Tectônica de Placas - Uma dinâmica de 3,8 bilhões de anos
A rocha acima, encontrada no sudoeste da Groenlândia, se formou há 3,8 bilhões de anos. Geólogos acabam de mostrar que ela tem um padrão típico das rochas formadas no processo de expansão do assoalho oceânico (foto: Science )
Mais antigo pedaço conhecido da crosta terrestre ajuda a entender origem da tectônica de placas
Bernardo Esteves
Geólogos descobriram na Groenlândia rochas que se formaram à medida que o fundo do oceano se expandia há 3,8 bilhões de anos, quando a Terra ainda era um planeta adolescente. O material constitui a mais antiga amostra conhecida da crosta terrestre e prova que a tectônica de placas – mecanismo que regula o movimento e a evolução dos grandes blocos rochosos que compõem a crosta terrestre – já estava em ação muito antes do que imaginavam os cientistas.
A equipe de Harald Furnes, da Universidade de Bergen, na Noruega, mostrou que as rochas encontradas na Groenlândia se formaram em cadeias montanhosas situadas no fundo dos mares – as cordilheiras meso-oceânicas. Erupções periódicas de lava em falhas ao longo dessas cordilheiras trazem à tona material do interior do planeta, que se solidifica à medida que resfria. Esse mecanismo garante que a crosta terrestre esteja em constante renovação. Em compensação, blocos mais velhos da crosta são “engolidos” de volta pelo manto, quando duas placas tectônicas colidem e a mais pesada delas “entra” sob a outra.
Não se sabia, no entanto, desde quando esse mecanismo está em ação. A evidência mais antiga de seu funcionamento era de menos de 2 bilhões de anos atrás. Alguns cientistas acreditavam que esse mecanismo não teria começado a operar logo após a formação da Terra, há cerca de 4,5 bilhões de anos, quando o planeta ainda era muito quente. O estudo liderado por Furnes, publicado esta semana na Science , mostra que a renovação da crosta terrestre pela tectônica de placas acontece há pelo menos 3,8 bilhões de anos.
A equipe chegou a essa conclusão após analisar amostras do cinturão de Isua, uma formação rochosa de 12 km de extensão situada no sudoeste da Groenlândia. O cinturão já havia tido sua idade determinada em estudos anteriores. O grupo de Furnes havia decidido examiná-lo em busca de vestígios de vida microscópica, mas acabou fazendo a surpreendente descoberta de que havia ali vestígios da crosta oceânica.
OfiólitosOs geólogos notaram que alguns trechos do cinturão de Isua tinham características típicas de ofiólitos – rochas da crosta oceânica que, devido ao movimento das placas tectônicas, acabaram se elevando e ficando expostas na porção continental da crosta. Havia no cinturão de Isua rochas vulcânicas com um padrão encontrado apenas no material formado nas cordilheiras meso-oceânicas. Análises geológicas e químicas empreendidas pela equipe confirmaram que se tratava de fato de um ofiólito.
No artigo que descreve a descoberta, os autores demonstram com argumentos sólidos que as rochas analisadas se formaram na crosta oceânica e refutam outras interpretações possíveis para o padrão encontrado. “Sustentamos que o cinturão de Isua preserva vestígios do ofiólito mais antigo da Terra”, afirmam. “Isso implica que a expansão do assoalho oceânico e processos de tectônica das placas [observados hoje] já estavam em operação há cerca de 3,8 bilhões de anos.”
Bernardo Esteves
Revista Ciência Hoje
Pangéia
Pangéia, o retorno
A ciência já sabe: daqui a 250 milhões de anos, a cara do nosso planeta será bem parecida com uma fotografia do passado distante. Bem-vindo ao próximo supercontinente
CAROLINE WILLIAMS E TED NIELD
Esse supercontinente do futuro não é o primeiro e não será o último. Geólogos suspeitam que o movimento das massas de terra em nosso planeta é cíclico e que a cada 500 ou 700 milhões de anos elas se juntam. Esse ciclo é três vezes mais longo do que o tempo gasto pelo nosso Sistema Solar para orbitar o centro da galáxia. Isto posto, resta saber o que rege esse fenômeno, e como a vida será na próxima vez que os continentes se encontrarem.
A ciência já sabe: daqui a 250 milhões de anos, a cara do nosso planeta será bem parecida com uma fotografia do passado distante. Bem-vindo ao próximo supercontinente
CAROLINE WILLIAMS E TED NIELD
Você embarcou em sua máquina do tempo. Para o futuro, 250 milhões de anos adiante. A Terra está viva e bem. Os humanos há muito pereceram, mas o planeta continua a ser o lar de formas de vida desconcertantes. Com exceção de alguns poucos fósseis misteriosos, não há nenhuma evidência de que um dia existimos. Para alguém que viveu no século 21, como eu e você, a Terra é quase irreconhecível. Os continentes estão unidos em uma única e gigantesca massa cercada por um oceano global. A maior parte do solo seco é um deserto hostil, enquanto a costa é atacada por tempestades ferozes. Os oceanos são turbulentos na superfície, estagnados nas profundezas e constantemente famintos por oxigênio e nutrientes. Doenças, guerras e colisões de asteróides levaram humanos e muitas outras espécies do passado à extinção. Pronto, voltemos ao presente.
Esse supercontinente do futuro não é o primeiro e não será o último. Geólogos suspeitam que o movimento das massas de terra em nosso planeta é cíclico e que a cada 500 ou 700 milhões de anos elas se juntam. Esse ciclo é três vezes mais longo do que o tempo gasto pelo nosso Sistema Solar para orbitar o centro da galáxia. Isto posto, resta saber o que rege esse fenômeno, e como a vida será na próxima vez que os continentes se encontrarem.
Os continentes se movem graças à circulação do manto terrestre sob as sete grandes placas tectônicas. Quando elas se encontram, uma placa é forçada a ficar sob a outra, em um processo chamado subducção. Ele separa a crosta do outro lado da placa, permitindo que novas camadas de magma cheguem à superfície para preencher a lacuna. Esse processo faz com que a crosta oceânica seja constantemente criada e destruída. Como os continentes são feitos de rocha menos densa do que aquela mais pesada e mais fina da crosta oceânica, que forma o chão marinho, eles passam acima do manto e escapam da subducção.
Como resultado de tudo isso, os continentes mantêm sua forma por centenas de milhões de anos enquanto deslizam vagarosamente pelo planeta. Entretanto, as massas de terra acima da água do mar colidem sempre. E, às vezes, juntam-se para formar um supercontinente.
O mais recente e célebre deles, Pangéia, foi formado há 300 milhões de anos e sucumbiu 100 milhões de anos depois, quando os dinossauros surgiram. Cerca de 1,1 bilhão de anos atrás, outro supercontinente, Rodínia, formou-se e fragmentou-se 250 milhões de anos depois. Com toda certeza, eles não foram os únicos - a lista inclui Pannotia, Columbia (ou Nuna), Kenorland e Ur (veja "Passado e futuro dos supercontinentes"). O problema é que ninguém sabe ao certo quantos deles existiram porque a formação de um supercontinente tende a destruir evidências de seu antecessor. Se há um ponto sobre o qual todos concordam é que existiram dois deles contendo toda, ou quase isso, a terra do planeta: Pangéia e Rodínia.
MAPAS-MÚNDI
Há 250 milhões de anos, havia Pangéia, um supercontinente que cobria o globo de norte a sul. Daqui a outros 250 milhões de anos, os continentes se juntarão mais uma vez. Eis três hipóteses a respeito do futuro de nosso planeta.
No meio do caminho
Neste exato momento, vivemos a metade de um ciclo. O Oceano Pacífico está gradualmente se fechando, a crosta oceânica afunda nas zonas de subducção do Pacífico Norte, um sulco do Atlântico Central está alimentando novo solo marinho e as Américas separam-se cada vez mais da Europa e da África. Por falar em África, o continente está se movendo para o norte, em direção ao sul da Europa. A Oceania também caminha para o norte, rumo ao Sudeste Asiático. Os continentes movem-se cerca de 15 milímetros por ano, velocidade similar ao crescimento das unhas de um ser humano.
Adiante o relógio em algum ponto entre 50 e 100 milhões de anos e será fácil ter uma idéia básica de como tudo será. Se olharmos ainda mais para o futuro, descobriremos que as mudanças não se resumem ao movimento contínuo dos continentes. Christopher Scotese, da Universidade do Texas, em Arlington, compara o problema a dirigir em uma estrada. "Você pode ter um palpite de onde estará em 5 ou 10 minutos, mas sempre há acidentes. As pessoas mudam de faixas ou a estrada pode ter um desvio inesperado. Se algo assim acontecer, você terá de fazer uma escolha." Há duas maneiras de os continentes como os conhecemos se juntarem. Se o Oceano Atlântico continuar a se expandir, as Américas em algum momento irão trombar com a Ásia. Por outro lado, uma zona de subducção pode se abrir no Atlântico e trazer o solo marinho de volta, forçando a Europa e a América a ficarem juntas novamente. Isso, essencialmente, recriaria a Pangéia.
Em 1992, o geólogo Chris Hatnady, da Universidade da Cidade do Cabo (África do Sul), aceitou o desafio de projetar o próximo supercontinente. Segundo ele, enquanto o Atlântico continua a aumentar, "as Américas seguem em sentido horário, ao redor de um eixo a noroeste da Sibéria, parecendo destinadas a juntar-se com a margem leste do futuro supercontinente", o qual é chamado de Amásia pelo geólogo Paul Hoffman, da Universidade de Harvard (EUA). Nessa visão do futuro, a Oceania continuará seu caminho para o norte, e a África ficará mais ou menos no mesmo lugar. Enquanto isso, a Antártica permanecerá no Pólo Sul. "Ela não está ligada a nenhuma zona de subducção. Portanto, não existe razão para qualquer movimento", afirma Hoffman.
Roy Livermore, da Universidade de Cambridge (Inglaterra), chegou a conclusão parecida. No fim dos anos 1990, ele criou sua própria versão de Amásia, um futuro supercontinente que chamou de Novopangéia. "Tomei a liberdade de abrir uma nova fenda entre o Oceano Índico e o Atlântico Norte", diz. "Sabemos que a Grande Fenda [complexo de falhas tectônicas na costa da África] é ativo, então o projetamos abrindo um pequeno oceano no futuro. A África oriental e a ilha de Madagáscar movem-se através do Oceano Índico para colidir com a Ásia. A Oceania já teria colidido com o sudeste da Ásia." Além disso, uma cadeia de montanhas terá surgido no mar que seguirá junto à zona de subducção ao sul da Índia.
No futuro de Livermore, todos os continentes atuais estão unidos. "Eu não acredito que a Antártica permanecerá no Pólo", diz. Para tanto, ele supõe que uma nova zona de subducção será aberta para levar tudo embora. "A beleza disso é que ninguém nunca poderá provar que estou errado", afirma o geólogo.
PASSADO E FUTURO DOS SUPERCONTINENTES
Os geólogos já sabem que pelo menos dois deles já existiram no passado, Pangéia e Rodínia. Evidências concretas da existência de outros supercontinentes são controversas, já que a nascimento de um praticamente elimina os sinais de seus antecessores. Eis algumas das suspeitas dos cientistas.
UR ; cerca de 3 bilhões de anos atrás
Kenorland; 2,5 bilhões de anos atrás
COLUMBIA (ou NUNA); cerca de 1,9 bilhões de anos atrás
RONDÍNIA; cerca de 900 milhões de anos atrás
PANNOTIA ; 600 milhões de anos atrás
PANGÉIA ; 300 milhões de anos atrás
HOJE
PRÓXIMO SUPERCONTINENTE; 250 milhões de anos no futuro
Isso pode ser verdade, mas outros pesquisadores discordam. Scotese gastou muito de sua carreira reconstruindo o passado da Terra e agora aplica esse conhecimento para projetar os continentes no futuro. Ele não o vê como Hoffman e Livermore. Como eles, Scotese prevê que nos próximos 50 milhões de anos a África continuará indo para o norte, fechando o Mediterrâneo e impulsionando uma cadeia montanhosa do tamanho do Himalaia ao sul da Europa. A Austrália irá girar e colidir com Bornéu e o sul da China. Mas, segundo ele, tudo irá mudar 200 milhões de anos mais tarde. A subducção começa do lado ocidental do Atlântico. A abertura pára e o Atlântico começa a encolher, unindo novamente a maior parte das grandes áreas de terra, enquanto a América do Norte tromba com o continente Euro-Africano. Originalmente, Scotese chamou o supercontinente resultante de Pangéia Última, mas recentemente o renomeou de Pangéia Próxima. "O nome Última me incomodava porque dá a idéia de ser o supercontinente derradeiro", diz Scotese. "Esse processo irá continuar por outros bilhões de anos."
O geólogo diz que uma nova zona de subducção no Atlântico poderia ser aberta se uma pequena zona já existente, como uma parte da Fossa de Porto Rico (Caribe), se espalhar até a costa americana como resultado da mudança das tensões no planeta. Sob as condições certas, ele diz, a crosta poderia começar a quebrar ao longo de sua linha, sinalizando o começo do fim para a Dorsal Meso-Atlântica. Hoje ela fica no meio do caminho entre a Europa e as Américas, mas, "se estivéssemos para começar a subducção no Atlântico ocidental ou no Atlântico oriental, a Dorsal seria forçada a se mover em direção à zona de subducção", diz. "Ela seria reduzida e teríamos um oceano com uma zona de subducção e sem a fenda. Isso significa que o Atlântico seria fechado rapidamente."
No momento, não há nada que mostre qual dos modelos está correto. Mas todos concordam que a vida em qualquer um deles será bem difícil. "Supercontinentes criam extremos", diz Paul Valdes, climatologista da Universidade de Bristol (Inglaterra). Podemos dizer como era o clima da Pangéia graças a evidências geológicas como as posições dos depósitos sensíveis ao clima, entre eles os de carvão, originados em condições quentes e úmidas. Esse tipo de evidência pode ser usado para construir modelos de computador capazes de prever o clima do futuro. Os modelos resultantes sugerem que supercontinentes estão propensos a mudanças violentas nas estações do ano.
"Em Pangéia, as latitudes tropicais poderiam ser bem quentes, talvez acima de 44°C. Latitudes medianas teriam verões muito quentes e invernos muito frios, com temperaturas chegando a 20°C ou 30°C negativos, com muita neve", diz Valdes. "Tudo derreteria nos verões seguintes, causando grandes inundações." Apesar disso, vastas áreas no interior ficariam secas, porque as nuvens de chuva não teriam como avançar para terras mais internas. Em climas tão extremos, apenas uma pequena porção do supercontinente seria capaz de sustentar formas de vida. Em Pangéia, segundo Valdes, as terras com melhores condições ficavam em uma zona estreita logo depois dos trópicos. A vastidão do supercontinente futuro também provocará climas extremos. Monções se formarão por causa das diferenças de temperatura entre terra e oceano. "Se você tem uma grande massa de terra, ela aquece e estimula uma megamonção", diz Valdes.
Se abrigar vulcões em atividade, o novo supercontinente será castigado por furacões extremos
Devastação no ar
Pior: se o supercontinente abrigar vulcões em atividade, teremos uma atmosfera rica em dióxido de carbono e um planeta mais aquecido. Águas superficiais mais quentes poderiam formar furacões extremos. Com milhares de quilômetros de diâmetro e cerca de 50% mais fortes do que os mais destruidores furacões de hoje em dia, eles iriam devastar a paisagem com ventos de mais de 400 km/h.
A vida também será difícil nos oceanos. O sistema global de condução das correntes, que atualmente mantém a oxigenação e o estoque de nutrientes, dependerá do tamanho e do formato da bacia oceânica, além da posição dos continentes. Mova-os e esses condutores poderão desaparecer. O resultado será desastroso: as águas se tornarão estratificadas e com pouco oxigênio, e muito pouco da vida marinha será capaz de sobreviver.
As costas cheias de recifes perto do equador ainda serão férteis, mas a vida não será fácil mesmo ali. Quando os continentes se juntarem, haverá uma redução drástica da área de mares rasos. Muito provavelmente, essa diminuição levará à extinção em massa de espécies colocadas no mesmo ambiente e forçadas a competir. Algo parecido também acontecerá em terra. A formação de Pangéia é freqüentemente responsabilizada por uma das maiores mortandades de todos os tempos, a extinção Permiana, em parte devido à redução de hábitat disponível.
Entretanto, a vida é pródiga ao tirar o melhor de novas situações. Há 290 milhões de anos, quando a Pangéia se formou e as calotas polares derreteram, surgiram alguns dos ecossistemas mais misteriosos até hoje. Florestas densas de árvores Glossopteris (do grego "glossa", "língua", porque as suas folhas tinham esse formato) cresceram a mais de 25 metros de altura na costa sul do Mar de Tétis (surgido com a separação de Pangéia) e avançaram para o interior a 20 graus do Pólo Sul.
Apesar de serem sustentadas por um verão de luz fraca, essas árvores eram capazes de sobreviver por meses na escuridão do inverno. Toda a vegetação próxima à costa era fustigada por monções poderosas e chuvas barulhentas vindas do Mar de Tétis, com nuvens escuras obstruindo o já enfraquecido sol. Quando o inverno se aproximava, as folhas da Glossopteris caíam graças à falta de oxigênio. Não é surpresa que análises de anéis de crescimento fossilizados mostraram que a Glossopteris crescia freneticamente enquanto podia.
De qualquer maneira, os humanos não estarão aqui para ver esse futuro. O próximo supercontinente ainda não passa de um punhado de especulações, mas já tem lições valiosas para nos passar. Até podemos ficar cada vez mais espertos, mas a Terra continuará sua jornada pelo Cosmos. Com ou sem a nossa presença por aqui.
Revista Galileu
Vídeo: Vulcões são 'engolidos' por fenda tectônica no Pacífico
Imagens computadorizadas obtidas por ressonância mostram vulcões submarinos caindo em precipícios de quilômetros de profundidade
Imagens computadorizadas obtidas por ressonância mostram vulcões submarinos caindo em precipícios de quilômetros de profundidade
Novas imagens computadorizadas do fundo do mar obtidas através de sonar – através de ressonância – revelaram como vulcões submarinos são "engolidos" pela fenda entre duas placas tectônicas no Oceano Pacífico.
As imagens feitas pela equipe de pesquisadores das universidades de Oxford e Durham, na Grã-Bretanha, revelaram uma fila de vulcões de milhares de metros de altitude sendo engolida pela falha à medida que estes se deslocam em direção ao abismo.
A falha tem quase 11 quilômetros de profundidade e poderia facilmente acomodar em seu interior o Monte Everest.
Os pesquisadores afirmam que entender melhor esse fenômeno – sobretudo no chamado Círculo de Fogo do Pacífico, uma das áreas mais ativas da Terra – pode aperfeiçoar os sistemas de alerta de terremotos subaquáticos e tsunamis.
Por que é raro ocorrer terremotos no Brasil?
Beatriz Vichessi
Tremores de terra ou abalos causados pela liberação de energia acumulada no interior da crosta terrestre não são raridades aqui. Ao contrário: o território nacional sofre cerca de 90 tremores todos os anos.
Incomuns, na verdade, são os sismos de grande magnitude porque o país está em uma zona intraplacas tectônicas, com maior estabilidade, afastado das zonas de contato ou de separação de plataformas (veja a ilustração ao lado, que também indica, com as setas vermelhas, o sentido de movimento das placas).
Essas áreas de contato são muito instáveis, como é o caso do arquipélago japonês, que sofre com abalos fortes. Mas grandes terremotos já foram registrados aqui.
Em 1955, em Mato Grosso, um sismo atingiu 6,2 graus na escala Richter. Ele teria sido devastador se tivesse ocorrido em uma área mais povoada.
Consultoria Roberto Giansanti, geógrafo e autor de livros didáticos.
Revista Nova Escola
Tremor de magnitude 3,3 é registrado em Nova Lima-MG
O tremor só foi sentido em um bairro da cidade e não provocou maiores danos
O Observatório Sismológico da Universidade de Brasília (UnB) registrou no último sábado, 22, um tremor de magnitude 3,3 na escala Richter na cidade de Nova Lima, Região Metropolitana de Belo Horizonte.
Segundo os pesquisadores, o tremor pôde ser sentido especialmente no bairro Morro do Chapéu, porém não teve potencial para causar danos. A ocorrência foi registrada em sete estações por volta das 19h30 de sábado.
Há pouco mais de um ano, no dia 8 de outubro, um tremor de 4,5 graus foi registrado em Brasília, tendo como epicentro a cidade Mara Rosa, na divisa de Goiás com Tocantins, a 500 quilômetros de Brasília. Esse tipo de tremor de terra é comum no Brasil, que fica longe das falhas tectônicas maiores, mas possui falhas menores em seu território.
Agência EstadoRevista Veja
Com muito fogo por baixo
Cientistas demonstram que no interior da Terra existem jorros de lava muito profundos. Eles nascem no núcleo e sobem até a base dos continentes e oceanos.
por Flávio Dieguez
A gigantesca coluna de rochas fluidas e ardentes sobe direto do núcleo quentíssimo do planeta até bater no teto, ou seja, nas camadas duras e frias da crosta terrestre. Aí, ativa vulcões, deforma massas rochosas, cria montanhas, ergue planaltos e faz arquipélagos inteiros brotarem no meio do mar. Até este ano, os movimentos subterrâneos de lava mais profundos que se conheciam eram os que aconteciam até 500 quilômetros de profundidade, apenas. Mas diversas pesquisas recentes comprovaram que também existem, lá embaixo, torrentes rochosas muito mais profundas, batizadas de superplumas.
Uma delas, localizada sob a África, nasce 3 000 quilômetros abaixo da superfície, no núcleo da Terra. Em março, ela foi mapeada pelos sismologistas americanos Jeroen Ritsema e Hendrik van Hijst, do Instituto de Tecnologia da Califórnia, nos Estados Unidos. Eles confirmaram medidas anteriores, menos precisas, realizadas no ano passado pelos geofísicos Norman Sleep, da Universidade Stanford, nos Estados Unidos, e Cynthia Ebinger, da Universidade de Londres, na Inglaterra. “As superplumas têm papel decisivo para a Geologia”, disse Sleep à SUPER. “Além da que observamos sob a África, parece haver uma outra debaixo do Oceano Pacífico, na região do Havaí.”
Para o cientistas, esses rios de lava são engrenagens que mantêm o planeta ativo, geologicamente, e não morto como a Lua e Marte. Nesse esquema, a camadas internas do planeta funcionam como um depósito de calor, pois estão aquecidas a cerca de 3 000 graus Celsius, na sua parte mais profunda. Essa energia flui o tempo todo para a superfície, em grande parte acompanhando a ascensão das superplumas até a base dos continentes e oceanos. Na crosta, finalmente, o ardor interno toma a forma de abalos sísmicos, explosões vulcânicas e outros desastres que, apesar das conseqüências terríveis que acarretam, também representam forças criativas da Terra, remodelando sem cessar as suas paisagens.
fdieguez@abril.com.br
Algo mais
O calor interno da Terra é produzido pela desintegração de urânio, tório e potássio radioativos. A descoberta foi do físico inglês de origem neozelandesa Ernest Rutherford (1871-1937), descobridor do núcleo atômico.
Trancos põem continentes em marcha
A descoberta dos jorros gigantes de lava revela uma força nova em ação no interior da Terra. Chamados de superplumas, eles podem ser responsáveis por boa parte dos movimentos que animam o interior do planeta. Essa é a avaliação do geofísico inglês Alessandro Forte, da Universidade Ontário Ocidental, em Londres, Inglaterra. “Acredito que elas causam pelo menos metade da agitação interna do planeta”, disse ele à revista americana Science.
O problema mais importante que os esguichos incandescentes vão ajudar a resolver, nos próximos anos, diz respeito ao deslocamento das placas tectônicas, nome que se dá aos grandes blocos rochosos em que se divide a crosta terrestre. Rígidos e frios, eles flutuam sobre o manto – uma camada de rochas quentes e amolecidas situadas imediatamente abaixo da superfície – sempre em movimento.
Qual é o motor dessa correria?
A teoria atual diz que as placas se mexem porque sempre têm uma extremidade mais grossa do que a outra. Como essa ponta é mais pesada e tende a afundar, ela arrasta o resto do bloco rochoso no processo. Avalia-se agora que, apesar de esse mecanismo explicar o vaivém dos fragmentos da crosta, não é o único responsável pela ação.
Terremotos úteis
Metade da tarefa ficaria por conta das superplumas. Como estão subindo lá do fundo, elas tendem a empurrar os continentes e os leitos oceânicos para cima. Só que, ao se elevar, os blocos também tendem a escorregar para um lado ou para outro, deslizando pela superfície.
No caso da África, o tranco a estaria levando na direção do Oceano Índico e para longe da América do Sul, já que os dois continentes estão se distanciando à taxa de uns 2 ou 3 centímetros por ano. Quando puderem calcular os efeitos exatos das superplumas, os cientistas esperam ter uma idéia mais nítida sobre como funciona o planeta.
Antes, porém, precisam desenhar um mapa mais detalhado do interior da Terra. Por ironia, a melhor maneira de fazer o mapeamento é analisar as ondas de choque criadas pelos terremotos (veja o infográfico à direita). No futuro, os dados fornecidos por essas catástrofes naturais vão ajudar a prever, com segurança, quando e onde elas vão ocorrer, salvando moradores e evitando os prejuízos.
Para saber mais
História da Geologia, Gabriel Gohau, Publicações Europa-América, 1987, Portugal.
Na internet:
http://www.seismo.unr.edu
Esboço inacabado de uma ilha
A Ferradura, como todas as outras ilhas do Arquipélago do Havaí, foi criada por um vulcão submarino. Ela é das menores, com pouco mais de 2 quilômetros de extensão
Fervura no subsolo americano
Rochas tórridas, a 3 quilômetros de profundidade, esquentam a água que espirra pelo gêiser Midway, nos Estados Unidos
Um amazonas de pedra derretida
Um jato colossal de rochas quentes e fluidas é descoberto sob a crosta africana.
Deformação geográfica
Boa parte do relevo africano situa-se a uma altitude de mais de 1 000 metros acima do nível do mar. Essa região fica 0,5 quilômetro acima da média dos planaltos do mundo e está pontilhada de vulcões, entre os quais o vulcão Kilimanjaro, com 5 895 metros de altura.
Sob pressão
A elevação do continente se deve à força de uma superpluma, um rio de lava que atravessou os subterrâneos da Terra há 45 milhões de anos e agora está esquentando e pressionando a crosta.
Origem profunda
Pela primeira vez se tem um quadro do que acontece perto do núcleo.
Um coração liquefeito
Com um raio de 3 500 quilômetros e temperatura de 3 700 graus Celsius, esta massa de ferro líquido constitui o núcleo do planeta. É da sua superfície que a superpluma parte para o alto.
Até este ano não se sabia nada sobre movimentos de lava abaixo de 500 quilômetros. Imaginava-se que ela subia por etapas até a superfície.
As superplumas sugerem que há um fluxo contínuo de rochas pelo interior do planeta. Elas sobem do núcleo até o topo e, depois de esfriar, voltam para o fundo.
Arquipélago em obras
Um imenso esguicho de lava construiu as ilhas havaianas, uma a uma.
Há 5,5 milhões de anos, a pressão subterrânea ergueu o leito do mar e criou vulcões submarinos. Do acúmulo de lava nasceu Kauai, a porção mais antiga do território havaiano.
Aos poucos, a força da torrente profunda empurrou a crosta para a esquerda e Kauai se acalmou. Mas, aí, o calor interno começou a levantar outra ilha, Oahu.
Esse processo repetiu-se a cada 1,2 milhões de anos, em média, gerando também as ilhas de Maui e do Havaí, que dá nome ao arquipélago. Ele ainda está em ação.
Radiografia interna
Ondas de choque criadas por tremores revelam o interior do planeta.
Sismógrafos espalhados pelo mundo estão sempre registrando os abalos e, ao mesmo tempo, as ondas lançadas por eles através do planeta.
Cronometra-se a passagem de cada onda em vários pontos da superfície, pois ela pode se atrasar se houver movimentos de lava em seu caminho.
O resultado de muitas medidas mostra onde há rochas se deslocando. É uma espécie de radiografia interna da Terra.
Chapa quente
Um resto de calor subterrâneo ativa os gêiseres do Parque de Yellowstone, nos Estados Unidos.
Existem aqui cerca de 10 000 fontes de água quente. O solo, instável, fica 1 centímetro mais alto, ao longo do ano. Depois desce de novo.
A causa é um jato de lava que pode ser o resto de uma superpluma. Há 200 milhões de anos ela teria erguido a crosta e agora está morna, quase extinta.
O subsolo contém milhares de fraturas que a água da chuva enche regularmente. A temperatura chega aos 200 graus Celsius.
Revista Superinteressante
O mar vai ganhar uma montanha
Nas últimas duas décadas, os geólogos perceberam que o Mar Mediterrâneo é relativamente recente. Ele nasceu há cerca de 45 milhões de anos em decorrência do afastamento cada vez maior entre a Europa e a África. Este ano, pesquisadores do Laboratório de Geociências Azur, na cidade francesa de Villefranche-sur-Mer, confirmaram a suspeita de que ele já está começando a secar. Há uma cadeia montanhosa brotando no chão do mar e deverá soterrá-lo, no futuro. A bordo do submarino Nautile, os geólogos rastrearam o leito marinho usando sonares. Localizaram fraturas, dobras geológicas e vulcões mortos, alguns com 20 quilômetros de diâmetro. Segundo Jean Mescle, líder da equipe, a cordilheira despontará das águas dentro de 8 milhões ou 10 milhões de anos. "Em Geofísica, a paciência é fundamental", brinca ele.
Revista Superinteressantecientistas associam terremotos às mudanças climáticas
pela primeira vez, estudo aponta influência do clima na ocorrência de tremores
Região atingida pelo terremoto e tsunami na cidade de Ishinomaki, Japão (Kimimasa Mayama/EFE)
A mudança climática pode ser responsável por potencializar o movimento das placas tectônicas, segundo um estudo geológico divulgado nesta quarta-feira na Austrália.
Um grupo de cientistas australianos, alemães e franceses estudou esse fenômeno na Índia, onde chegaram à conclusão que as monções se intensificaram durante os últimos dez milhões de anos.
Os pesquisadores descobriram que nesse período as chuvas aceleraram o movimento das placas da litosfera na região em um centímetro por ano.
O geólogo australiano Giampiero Iaffaldano falou sobre o ineditismo da pesquisa. "Pela primeira vez, se reconhece que a mudança climática pode, a longo prazo, atuar potencialmente como uma força e ter influência no movimento das placas tectônicas".
Iaffaldano assinalou que certos eventos geológicos causados pelo movimento das placas - como a criação dos continentes, o fechamento das conchas oceânicas e a formação dos cinturões montanhosos - podem ter influência no clima durante milhões de anos e com efeito retroativo.
Os cientistas consideram que o estudo pode contribuir para estudar os efeitos do movimento das placas tectônicas e determinar as regiões mais propensas a ser atingidas por devastadores tremores como o ocorrido recentemente no Japão.
"Para isso, deve-se levar em conta a história da mudança climática nos últimos milhões de anos", afirmou Iaffaldano.http://veja.abril.com.br
(com Agência EFE)
TERREMOTOS
Ricardo Barros Sayeg
O terremoto seguido de tsunami que atingiu o Japão na última madrugada de sexta-feira, 11 de março de 2011, foi o maior que os japoneses já presenciaram. O país já se acostumou, há muito tempo, a conviver com desastres naturais. Estes últimos, entretanto, causaram enorme destruição e muitas perdas humanas. Foi o sétimo terremoto mais violento do mundo – 8,9 graus na escala Richter. Sua força foi tamanha que chegou a deslocar dez centímetros o eixo de rotação do planeta!
Este, porém, não foi o maior abalo já registrado pela humanidade. Tudo indica que o terremoto que causou mais mortes tenha sido registrado em Shensi, na China, no ano de 1556. Ele teria matado cerca de 830 mil pessoas no país mais populoso do mundo. Todavia, ele não foi o de maior magnitude. O maior já registrado até hoje teria ocorrido no Chile, em 1960, de 9,5 graus na escala Richter, causando a morte de aproximadamente 5.700 pessoas e deixando cerca de 2 milhões de feridos. Outro abalo de enorme magnitude ocorreu no Alasca, em 1964, e atingiu 9,2 graus, mas como teria ocorrido em uma área desabitada não causou tantas perdas humanas ou materiais.
Durante o anúncio de um terremoto pela mídia sempre é mencionada a escala Richter. Essa escala foi criada em 1935 pelo cientista norte-americano Charles F. Richter, um dos pesquisadores do Instituto de Tecnologia da Califórnia. A escala se inicia no grau zero e é infinita (pelo menos do ponto de vista teórico). Contudo, nunca foi registrado um terremoto de grau 10 na escala Richter. Ela se baseia num princípio logarítmico, ou seja, um terremoto de magnitude 6, por exemplo, produz efeitos dez vezes maiores que um de magnitude 5, e assim, sucessivamente.
O poder de destruição de um abalo sísmico não está relacionado apenas à sua magnitude. Outros fatores também influenciam como, por exemplo, a profundidade do hipocentro (ponto interior da crosta terrestre onde ocorre a fratura principal), as condições geológicas do terreno onde ele ocorre, a estrutura de engenharia das edificações, a proximidade de centros populosos, entre outros fatores. Um exemplo disso foi o terremoto ocorrido no Haiti, em janeiro de 2010. Naquela oportunidade, o tremor de terra de magnitude 7,0 na escala Richter atingiu o país, provocando uma série de feridos, desabrigados e mortes. Diversos edifícios desabaram, inclusive o palácio presidencial da capital, Porto Príncipe.
O terremoto que se abateu sobre o Japão não pegou a população despreparada. Os japoneses recebem treinamentos constantes e muitas edificações são construídas para suportar os abalos. Tomara que esse país, cuja população já enfrentou inúmeras crises e problemas, consiga se recuperar o mais rápido possível dessa terrível tragédia!
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Ricardo Barros Sayeg é professor do Colégio Paulista, mestre em Educação pela USP, formado em História e Pedagogia pela mesma universidade.
Este, porém, não foi o maior abalo já registrado pela humanidade. Tudo indica que o terremoto que causou mais mortes tenha sido registrado em Shensi, na China, no ano de 1556. Ele teria matado cerca de 830 mil pessoas no país mais populoso do mundo. Todavia, ele não foi o de maior magnitude. O maior já registrado até hoje teria ocorrido no Chile, em 1960, de 9,5 graus na escala Richter, causando a morte de aproximadamente 5.700 pessoas e deixando cerca de 2 milhões de feridos. Outro abalo de enorme magnitude ocorreu no Alasca, em 1964, e atingiu 9,2 graus, mas como teria ocorrido em uma área desabitada não causou tantas perdas humanas ou materiais.
Durante o anúncio de um terremoto pela mídia sempre é mencionada a escala Richter. Essa escala foi criada em 1935 pelo cientista norte-americano Charles F. Richter, um dos pesquisadores do Instituto de Tecnologia da Califórnia. A escala se inicia no grau zero e é infinita (pelo menos do ponto de vista teórico). Contudo, nunca foi registrado um terremoto de grau 10 na escala Richter. Ela se baseia num princípio logarítmico, ou seja, um terremoto de magnitude 6, por exemplo, produz efeitos dez vezes maiores que um de magnitude 5, e assim, sucessivamente.
O poder de destruição de um abalo sísmico não está relacionado apenas à sua magnitude. Outros fatores também influenciam como, por exemplo, a profundidade do hipocentro (ponto interior da crosta terrestre onde ocorre a fratura principal), as condições geológicas do terreno onde ele ocorre, a estrutura de engenharia das edificações, a proximidade de centros populosos, entre outros fatores. Um exemplo disso foi o terremoto ocorrido no Haiti, em janeiro de 2010. Naquela oportunidade, o tremor de terra de magnitude 7,0 na escala Richter atingiu o país, provocando uma série de feridos, desabrigados e mortes. Diversos edifícios desabaram, inclusive o palácio presidencial da capital, Porto Príncipe.
O terremoto que se abateu sobre o Japão não pegou a população despreparada. Os japoneses recebem treinamentos constantes e muitas edificações são construídas para suportar os abalos. Tomara que esse país, cuja população já enfrentou inúmeras crises e problemas, consiga se recuperar o mais rápido possível dessa terrível tragédia!
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Ricardo Barros Sayeg é professor do Colégio Paulista, mestre em Educação pela USP, formado em História e Pedagogia pela mesma universidade.
círculo de fogo do pacífico é área com mais terremotos no mundo
O Japão, que registrou nesta sexta-feira um terremoto de magnitude 8,9, é um dos países mais afetados pelo Círculo de Fogo, uma área situada no Oceano Pacífico onde ocorre a grande maioria dos tremores de terra e das erupções vulcânicas do mundo.
O Círculo de Fogo do Pacífico (ou Anel de Fogo) é uma área formada no fundo do oceano por uma grande série de arcos vulcânicos e fossas oceânicas, coincidindo com as extremidades de uma das maiores placas tectônicas do planeta.
A região, de cerca de 40 mil km de extensão, tem formato de ferradura e circunda a bacia do Pacífico, abrangendo toda a costa do continente americano, além do Japão, Filipinas, Indonésia, Nova Zelândia e ilhas do Pacífico Sul.
Esta é a área de maior atividade sísmica do mundo. Somente o Japão responde por cerca de 20% dos tremores de magnitude igual ou superior a 6 registrados na Terra. Em média, os sismógrafos captam algum tipo de abalo no Círculo de Fogo a cada cinco minutos.
Além disso, mais da metade dos vulcões ativos no mundo, acima do nível do mar, estão localizados nesta área.
Alguns dos piores desastres naturais já registrados ocorreram em países localizados no Círculo de Fogo. Um deles foi o tsunami de dezembro de 2004, que matou 230 mil pessoas em 14 países no Oceano Índico, após um tremor de magnitude 9,1.
Outros dois desastres famosos na área ocorreram no Chile: o primeiro, em 1960, foi um terremoto de magnitude 9,5 - o pior já registrado na história - que matou 2 mil pessoas; outro tremor, em 2010, deixou 800 mortos e cerca de 20 mil desabrigados.
Placas tectônicas
Nos anos 1960, cientistas desenvolveram a noção de placas tectônicas, o que explica as localizações dos vulcões e outros eventos geológicos de grande escala.
De acordo com a teoria, a superfície da Terra é feita de uma "colcha de retalhos" de enormes placas rígidas, com espessura de 80 km, que flutuam devagar por cima do âmago quente e líquido do planeta.
As placas mudam de tamanho e posição ao longo do tempo, movendo entre um e dez centímetros por ano - velocidade equivalente ao crescimento das unhas humanas.
O fundo do oceano está sendo constantemente modificado, com a criação de novas crostas feitas da lava expelida do centro da Terra e que se solidifica no contato com a água fria. Assim, as placas tectônicas se movem, gerando intensa atividade geológica em suas extremidades.
Três coisas podem ocorrer com as placas: elas podem se afastar umas das outras, deixando espaço para criar mais "chão" no fundo do mar; podem se aproximar, fazendo uma encobrir a outra; ou podem "roçar" umas nas outras, sem causar muito distúrbio.
Essas placas que se "roçam" causam tremores de menor intensidade, como ocorre geralmente na Falha de San Andreas, localizada na região de San Francisco (Estados Unidos). Essas falhas também podem criar escarpas ou falésias no fundo do mar.
No entanto, quando uma placa se move e é forçada para dentro da Terra, ela encontra altas temperaturas e pressões que são capazes de parcialmente derreter a rocha sólida, formando o magma que é expelido pelos vulcões.
As atividades nestas zonas de divisa entre placas tectônicas são as mesmas que dão origem aos terremotos de grande magnitude.
Os segredos do fundo da terra
Nos últimos 15 anos houve um notável progresso nas pesquisas sobre o que acontece no interior do nosso planeta, mas os cientistas ainda esperam novos avanços. Deles poderão surgir, por exemplo, maneiras de prever terremotos ou de programar o uso sustentável dos recursos naturais
A sociedade tem grande interesse nos progressos feitos pelos cientistas no estudo do interior da Terra. A expectativa se explica: há necessidades urgentes de fornecimento de água, recursos minerais, proteção contra desastres naturais e controle ambiental. A área teve enormes avanços nos últimos 15 anos, particularmente em termos de técnicas de visualização remota, mas ainda é preciso ir além.
De qualquer modo, o que foi obtido nos últimos anos merece destaque. Nesse período, os geólogos começaram a compreender a geosfera em termos mais mensuráveis (quantitativos). Técnicas sísmicas mais avançadas levaram a um melhor conhecimento da estrutura tridimensional do manto (camada de rochas em estado sólido ou pastoso que representa 80% do interior do planeta, entre a crosta e o núcleo da Terra) e da litosfera (a região mais exterior da Terra, composta pela crosta terrestre e pela camada de placas tectônicas do manto). Pode-se descrever, em termos numéricos, como funcionam as profundezas do sistema Terra; ao mesmo tempo, a análise quantitativa de bacias em que os sedimentos se acumulam permitiu ligar o interior do planeta ao registro das alterações gravadas nesses sedimentos ao longo do tempo.
Formas melhores de "ver" através da rocha possibilitaram aos geocientistas compreender a estrutura da litosfera e de que modo a pressão exercida pelos movimentos das placas tectônicas a leva a deformar-se. Progressos recentes na datação permitiram descobrir a velocidade desses processos, com a precisão necessária para distinguir entre as diferentes forças que moldam a paisagem.
A modelagem da forma como o relevo muda ao longo das eras atingiu um estágio em que se podem reunir, no tempo e no espaço, estudos relativos à deposição de sedimentos e à sua erosão. Numa escala muito menor, técnicas de detecção que utilizam ondas sísmicas ou eletromagnéticas possibilitam o exame de problemas de arquitetura sedimentar (a maneira como diferentes sedimentos se estruturam).
A maneira como as rochas são erodidas em certas áreas da crosta terrestre e redepositadas em outras - e, ainda, como o interior plástico da Terra reage às correspondentes mudanças de pressão - recebe o nome de transferência de massa. Esse tópico se apresenta como uma nova fronteira nas atuais Ciências da Terra - ou seja, a tentativa de compreender quantitativamente tais processos.
De qualquer modo, o que foi obtido nos últimos anos merece destaque. Nesse período, os geólogos começaram a compreender a geosfera em termos mais mensuráveis (quantitativos). Técnicas sísmicas mais avançadas levaram a um melhor conhecimento da estrutura tridimensional do manto (camada de rochas em estado sólido ou pastoso que representa 80% do interior do planeta, entre a crosta e o núcleo da Terra) e da litosfera (a região mais exterior da Terra, composta pela crosta terrestre e pela camada de placas tectônicas do manto). Pode-se descrever, em termos numéricos, como funcionam as profundezas do sistema Terra; ao mesmo tempo, a análise quantitativa de bacias em que os sedimentos se acumulam permitiu ligar o interior do planeta ao registro das alterações gravadas nesses sedimentos ao longo do tempo.
Formas melhores de "ver" através da rocha possibilitaram aos geocientistas compreender a estrutura da litosfera e de que modo a pressão exercida pelos movimentos das placas tectônicas a leva a deformar-se. Progressos recentes na datação permitiram descobrir a velocidade desses processos, com a precisão necessária para distinguir entre as diferentes forças que moldam a paisagem.
A modelagem da forma como o relevo muda ao longo das eras atingiu um estágio em que se podem reunir, no tempo e no espaço, estudos relativos à deposição de sedimentos e à sua erosão. Numa escala muito menor, técnicas de detecção que utilizam ondas sísmicas ou eletromagnéticas possibilitam o exame de problemas de arquitetura sedimentar (a maneira como diferentes sedimentos se estruturam).
A maneira como as rochas são erodidas em certas áreas da crosta terrestre e redepositadas em outras - e, ainda, como o interior plástico da Terra reage às correspondentes mudanças de pressão - recebe o nome de transferência de massa. Esse tópico se apresenta como uma nova fronteira nas atuais Ciências da Terra - ou seja, a tentativa de compreender quantitativamente tais processos.
O passo essencial rumo a uma abordagem em quatro dimensões (envolvendo, simultaneamente, espaço e tempo) precisa da modelagem dos processos da geosfera, de forma a incorporar dados em escalas menores com as técnicas atuais, de elevada qualidade, de visualização sísmica. É preciso explorar a Terra para obter uma imagem de alta resolução da estrutura e dos processos do seu interior.
Esse estudo passará por alguns temas-chave, apresentados a seguir.
Relevo - O relevo terrestre resulta da interação entre os processos que ocorrem no interior, na superfície e na atmosfera. Ele influencia a sociedade, não apenas em termos dos processos lentos da mudança da paisagem, mas também através do clima. Sua evolução (mudanças de nível nos continentes, na água doce e no mar) pode afetar seriamente a vida humana, animal e vegetal. Quando há uma subida dos níveis de água doce ou do mar, ou quando o continente sofre subsidência (afundamento abrupto ou gradativo da superfície), aumenta o risco de cheias, afetando diretamente ecossistemas locais e aglomerados humanos. Por outro lado, a queda dos níveis de água doce e o levantamento do continente podem levar a um maior risco de erosão ou mesmo de desertificação.
Essas alterações provêm tanto de processos naturais como de atividades humanas, embora a contribuição absoluta e relativa de cada fator ainda seja mal compreendida. O estado atual e o comportamento do Sistema Terra na superfície são consequência de processos que ocorrem em escalas de tempo bem abrangentes. Eles incluem:
>>Efeitos tectônicos a longo prazo no levantamento, na subsidência e nos sistemas fluviais;
>>Efeitos residuais das épocas glaciais nos movimentos da crosta terrestre (o peso do gelo acumulado pressiona a crosta, que leva milhares de anos para recuperar-se depois do degelo);
>>Alterações climáticas e ambientais ao longo dos últimos milênios;
>>Os poderosos impactos antropogênicos do século 20.
Compreender o atual estado do Sistema Terra, tanto para predizer o futuro quanto para programar o uso sustentável dele, implica entender melhor esse espectro de processos (operando simultaneamente, mas em diferentes escalas de tempo). O desafio para as Ciências da Terra é descrever o estado do sistema, monitorar suas alterações, prever sua evolução e, em parceria com outras ciências, avaliar diferentes modelos para seu uso sustentável por parte dos seres humanos.
A investigação deverá concentrar-se na interação entre a tectônica ativa, a evolução do relevo e as alterações do nível do mar a elas relacionadas, assim como o desenvolvimento do padrão de drenagem dos rios. Isso significa desenvolver uma estratégia integrada de observação e análise que enfatize as mudanças em grande escala em zonas vulneráveis do globo.
Esse estudo passará por alguns temas-chave, apresentados a seguir.
Relevo - O relevo terrestre resulta da interação entre os processos que ocorrem no interior, na superfície e na atmosfera. Ele influencia a sociedade, não apenas em termos dos processos lentos da mudança da paisagem, mas também através do clima. Sua evolução (mudanças de nível nos continentes, na água doce e no mar) pode afetar seriamente a vida humana, animal e vegetal. Quando há uma subida dos níveis de água doce ou do mar, ou quando o continente sofre subsidência (afundamento abrupto ou gradativo da superfície), aumenta o risco de cheias, afetando diretamente ecossistemas locais e aglomerados humanos. Por outro lado, a queda dos níveis de água doce e o levantamento do continente podem levar a um maior risco de erosão ou mesmo de desertificação.
Essas alterações provêm tanto de processos naturais como de atividades humanas, embora a contribuição absoluta e relativa de cada fator ainda seja mal compreendida. O estado atual e o comportamento do Sistema Terra na superfície são consequência de processos que ocorrem em escalas de tempo bem abrangentes. Eles incluem:
>>Efeitos tectônicos a longo prazo no levantamento, na subsidência e nos sistemas fluviais;
>>Efeitos residuais das épocas glaciais nos movimentos da crosta terrestre (o peso do gelo acumulado pressiona a crosta, que leva milhares de anos para recuperar-se depois do degelo);
>>Alterações climáticas e ambientais ao longo dos últimos milênios;
>>Os poderosos impactos antropogênicos do século 20.
Compreender o atual estado do Sistema Terra, tanto para predizer o futuro quanto para programar o uso sustentável dele, implica entender melhor esse espectro de processos (operando simultaneamente, mas em diferentes escalas de tempo). O desafio para as Ciências da Terra é descrever o estado do sistema, monitorar suas alterações, prever sua evolução e, em parceria com outras ciências, avaliar diferentes modelos para seu uso sustentável por parte dos seres humanos.
A investigação deverá concentrar-se na interação entre a tectônica ativa, a evolução do relevo e as alterações do nível do mar a elas relacionadas, assim como o desenvolvimento do padrão de drenagem dos rios. Isso significa desenvolver uma estratégia integrada de observação e análise que enfatize as mudanças em grande escala em zonas vulneráveis do globo.
Atividades vulcânicas, com a emissão de gases, remodelam constantemente as características ambientais da crosta terrestre.
Atividades vulcânicas, com a emissão de lava , remodelam constantemente as características ambientais da crosta terrestre.
Geoprevisão - A crescente pressão que estamos fazendo sobre o ambiente nos torna cada vez mais vulneráveis. Temos necessidade urgente de "sistemas de geoprevisão" cientificamente avançados que possam, de forma precisa, localizar recursos no subsolo e prever a altura e a magnitude de terremotos, erupções vulcânicas e a subsidência de terrenos. A concepção desses sistemas coloca um desafio científico multidisciplinar bem grande. A previsão dos processos que ocorrem na Terra também condiciona a previsão em outras ciências, como as oceanográficas e as atmosféricas.
Prever o comportamento dos sistemas geológicos requer um amplo entendimento dos processos e dados de alta qualidade. Espera-se que ocorra progresso nas previsões quantitativas relativas à interface entre a modelagem e a observação. É aqui que as hipóteses científicas são confrontadas com a realidade observável. Na sua versão mais avançada, a sequência integrada "observação, modelagem, quantificação dos processos, otimização e previsão" é levada a cabo de forma periódica (tanto no espaço como no tempo) e os resultados obtidos são vitais para a criação de novos desenvolvimentos conceituais.
Observar o presente - A informação sobre a atual estrutura do subsolo e do interior da Terra é um aspecto fundamental da ciência relativa à geosfera. Esse aspecto diz respeito ao estudo dos processos ativos e dos que já terminaram, mas que podem ter contribuído para as estruturas atuais. O estudo dos processos ativos é importante porque as observações a eles relacionadas (que envolvem, por exemplo, a atividade sísmica, a deformação superficial e o campo gravitacional da Terra) podem ser realizadas (e utilizadas) como condicionantes da modelagem desses processos. A compreensão relativa aos processos adquirida com esses exercícios é muito valiosa, pois permite guiar a reconstrução de processos passados.
Reconstruir o passado - Embora tenha mudado continuamente ao longo do tempo, a geosfera ainda possui vestígios da sua evolução inicial. Revelar os papéis desempenhados pelos processos litosféricos internos e externos no controle das taxas de erosão e da sedimentação representa um grande desafio.
A cobertura sedimentar da litosfera fornece um registro em alta resolução das mudanças ambientais, assim como da deformação e da transferência de massa à superfície e a diferentes profundidades da crosta, da litosfera e do manto. Nas últimas décadas, a análise sedimentar de bacias tem estado na vanguarda na integração dos componentes sedimentares e litosféricos dos campos (anteriormente separados) da geologia e da geofísica.
Um grande objetivo é integrar a tectônica ativa, os processos superficiais e a dinâmica da litosfera na reconstrução do antigo relevo das bacias e de suas áreas circundantes. Uma abordagem integrada é igualmente importante, considerando-se o papel social que essas bacias desempenham na localização de recursos, como hidrocarbonetos. Além disso, uma vez que a maioria das pessoas mora atualmente dentro ou perto de bacias sedimentares (em zonas costeiras e deltas), tanto as populações como os aglomerados onde elas vivem permanecem vulneráveis a riscos geológicos colocados pela atividade do sistema Terra.
Geoprevisão - A crescente pressão que estamos fazendo sobre o ambiente nos torna cada vez mais vulneráveis. Temos necessidade urgente de "sistemas de geoprevisão" cientificamente avançados que possam, de forma precisa, localizar recursos no subsolo e prever a altura e a magnitude de terremotos, erupções vulcânicas e a subsidência de terrenos. A concepção desses sistemas coloca um desafio científico multidisciplinar bem grande. A previsão dos processos que ocorrem na Terra também condiciona a previsão em outras ciências, como as oceanográficas e as atmosféricas.
Prever o comportamento dos sistemas geológicos requer um amplo entendimento dos processos e dados de alta qualidade. Espera-se que ocorra progresso nas previsões quantitativas relativas à interface entre a modelagem e a observação. É aqui que as hipóteses científicas são confrontadas com a realidade observável. Na sua versão mais avançada, a sequência integrada "observação, modelagem, quantificação dos processos, otimização e previsão" é levada a cabo de forma periódica (tanto no espaço como no tempo) e os resultados obtidos são vitais para a criação de novos desenvolvimentos conceituais.
Observar o presente - A informação sobre a atual estrutura do subsolo e do interior da Terra é um aspecto fundamental da ciência relativa à geosfera. Esse aspecto diz respeito ao estudo dos processos ativos e dos que já terminaram, mas que podem ter contribuído para as estruturas atuais. O estudo dos processos ativos é importante porque as observações a eles relacionadas (que envolvem, por exemplo, a atividade sísmica, a deformação superficial e o campo gravitacional da Terra) podem ser realizadas (e utilizadas) como condicionantes da modelagem desses processos. A compreensão relativa aos processos adquirida com esses exercícios é muito valiosa, pois permite guiar a reconstrução de processos passados.
Reconstruir o passado - Embora tenha mudado continuamente ao longo do tempo, a geosfera ainda possui vestígios da sua evolução inicial. Revelar os papéis desempenhados pelos processos litosféricos internos e externos no controle das taxas de erosão e da sedimentação representa um grande desafio.
A cobertura sedimentar da litosfera fornece um registro em alta resolução das mudanças ambientais, assim como da deformação e da transferência de massa à superfície e a diferentes profundidades da crosta, da litosfera e do manto. Nas últimas décadas, a análise sedimentar de bacias tem estado na vanguarda na integração dos componentes sedimentares e litosféricos dos campos (anteriormente separados) da geologia e da geofísica.
Um grande objetivo é integrar a tectônica ativa, os processos superficiais e a dinâmica da litosfera na reconstrução do antigo relevo das bacias e de suas áreas circundantes. Uma abordagem integrada é igualmente importante, considerando-se o papel social que essas bacias desempenham na localização de recursos, como hidrocarbonetos. Além disso, uma vez que a maioria das pessoas mora atualmente dentro ou perto de bacias sedimentares (em zonas costeiras e deltas), tanto as populações como os aglomerados onde elas vivem permanecem vulneráveis a riscos geológicos colocados pela atividade do sistema Terra.
Chaminés vulcânicas no fundo do oceano criam ecossistemas únicos, repletos de formas de vida que não existem em nenhum outro lugar, como essas estrelas-do-mar
Deformação da litosfera - A forma como as rochas do manto terrestre "fluem" exerce controle sobre a espessura e a resistência das placas litosféricas, a extensão do acoplamento entre os movimentos das placas e o fluxo no interior da Terra e o padrão e a taxa de convecção na astenosfera (região de 700 quilômetros de profundidade que fica abaixo da litosfera), assim como sobre processos mais localizados. A fim de compreender o comportamento dinâmico da parte exterior da geosfera, é essencial um conhecimento detalhado da forma como "fluem" diferentes zonas do manto.
Modelagem e validação de processos - A modelagem dos processos da geosfera é um estágio transitório entre a modelagem cinemática (relativa aos movimentos mecânicos no interior do planeta) e a dinâmica. Esse desenvolvimento não pode ocorrer sem a interação com subdisciplinas relativas à estrutura e à cinemática da Terra ou à reconstrução de processos geológicos. A informação estrutural é um pré-requisito para a modelagem dos processos da geosfera. De modo semelhante, a informação sobre movimentos horizontais e verticais, tanto atuais como passados, é utilizada para formular e verificar hipóteses relativas a processos dinâmicos. Inversamente, os resultados obtidos a partir da modelagem motivam e conduzem a pesquisa na observação do presente e na reconstrução do passado.
Deformação da litosfera - A forma como as rochas do manto terrestre "fluem" exerce controle sobre a espessura e a resistência das placas litosféricas, a extensão do acoplamento entre os movimentos das placas e o fluxo no interior da Terra e o padrão e a taxa de convecção na astenosfera (região de 700 quilômetros de profundidade que fica abaixo da litosfera), assim como sobre processos mais localizados. A fim de compreender o comportamento dinâmico da parte exterior da geosfera, é essencial um conhecimento detalhado da forma como "fluem" diferentes zonas do manto.
Modelagem e validação de processos - A modelagem dos processos da geosfera é um estágio transitório entre a modelagem cinemática (relativa aos movimentos mecânicos no interior do planeta) e a dinâmica. Esse desenvolvimento não pode ocorrer sem a interação com subdisciplinas relativas à estrutura e à cinemática da Terra ou à reconstrução de processos geológicos. A informação estrutural é um pré-requisito para a modelagem dos processos da geosfera. De modo semelhante, a informação sobre movimentos horizontais e verticais, tanto atuais como passados, é utilizada para formular e verificar hipóteses relativas a processos dinâmicos. Inversamente, os resultados obtidos a partir da modelagem motivam e conduzem a pesquisa na observação do presente e na reconstrução do passado.
As movAs movimentações originárias do fundo da Terra trazem à tona substâncias que podem ser fonte de saúde, como a lama desse vulcão colombiano extinto.
Desafios e desenvolvimentos - Apesar do grande sucesso da teoria da tectônica de placas nas Ciências da Terra, ainda existem problemas fundamentais no que diz respeito à evolução dos continentes e a seu papel na dinâmica da litosfera e do manto. O processo de crescimento dos continentes, sua espessura e a associação dinâmica com o manto são tópicos a que uma série de subdisciplinas precisa prestar atenção.
Questões igualmente importantes ainda por resolver se referem ao mecanismo de controle da tectônica continental e a seus efeitos nos movimentos verticais, na dinâmica topográfica e na formação de bacias sedimentares. Nesse aspecto, é vital a dinâmica da separação dos continentes, de que forma as placas mergulham por baixo de outras, como as montanhas se erguem e são desgastadas pela erosão e seus efeitos na evolução da plataforma continental e nos processos de fronteira entre oceanos e continentes. Igualmente importantes são as taxas e as escalas em que esses processos operam.
Para quantificar os processos essenciais envolvidos no estudo da geosfera, é essencial associar forças internas e externas. O trabalho feito sobre as estruturas e os processos da crosta, a dinâmica da topografia e as bacias sedimentares registra progressos em escalas cada vez mais reduzidas.
Um Ano Internacional dedicado ao planeta
A União Internacional das Ciências Geológicas (IUGS), que representa cerca de 250 mil geocientistas de 117 países, proclamou um Ano Internacional do Planeta Terra 2007-2009 com o subtítulo "Ciências da Terra para a Sociedade". Os propósitos salientam a relação entre a humanidade e o planeta, e demonstram quanto os geocientistas são importantes na criação de um futuro equilibrado e sustentável.
Proclamado através da ONU, o Ano Internacional foi considerado atividade central pela Divisão das Ciências da Terra da Unesco. Ele também é apoiado por organizações congêneres da IUGS, como a União Internacional de Geodesia e Geofísica (IUGG) e a União Geográfica Internacional (IGU), além do Conselho Internacional para a Ciência (ICSU).
Pelas diretrizes da ONU para a proclamação de anos internacionais, os assuntos elegíveis devem corresponder a uma "preocupação prioritária de direitos políticos, sociais, econômicos, culturais, humanitários ou humanos", envolvendo "todos os países (ou a maioria deles), independentemente do sistema econômico e social", e deve "contribuir para o desenvolvimento da cooperação internacional na resolução de problemas globais", dando especial atenção aos temas que afetam os países em desenvolvimento.
Autores: Sierd Cloetingh (ISES, Holanda), com Rolf Emmermann (GFZ, Alemanha), John Ludden (CNRS, França), Hans Thybo (Copenhague, Dinamarca), Mark Zoback (Stanford, EUA) e Frank Horvath (ELTE, Hungria).
O Supervulcão
No noroeste dos Estados Unidos existe um vulcão, que dificilmente é reconhecível como tal simplesmente devido ao seu tamanho descomunal. Se esse monstro despertasse, toda a humanidade seria afetada. Ficção científica? Não. Pesquisadores já registram sinais preocupantes
Por Ute Eberle
Por Ute Eberle
YELLOWSTONE os visitantes ficam fascinados com a bizarra paisagem do Parque Nacional. Micróbios amantes do calor conferem à nascente Grand Prismatic Spring suas cores irreais. A fonte geotérmica é aquecida por um gigantesco braseiro que pode explodir a qualquer momento
Um dia após o Natal, em 26 de dezembro de 2008, os aparelhos sismológicos ao redor do Parque Nacional de Yellowstone, no noroeste dos Estados Unidos, subitamente enlouquecem. Em geral, eles registram, no máximo, 3.000 minitremores por ano, mas agora são 500 em uma semana.
Somente poucas pessoas visitam o Parque Nacional nesses dias escuros de inverno, embora a maioria dos abalos seja tão sutil que os visitantes nem os percebam. É apenas um ronco, lá no fundo da Terra. Mas os instrumentos captam o grande murmúrio e enviam os dados 500 quilômetros mais para o sul, até a Universidade de Utah, onde geólogos os avaliam o mais rápido possível.
Uma parte do trabalho deles pode ser acessada publicamente pela Internet e, assim, não tarda até que os primeiros e-mails nervosos cheguem até Jake Lowenstern, o encarregado das pesquisas sismológicas no parque. A ameaça de perigo é grande? Surgem boatos de evacuação da reserva. Eles são infundados? Para onde se poderia fugir?
Três milhões de pessoas visitam anualmente o Parque Nacional mais antigo dos Estados Unidos. Elas fotografam os bisões e cervos Wapiti, que perambulam por lá, e sonham em avistar ursos pardos, lobos e linces. Mas todas vêm, principalmente, por causa dos gêiseres, os fervilhantes buracos de lama, as fontes termais escaldantes.
Mais de 10 mil pontos no parque borbulham, soltam colunas de vapor e fedem, ou lançam enormes jatos de água, que brotam da terra, até 100 m de altura. A paisagem é tão surreal e hostil, que uma pessoa imediatamente pensa no Inferno e no Juízo Final, admitiu um pioneiro do século XIX.
ELE NÃO IMAGINOU o quanto se aproximou da verdade com isso, pois em Yellowstone cochila um monstro de proporções Bíblicas.
Oito quilômetros abaixo dos pés dos visitantes situa-se uma das mais gigantescas câmaras de magma do mundo, com uma extensão de 2.500 Km2 quadrados, 8 Km de espessura e cheia de uma mistura de gases, rochas sólidas e líquidas, a mais de 800 ºC. Em resumo: Yellowstone nada mais é do que um vulcão gigantesco. Mas não um comum. Aqui, procura-se em vão por um cone e, à primeira vista, nem uma cratera parece existir. Durante muito tempo, foram apenas os depósitos de cinzas, de mais 1 m de altura, e o constante borbulhar de lagos quentes que chamaram a atenção dos geólogos. Ao longo dos anos eles mediram e analisaram as rochas, até que fotos tiradas por satélites confirmaram o que era difícil perceber do chão: vastas áreas do parque, bem como regiões além dele, ao todo 4000 Km2, formam a cratera de um vulcão.
Melhor dizendo: a cratera de um supervulcão.
Sua erupção mais violenta até hoje ocorreu há 2,1 milhões de anos. Naquela época, ele cuspiu folgados 2.500 Km3 de rochas e lava incandescente (chamada magma, enquanto ainda se encontra no interior da Terra). Isso corresponde a um cubo, com uma aresta de 13,5 Km de comprimento. Maior que o Monte Everest. Material suficiente para enterrar um país do tamanho da Alemanha 7 m abaixo do chão.
O vulcão entrou novamente em erupção há 1,3 milhão de anos, e depois há 640 mil anos. Nas duas ocasiões espalhou cerca de metade de toda essa lava e dessas cinzas pela paisagem. Desde então, 80 erupções menores encheram a rotina desse lugar de tal forma, que a maioria dos visitantes de Yellowstone nem se dá conta de estar dentro de um vulcão.
A última explosão (inofensiva, em comparação com as três supererupções) ocorreu há 70 mil anos. Entretanto, não são apenas tremores como o de dezembro de 2008 que mostram claramente que o gigante ainda está ativo. No dia 17 de agosto de 1959, a terra no parque tremeu tão violentamente, que 28 pessoas morreram, 19 delas em um fenomenal deslizamento de terra. Um deslocamento tão potente, que os corpos das vítimas nunca foram encontrados. E, em 1989, uma explosão hidrotérmica detonou blocos de rochas pelo ar, em altitudes de até 60 m.
Medições mostram que o terreno do parque se ergue e afunda, como a caixa torácica de um gigante que respira. Por ano as vezes se levanta em 9 mm passando a 14. Há pouco chegou até seis cm, o máximo desde o início das avaliações sistemáticas.
Para os geólogos, é inquestionável que o vulcão Yellowstone explodirá novamente. A questão é: quando, e com que frequência?
Vulcões são pontos onde a camada externa de nosso planeta se rompe, e seu interior, em forma de magma incandescente, brota para fora. Em escala mundial, existem mil regiões desse gênero (e, provavelmente, há muito mais nas profundezas dos oceanos).
Um dia após o Natal, em 26 de dezembro de 2008, os aparelhos sismológicos ao redor do Parque Nacional de Yellowstone, no noroeste dos Estados Unidos, subitamente enlouquecem. Em geral, eles registram, no máximo, 3.000 minitremores por ano, mas agora são 500 em uma semana.
Somente poucas pessoas visitam o Parque Nacional nesses dias escuros de inverno, embora a maioria dos abalos seja tão sutil que os visitantes nem os percebam. É apenas um ronco, lá no fundo da Terra. Mas os instrumentos captam o grande murmúrio e enviam os dados 500 quilômetros mais para o sul, até a Universidade de Utah, onde geólogos os avaliam o mais rápido possível.
Uma parte do trabalho deles pode ser acessada publicamente pela Internet e, assim, não tarda até que os primeiros e-mails nervosos cheguem até Jake Lowenstern, o encarregado das pesquisas sismológicas no parque. A ameaça de perigo é grande? Surgem boatos de evacuação da reserva. Eles são infundados? Para onde se poderia fugir?
Três milhões de pessoas visitam anualmente o Parque Nacional mais antigo dos Estados Unidos. Elas fotografam os bisões e cervos Wapiti, que perambulam por lá, e sonham em avistar ursos pardos, lobos e linces. Mas todas vêm, principalmente, por causa dos gêiseres, os fervilhantes buracos de lama, as fontes termais escaldantes.
Mais de 10 mil pontos no parque borbulham, soltam colunas de vapor e fedem, ou lançam enormes jatos de água, que brotam da terra, até 100 m de altura. A paisagem é tão surreal e hostil, que uma pessoa imediatamente pensa no Inferno e no Juízo Final, admitiu um pioneiro do século XIX.
ELE NÃO IMAGINOU o quanto se aproximou da verdade com isso, pois em Yellowstone cochila um monstro de proporções Bíblicas.
Oito quilômetros abaixo dos pés dos visitantes situa-se uma das mais gigantescas câmaras de magma do mundo, com uma extensão de 2.500 Km2 quadrados, 8 Km de espessura e cheia de uma mistura de gases, rochas sólidas e líquidas, a mais de 800 ºC. Em resumo: Yellowstone nada mais é do que um vulcão gigantesco. Mas não um comum. Aqui, procura-se em vão por um cone e, à primeira vista, nem uma cratera parece existir. Durante muito tempo, foram apenas os depósitos de cinzas, de mais 1 m de altura, e o constante borbulhar de lagos quentes que chamaram a atenção dos geólogos. Ao longo dos anos eles mediram e analisaram as rochas, até que fotos tiradas por satélites confirmaram o que era difícil perceber do chão: vastas áreas do parque, bem como regiões além dele, ao todo 4000 Km2, formam a cratera de um vulcão.
Melhor dizendo: a cratera de um supervulcão.
Sua erupção mais violenta até hoje ocorreu há 2,1 milhões de anos. Naquela época, ele cuspiu folgados 2.500 Km3 de rochas e lava incandescente (chamada magma, enquanto ainda se encontra no interior da Terra). Isso corresponde a um cubo, com uma aresta de 13,5 Km de comprimento. Maior que o Monte Everest. Material suficiente para enterrar um país do tamanho da Alemanha 7 m abaixo do chão.
O vulcão entrou novamente em erupção há 1,3 milhão de anos, e depois há 640 mil anos. Nas duas ocasiões espalhou cerca de metade de toda essa lava e dessas cinzas pela paisagem. Desde então, 80 erupções menores encheram a rotina desse lugar de tal forma, que a maioria dos visitantes de Yellowstone nem se dá conta de estar dentro de um vulcão.
A última explosão (inofensiva, em comparação com as três supererupções) ocorreu há 70 mil anos. Entretanto, não são apenas tremores como o de dezembro de 2008 que mostram claramente que o gigante ainda está ativo. No dia 17 de agosto de 1959, a terra no parque tremeu tão violentamente, que 28 pessoas morreram, 19 delas em um fenomenal deslizamento de terra. Um deslocamento tão potente, que os corpos das vítimas nunca foram encontrados. E, em 1989, uma explosão hidrotérmica detonou blocos de rochas pelo ar, em altitudes de até 60 m.
Medições mostram que o terreno do parque se ergue e afunda, como a caixa torácica de um gigante que respira. Por ano as vezes se levanta em 9 mm passando a 14. Há pouco chegou até seis cm, o máximo desde o início das avaliações sistemáticas.
Para os geólogos, é inquestionável que o vulcão Yellowstone explodirá novamente. A questão é: quando, e com que frequência?
Vulcões são pontos onde a camada externa de nosso planeta se rompe, e seu interior, em forma de magma incandescente, brota para fora. Em escala mundial, existem mil regiões desse gênero (e, provavelmente, há muito mais nas profundezas dos oceanos).
ALGUNS VULCÕES irrompem a cada 20 min, como na ilha italiana de Stromboli. Outros ficam adormecidos durante milênios, mas subitamente devastam tudo à sua volta em uma única e descomunal explosão, como o monstro do Parque de Yellowstone. E há sempre o nascimento de novas montanhas de fogo.
Pesquisadores definem a intensidade de uma erupção em uma escala de zero a nove (na qual cada ponto equivale a uma potência de dez vezes mais que a anterior), e como é avaliada nesse sistema, depende, consequentemente, de dois fatores: da quantidade de material expelido, bem como da altura da coluna de fumaça.
ANTES QUE OCORRA UMA ERUPÇÃO, o magma derretido geralmente se acumula em uma câmara magmática, muitos quilômetros abaixo da superfície terrestre. Esse material viscoso normalmente contém gases letais, entre eles ácido sulfídrico ou dióxido de carbono, mas devido à sua consistência ele não consegue ascender imediatamente. Dessa forma, cria-se uma enorme pressão embaixo da superfície terrestre, capaz de erguer o chão dezenas de metros, até que a crosta rochosa não consiga mais resistir à sua força.
Quando a camada superior se rompe, os gases são liberados e o magma espuma e borbulha para fora como de uma garrafa de refrigerante sacudida. Muitas vezes, fragmentos de rochas são lançados ao ar com fúria descomunal, a velocidades de centenas de quilômetros por hora.
Paralelamente à lava, montanhas de fogo frequentemente liberam rios piroclásticos de gases escaldantes e partículas rochosas incandescentes, que descem pelos flancos vulcânicos com a dinâmica de um furacão. Foi o que aconteceu em 79 d.C., na erupção do Vesúvio, quando cinzas e lava incandescentes cobriram a cidade de Pompeia.
Quando as erupções derretem neve ou quando chove muito forte, podem-se formar também imensos lahares (lahar significa avalanche, em javanês), rios escaldantes de cinzas e lama, com a consistência de concreto molhado. Rios de lava, lahares, fluxos piroclásticos, gases tóxicos, tsunamis e outras consequências de erupções vulcânicas já custaram a vida de milhões de pessoas.
Muitas dessas erupções ricas em efeitos colaterais registraram uma intensidade entre três e seis, na escala eruptiva. Em 1985, o vulcão colombiano Nevado del Ruiz, por exemplo, lançou um total de 0,01 Km3 de material, uma erupção de classe três. Naquela época, os lahares mataram cerca de 25.000 pessoas.
NA ERUPÇÃO DO MONTE SANTA HELENA, nos EUA, em 1980, 1 Km3 de cinzas e lava explodiram montanha afora: cinco pontos na escala de intensidade. E, em 1883, quando o Krakatoa, ao sul da ilha de Sumatra, na Indonésia, voou pelos ares, cuspindo 20 Km3 de detritos do interior da Terra, ocorreu uma rara erupção de classe seis. Foram registradas 36 mil mortes.
Mas isso é apenas um centésimo do potencial de uma supererupção.
De acordo com a definição mais corrente, uma explosão com a magnitude de uma uma supererupção lançaria pelos ares pelo menos 1000 km3 de material de uma só vez, atingindo uma intensidade de classe oito. E isso ocorre quando, bem perto da superfície, há um acúmulo de magma viscoso enriquecido com gases em quantidade excepcional.
Mas o que uma supererupção provocaria hoje?
Se o vulcão embaixo de Yellowstone explodisse novamente com a mesma fúria de há 2,1 milhões de anos, é provável que poucas pessoas, em um raio de 100 km da cratera, sobrevivessem. Até carros seriam lerdos demais para escapar da velocidade dos rios piroclásticos, de até 400 km/h.
A uma distância de 200 km, ainda choveria cinzas, em precipitação tão espessa quanto a de uma nevasca. O céu escureceria de tal maneira que durante dias, ou até semanas, a região ficaria mergulhada em noite ou penumbra, inclusive ao meio-dia. As cinzas bloqueariam os encanamentos sanitários, os celulares não funcionariam mais, e todos os geradores ficariam selados, como colados. Muitos rios deixariam de fluir, entupidos com lama de cinzas.
E a 300 km de distância, a camada de cinzas ainda chegaria à altura dos joelhos, as casas correriam risco de desabar na próxima chuva devido ao peso da mistura de água com cinzas sobre seus telhados. O material lançado durante a erupção vulcânica cobriria os campos e as lavouras das Grandes Planícies, o celeiro dos EUA. Animais domésticos morreriam; e, desprovidos da adequada proteção respiratória, incontáveis seres humanos também.
O inverno vulcânico duraria vários anos, e arruinaria colheitas em países distantes. A consequência disso seria a fome em proporções mundiais. Direta ou indiretamente, mais de um bilhão de pessoas poderia morrer em uma supererupção, presumem pesquisadores e analistas de catástrofes.
Geólogos já encontraram vulcões com potencial eruptivo de 1000 km3 na Argentina, no Chile, no Iêmen e na Nova Zelândia, entre outros. Porém nenhum na Europa. Nem os campos inflamáveis perto de Nápoles, na Itália, têm o potencial para uma erupção de classe oito.
O maior supervulcão descoberto por pesquisadores até agora, e o único com potencial eruptivo de classe nove, fica no sudoeste do Estado do Colorado, EUA. Depósitos de cinzas evidenciam que, há cerca de 28 milhões de anos, 5.000 km3 de magma voaram pelos ares, diretamente da Caldeira La Garita, duas vezes mais que na mais violenta explosão da montanha de fogo de Yellowstone.
Muitos desses vulcões estão ativos até hoje, mas felizmente as supererupções são raras. Segundo cálculos recentes da Sociedade Geológica de Londres, o mundo só tem de contar com uma catástrofe natural desse gênero a cada 100 mil anos. Por outro lado, essa probabilidade mantém-se cinco vezes maior que o impacto de um gigantesco meteorito, que ameaçaria toda a civilização. "A longo prazo, uma supererupção é inevitável escrevem os geólogos, ela pode acontecer em 10 mil anos, ou amanhã, e, no pior caso, ameaçará toda a nossa espécie".
O ser humano não tem como impedir um cataclismo desses. Nem ao menos é certo que possamos prever uma supererupção de forma precisa. Será que o vulcão tremeria e se deformaria durante meses antes de uma explosão, como muitos geólogos acreditam? Ou tudo aconteceria tão rápido que não seria possível tomar nenhuma medida preventiva, como a evacuação de uma vasta área?
Ao menos em Yellowstone a situação parece ter se acalmado novamente, por enquanto. Depois de 813 consideráveis abalos sísmicos, no início de janeiro de 2009 o vulcão silenciou seus rugidos. Agora ele voltou a estremecer normalmente. O gigante adormeceu.
O que ninguém sabe é por quanto tempo.
ONDE NASCEM OS VULCÕES
Montanhas de fogo surgem em todo lugar aonde o magma quente chega à superfície terrestre
Revista GEO
O Brasil nunca sofrerá um grande terremoto?
O Brasil nunca sofrerá um grande terremoto?
Pelo menos enquanto a gente estiver vivo. “Já devem ter ocorrido grandes terremotos no Brasil há centenas de milhões de anos.
por Texto Rodrigo RatierNão dá para descartar uma megatragédia desse tipo, mas a possibilidade é muito pequena. Pelo menos enquanto a gente estiver vivo. “Já devem ter ocorrido grandes terremotos no Brasil há centenas de milhões de anos. Mas, nos dados sismológicos coletados desde o século 18, não há registro de tremor forte em nosso território”, afirma o geólogo João Carlos Dourado, especialista em sismologia da Unesp de Rio Claro (SP). A certeza de que o Brasil era uma terra abençoada por Deus e imune a terremotos, porém, foi abalada no início de dezembro, quando um tremor de 4,9 graus na escala Richter no vilarejo de Caraíbas (MG), causou a primeira morte no país. De fato, o Brasil tem pelo menos 48 falhas pequenas sob sua crosta – uma delas teria causado o chacoalhão fatal (veja mapa). Mas a imagem de um país remendado não é para assustar. Primeiro, porque o Brasil fica no meio de uma placa tectônica, a Sul-Americana, longe das instáveis regiões de contato entre placas. Segundo, porque as fraturas daqui geram no máximo terremotos médios como o de Caraíbas. Mesmo que um abalo atinja uma cidade grande, provavelmente os efeitos não serão devastadores. “As casas do vilarejo desabaram por serem construções muito simples, sem suporte estrutural. Em áreas urbanas, as estruturas são reforçadas e mais resistentes a tremores dessa intensidade”, diz João Carlos.
Revista Superinteressante
TREMORES, TERREMOTOS E AS PLACAS TECTÔNICAS
Viver sobre a superfície terrestre geralmente nos dá a sensação de segurança e estabilidade, já que para muitos a crosta é vista como um grande objeto imutável. Essa opinião não é compartilhada pelos geólogos. Segundo eles, a Terra surgiu há 4,5 ou 5 bilhões de anos e já passou por diversas transformações, variando em intensidade, magnitude e regularidade. Uma das evidências mais contundentes do dinamismo interno do planeta são os movimentos realizados pelas placas tectônicas, as enormes superfícies rochosas que deslizam sobre o material quente e pastoso existente nas camadas intermediárias da Terra.
Por meio de vários estudos técnicos, acredita-se que muitas das porções terrestres que hoje conhecemos faziam parte de um enorme continente denominado Pangeia. Essa macrossuperfície sofreu intensa alteração em função dos diversos agentes fisico-químicos existentes no interior do planeta. Ao reagirem diretamente na camada mais externa, geraram a fragmentação do continente único em diversas porções, que a partir de então migraram. Ao longo do tempo geológico, essa migração e o contato com outras placas tectônicas originaram as grandes cadeias montanhosas, como o Himalaia, os Andes, as Rochosas e os Alpes. O movimento também é responsável pela atual configuração dos continentes, porém, como estão em constante mutação, pode-se dizer que a disposição deles hoje não será a mesma daqui a alguns milhões de anos.
Em certos casos, os movimentos da crosta terrestre são praticamente imperceptíveis. A cada ano, a América do Sul fica alguns centímetros mais distante da África, apesar de não sentirmos o deslocamento. A constatação desse fenômeno só é possível por causa de aparelhos especiais que registram a oscilação. Em algumas situações, os movimentos são abruptos, principalmente nos limites das placas tectônicas, causando conseqüências diversas. Dentre elas destacam-se os abalos sísmicos e os terremotos (vibrações terrestres de pequena e grande magnitude, respectivamente), além da presença de vulcões ativos .
Para o ser humano, esses fenômenos são verdadeiras catástrofes, porém os geólogos acreditam que a atividade sísmica decorrente do movimento das placas tectônicas é um fenômeno construtivo: é por esse meio que surgem novas rochas e diferentes formas na crosta. Pode parecer um absurdo, mas para muitos estudiosos do assunto não são os terremotos que causam a morte dos habitantes da área atingida, mas as edificações construídas em áreas de instabilidade tectônica. Recentemente, no mês de setembro, ocorreram fortes tremores em algumas províncias da Argentina, Chile e Peru, causando certo temor nos moradores. O mesmo ocorreu com o Japão no mês de outubro.
Um dos poucos lugares do mundo em que podemos visualizar o limite entre duas placas tectônicas é a costa oeste dos Estados Unidos. Ali está a Falha de San Andrés. Nessa região, há o encontro entre as placas Norte-Americana e a do Pacífico, colocando em risco toda a Califórnia.
Para os geólogos, os limites entre as placas são os lugares mais propensos à ocorrência desses fenômenos, porém todos os espaços da superfície terrestre estão sujeitos a algum tipo de movimento tectônico, mesmo aqueles considerados seguros e estáveis, como é o caso do Brasil. Assim sendo, não existe um lugar inteiramente imune às forças provenientes do interior do nosso planeta.
Revista Discutindo Geografia - ed. 3
Qual é o lago mais mortal do mundo?
As águas tóxicas acomodadas na cratera de um vulcão: a qualquer momento, uma emissão de gases venenosos pode causar novo desastre
É o Lago Nyos, em Camarões, na África, cujos gases letais já levaram a vida de mais de 2 mil pessoas
Thiago Medaglia
Matéria publicada na edição 197 (Setembro/2008) de Terra
Normalmente azul, a superfície do Lago Nyos, em Camarões, no centro-oeste africano, ganhou um sinistro tom avermelhado. O nível de suas águas baixou 1 metro, mas elas, ainda assim, transbordaram, fruto de uma bizarra efervescência. Então, uma densa nuvem cinzenta se formou, composta pelos gases tóxicos emanados do Nyos, deixando um rastro de destruição por onde passava. A mortífera massa gasosa desceu velozmente pelo vale adiante, espalhando-se por 20 quilômetros e matando por asfixia mais de 1700 pessoas.O dobro disso foi perdido em cabeças de gado. Outras 4 mil pessoas escaparam a tempo, mas desenvolveram sérios problemas respiratórios. A vegetação ficou devastada. O mais criativo dos autores de ficção científica talvez tivesse dificuldade para compor um enredo tão assustador. Mas, infelizmente, a tragédia do Lago Nyos aconteceu de fato. Foi em 1986, num dos piores acidentes naturais da história, ocasionado por uma série de eventos sem a menor participação humana.Acomodado na cratera do Monte Oku, um vulcão adormecido, o Lago Nyos, com aproximadamente 1,8 quilômetro de diâmetro e 200 metros de profundidade, é uma evidência das forças pulsantes sob o solo do planeta. Abaixo da cratera, um bolsão de magma incandescente satura permanentemente de gases o fundo do lago - calcula-se em 90 milhões de toneladas a quantidade média de CO2, o dióxido de carbono, contida em suas águas. Quando essa concentração aumenta subitamente, os gases sobem à superfície e envenenam a atmosfera. Em 1986, isso aconteceu numa proporção jamais vista ou imaginada.Outros dois lagos africanos podem apresentar fenômenos semelhantes: o Kivu, em Ruanda, e o Monoum, também em Camarões, cuja maior emissão conhecida de CO2 ocorreu em 1984, matando 37 pessoas. Os cientistas não sabem se essas grandes emissões de gases tóxicos se devem a tremores de terra ou a alguma pequena erupção. Para minimizar novos desastres, as autoridades locais espalharam tubos dispersores de CO2 no Lago Nyos. As ameaças, no entanto, estão longe de acabar.Naturalmente frágil, o muro de rochas vulcânicas que cerca o lago a uma altura de 45 metros pode ceder a qualquer momento - e, nesse caso, as águas do lago, carregadas de veneno, contaminariam rios e vilarejos próximos. O desastre anunciado do Lago Nyos não se encaixa bem nem em enredos de ficção científica. Parece mais um filme de terror.
Cara muito bom mesmo, parabens
ResponderExcluirperfeito, muita informação
ResponderExcluirperfeito, muita informação
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