso
de armas de fogo. A ocupação portuguesa no interior da América não foi
pacífica. O fato ocorreu nas proximidades de Cuiabá, em 1820.
Leitura comparativa de mapas dos
séculos XVII e XVIII: demarcações a serviço da diplomacia
Se
compararmos mapas do século XVII com o mapa das entradas e bandeiras (séculos
XVII e XVIII), identificamos alguns elementos geográficos comuns: os rios
conhecidos eram os da Bacia do Prata e da Bacia Amazônica. A zona de contato
entre essas duas bacias era a região do Pantanal, indicada nos mapas como um
grande lago no interior do Brasil. A maioria dos lugares identificados (com
nome) está localizada no litoral. Os portugueses conheciam, do território paulista,
seguindo o traçado dos rios Paraná e Paranapanema, algumas cidades e povoados
criados no litoral paulista, como Itanhaém e São Vicente. As ruínas de missões
jesuíticas, nos atuais territórios do Paraná, Rio Grande do Sul e Mato Grosso
do Sul, estavam localizadas ao sul da capitania de São Vicente. Nessas regiões,
jesuítas espanhóis haviam ensaiado fixar o índio à terra, por meio da
catequese. Vila Rica, por exemplo, possuía 45 mil habitantes, quando foi
invadida e destruída pelo bandeirante Raposo Tavares, em 1628. Os mapas eram
importantes para a consolidação das posses portuguesas e indicavam os
principais caminhos adotados na exploração do interior do continente.
Uma idéia
importante para o desenvolvimento do conceito de território é a diferenciação entre
fronteira e limite:
- Fronteira é mais amplo e pode ser
compreendido como a margem do mundo conhecido ou habitado. Neste caso, a idéia
de fronteira como frente pioneira ou área de expansão em direção a territórios
“vazios” ou “a conquistar” sempre foi muito forte no caso brasileiro. Contudo,
a emergência dos estados nacionais no século XVIII e processos de demarcação de
terras coloniais como ocorreu com Portugal na América associaram fronteira à
linha de divisa entre estados vizinhos; configura uma zona de contato (fator de
integração).
- Limite tem sua origem no fim
daquilo que mantém coesa uma unidade político-territorial; é uma linha de
separação abstrata, porém definida juridicamente (fator de separação).
As diferenças entre
fronteira e limite são essenciais, uma vez que a primeira é orientada para fora
(forças centrífugas) e a segunda para dentro (forças centrípetas).
Observando os mapas
utilizados para a demarcação dos limites territoriais do Brasil, no século
XVIII, identificamos o que estava em discussão entre Portugal e Espanha: a
definição do traçado de linha divisória. Esses mapas indicavam inúmeros
acidentes geográficos, necessários como pontos de referência da documentação
diplomática (amigável). Os rios ou as cadeias montanhosas foram utilizados para
a demarcação dos limites territoriais do país.
Contudo, a
emergência dos estados nacionais no século XVIII e processos de demarcação de
terras coloniais como ocorreu com Portugal na América associaram fronteira à
linha de divisa entre estados vizinhos.
4. Estudo da
formação territorial do Brasil por meio da literatura: o contexto cultural
A narrativa
proporciona aos leitores uma viagem imaginária para o interior do mundo
relatado. É uma espécie de mapeamento da experiência cotidiana vivenciada por
alguém, em algum lugar. Enredo, personagens, tempo, lugar, foco são alguns dos
elementos profundamente interligados numa narrativa que se complementa no todo
da história. Vamos explorar esse universo literário para a ampliação do nosso
horizonte geográfico por meio da diversificação de linguagens.
Leitura e comparação de mapas do Rio
Grande do Sul do século XVIIIl
Um exemplo de
dimensão cultural das fronteiras políticas é o Rio Grande do Sul. Seu
território é resultado da história ocorrida a partir da destruição das missões
jesuíticas por tropas portuguesas e o tenso contato com as comunidades
indígenas e a América espanhola em seus arredores. O contexto regional, no qual
estavam inseridos os gaúchos no século XVIII, justifica a condição de
isolamento da fronteira gaúcha, distante milhares de quilômetros das outras
cidades e de povoados portugueses, numa zona de fronteira politicamente
instável, como observamos nos mapas “Rio Grande do Sul: primeira metade do
século XVIII” e “Rio Grande do Sul: campanha gaúcha do século XIX” nas páginas
34 e 35 no caderno do aluno. Por exemplo, os empreendimentos portugueses
naquela época eram a construção de fortificações e a fundação de povoados como
Rio Grande de São Pedro (Porto Alegre).
Observando esses
mapas citados, percebemos que a ocupação portuguesa ocorre do litoral para o
interior. A Vila do Rio Grande de São Pedro, que dá origem a Porto Alegre, era
o povoado mais antigo, além de algumas fortificações. No final do século XIX,
vários povoados já existiam nas proximidades do Rio Uruguai, como São Borja,
aproximando os limites territoriais gaúchos da atual forma do Rio Grande do
Sul.
Leitura comparativa de textos de
obras romanescas gaúchas
Segundo
o Atlas de representações literárias do IBGE, não faltam
exemplos de boas narrativas do povo da fronteira no Rio Grande do Sul. A
condição de fronteira conquistada e o forte sentimento de pertencimento do povo
gaúcho marcaram profundamente a Geografia, a História e a literatura do Estado.
Vamos “mergulhar”
no universo cultural da fronteira, lendo um fragmento dos “Contos Gauchescos”
de Simões Lopes Neto, na página 37, no primeiro quadro, do caderno do aluno e
de um outro do romance, “Um quarto de légua em quadro”, de Luiz Antônio de
Assis Brasil, na página 38. Coloque-se no lugar dos personagens ou do narrador
da história. Que sentimentos a narrativa desperta? Medo? Curiosidade perante o
desconhecido?
Leitura comparativa de textos de
obras romanescas gaúchas: o ambiente do Sul do país
Para aprofundar o
conhecimento do universo imaginário da fronteira, a sugestão é o contato com a
obra de Érico Veríssimo, especialmente “O tempo e o vento”. Trata-se de uma
trilogia dividida em “O continente”, “O retrato” e “O arquipélago”, com uma
abrangência histórica de duzentos anos. No trecho selecionado abaixo, o autor
narra a relação do tempo com o lugar explorando a ligação entre a formação do
território e o enredo:
“Uma geração vai, e
outra geração vem; porém a terra para sempre permanece. E nasce o sol, e
põe-se o sol, e volta ao seu lugar donde nasceu. O Vento vai para o sul, e
faz o seu giro para o norte continuamente vai girando o vento, e volta
fazendo circuitos”
VERÍSSIMO, Erico. O tempo e o
vento: o Continente. Volume I.
São Paulo: Companhia das Letras,
2007. p.32. © Herdeiros de Erico Veríssimo.
|
Outro
trecho está na página 37, no primeiro quadro, do caderno do aluno.
Como
a obra literária pode ser compreendida como resultado de uma busca incessante
de uma linguagem que dê conta de expressar a realidade para as pessoas nela
inseridas? A apreciação da manifestação artística também é de interesse da
Geografia, pois amplia a nossa capacidade de percepção do mundo. Além de
inferir aspectos da ambientação do lugar, temos a oportunidade de expressar
adequadamente nossas idéias e respeitar as idéias dos outros.
2º BIMESTRE
5. Agrupamento
regional das unidades federadas (irá utilizar o mapa mundi)
Nesse capítulo,
vamos estudar a divisão regional do país, fundamentada na análise estatística e
em estudos cartográficos. Para isso, serão consideradas tabelas baseadas nos
dados da Pesquisa por Amostra de Domicílios do IBGE, de 2006.
O Índice do
Desenvolvimento Humano (IDH) foi idealizado pelo economista paquistanês Mahbub
ul Haq (1934-1998) e pelo economista indiano Amartya Kumar Senn (1933-), que
desenvolveram esse novo índice a fim de comparar os países (ou também apurar o
desenvolvimento de cidades, estados ou regiões) não apenas considerando a
dimensão econômica, com base no Produto Interno Bruto (PIB) – como era muito
comum até 1998. Eles partiram da idéia de que a análise do avanço de uma
comunidade também deveria considerar outros aspectos sociais e culturais. Para
isso, além de computarem o PIB per capita de cada país, correlacionaram a
expectativa de vida e o nível educacional. O objetivo era medir o grau de
desenvolvimento econômico e a qualidade de vida oferecida à população.
Essa metodologia
difundiu-se por todo o mundo e é utilizada em estudos das disparidades
regionais internas em mais de cem países. O IDH apresenta uma escala de 0 a 1,
e quanto mais próximo de 1, melhor é a situação do país em relação ao seu
desenvolvimento.
No
cálculo do IDH são computados os seguintes fatores: educação (taxa de
alfabetização e escolarização), longevidade (expectativa de vida da população)
e renda (PIB per capita – produção de riqueza por pessoa). Embora apresente
deficiências no sistema educacional, o IDH do Brasil é considerado médio para
alto, pois o país vem apresentando bons resultados econômicos. A expectativa de
vida em nosso país também tem aumentado, colaborando para o índice. Mas, se
analisarmos a situação do território brasileiro em diferentes escalas, há
enormes contrastes.
Análise do mapeamento do PNUD
(Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento)
Antes de
analisarmos os mapas “Índice de Desenvolvimento Humano dos estados
brasileiros, 2000”, na página 3, “Índice de Desenvolvimento Humano dos
municípios brasileiros, 2000”, na página 5, “Índice de Desenvolvimento
Humano dos municípios do Estado de Pernambuco, 2000”, na página 6 e
“Índice de Desenvolvimento Humano do município do Recife, 2000”, na página
6, vamos entender o uso das cores nas representações cartográficas.
Na cartografia
topográfica ou de base, o verde, por exemplo, é uma convenção geralmente
utilizada para representar a vegetação e o azul, as superfícies aquáticas. Já
na cartografia temática ou geográfica, como preferem alguns autores, é
diferente. A variável visual cor é um elemento fundamental na comunicação
cartográfica, uma vez que seu uso pode gerar diferentes tipos de percepção
(ordem, seleção, associação).
Para facilitar a escolha
das cores adequadas, os cartógrafos utilizam um círculo cromático, onde é
possível identificar as cores vizinhas e opostas no espectro das radiações
visíveis da luz. Para efeito da comunicação na cartografia temática, as cores
representam diferentes intensidades e podem ser relacionadas com o círculo das
cores, no qual algumas são consideradas quentes e outras, frias.
No entanto, apesar
de existir uma seqüência lógica a partir da ordem do espectro magnético, muitas
pesquisas verificaram que nem todas as pessoas conseguem estabelecer essa ordem
na leitura dos mapas. Os estudos de Bertin demonstraram que a seqüência de
cores por valor é mais eficiente do que a seqüência das cores espectrais para o
leitor estabelecer uma ordem dos fatos representados nos mapas. Com base nesta
espécie de “gramática das cores”, a Geografia pode fazer uso da linguagem da
cartografia temática conforme o tipo de análise necessária. Assim:
- o tom ou matiz é eficiente para
identificação de diferentes objetos ou feições (seletividade). Por exemplo,
quando chamamos um objeto de amarelo, laranja ou verde, estamos identificando o
seu tom;
- a luminosidade ou valor é a
característica mais interessante da cor para o estabelecimento de uma seqüência
dos dados (ordenação). Ela indica a quantidade de branco inserida em cada tom;
- a saturação é pouco eficiente
sozinha, mas quando combinada com o valor da cor, auxilia na ordenação visual
dos dados. Quanto maior a saturação, menor é a quantidade de cinza inserida
numa cor.
Agora, por que essa
discussão é importante para o ensino de Geografia?
Como
já dissemos anteriormente, o conhecimento cartográfico mais difundido na escola
brasileira é o do campo da cartografia topográfica ou de base. No entanto, os
recursos de representação e comunicação da cartografia temática não podem ser
esquecidos na análise do espaço geográfico. Ao desenvolvermos esses conteúdos,
favorecemos a melhor compreensão dos conteúdos da disciplina e, ao mesmo tempo,
possibilitamos um maior domínio da reflexão geográfica da realidade.
Essa
preocupação com a cartografia temática será enfatizada em outras séries. Na 6ª.
série, esses são os primeiros passos na leitura de mapas temáticos no estudo de
representações cartográficas elaboradas em escala monocromática, cuja principal
variável é o valor das cores de mesmo tom, como é o caso dos mapas de IDH
citados. Desta forma, trabalharemos uma das principais variáveis utilizadas na
cartografia temática: o valor ou luminosidade. No caso dos mapas em análise, as
cores utilizadas são de tom azul, variando a quantidade de branco inserida em
cada uma delas (escala monocromática). Em vista do assunto dos mapas em análise,
a intenção do cartógrafo foi a de comunicar uma seqüência do menor índice (tons
mais claros) para os maiores índices (tons mais escuros).
No
primeiro mapa, a distribuição dos índices de desenvolvimento humano entre os
estados brasileiros apresenta os melhores índices concentrados no sul do país,
com exceção do Distrito Federal, e os piores índices no nordeste do país, com
destaque para Maranhão, Piauí, Paraíba, Sergipe e Alagoas. Se agruparmos os
estados brasileiros em regiões com IDH parecido, formamos três grandes grupos:
- os estados do sul: Rio Grande do
Sul, Santa Catarina, Paraná, acrescidos de São Paulo e Rio de Janeiro;
- os estados do Brasil central: Mato
Grosso, Mato Grosso do Sul, Goiás, acrescidos de Minas Gerais e Espírito Santo
e;
- os estados do norte: Amazonas,
Roraima, Rondônia, Pará e Tocantins.
Nesse
agrupamento, ficariam isolados o Acre, o Amapá e o Distrito Federal. Os estados
com menores índices estão localizados no Nordeste: Maranhão, Piauí, Paraíba,
Sergipe e Alagoas.
O
segundo mapa apresenta a delimitação das unidades federadas do país (estados)
como o primeiro, mas um maior detalhamento porque representa os índices por
municípios (cidades). Um caso interessante de ser observado é o de Minas Gerais:
comparem o contraste, a situação dos municípios do sul e do Triângulo Mineiro
com os municípios do norte do Estado. Enquanto os municípios do sul estão mais
próximos da realidade paulista, os municípios do norte estão mais próximos da
realidade nordestina, inclusive porque a região apresenta a continuidade de
partes do sertão, havendo certa compatibilidade entre as condições físicas e
sociais nas áreas analisadas.
Se
analisarmos essa situação com a do estado de Pernambuco (terceiro mapa),
verificamos que os municípios pernambucanos aparentam maior homogeneidade
(cores mais parecidas), principalmente na região da capital do estado, Recife,
onde a situação é uma das melhores do Estado. Mas quando detalhamos o
município, no quarto mapa, e a escala permite representar o espaço intraurbano
de Recife, observa-se que a desigualdade de condição de vida também é grande.
6. Regionalização
no tempo e no espaço
Vamos comparar a
primeira divisão regional oficial do Brasil, de 1941, com a atual divisão
regional. Os recortes regionais se transformaram em função das mudanças
socioeconômicas e ambientais do território brasileiro e dos recursos das ações
do governo.
Quais foram os
critérios utilizados pelos autores para a elaboração dos mapas apresentados na
página 18 do caderno do aluno? As propostas de divisão regional do Brasil de
autores de diferentes épocas.
Como parâmetro de
comparação, o atual mapa de divisão regional do Brasil, na página 20 do caderno
do aluno, é bem diferente dos anteriores em relação ao número de regiões e na
delimitação das fronteiras entre os estados brasileiros.
O quadro abaixo é
um comparativo entre as diversas divisões regionais que o Brasil já teve e a
atual:
Divisão regional
|
Semelhanças com a atual
|
Diferenças em relação a atual
|
Élisée Reclus (1893)
|
Estabelece como limite das regiões as fronteiras
dos estados
|
Apresenta um número maior de regiões
Critério de divisão com base na geografia física
|
Said Ali (1905)
|
Estabelece como limite das regiões as fronteiras
dos estados
Mesmo número de regiões
|
Critério de divisão com ênfase na geografia
física
Estabelece uma região oriental agrupando a Bahia
e Sergipe com os atuais estados da região Sudeste
|
Delgado de Carvalho (1913)
|
Estabelece como limite das regiões as fronteiras
dos estados
Mesmo número de regiões
|
Critério de divisão com base na geografia física
insere São Paulo na região Sul e cria a região Leste com Rio de Janeiro,
Espírito Santo, Minas Gerais, Bahia e Sergipe
|
Conselho Técnico de Economia e Finanças (1939)
|
Estabelece como limite das regiões as fronteiras
dos estados
Mesmo número de regiões
Critério de divisão com base na geografia humana
Estabelece uma região sudeste e uma região Sul
semelhantes aos limites atuais
|
Insere Maranhão e Piauí na região Norte
|
Conselho Nacional de Geografia (1941)
|
Estabelece como limite das regiões as fronteiras
dos estados
Mesmo número de regiões
|
São Paulo faz parte da região Sul
Estabelece uma região Leste com Sergipe, Bahia,
Minas Gerais, Rio de Janeiro e Espírito Santo
|
Em alguns mapas,
dependendo dos critérios adotados para inserir São Paulo, ora ele está na
região Sul, ora na região Leste. O mesmo acontece em relação ao Maranhão e ao
Piauí, que, dependendo do critério, são inseridos na região Norte ou na região
Nordeste. São considerados, em alguns casos, as características naturais e, em
outros, os aspectos econômicos e sociais.
As regiões naturais do IBGE
Fábio de Macedo
Soares Guimarães, geógrafo e professor carioca, foi responsável pelo
estabelecimento da primeira divisão regional oficial do Brasil, em 1941, na
página 19 do caderno do aluno. Atuando no Serviço de Estatísticas Territoriais
do Ministério da Agricultura, transferiu-se para o Instituto Nacional de
Estatística com o grupo pioneiro formado por especialistas convidados para
unificar o serviço estatístico federal, centralizando-o em um único órgão, o
Instituto Nacional de Estatística – INE –, criado em 1934 e instalado em 1936.
Especializado em Planejamento Regional, foi um dos fundadores do Conselho
Nacional de Geografia (1937), órgão pertencente ao Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística. Exercendo funções de chefia, coordenou as equipes que
fizeram o levantamento de dados e a análise de propostas de unificação da
organização regional do país. Para Fábio Guimarães e os geógrafos de sua época,
a formação de regiões com base nas características naturais do território
brasileiro seria o procedimento mais adequado, uma vez que a divisão teria um
caráter mais duradouro se comparada com os elementos sociais e econômicos.
Alguns aspectos ambientais semelhantes entre São Paulo e as unidades federadas
do sul, como uma faixa do território com clima subtropical, predomínio do
planalto ocidental e da bacia hidrográfica do rio Paraná levou a inserir SP na
região Sul. A formação da região Leste com Minas Gerais, Rio de Janeiro,
Espírito Santo, Bahia e Sergipe foi com base no conceito de região natural,
relacionado com as bacias de drenagem secundárias do litoral brasileiro e a
bacia do São Francisco.
Hoje, a divisão está
definida de acordo com o mapa da página 20:
- Maranhão é um estado nordestino,
que possui parte de seu território na Amazônia Legal. Estas terras, apesar de
localizadas na região Norte, já fizeram parte da região Centro-Oeste antes da
formação do estado de Tocantins;
- Minas Gerais faz parte da região
Sudeste, mas a situação socioeconômica dos municípios do norte do estado
aproxima esta unidade federada da realidade nordestina;
- Das unidades federadas do
Centro-Oeste brasileiro, o Distrito Federal apresenta os melhores indicadores
sociais;
- Paraná, apesar de estar numa região
diferente, é o que mais se assemelha a São Paulo, tanto por aspectos físicos
quanto econômicos
- Mato Grosso do Sul é um estado
localizado numa área de expansão da fronteira agropecuária, fortemente
articulado com a economia do sudeste
- Espírito Santo já foi considerado
da antiga região Leste, por apresentar características ambientais parecidas com
o sudeste baiano
- Goiás perdeu 20% de suas terras no
final da década de 1980, com a formação do estado de Tocantins, mas cresceu e
se aproximou ainda mais economicamente da região Sudeste nos últimos anos
- Piauí é um dos estados brasileiros
mais pobres, localizado numa zona de transição entre a caatinga e o cerrado.
“Velho Chico” é a denominação
carinhosa da população ribeirinha ao rio São Francisco, também conhecido como o
“rio da integração nacional”. Nasce em Minas Gerais, passa por Bahia,
Pernambuco, Sergipe e desemboca no mar, em Alagoas. Minas
Gerais pertence à região Sudeste e os demais, na região Nordeste (por isso
é o rio da integração nacional, já que atravessa vários estados e duas
regiões). O trecho navegável está localizado entre Pirapora (MG) e Juazeiro
(BA). Este trecho encontra-se articulado com a malha ferroviária existente no
país. Em Pirapora encontra-se um terminal da linha férrea que interliga Minas
Gerais a Rio de Janeiro e uma linha férrea que interliga Juazeiro a Salvador. O
vale do São Francisco pode ser considerado um importante eixo de integração
regional, porque através do transporte intermodal, ainda que não utilizado em
toda sua potencialidade, circulam mercadorias e pessoas que vivem no Sudeste e
no Nordeste.
7. Outras formas de
regionalização
O estudo do Brasil
por complexos regionais (Amazônia, Nordeste, Centro-Sul) permite uma visão mais
integrada do território brasileiro. De fato, muito mais do que uma divisão do
país, as regiões brasileiras são resultantes de interações econômicas muito
intensas entre diferentes lugares. Por exemplo, a população residente no estado
de São Paulo é formada por pessoas que se deslocaram de várias partes do país e
do mundo.
Região concentrada de Milton Santos
Uma nova proposta
de regionalização do Brasil foi elaborada pela equipe de pesquisadores
coordenada pelo professor Milton Santos. Para eles, o Brasil poderia ser
dividido em quatro regiões: a Amazônia, o Centro-Oeste, o Nordeste e a que foi
denominada de região Concentrada (abrangendo São Paulo, Rio de Janeiro, Minas
Gerais, Espírito Santo, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul).
A porção do
território nacional que forma a região Concentrada, proposta por Milton Santos,
apresenta a maior concentração de atividades modernas, como indústrias e
agricultura mecanizada. Outras características da chamada região Concentrada
seriam a maior densidade demográfica e a presença de mais institutos de
pesquisa, que geram novas tecnologias. Assim, o parâmetro definidor de tal
divisão seria o grau de acumulação da ciência, da tecnologia e da informação
pelo território nacional.
Evidências que justificam essa
proposta:
- Os dois portos marítimos mais
importantes para exportações de mercadorias são os portos de Santos (SP) e de
Tubarão (ES);
- Os dois maiores aeroportos
internacionais do país são os aeroportos de Guarulhos (SP) e Galeão (RJ);
- Os três estados brasileiros com a
maior concentração industrial são os estados de São Paulo, Rio de Janeiro e
Minas Gerais;
- As cidades brasileiras que possuem
como área de atração todo território nacional são as cidades de São Paulo e Rio
de Janeiro.
8. Visão regional
(uso de vídeo e som)
Para aplicar seus
conhecimentos sobre a divisão política do território brasileiro, os contrastes
socioeconômicos e a diversidade ambiental do país, vamos analisar o filme
“Sobral – a mulher, a árvore, o chapéu”, da série Paisagens Brasileiras. O
vídeo mostra a vida cotidiana da família de uma menina que vive no município de
Sobral, no Ceará. O objetivo da aula é a aplicação dos conhecimentos para a
interpretação da realidade documentada no filme. Registrem, durante a reprodução
do vídeo, os seguintes aspectos:
- A que região brasileira pertence o
lugar em que vive a menina?
- Observem os aspectos ambientais,
culturais e econômicos.
- Qual a origem de Sobral?
- Como ocorreu o seu desenvolvimento
econômico?
- Descreva as condições de vida da
família e a divisão de trabalho entre seus membros.
- Aponte semelhanças e diferenças das
condições de vida e trabalho dos membros de sua família.
Vamos
escutar a música “Notícias do Brasil”, de Milton Nascimento, prestar atenção na
letra e responder as perguntas na página 27 do caderno do aluno:
Uma notícia está chegando lá
do Maranhão
Não deu no rádio, no jornal ou na televisão
Veio no vento que soprava lá no litoral
De Fortaleza, de Recife e de Natal
A boa nova foi ouvida em Belém, Manaus,
João Pessoa, Teresina e Aracaju
E lá do norte foi descendo pro Brasil central
Chegou em Minas, já bateu bem lá no sul
Aqui vive um povo que merece mais respeito
Sabe, belo é o povo como é belo todo amor
Aqui vive um povo que é mar e que é rio
E seu destino é um dia se juntar
O canto mais belo será sempre mais sincero
Sabe, tudo quanto é belo será sempre de espantar
Aqui vive um povo que cultiva a qualidade
Ser mais sábio que quem o quer governar
A novidade é que o Brasil não é só litoral
É muito mais, é muito mais que qualquer zona sul
Tem gente boa espalhada por esse Brasil
Que vai fazer desse lugar um bom país
Uma notícia está chegando lá do interior
Não deu no rádio, no jornal ou na televisão
Ficar de frente para o mar, de costas pro Brasil
Não vai fazer desse lugar um bom país
(Repete Última Estrofe)
Não deu no rádio, no jornal ou na televisão
Veio no vento que soprava lá no litoral
De Fortaleza, de Recife e de Natal
A boa nova foi ouvida em Belém, Manaus,
João Pessoa, Teresina e Aracaju
E lá do norte foi descendo pro Brasil central
Chegou em Minas, já bateu bem lá no sul
Aqui vive um povo que merece mais respeito
Sabe, belo é o povo como é belo todo amor
Aqui vive um povo que é mar e que é rio
E seu destino é um dia se juntar
O canto mais belo será sempre mais sincero
Sabe, tudo quanto é belo será sempre de espantar
Aqui vive um povo que cultiva a qualidade
Ser mais sábio que quem o quer governar
A novidade é que o Brasil não é só litoral
É muito mais, é muito mais que qualquer zona sul
Tem gente boa espalhada por esse Brasil
Que vai fazer desse lugar um bom país
Uma notícia está chegando lá do interior
Não deu no rádio, no jornal ou na televisão
Ficar de frente para o mar, de costas pro Brasil
Não vai fazer desse lugar um bom país
(Repete Última Estrofe)
3º BIMESTRE
As grandes
paisagens naturais brasileiras
Neste tema, vamos
estudar a enorme diversidade paisagística que existe no Brasil. Entretanto,
como sabemos, parte importante do valioso patrimônio natural que os brasileiros
receberam como herança já foi degradada. A Mata Atlântica, por exemplo, foi
reduzida a menos de 10% de sua área de ocorrência original devido à exploração
predatória à qual foi submetida nos últimos quinhentos anos. Na Floresta
Amazônica, a devastação começou um pouco mais tarde, mas também já produziu
estragos irreversíveis: calcula-se que 20% da floresta tenham sido intensamente
degradadas. Dados do Ministério do Meio Ambiente estimam que apenas 61,1% da
área original do cerrado esteja conservada, e que o bioma encontra-se
fragmentado. No nordeste e no sul do país, em áreas outrora (antigamente)
recobertas por caatingas e campos, aparecem extensas manchas de desertificação,
provavelmente resultantes de manejo inadequado dos solos.
O Brasil é o país de maior biodiversidade do planeta: estima-se que pelo
menos 70% de todas as espécies vegetais e animais conhecidos ocorram em seu
território. De acordo com os Estudos de Representatividade Ecológica dos Biomas
Brasileiros, a biota (conjunto de espécies) terrestre brasileira apresenta até
56 mil espécies de plantas superiores (árvores) já conhecidas (a flora mais
rica do mundo), mais de 3 mil espécies de peixes de água doce, 517 espécies de
anfíbios, 1.677 espécies de aves, 518 espécies de mamíferos e, provavelmente,
10 milhões de insetos.
Toda essa riqueza é resultante da dimensão continental e da grande
variação geomorfológica e climática que caracterizam o território brasileiro, e
que se expressam em uma imensa diversidade paisagística. A vegetação é
comumente utilizada como elemento-síntese dessa diversidade.
Como o principal
fator de diferenciação entre essas paisagens é a cobertura vegetal, que serve
de referência para o mapa “Brasil: ecossistemas” na página 3 do caderno do
aluno. Alguns termos na legenda são desconhecidos, segue uma síntese das
características de cada um desses ecossistemas:
- Amazônia:
dominado pela floresta equatorial, extremamente rica em variedade de espécies;
- Cerrados: dominados
por vegetação arbustiva, de galhos retorcidos e cascas grossas, adaptada às
características do solo e ao clima marcado pela alternância entre a estação
chuvosa e a estação seca;
- Caatingas:
dominado por espécies espinhosas, adaptadas à baixa quantidade de chuvas;
- Meio-Norte:
dominado por espécies de palmeiras, tais como o babaçu e a carnaúba;
- Pantanal:
apresenta uma vegetação complexa, adaptada às inundações periódicas que ocorrem
durante o período das chuvas;
- Costas
e floresta atlântica: vegetação costeira (praia, mangues e dunas) e floresta
tropical, mais conhecida como Mata Atlântica, que abriga uma enorme diversidade
de espécies vegetais;
- Florestas
semicaducifólia: florestas submetidas ao clima subtropical, mais homogênea que
as florestas equatoriais e tropicais, perdem as folhas durante o inverno;
- Pinheiros:
floresta dominada por espécies de pinheiros, em especial a araucária;
- Extremo
Sul: colinas recobertas por vegetação campestre.
As
paisagens vegetais brasileiras estão divididas em formações florestais,
formações arbustivas e herbáceas e formações complexas e litorâneas.
- as formações
florestais são aquelas dominadas pela presença de árvores cujo caule forma um
tronco que só começa a se ramificar bem acima do solo. Exemplo: Floresta
Amazônica, Floresta Tropical / Mata Atlântica e Mata dos Pinhais;
- as formações
arbustivas são dominadas por arbustos nos quais o caule é ramificado desde a
base; as formações herbáceas são dominadas por espécies que não apresentam caule.
Exemplo: Cerrado, Caatinga e Campos;
- as formações
complexas mesclam características de todas as outras; as formações litorâneas
apresentam os mais diversos aspectos, entre os quais se destacam os manguezais.
No ambiente dos manguezais, onde os solos são salinos e pobres em oxigênio, as
raízes saem diretamente do caule. Exemplo: Complexo do Pantanal e Vegetação
Litorânea.
A
formação vegetal que ocupa a maior extensão do território brasileiro é a
Floresta Amazônica. Já a formação vegetal que ocorre no estado de São Paulo é a
Mata Atlântica, considerando sua formação original, já que ela foi bastante
devastada.
A evolução da vegetação
Alguns mapas
apresentam a evolução da vegetação no decorrer do tempo e, além da
identificação das formações vegetais já trabalhadas, a legenda destes mapas
introduz uma novidade: as "áreas antrópicas", ou seja, que já foram
intensamente modificadas pela ação humana. As "áreas antrópicas"
mapeadas são áreas que perderam a cobertura vegetal original e se transformaram
em campos agrícolas, em cidades ou mesmo em áreas de exploração de madeira ou
de recursos minerais. Isso significa que, quanto maior a extensão das áreas
antrópicas, maior é o grau de devastação das paisagens naturais.
Se compararmos a evolução
das áreas antrópicas entre 1950-1960 e 1980-2000, verificamos que estas áreas
só têm aumentado, devido à ampliação da ocupação humana, que transformou as
paisagens naturais em paisagens rurais e urbanas. Entre 1950-1960, existiam
poucas manchas de “áreas antrópicas” no cerrado, enquanto em 1980-2000 uma
grande parte desta formação vegetal já havia se transformado em “áreas
antrópicas”, resultado da construção de novas cidades e do avanço da
agropecuária modernizada sobre essa formação vegetal. As formações vegetais que
se encontram mais preservadas são a Floresta Amazônica (ou Floresta Equatorial)
e a vegetação do Pantanal (ou Formação Complexa do Pantanal). Já as mais
devastadas são a Mata Atlântica (ou Floresta Tropical Úmida de Encosta) e a
Mata dos Pinhais (ou Floresta de Araucárias).
Os biomas
A vegetação é a
base para iniciarmos o estudo das paisagens naturais brasileiras, por ser o
elemento que apresenta a maior facilidade de identificação. Entretanto, uma
paisagem natural é sempre resultante da combinação de diversos elementos da
natureza. Em uma floresta equatorial, como a que ocorre na Amazônia, por
exemplo, a vegetação exuberante é o elemento mais visível da paisagem, mas ela
provavelmente não estaria lá se não fossem as chuvas abundantes, o calor que
permanece o ano inteiro e os rios caudalosos.
Por isso mesmo,
para estudar o nosso patrimônio ambiental, é preciso considerar as interações
entre os seres vivos (plantas e animais) e os elementos não-vivos do ambiente
(clima, relevo, solo e muitos outros). O conjunto dinâmico formado em
determinada área geográfica pelas interações entre os seres vivos e o seu
ambiente natural constitui um ecossistema. Os biomas, por sua vez, são
paisagens naturais de grandes dimensões, nos quais existem diversos
ecossistemas contíguos e associados. De acordo com o Instituto Brasileiro do
Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), existem sete biomas
no território brasileiro: Amazônia, Cerrado, Pantanal, Campos Sulinos,
Caatinga, Mata Atlântica e Costeiros.
Os domínios morfoclimáticos
Outra forma de
estudar a natureza brasileira foi proposta pelo geógrafo Aziz Ab'Saber, que
dividiu o território do país em seis grandes paisagens naturais, denominadas
por ele de domínios morfoclimáticos, como observamos no mapa “Brasil:
domínios morfoclimáticos” na página 13 do caderno do aluno. Cada um destes
domínios se singulariza por uma combinação particular entre diversos elementos
da natureza, com destaque para a vegetação, o clima e as formas do relevo.
Essa forma de
classificação apresenta algumas diferenças em relação à que deu origem ao mapa
“Brasil: biomas”, segundo o Ibama, na página 11 do caderno do aluno:
- enquanto os biomas identificados
pelo Ibama foram sete, os domínios morfoclimáticos identificados por Aziz
Ab’Saber foram seis;
- o Domínio das Araucárias
corresponde a parte do bioma Mata Atlântica;
- já o bioma Pantanal corresponde a
uma zona de transição entre os domínios Cerrado e Mares de Morros;
- a Mata das Araucárias é uma
formação florestal e de acordo com o Ibama, trata-se de um dos
ecossistemas que compõem a Mata Atlântica. De acordo com Aziz Ab’Saber,
trata-se de um domínio singular, pois a paisagem é mais homogênea
(abrigando um número menor de espécies) e nela predomina a espécie conhecida
como araucária;
- com relação ao Pantanal, ocorre o
inverso: de acordo com o Ibama, trata-se de um bioma singular, ao passo que, no
mapa dos domínios, ele aparece como região de transição, pois nele podemos
encontrar trechos de florestas, de cerrados e de vegetação herbácea;
- a principal diferença entre as duas
classificações: no mapa dos biomas, existe um limite demarcado entre eles,
enquanto os domínios são separados por extensos corredores,
denominados zonas de transição, nos quais elementos do cerrado e da
floresta se mesclam, pois é impossível delimitar rigidamente a fronteira entre
paisagens naturais.
Síntese das
características de cada domínio:
- Amazônico: terras baixas
florestadas equatoriais;
- Cerrado: chapadões tropicais
interiores com cerrados e florestas-galerias;
- Mares de Morros: áreas mamelonares
(arredondadas) tropicais-atlânticas florestadas;
- Caatinga: depressões intermontanas
e interplanálticas semi-áridas;
- Araucária: planaltos subtropicais
com araucárias;
- Pradarias: coxilhas subtropicais
com pradarias mistas.
10. AS FLORESTAS BRASILEIRAS
Qual
a dinâmica e quais os vetores responsáveis pela degradação das formações
florestais brasileiras, em especial a Mata Atlântica e a Floresta Amazônica?
Quais as conseqüências desse fenômeno?
No
caso da Mata Atlântica, a história da devastação começou com a chegada dos
portugueses: somente no século XVI, estima-se que o comércio de
pau-brasil tenha provocado a derrubada de pelo menos 2 milhões de árvores. No
decorrer da colonização, grandes extensões da Zona da Mata nordestina cederam
lugar às plantations canavieiras. No século XIX, foi
a vez de as fazendas de café se espalharem pelo vale do Rio Paraíba e pelos
planaltos recobertos do oeste paulista, expulsando a floresta. Desde então,
importantes núcleos urbanos e industriais ergueram-se nas áreas originalmente
ocupadas pelos ecossistemas florestados. O agravamento dos processos erosivos
nas encostas, agora desnudadas, é uma das conseqüências mais evidentes do
desflorestamento. Em áreas urbanas, o deslizamento das encostas em períodos
chuvosos pode resultar em verdadeiras tragédias, já que milhares de famílias
vivem nessas encostas.
O
desmatamento na Amazônia, por sua vez, reflete o avanço da fronteira
agropecuária. Os ecossistemas florestados dão lugar a pastagens ou campos de
cultivo, principalmente de soja, processo acelerado pela abertura de novas
estradas. Os vetores de ocupação configuram "arcos de devastação" no
Tocantins, sul do Pará, Maranhão, Mato Grosso e Rondônia.
A retirada da vegetação acelera os processos
erosivos, que podem causar sulcos no solo, e colabora com os deslizamentos de
blocos de terra: as raízes das plantas fixam as partículas que formam o solo,
reduzindo a intensidade de seu transporte pelas águas das precipitações. Quando
observamos uma imagem (página 17 do caderno do aluno) que apresenta uma
clareira (buraco) numa floresta, devemos associar com a devastação do
ecossistema e com a perda de suas características originais.
A Amazônia em
perigo
A
Amazônia é grandiosa e singular, pois ocupa uma vasta extensão territorial e
abriga uma enorme biodiversidade. Vamos ler o texto “A maior floresta do mundo”
na página 20 do caderno do aluno.
O
mapa “Amazônia: cenários de destruição”, na página 22 do caderno do
aluno,mostra o estágio atual de desmatamento e retrata como estará a situação
em 2050, caso sejam adotadas políticas públicas eficazes para controlar o
desmatamento (cenário otimista) ou prossiga o ritmo de devastação registrado
nas últimas décadas (cenário pessimista).
A devastação da
Mata Atlântica
Quando
os primeiros exploradores europeus chegaram à América, a Mata Atlântica cobria
15% do território que hoje pertence ao país chamado Brasil, distribuindo-se por
17 dos atuais Estados brasileiros: Rio Grande do Norte, Ceará, Alagoas, Bahia,
Espírito Santo, Goiás, Minas Gerais, Mato Grosso do Sul, Paraíba, Pernambuco,
Piauí, Paraná, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Sergipe e São
Paulo.
A Mata Atlântica trata-se
de um bioma formado por um conjunto de paisagens vegetais que inclui campos de
altitude, mata de encosta, mata de planície costeira, manguezal e ambiente
marinho costeiro.
Atualmente,
a Mata Atlântica está reduzida a cerca de 7% de sua área original, mas ainda
abriga mais de 20 mil espécies de plantas, das quais 8 mil são endêmicas, ou
seja, espécies que não existem em nenhum outro lugar.
Cerca
de 110 milhões de pessoas vivem na área originalmente ocupada pelo bioma Mata
Atlântica. Mesmo reduzido e fragmentado, este bioma ainda ocupa um papel
essencial na vida dessas pessoas, na medida em que mantém nascentes e fontes
fundamentais para o abastecimento de água, atuam na regulagem do clima e
protegem escarpas (face íngreme de uma montanha) e encostas de morros contra os
deslizamentos.
11.
Os cerrados do Brasil Central
Vamos
investigar os cerrados brasileiros por meio de duas estratégias diferentes: a
análise de uma carta aberta produzida pelos Povos do Cerrado e o resgate das
possíveis relações entre a devastação deste bioma e o recente surto de febre
amarela ocorrido no Brasil Central. Serão apresentadas as características
essenciais do bioma e os principais vetores de sua recente degradação.
Cerrado:
biodiversidade e degradação
O
Cerrado, segundo mais extenso bioma brasileiro, abrange mais de um quinto da
área do país. Trata-se de uma formação na qual o estrato de árvores e arbustos
coexiste com o da vegetação rasteira formada essencialmente por gramíneas. No
mosaico do Cerrado entrelaçam-se trechos de campos
limpos (predominância de gramíneas), campos sujos (gramíneas e
arbustos), campos cerrados (predominância de arbustos) e cerradões (bosques
com copas que se tocam e criam sombra, nos quais o estrato herbáceo-arbustivo é
rarefeito). Ao longo das margens dos rios, onde a umidade do solo é maior,
ocorrem matas ciliares.
Este
bioma é condicionado por três fatores: o regime de chuvas, os tipos de solos e
a ação do fogo. O clima tropical do Brasil Central exibe concentração de
chuvas no verão e longa estação seca de inverno. Predominam solos ácidos e
deficientes em nutrientes. As queimadas naturais são frequentes. Os cerrados
do Brasil Central, em especial em chapadas planas, dotadas de solos profundos,
captam e distribuem as águas, alimentando importantes bacias hidrográficas
nacionais, tais como do São Francisco, do Araguaia/Tocantins, do Paraná e
Amazônica.
Estima-se
que o Cerrado abrigue cerca de um terço da biota brasileira e algo como 5% da
flora e fauna mundiais. A sua flora, por exemplo, é a mais diversa entre todas
as savanas tropicais (que ocorrem na África, Índia e Austrália). De acordo
com o Ibama, ela abrange 774 espécies de árvores e arbustos, das quais 429 são
endêmicas. A fauna também é bastante diversificada, mas com baixo grau de
endemismo, pois a maioria das espécies é de ampla distribuição geográfica.
A
valorização econômica do Cerrado intensificou-se a partir das décadas de 1950
e 1960, com a construção de Brasília e a abertura de rodovias de integração
nacional conectando o Centro-Oeste ao Sudeste e à Amazônia, e em 1970, com a
chegada da agricultura moderna, que modificou extensamente as paisagens e intensificou
os processos erosivos. Além disso, a irrigação extensiva e o alto grau de
utilização de pesticidas, herbicidas e fertilizantes químicos comprometem os
recursos hídricos.
Muitas
pessoas acreditam que o desmatamento do Cerrado não tem grandes consequências
ambientais, porque esse tipo de vegetação não é tão denso quanto a Mata
Atlântica ou a Floresta Amazônica. Não é bem assim: o Cerrado tem sua
importância em termos de biodiversidade. O desmatamento do Cerrado implica
também a aceleração de processos erosivos e a poluição das águas. Portanto,
afeta de maneira significativa a qualidade de vida da população regional.
A voz dos Povos
do Cerrado
A
carta reproduzida na página 28 do caderno do aluno foi escrita pelos
representantes dos Povos do Cerrado, reunidos no 2º. Encontro
Nacional dos Povos das Florestas.
Entre
os Povos do Cerrado, signatários da carta, destacam-se as populações
tradicionais. O conceito de populações tradicionais é dê difícil definição, mas
está fortemente relacionado à integração que essas populações estabelecem com
a natureza, com a qual convivem e da qual tiram seu sustento. Veja o
significado dos
termos usados no
texto para descrever as populações tradicionais do Cerrado e da imensa gama de
atividades realizadas por essas populações há muitas gerações:
-
Geraizeiros: habitantes dos campos gerais, caracterizados por chapadas;
-
Veredeiros: habitantes das veredas, áreas férteis que separam as chapadas,
nas quais ocorrem as roças e a criação de bois;
- Quebradeiras
de coco: mulheres que tiram seu sustento da quebra do coco babaçu e da
venda de seus produtos, que podem ser usados na produção de óleo, carvão, ração
animal, artesanato e cosméticos;
-
Vazanteiros: pequenos agricultores que ocupam as margens dos rios;
- Pescadores
artesanais: pescadores que usam técnicas artesanais, ao contrário do que
ocorre na chamada pesca industrial;
-
Retireiros: trabalhadores rurais responsáveis pela ordenha realizada em
sítios e fazendas;
-
Pantaneiros: moradores do Pantanal. Alguns deles exercem atividades
tradicionais, tais como os boiadeiros, responsáveis pela condução do gado, os
extrativistas, que coletam os frutos regionais, e os pescadores;
-
Agroextrativistas: populações que combinam atividades agrícolas
(tais como cultivo de árvores frutíferas) com atividades extrativistas.
Na
carta aberta, os Povos do Cerrado demonstram uma forte relação com o ambiente
natural no qual vivem.
Devastação
ambiental e saúde: o caso da febre amarela
No
início do ano 2008, houve no Brasil Central um surto de febre amarela, amplamente
noticiado pela imprensa. De acordo com diversos especialistas, o aumento dos
casos da doença guarda forte relação com a devastação do Cerrado. Vamos ler um
trecho de uma reportagem sobre, publicada na Folha, na página 29 do caderno do
aluno.
12.
O Sistema Nacional de Unidades de Conservação
A
criação de Unidades de Conservação (UCs) é uma estratégia mundialmente adotada
para a proteção da diversidade biológica. No Brasil, o Sistema Nacional de
Unidades de Conservação (SNUC), aprovado em julho de 2000, é uma das mais
importantes diretrizes da agenda ambiental. O SNUC pretende regulamentar a
criação e gestão das Unidades de Conservação federais, estaduais e
municipais no Brasil. Vamos explorar a distribuição geográfica das Unidades de
Conservação Federais do Brasil e apresentar uma das mais importantes Unidades
de Conservação sob a responsabilidade do governo do Estado de São Paulo, o
Parque Estadual da Serra do Mar.
Unidades
de Conservação (UCs) são áreas destinadas à proteção da
biodiversidade e dos recursos naturais da devastação e da exploração predatória
dos recursos presentes em seus ecossistemas. As UCs são criadas diante da
necessidade de proteger o patrimônio ambiental brasileiro.
As
Unidades de Conservação são muito importantes e suas paisagens naturais são
protegidas por lei. O Sistema Nacional de Unidades de Conservação regulamenta
estas áreas. Observe a tabela “Estado de proteção dos principais
domínios vegetacionais do Brasil”, na página 33 do caderno do aluno, e o mapa
“Brasil: unidades de conservação federais”, na página 32 do caderno do aluno: O
bioma Amazônia, de enorme extensão, ainda mantém grandes extensões da cobertura
florestal original e, por esse motivo, é onde estão localizadas as maiores
Unidades de Conservação Federais. A densidade populacional na região é
relativamente baixa e nessas condições, torna-se viável demarcar Unidades de
Conservação de dimensões que seriam impossíveis nas regiões mais densamente
ocupadas.
Unidades de Proteção
Integral e Unidades de Uso Sustentável
O SNUC
separa as Unidades de Conservação brasileiras em duas grandes categorias de
manejo: as Unidades de Proteção Integral e as Unidades de Uso Sustentável.
As Unidades
de Proteção Integral têm como objetivo geral a preservação da
biodiversidade, a realização de pesquisas científicas e o lazer, sendo admitido
apenas o uso indireto de seus recursos naturais.
As Unidades
de Uso Sustentável, por sua vez, têm como objetivo geral
compatibilizar a conservação da natureza com o uso sustentável de parcelas de
seus recursos naturais.
A
legislação não permite a prática de turismo em estações ecológicas ou a
exploração de madeira em parques nacionais, estaduais ou municipais.
Dessa
maneira, quando um grupo de biólogos está interessado em fazer pesquisa com
espécies vegetais em áreas bem preservadas, procura uma estação ecológica. Uma
família interessada em praticar ecoturismo e conhecer melhor a natureza da
região onde vive, procura parques nacionais, estaduais e municipais. Já um
grupo de empresários interessado em explorar madeira ambientalmente
sustentável, procura florestas nacionais, estaduais e municipais.
O Parque
Estadual da Serra do Mar, em São Paulo
A
entrevista da bióloga Eliane Simões, gestora do Núcleo Picinguaba do Parque
Estadual da Serra do Mar, na página 35 do caderno do aluno, apresenta algumas
características de uma das mais importantes Unidades de Conservação do Estado
de São Paulo: o Parque Estadual da Serra do Mar.
Os movimentos
Migratórios
O que é migração:
Os versos da canção
de Chico Buarque poderiam caracterizar muitos brasileiros. Eles nos mostram que
as sucessivas gerações nem sempre permaneceram num mesmo local. Nesse caso,
eles realizaram uma migração ou um movimento migratório. Migração é o movimento
populacional de uma localidade para outra.
Emigrantes e Imigrantes
Emigrantes: são as
pessoas que se deslocam de seu lugar de origem
Imigrantes: em
relação a área para onde se destinaram as pessoas
Diversos motivos
levam as pessoas a migrarem:
- dificuldade
econômica;
- guerras;
- perseguição
politica ou religiosa;
- adversidades
naturais como climas extremamente quentes ou frios;
- secas frequentes
e prolongadas
O principal
objetivo das migrações é a busca por melhores condições de vida.
Brasileiros fora do Brasil
Os E.U. A, são o
pais com maior numero de imigrantes brasileiros (+-800 mil), seguido do
Paraguai (+-460 mil) e Japão (+- 200mil)
Ate a década de
1970, a emigração brasileira era pequena. Foi entre 1975 e 1979 que se deu o
primeiro grande fluxo migratório: brasileiros se dirigiram para o Paraguai em
busca de terras com custo menor
Já a emigração de
brasileiros para os Estados Unidos e Japão teve inicio em meados da década de
1980.
O Brasil dos migrantes
Ao
tratarmos dos fluxos migratórios, percebemos que o assunto das aulas de Geografia
diz respeito à história dos percursos de nossas famílias e da de amigos pelo
território nacional. A mobilidade espacial da população está relacionada com os
espaços de atração e repulsão, em função do maior ou menor grau de dinamismo
econômico das diferentes regiões. Vamos discutir e analisar a dinâmica social e
econômica do território brasileiro.
Os fluxos
migratórios do ponto de vista do migrante
Os
fluxos migratórios são intensos e o Estado de São Paulo é um polo de atração
populacional. Os deslocamentos populacionais entre os Estados nordestinos, de
Minas Gerais e do Paraná para São Paulo eram mais comuns. Nas últimas décadas,
ocorrem fluxos mais intensos da capital para o interior. Alguns fatores
responsáveis pela migração são as condições de vida nos locais de origem e as
novas oportunidades nos locais de destino.
Os
mapas “Trajetória do trabalhador rural”, nas páginas 5 e 6 do caderno do aluno,
foram elaborados a partir do relato de migrantes nordestinos, que resistem na
condição de trabalhadores rurais em um país com intensas transformações no espaço
agrário. O mapa na página 5 representa um exemplo de situação vivida por muitos
brasileiros, trata-se de trajetórias marcadas por um movimento
pendular entre dois pontos definidos no espaço: de um lado, o espaço de
residência da sua família, que vive em algum sítio mantido pela roça de
subsistência; de outro, o espaço da produção agrícola comercial, para onde o
trabalhador se dirige na época da colheita. O mapa da página 6 representa
um exemplo de trajetórias marcadas pela permanência, quando os
trabalhadores viajam sozinhos num primeiro momento, para depois, numa melhor
oportunidade, promover a migração de seus familiares, fixando-se com a família
no local escolhido para o destino.
Migrações externas e Internas
Migração externa: também denominada
migração internacional, ocorre quando a população se desloca de um pais para
outro
Migração interna: ocorre quando a
população se desloca dentro de um mesmo pais
Migrações internas no Brasil:
Segundo o Censo 2000, no Brasil há 26
milhões de pessoas vivendo fora de seu estado de origem, isto é, do estado onde
nasceram. O estado de São Paulo, tem o maior numero de migrantes nascidos em
outra unidade da federação, em segundo lugar aparece o Rio de Janeiro, depois
Paraná, Goiás e Minas Gerais, embora São Paulo continue sendo uma área de
atração populacional, houve também significativas saídas de população desse
estado. Elas se referem ao movimento de migrantes voltando a seus estados de
origem, o que denomina a migração de retorno.
Migrações temporárias e pendular.
Temporária: é o deslocamento
populacional que ocorre em determinados períodos do ano para locais em que há
trabalhos temporários
Pendular: é o movimento diário de vai
e vem da população que se desloca de uma localidade a outra para trabalhar ou
estudar.
Migrações inter-regional e intrarregional
Inter-regional: é a saída de uma
região para outra.
Intrarregional: pode ocorrer entre os
estados da mesma região, em direção a algumas capitais ou da capital para o interior
do mesmo estado.
Principais fluxos migratórios
QUESTIONARIO
1- Cite três fatores
que levam as pessoas a migrar
2- Defina:
a) Migração
b) Imigração
c) Migração interna
d) Migração externa
e) Migração temporária
f) Migração pendular
g) Migração intra-regional
h) Migração inter-regional
3- Segundo o CENSO
2000, quantas pessoas vivem fora de seu estado de origem?
4- Brasileiros, se
dirigiam ao Paraguai entre 1975 e 1979 estavam em busca de que?
5- Nasci na cidade de
Manaus (AM), aos cinco anos fui morar em Jaburu (AM) com 15, fui para Rio
Branco, aos 20 fui estudar em São Paulo, onde moro e trabalho, moro na grande
São Paulo e trabalho no interior, fazendo uma viagem diária para trabalhar e
depois voltar para casa. Identifique os movimentos migratórios apresentados no
texto
Os fluxos
migratórios
Observe
as informações da coleção de mapas “Migrações internas no Brasil, 1995-2000”,
na página 8 do caderno do aluno. As setas representam as migrações entre as
regiões (inter-regional) e os círculos mostram as migrações internas em cada
região, como mudança de cidade (intra-regional). Atenção para a direção e a
espessura das setas. A direção identifica as regiões de saída (repulsão) e de
chegada (atração) de imigrantes, enquanto a espessura é proporcional ao
tamanho dos fluxos. Entre 1995 e 2000, o fluxo de migração inter-regional
(entre regiões) mais intenso teve origem na Região Nordeste para as demais
regiões (em verde, para a Região Norte, em marrom para a Região Centro-Oeste e
a maior, em vermelho, para a Região Sudeste). O fluxo mais intenso de
migrantes com destino à Região Sul partiu da Região Sudeste (seta lilás).
A maior parte dos migrantes que deixou a Região Sudeste partiu para a
Região Nordeste.
O
fenômeno na coleção de mapas “Migrações internas no Brasil, 1995-2000” é
uma representação geral dos fluxos populacionais e os dois primeiros mapas
“Trajetória do trabalhador rural” são representações de trajetórias
individuais, mas que revelam maneiras diferentes de ser migrante.
14.
As diferenciações no território
Analisamos
a intensa mobilidade espacial da população brasileira por meio de diferentes
tipos de fluxos migratórios existentes entre regiões estagnadas e outras mais
dinâmicas. O impacto das inovações tecnológicas no reordenamento territorial do
país envolve mudanças nas relações entre o campo e a cidade e também na
hierarquia urbana.
Vamos
ler dois textos: “As férias na casa da avó materna”, página 12 do caderno do
aluno, e “A mudança para o interior”, na página 13. Vamos identificar o
percurso da família de João pelo território nacional, as razões da mudança da
Bahia para Minas Gerais e, depois, de Minas Gerais para São Paulo, o que mudou
na vida dele e na sua cidade de residência ao longo do tempo (intervalo de 30
anos - início dos anos 1970 ao final da década de 1990). Quais as vantagens e
desvantagens de viver em diferentes cidades? Quais as características de cada
época?
O
que motivou essas mudanças? A oportunidade de emprego.
Entre
1970 e 1990, muita coisa mudou:
1. Mudança
de conectividade entre as cidades e o encurtamento das distâncias por
decorrência das inovações tecnológicas:
- no
começo da década de 1970, não havia o acesso à internet (foi implantada em
meados da década de 1990) e a comunicação por satélite não cobria todo o
território nacional;
- o desenvolvimento
da infraestrutura de transporte tornou o acesso entre as cidades mais rápido.
2. Expansão
do mercado de produtos industrializados e da sociedade de consumo por meio da
rede de hipermercados e de shopping centers.
3. Mudança
nas relações entre as cidades pequenas e médias com a metrópole em decorrência
dos aspectos anteriores.
A distribuição
da infraestrutura
As
inovações dos últimos 30 anos alteraram os conteúdos tecnológicos do
território brasileiro, revigorando as possibilidades de produção com os novos
recursos da informação, da ciência e da técnica. Daí a necessidade de
introduzir gradativamente no ensino de Geografia as inúmeras combinações no
meio geográfico decorrentes do acúmulo desigual de ciência e técnica.
Existe
um maior acúmulo de infraestrutura e tecnologia nas unidades federadas do
Centro-Sul do país, especialmente São Paulo e Rio de Janeiro. Qual é o impacto
desse acúmulo desigual das inovações na rede urbana brasileira?
As cidades
brasileiras
As
cidades constituem, no momento atual, um elo entre o local de residência e as
relações sociais e econômicas cada vez mais globalizadas. As cidades situadas
na porção do território com maior acúmulo das inovações tecnológicas têm
melhores condições de exercer esse papel (de cidade globalizada).
O
mapa “Brasil: população urbana, 2000”, na página 16 do caderno do aluno,
apresenta a distribuição da população urbana pelo território nacional e chama
atenção para os círculos proporcionais indicados na legenda. Percebemos a
relação entre o sistema viário e a distribuição da população pelo território:
onde temos estradas (sistema viário), temos população, mesmo em pequena
quantidade, como nas rodovias brasileiras pavimentadas, especialmente nas
Regiões Norte e Centro-Oeste ou mesmo próximo ao Rio Amazonas, importante
hidrovia da Região Norte.
Porém,
as capitais com mais conteúdo de ciência e tecnologia são as localizadas no sul
e sudeste (onde aconteceu o desenvolvimento em maior escala em todos os
sentidos): São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Goiânia, Brasília,
Curitiba e Porto Alegre.
15.
A distribuição da atividade industrial no Brasil
Nesse
capítulo, o tema proposto é a concentração e a descentralização do espaço
industrial. A alteração entre o campo e a cidade e a intensa mobilidade
espacial da população foram reforçadas pelo processo de industrialização e
pelo papel ativo do Estado brasileiro na integração econômica do território
nacional. O processo de interiorização foi impulsionado pela construção de
Brasília e pelas políticas públicas de incentivo à atividade industrial, como a
criação da Zona Franca de Manaus. O padrão desigual de produção científica e
técnica reforçou o papel desempenhado pela cidade de São Paulo como centro
polarizador da economia nacional.
Vamos diferenciar
os tipos de indústria e compreender a importância de cada uma delas na composição
do Valor da Transformação Industrial (VTI), bem como o caráter indutor da inovação
tecnológica no dinamismo do setor. Podemos começar, avaliando a diversidade de
produtos industriais, presentes em nossa vida cotidiana, classificada na tabela
“Classificação Nacional das Atividades Econômicas (CNAE)” adotada pelo IBGE,
na página 18 do caderno do aluno.
A
descentralização da atividade industrial
Apesar
da concentração da atividade industrial em São Paulo, existem vários municípios
brasileiros com expressiva atividade industrial. Se observarmos nas embalagens
de produtos que temos em casa, conferimos que eles são produzidos em vários municípios,
em estados diferentes, apesar da concentração ser em São Paulo.
A
concentração industrial brasileira
Apesar
da existência de unidades fabris em todas as regiões brasileiras e a despeito
da descentralização de algumas cadeias produtivas, como a do setor de
vestuário e de calçados ou a de veículos automotores, a participação do Estado
de São Paulo na produção industrial brasileira é a mais alta do país.
Em razão do forte conteúdo de inovação tecnológica e do ganho de produtividade
ocorridos na indústria paulista, e independente da descentralização industrial,
estudos prevêem que a concentração das cadeias de comando da produção em São
Paulo será ainda maior na década de 2010.
O
mapa “Brasil: localização de unidades fabris, 2000”, na página 24 do caderno do
aluno, nos revela que, apesar de uma forte concentração das
unidades fabris na região Centro-Sul do país, é possível identificar
estabelecimentos industriais em todas as unidades da federação.
No
mapa “Brasil: localização de unidades fabris que inovam e diferenciam produtos,
2000”, na página 25 do caderno do aluno, foram localizadas apenas as unidades
fabris com alta tecnologia. Essas empresas são aquelas que investem muito em
pesquisa e no desenvolvimento de produtos diferenciados, modernizam o seu
maquinário, a gestão empresarial e a logística e/ou possuem seu próprio
departamento de marketing e gerenciamento de marcas.
Comparando
os últimos dois mapas, identificamos as áreas industriais do país com maior
capacidade de inovação e produção tecnológica: o Estado de São Paulo,
particularmente nas proximidades da capital, Rio de Janeiro (RJ), o entorno de
Belo Horizonte (MG), de Curitiba (PR), de Porto Alegre (RS), entre outros.
Vamos
analisar o impacto desse conteúdo técnico na produção do Valor
da Transformação Industrial (VTI), valendo-se dos dados da tabela
“Distribuição geográfica das AIEs, 2000”.
As
áreas industriais estratégicas (AIEs) foram selecionadas dos municípios de cada
região do país que apresentam unidades fabris com inovação tecnológica
(primeira e segunda coluna). Por exemplo, no Sul temos 5 AIEs que englobam 66
municípios. A participação no Valor da Transformação Industrial (VTI)
refere-se à porcentagem da riqueza gerada pela indústria de cada área no valor
total do país.
As
áreas industriais estratégicas estão localizadas em apenas 254 municípios
brasileiros (de um total de aproximadamente 5 500); esse pequeno número de
municípios concentra 75% do Valor da Transformação Industrial (VTI) do país, e
a cidade de São Paulo e seus municípios vizinhos (120) formam a área de maior
destaque, concentrando 42% do VTI.
16.
Perspectivas do espaço agrário brasileiro
A
organização do espaço agrário brasileiro pode ser relacionada com a
industrialização do país e as mudanças ocorridas na relação entre o campo e a
cidade. A mobilidade espacial da população pode ser associada às mudanças da
rede urbana e às interações entre as áreas de maior dinamismo e outras,
marcadas pela estagnação econômica.
Para
a abertura do tema, vamos analisar os mapas “Brasil: pecuária
(bovinos),1995” e “Brasil: pecuária (bovinos), 2006”, nas páginas 28
e 29 do caderno do aluno, relacionados com a ocupação do território brasileiro
pela pecuária, em 1995 e em 2006. Identificamos as transformações que ocorreram
na ocupação do território brasileiro no intervalo de dez anos: ocorreu a
expansão da pecuária em direção à Amazônia, particularmente com destaque para
Rondônia e sul do Pará. Associado a expansão, o aumento do desmatamento da
Floresta Amazônica e a diminuição do trabalho na terra.
O aumento da produtividade rural
O
aumento da produtividade do estabelecimento rural por meio da incorporação de
técnicas mais eficientes, da mecanização e do uso de insumos agrícolas é um
mecanismo importante para analisar o espaço agrário brasileiro.
Um
gráfico que podemos analisar é o “Brasil: evolução do pessoal ocupado e do
número de tratores”, na página 30 do caderno do aluno. Comparem a evolução do
número de tratores e do número de pessoal ocupado nos estabelecimentos rurais
do Brasil entre 1970 e 2006. Esse tipo de gráfico (gráfico de linhas) é utilizado
para mostrar a mudança de uma variável com referência à outra. O dado de cada
ano é localizado no cruzamento das variáveis dos eixos (ano e número de pessoas
ou tratores); a linha é a junção dos pontos assinalados. Não é difícil perceber
que ocorreu no Brasil um movimento inversamente proporcional entre o
crescimento do número de tratores e a diminuição de pessoal ocupado nas
atividades agropecuárias.
Tanto
para a agricultura como para a pecuária, as transformações começaram a ocorrer
na década de 1980, o que se refletiu nos dados a partir da década de 1990.
Diferentemente da pecuária, que aumentou sua produtividade mesmo com perda de
área de pastagem, a agricultura continua ampliando a área cultivada, além do
ganho de produtividade.
Os
conflitos no campo
A
dinâmica territorial do país envolve as relações sociais entre diferentes
segmentos da sociedade brasileira. Vamos ler breves relatos da vida de alguns
brasileiros nas páginas 35 e 36 do caderno do aluno. Os relatos representam
posições parciais de cada um dos segmentos envolvidos nessa dinâmica: um
empresário do campo, um latifundiário, um trabalhador rural sem-terra, um
bóia-fria e um pequeno produtor e em qual área do país ele poderia viver. Uma
vez feita a correspondência entre as falas e o sujeito social, escreva quem
está falando.
Possíveis
relações entre eles podem existir: o bóia-fria se relaciona com o empresário
do campo porque trabalha em sua lavoura, na colheita da cana; o empresário do
campo pode acabar comprando as terras do pequeno produtor para ampliar sua área
cultivada; esse pequeno produtor, sem suas terras, poderá se transformar em um
bóia-fria, morando na cidade e trabalhando temporariamente na colheita
agrícola. Várias outras possibilidades poderiam ser imaginadas.
Nessas
relações, a resistência de algum(uns) dos sujeitos sociais
ao relacionamento proposto pode existir. Por exemplo, se o pequeno produtor
rural não tivesse interesse em vender suas terras ou o latifundiário impedisse
a ocupação de sua fazenda pelos trabalhadores rurais sem-terra, o que
aconteceria? A diversidade de interesses dos trabalhadores que vivem das
atividades rurais é um dos motivos para a origem dos conflitos no campo
brasileiro.
1ª Atividade para entregar:
1-
Leitura
de texto: ler os textos abordados em sala de aula
2-
Elaborar 4 perguntas com as respostas de cada
texto
3-
Listar as palavras que não entenderam
4-
Redigir um texto abordando os principais pontos
de cada tema trabalhado
excelente!!!!
ResponderExcluirPerfeito
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