As causas da seca nordestina
Correntes de ar que cruzam o Oceano Pacífico e a temperatura das águas no Atlântico norte, influenciadas pelas geleiras do Pólo Norte, determinam o ciclo das chuvas e secas no Nordeste do Brasil.
Antônio Carlos Fon
Aracati, nos sertões do Ceará; cantarino na Chapada do Araripe — divisa de Pernambuco com o Ceará —, porque assovia ao atravessar a serra: um vento forte, de nordeste para sudoeste, que sopra pontualmente entre 19 e 21 horas e refresca agradavelmente as noites de primavera. Mas, para os nordestinos, a mesma brisa benfazeja é o primeiro sinal de tragédia. Quando sopra nas últimas semanas de dezembro e no mês de janeiro, é sintoma certo de seca. Seca que será tão mais grave e inevitável se não chover até 19 de março, dia de São José. Durante séculos, enquanto os meteorologistas torciam o nariz, essas foram duas das formas de o sertanejo fazer a previsão do tempo para a temporada das chuvas na região, entre março e abril. Agora, respaldados pelas observações de satélites meteorológicos e modernos computadores, os climatologistas dão a mão à palmatória: os sertanejos tinham razão.
O que o sertanejo não sabia é que as secas do Nordeste têm origem em lugares tão distantes quanto o Sudeste asiático e o círculo polar ártico. O que é compreensível: os próprios cientistas levaram décadas para entendê-las. São provocadas por dois intrincados e fascinantes mecanismos gerais de circulação de ventos no planeta. São fenômenos que se estabeleceram provavelmente há 20 000 anos, no fim da última grande era glacial. O primeiro e mais importante é composto pelas áreas de baixa e alta pressão atmosférica no Pacífico equatorial — a pressão atmosférica não é igual em todo o globo terrestre — conhecido como “célula de Walker”.
Na década de 1920, o inglês Gilbert Walker descobriu que o padrão meteorológico do Oceano Pacíficoequatorial contém uma área de baixa pressão atmosférica sobre a Indonésia e o norte da Austrália e uma área de alta pressão no oceano, próximo à costa da América do Sul, resultado da lei física de que o ar quente tende a subir e o ar frio tende a descer. De maio a setembro, as águas quentes do OceanoÍndico e do Mar da China provocam a ascensão de um vento quente e úmido, criando o que os meteorologistas chamam de área de baixa pressão. A ascensão desse vento úmido, também chamada de convecção, leva à formação de nuvens e chuvas, no fenômeno conhecido no Sudeste asiático como monções. Livre da água, o vento viaja sobre o Pacífico a uma altura de 15 quilômetros em direção ao leste. Nesse trajeto, o vento se resfria e tende a descer sobre o oceano, próximo à costa oeste da América do Sul, criando uma área de alta pressão atmosférica.
O ar de cima para baixo impede a formação de nuvens de chuvas, o que, ao longo de milhares de anos, levou ao surgimento do deserto do sul do Chile e da região de Lima, no Peru. Parte dessa coluna de ar retorna em direção à Austrália e à Indonésia, enquanto uma parcela, novamente aquecida, toma novo movimento ascendente sobre a Amazônia, provocando chuvas na região, e desce sobre o Nordestebrasileiro, onde recebe os nomes de aracati ou cantarino, para refrescar as noites de primavera. Mas nem sempre acontece assim.
Em ciclos de três e sete anos, nos meses de setembro, outubro e novembro, por motivos que ainda não se consegue determinar com certeza, uma grande massa de água quente vinda da Austrália avança pelo Pacífico equatorial em direção ao leste além da Ilha de Taiti, no fenômeno conhecido como El Niño. A água quente cria nova zona de convecção, deslo-cando as chuvas do meio do OceanoPacífico para a costa oeste da América do Sul, na altura do Peru, e levando a corrente de ar vinda do Sudeste asiáti-co a cair diretamente sobre o Nordeste brasileiro, impedindo a formação de nuvens dechuva.
É quando o suave assovio do cantarino na Chapada do Araripe nos meses de janeiro a março se torna de mau agouro, anunciando seca para o inverno — os nordestinos chamam a estação das chuvas na região de “inverno”, embora ocorra nos meses de verão-outono oficiais. É chegado, então, o tempo das novenas, promessas e procissões para São José, cujo dia, 19 de março, é a última esperança de chuva no sertão. Afinal, apesar de sua importância, o El Niño não é o único fator determinante das chuvas no Nordeste.
Ainda assim, as chuvas da terceira semana de março no Nordeste dependem muito mais de fatores físicos que de fé. Elas são conseqüência de outro fenômeno meteorológico conhecido desde o século XVIII e chamado pelos climatologistas de ZCIT — zona de convergência intertropical, um anel de ar úmido que envolve a Terra próximo à linha do equador. A ZCIT oscila entre as latitudes de 10° ao norte e 5° ao sul, a região onde os ventos alísios dos hemisférios norte e sul se encontram. Esse fenômeno também é chamado de “célula de Hadley”, devido ao meteorologista inglês George Hadley (1685-1768) que em 1735 descreveu seu funcionamento. Dependendo da localização, a zona de convergência intertro-pical pode amenizar ou agravar as secas provocadas pelo El Niño.
As nuvens de chuva da zona de convergência intertropical são alimentadas em boa parte pelo sistema de baixa pressão atmosférica da região da Terra Nova, no Canadá, próximo ao círculo polar ártico. Quando a baixa pressão é mais forte na Terra Nova, o ar úmido engrossa a ZCIT que se desloca em direção às águas mais quentes próximas ao equador, acompanhando com um pequeno atraso o movimento do Sol. Assim, quando o Sol atravessa a linha do equador no equinócio de outono do hemisfério sul, entre os dias 20 e 21 de março, a zona de convergência intertropical atinge sua posição mais ao sul, com o seu centro sobre a cidade de Quixadá, a 5° de latitude sul, no sertão cearense, provocando as chuvas do dia de São José.
Às vezes, porém, a chuva não chega. O movimento da zona de convergência intertropical depende da tempertatura das águas no oceano, que na região equatorial varia entre 26° e 29°. E uma variação de 1 a meio grau entre as águas do Atlântico norte e do sul é a diferença entre um “inverno” chuvoso ou seco. Com as águas do Atlântico norte mais frias, a ZCIT desloca-se para o sul, trazendo suas nuvens carregadas. Se as águas do Atlântico estiverem mais frias no sul, entretanto, as chuvas serão despejadas na Amazônia e sobre a Ilha de Marajó. Para o nordestino será a seca, a fuga da asa-branca, a terra calcinada e a fome. Sem culpa de São José.
ÁGUA
Um mar de água doce sob a terra seca
Só o Piauí abriga um volume de águas subterrâneas quatro vezes maior que a Baía de Guanabara. Mas os projetos para aproveitá-las estão engavetados
Nos últimos vinte anos, o geólogo João Alberto Bottura, pesquisador da seção de Águas Subterrâneas do Instituto de Pesquisas Tecnológicas paulista, trabalhou em cerca de vinte projetos de estudos de águas subterrâneas no Nordeste e um para extrair água no Deserto do Saara. Mas, enquanto seu trabalho para Muammar Khadafi está ajudando a transformar o deserto líbio em um pomar, os estudos feitos no Brasil continuam dormindo placidamente nos arquivos e pra-teleiras dos vários órgãos públicos que os encomendaram. “O Nordeste tem pesquisas e conhecimentos suficientes para otimizar o uso dos recursos hídricos disponíveis”, afirma Bottura. “O que falta é a decisão política de aproveitá-los.”
A certeza de que não falta água no Nordeste não é nova. Já em 1984, o Projeto Radam, do Ministério das Minas e Energia, constatava através de sensoreamento remoto a existência de um potencial de 220 bilhões de metros cúbicos de água nas áreas mais afetadas pelas secas. Desse total, 85 bilhões de metros cúbicos estavam na super-fície da terra e 135 bilhões subterrâneas, sendo 15 bilhões em rochas cristalinas, de difícil perfuração, e 120 bilhões em rochas sedimentares, mais fáceis de perfurar para alcançar o lençol freático. Somente no Piauí, afirma o geólogo Aldo da Cunha Rebouças, presidente da Associação Brasileira de Águas Subterrâneas, o reservatório hídrico sob a terra é superior em quatro vezes à Baía de Guanabara.
Um exemplo desse potencial é o poço Violeta, no vale do Rio Gurguéia, no sudoeste do Piauí, o poço de maior vazão da América Latina, com um jorro de 800 000 litros por hora, à tem-peratura de 60° e altura de 27 metros — equivalente a aproximadamente um edifício de nove andares —, suficiente para abastecer uma população de l00 000 pessoas. “No entanto, toda essa água está jorrando em vão, sem ser utilizada para matar a sede das pessoas ou irrigar plantações”, indigna-se o piauiense José Luiz Albuquerque Filho, também hidrogeólogo pesquisador, há treze anos no IPT paulista, diante do incrível desperdício de 70 bilhões de litros de água nos últimos dez anos, desde que o poço de 1 000 metros de profundidade foi aberto. Isso em plena região do Polígono das Secas. E o desperdício não pára por aí.
Chove no Polígono uma média de 400 a 700 milímetros por ano. Sete vezes mais, por exemplo, que na Califórnia, uma das regiões de agricultura mais desenvolvidas no mundo. A diferença está no gerenciamento desses recursos. Enquanto na Califórnia cada litro é criteriosamente estocado e aproveitado, o Nordeste brasileiro morre de sede enquanto a água se evapora sem uso por falta de redes de distribuição. Segundo a Funceme — Fundação Cearense de Meteorolgia e Recursos Hí-dricos, somente o projetado açude Castanhão, com seu espelho de água de 650 quilômetros quadrados, poderá perder anualmente 1 bilhão de litros por evaporação. Pior ainda é quando se armazena a água apenas para torná-la inutilizável.
“Os rios do Polígono das Secas arrastam o sal da terra, depositando-o nas proximidades do oceano”, explica o geógrafo Aziz Nacib Ab’Sáber, presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência e um dos mais profundos e abrangentes estudiosos do Nordeste e seus problemas. Um erro muito freqüente na construção dos açudes nordestinos pode, porém, anular essa ação. “Grande parte dos açudes da região não possuem descarregador de fundo, uma válvula próxima à base da barragem para liberar os excessos de água”, conta José Alberto Bottura. Com isso, o sal acaba acumulando-se no fundo dos reservatórios e, com o tempo, salinizando toda a água. O que pode transformar em realidade o delírio profético de Antônio Conselheiro no final do século passado ao afirmar que “o sertão vai virar mar”. Desgraçadamente para os sertanejos, entretanto, um mar de águas salgadas, inútil para matar sua sede.
Solução
Como conviver com a estiagem
A ciência ensina a administrar a carência de águas. E arranca colheitas da terra calcinada, plantando na hora certa para não desperdiçar a umidade
Em 1991, os agricultores cearenses colheram 794 000 toneladas de grãos — arroz, milho, feijão, amendoim, mamona e sorgo —, com uma perda de 21,6% sobre a colheita de 1 milhão de toneladas de 1988, a melhor já obtida no Ceará. No entanto, ela foi recebida com entusiasmo pelo governo e fazendeiros. Significou um aumento de 89% sobre as 420 000 toneladas de 1990 e foi obtida quando fazia dois anos que o Nordeste enfrentava uma das piores secas do século. Por trás desse resultado estava o Programa Nordeste, um pequeno e quase desconhecido projeto do Ministério da Ciência e Tecnologia. Não foi sua única façanha. Graças às suas informações, o Ceará conseguiu evitar o colapso do abastecimento de água para 1,7 milhão de habitantes de Fortaleza no ano passado.
Criado em 1991, a partir de experiência bem sucedida no Ceará, o Sistema de Informações Gerenciais em Tempo, Clima e Recursos Hídricos — SIGTEC, nome oficial do projeto, reúne cinqüenta cientistas. São dois meteorologistas, dois especialistas em recursos hídricos e um em Informática com nível mínimo de mestrado em cada núcleo estadual do Piauí à Bahia e uma diminuta coordenação sediada no INPE — Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, em São José dos Campos, São Paulo. Eles não têm altos salários, não distribuem verbas ou decidem sobre obras, mas seus boletins diários e mensais são acompanhados minuciosamente por fazendeiros, prefeitos e governadores de todo o Nordeste.
São boletins de previsão do tempo a curto e médio prazo — ou seja, a possibilidade de chover em até três dias e a expectativa climatológica para um período de três meses; disponibilidade de água em rios e reservatórios, índice de umidade no solo e evaporação. Tudo isso com o sensoreamento da regiãopor satélites e disponíveis a qualquer momento em cada núcleo, mantidos pelos governos estaduais e interligados por rede de Informática. “Nosso objetivo é apenas o de gerar informações para o gerenciamento dos recursos hídricos pelos tomadores de decisão”, explica Fausto Carlos de Almeida, gerente do projeto. Em outras palavras, evitar mau uso e desperdício.
Foi assim, por exemplo, que a Funceme — Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos, o núcleo do Ceará, criado em 1988 e que inspirou todo o projeto, levou o governo do Estado a organizar o programa Hora de Plantar, uma adaptação da técnica de administração de recursos just in time, desenvolvida pela indústria japonesa, para a agricultura no semi-árido. Ele consiste em monitorar diariamente o nível de umidade do solo e as possibilidades de chuvas e só distribuir sementes aos agricultores quando as condições indicarem “risco mínimo” de perdas ocasionadas por períodos de estiagem em plena estação das chuvas, que no semi-árido chegam a durar até vinte dias. Com essa estratégia, o Ceará conseguiu salvar 50% de sua safra em 1990, primeiro ano da seca, enquanto os outros Estados nordestinos amargavam perdas de 85%, e quase dobrar a produção em 1991 quando os outros Estados do Polígono das Secas se debatiam em meio ao drama provocado pela estiagem.
Com base no monitoramento do nível dos açudes e estudos climatológicos, que, a partir datemperatura do Pacífico e do Atlântico previam outro ano de poucas chuvas para 1993, o governo cearense decidiu construir em noventa dias um canal ligando o açude de Orós a Fortaleza. O que evitou racionamento de água na capital do Ceará no ano passado.
A maior proeza do Programa Nordeste, porém, saiu de uma pequena sala do INPE. Dali, quase soterrado por livros, índices de evaporação, temperatura dos oceanos, direção e velocidade dos ventos, o meteorologista Carlos Nobre, pesquisador sênior do Centro de Previsão de Tempo e Estudos Climáticos, um dos pilares do Programa Nordeste, anunciou em dezembro do ano passado o fim daseca em 1994. A distribuição de sementes baseada nessa previsão levou a economia cearense à contramão da inflação brasileira: enquanto no resto do país a inflação acumulada nos dois primeiros meses beirava os 100%, e 1 quilo de feijão que em janeiro custava 1 000 cruzeiros reais no Vale do Jaguaribe, alto sertão cearense, caía para 250 cruzeiros em meados de março. Com uma redução de 75%.
INDÚSTRIA
Quem ganha com o drama de toda a população
Açude do Cedro, um monumento da “indústria da seca”: barragem em pedra talhada a mão, esculturas e grades de ferro importadas, mas sem água sequer para a região de Quixadá
Resultado de uma promessa do imperador Pedro II — de que empenharia até a última jóia da coroa para acabar com a seca do Nordeste —, o açude do Cedro começou a ser construído em 1884, mas só ficou pronto em 1906. A barragem de 15,5 metros de altura e 415 metros de comprimento é toda de pedra talhada a mão, guarnecida por esculturas de pedra e grades de ferro importadas. Seus 128 milhões de metros cúbicos de água não chegam para matar a sede da região de Quixadá e os equipamentos de irrigação só beneficiam alguns poucos. Tombado pelo Patrimônio Histórico em 1987, o açude do Cedro é um monumento centenário à política de combate às secas: demorado, caro, suntuoso e ineficiente.
Na época ainda não havia sido cunhada a expressão “indústria da seca”, que só surgiria em 1959, mas foi para evitar esses erros e rebater as críticas pelo mau uso do dinheiro público que, em 1906, foi criado o Dnocs — Departamento Nacional de Obras contra a Seca. O governador Ciro Gomes, do Ceará, costuma dizer que o problema da seca poderia ser resolvido em dez anos, com a aplicação de 2 bilhões de dólares em programas que seguissem um bom planejamento estratégico. Nos 88 anos desde sua criação o Dnocs consumiu 6 bilhões de dólares em dezenas de milhares de açudes, projetos de irrigação e poços.
A maioria dessas obras, porém, foi feita em propriedades particulares, sem benefícios diretos para a população do Polígono das Secas, uma área de 947 150 quilômetros quadrados que vai do norte de Minas Gerais ao Piauí, campo especialmente fértil apenas pa-ra as denúncias de corrupção e mani-pulação de verbas com objetivos políticos.
Um caso exemplar foram as denúncias que envolveram, no ano passado, o presidente da Câmara dos Deputados, Inocêncio Oliveira, flagrado utilizando máquinas do Dnocs em sua revendedora de motocicletas em Serra Talhada, no semi-árido pernambucano, enquanto a região se debatia com uma das piores secas deste século. “E o pior de tudo é que os próprios limites do Polígono das Secas são artifi-ciais e politiqueiros, servindo muito para drenar recursos do Fundo Constitucional do Nordestepara os inúmeros ‘anões’”, afirma o geólogo José Luiz de Albuquerque Filho, do IPT paulista. Albuquerque argumenta com um estudo da Funceme para o Banco do Nordeste do Brasil, o qual, baseado em critérios técnicos, concluiu pela redução de 160 000 quilômetros quadrados do atual Polígono das Secas. Denúncias como essa levaram à fracassada tentativa de criar, no ano passado, uma Comissão Parlamentar de Inquérito para investigar a indústria da seca. Seria a décima CPI sobre o assunto desde 1952. Todas sem resultados práticos.
Os ventos contra o Nordeste
Quando eles descem sobre a região, a umidade não sobe e as nuvens de chuva não se formam. Entenda como os ventos lá da Indonésia acabam afetando o nosso Nordeste:
1 - Os ventos oriundos de baixa pressão sobre a Indonésia cruzam o Pacífico a 15 000 metros de altitude
1 - Os ventos oriundos de baixa pressão sobre a Indonésia cruzam o Pacífico a 15 000 metros de altitude
2 - Com o Pacífico aquecido, devido ao El Niño, os ventos frios descem junto à costa oeste da América do sul
3 - Parte da coluna de vento, novamente aquecido, torna a subir, provocando chuvas no Peru e na região amazônica
4 - Após perder calor e umidade, o vento volta a descer, agora sobre o Nordeste, impedindo a formação de nuvens de chuva
Revista Superinteressante
África e a Ásia são mais vulneráveis às mudanças climáticas
Estudo britânico analisou a exposição a eventos climáticos extremos, tais como secas, ciclones, incêndios florestais e tempestadesAFP
Um terço da população, a maioria na África e no sul da Ásia, é mais vulnerável aos riscos das mudanças climáticas, enquanto os habitantes dos países ricos no norte da Europa são os menos expostos, segundo um relatório de uma empresa britânica especializada em análise de riscos.
Bangladesh, Índia e República Democrática do Congo (RDC) estão entre os 30 países em risco "extremo" frente às alterações no clima, segundo um ranking de 193 países feito pela companhia Maplecroft, divulgado na quarta-feira.
Cinco países do sudeste asiático - Indonésia, Mianmar, Vietnã, Filipinas e Camboja - também estão nesta categoria, em parte por causa da elevação do nível dos mares e do aumento dos eventos de tempestades tropicais severas.
A ferramenta usada pela Maplecroft, o Índice de Vulnerabilidade às Mudanças Climáticas (CCVI), analisa a exposição a eventos climáticos extremos, tais como secas, ciclones, incêndios florestais e tempestades, que se traduzem em estresse hídrico, perda de colheitas e avanço do mar sobre a terra.
A vulnerabilidade da sociedade a estes eventos também é medida, juntamente com o potencial do país a se adaptar aos riscos vinculados às mudanças climáticas.
Dos 30 países identificados no relatório como em risco "extremo" pelas mudanças no clima, dois terços ficam na África e todos estão em países em desenvolvimento.
Segundo o documento, a África é especialmente vulnerável a secas, cheias severas e incêndios florestais.
"Há muitos países vulneráveis mesmo com uma exposição relativamente baixa a eventos climáticos", comentou Charlie Beldon, co-autor do estudo.
Economias frágeis, serviços de saúde inadequados e governos corruptos diminuem a margem de absorção de impactos climáticos.
No outro extremo da tabela, Islândia, Finlândia, Irlanda, Suécia e Estônia ocupam o topo da lista dos países considerados em menor risco.
Com a exceção de Israel e dos petrolíferos Qatar e Bahrein, os 20 países menos vulneráveis ficam no norte e no centro da Europa.
A China e os Estados Unidos - o primeiro e o segundo maiores emissores de carbono do planeta - ocupam, respectivamente, as categorias "média" e "baixa" de risco.
Em uma análise paralela sobre as cidades mais vulneráveis, a Maplecroft citou Daca, Adis Abeba, Manila, Calcutá e a cidade bengalesa de Chittagong como as mais expostas.
Outras três metrópoles indianas - Chennai, Mumbai e Nova Délhi - foram listadas na categoria de risco "elevado".
"A vulnerabilidade às mudanças climáticas tem o potencial de minar o desenvolvimento futuro, particularmente na Índia", alertou Beldon.
Estudos recentes - revistos em um relatório especial do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC, na sigla em inglês), com publicação prevista para o próximo mês - apontam para evidências que reforçam os vínculos entre o aquecimento global e eventos climáticos extremos.
Segundo alguns especialistas, as secas recorde registradas na Austrália e na África, as inundações no Paquistão e na América Central, bem como os incêndios na Rússia e nos Estados Unidos podem ter sido, em parte, provocados pelas mudanças climáticas.
De acordo com algumas previsões, as tendências atuais de aquecimento se encaminham para uma elevação global da temperatura do planeta em 3 graus Celsius.
http://ultimosegundo.ig.com.br
Bangladesh, Índia e República Democrática do Congo (RDC) estão entre os 30 países em risco "extremo" frente às alterações no clima, segundo um ranking de 193 países feito pela companhia Maplecroft, divulgado na quarta-feira.
Cinco países do sudeste asiático - Indonésia, Mianmar, Vietnã, Filipinas e Camboja - também estão nesta categoria, em parte por causa da elevação do nível dos mares e do aumento dos eventos de tempestades tropicais severas.
A ferramenta usada pela Maplecroft, o Índice de Vulnerabilidade às Mudanças Climáticas (CCVI), analisa a exposição a eventos climáticos extremos, tais como secas, ciclones, incêndios florestais e tempestades, que se traduzem em estresse hídrico, perda de colheitas e avanço do mar sobre a terra.
A vulnerabilidade da sociedade a estes eventos também é medida, juntamente com o potencial do país a se adaptar aos riscos vinculados às mudanças climáticas.
Dos 30 países identificados no relatório como em risco "extremo" pelas mudanças no clima, dois terços ficam na África e todos estão em países em desenvolvimento.
Segundo o documento, a África é especialmente vulnerável a secas, cheias severas e incêndios florestais.
"Há muitos países vulneráveis mesmo com uma exposição relativamente baixa a eventos climáticos", comentou Charlie Beldon, co-autor do estudo.
Economias frágeis, serviços de saúde inadequados e governos corruptos diminuem a margem de absorção de impactos climáticos.
No outro extremo da tabela, Islândia, Finlândia, Irlanda, Suécia e Estônia ocupam o topo da lista dos países considerados em menor risco.
Com a exceção de Israel e dos petrolíferos Qatar e Bahrein, os 20 países menos vulneráveis ficam no norte e no centro da Europa.
A China e os Estados Unidos - o primeiro e o segundo maiores emissores de carbono do planeta - ocupam, respectivamente, as categorias "média" e "baixa" de risco.
Em uma análise paralela sobre as cidades mais vulneráveis, a Maplecroft citou Daca, Adis Abeba, Manila, Calcutá e a cidade bengalesa de Chittagong como as mais expostas.
Outras três metrópoles indianas - Chennai, Mumbai e Nova Délhi - foram listadas na categoria de risco "elevado".
"A vulnerabilidade às mudanças climáticas tem o potencial de minar o desenvolvimento futuro, particularmente na Índia", alertou Beldon.
Estudos recentes - revistos em um relatório especial do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC, na sigla em inglês), com publicação prevista para o próximo mês - apontam para evidências que reforçam os vínculos entre o aquecimento global e eventos climáticos extremos.
Segundo alguns especialistas, as secas recorde registradas na Austrália e na África, as inundações no Paquistão e na América Central, bem como os incêndios na Rússia e nos Estados Unidos podem ter sido, em parte, provocados pelas mudanças climáticas.
De acordo com algumas previsões, as tendências atuais de aquecimento se encaminham para uma elevação global da temperatura do planeta em 3 graus Celsius.
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Gildazio Fernandes
Norte de MG pode virar deserto dentro de 20 anos
RAPHAEL VELEDA
DE BELO HORIZONTE
Um terço do território de Minas Gerais pode virar "deserto" em 20 anos. A conclusão é de um estudo encomendado pelo Ministério do Meio Ambiente ao governo mineiro e concluído em março.
O desmatamento, a monocultura e a pecuária intensiva, somados a condições climáticas adversas, empobreceram o solo de 142 municípios do Estado.
Se nada for feito para reverter o processo, de acordo com o estudo, essas terras não terão mais uso econômico ou social, o que vai afetar 20% da população mineira.
Isso obrigaria 2,2 milhões de pessoas a deixar a região norte do Estado e os vales do Mucuri e do Jequitinhonha.
"A terra perde os nutrientes e fica estéril, não serve para a agricultura nem consegue sustentar a vegetação nativa", afirma Rubio de Andrade, presidente do Instituto de Desenvolvimento do Norte e Nordeste de Minas, responsável pelo estudo. A região engloba cerrado, caatinga e mata atlântica.
Segundo o governo do Estado, é preciso investir R$ 1,3 bilhão nas próximas décadas para frear o processo, que já causa danos no semiárido mineiro. Lá estão 88 das 142 cidades consideradas suscetíveis à desertificação.
Vladia Oliveira, professora do Departamento de Geografia da Universidade Federal do Ceará, disse que áreas desertificadas são diferentes de desertos naturais porque passam por um acentuado declínio de biodiversidade até se tornarem estéreis.
"Já os desertos são ecossistemas com sustentabilidade, ainda que com baixa diversidade. Eles estão vivos."
PROGRAMA NACIONAL
O estudo foi encomendado para o Programa de Ação Nacional de Combate à Desertificação, que terá R$ 6 milhões neste ano para combater a desertificação no país.
Andrade diz que, para reduzir o fenômeno, é preciso aumentar as reservas naturais de vegetação e recuperar os recursos hídricos.
O agricultor Geraldo Moreno, 50, dono de três hectares em Espinosa (700 km de BH), já sente as mudanças em sua pequena lavoura de feijão.
"Se der para [alimentar] a família dá para comemorar", diz ele, que sustenta mulher e quatro filhos com a terra.
"Aqui não chove quase nada e não tenho dinheiro para adubar a terra. O que salva são as cabras, mas estão magras", diz o mineiro, que recebe verba do Bolsa Família para complementar a renda.
O governo pretende reduzir o espaço destinado ao gado nas áreas de caatinga e restringir atividades prejudiciais ao meio ambiente, como a extração de carvão.
"A população tem de se conscientizar de que, se essas ações não forem tomadas, nada mais poderá ser produzido", diz Andrade.
Vladia Oliveira, professora do Departamento de Geografia da Universidade Federal do Ceará, disse que áreas desertificadas são diferentes de desertos naturais porque passam por um acentuado declínio de biodiversidade até se tornarem estéreis.
"Já os desertos são ecossistemas com sustentabilidade, ainda que com baixa diversidade. Eles estão vivos."
PROGRAMA NACIONAL
O estudo foi encomendado para o Programa de Ação Nacional de Combate à Desertificação, que terá R$ 6 milhões neste ano para combater a desertificação no país.
Andrade diz que, para reduzir o fenômeno, é preciso aumentar as reservas naturais de vegetação e recuperar os recursos hídricos.
O agricultor Geraldo Moreno, 50, dono de três hectares em Espinosa (700 km de BH), já sente as mudanças em sua pequena lavoura de feijão.
"Se der para [alimentar] a família dá para comemorar", diz ele, que sustenta mulher e quatro filhos com a terra.
"Aqui não chove quase nada e não tenho dinheiro para adubar a terra. O que salva são as cabras, mas estão magras", diz o mineiro, que recebe verba do Bolsa Família para complementar a renda.
O governo pretende reduzir o espaço destinado ao gado nas áreas de caatinga e restringir atividades prejudiciais ao meio ambiente, como a extração de carvão.
"A população tem de se conscientizar de que, se essas ações não forem tomadas, nada mais poderá ser produzido", diz Andrade.
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