Rocha granítica no meio do oceano pode ser sinal de 'Atlântida brasileira'
Amostras foram encontradas a 1500 km de distância da costa do RJ, a 2500 metros de profundidade
Giovana Girardi - O Estado de S. Paulo
Um pedaço de rocha encontrado no meio do oceano Atlântico, no meio do caminho entre África do Sul e Brasil, pode ser o indicativo de um continente perdido na história do planeta Terra. A expectativa do Serviço Geológico do Brasil (CPRM), que anunciou a descoberta nesta segunda-feira, dia 6, é que possa ser uma lasca de continente que se perdeu quando América e África se separaram, há cerca de 200 milhões de anos. Para entendimento do público, os geólogos já brincam que seria uma espécie de “Atlântida” brasileira.
De acordo com Roberto Ventura Santos, diretor de geologia de recursos minerais do (CPRM), o material foi coletado no ano passado a cerca de 1500 km da costa do Rio de Janeiro e a 2500 metros de profundidade, em uma região conhecida como Alto do Rio Grande. Trabalhos de dragagem do fundo do mar trouxeram à tona uma rocha “inusitada”, como define Ventura.
“Inusitada porque é uma rocha granítica. E não se encontra granito no fundo do mar. O normal é achar no continente. Para se ter uma ideia, os arquipélagos de Fernando de Noronha e de São Pedro e São Paulo são de origem vulcânica”, conta. Segundo ele, já de cara os pesquisadores imaginaram se tratar de um crosta continental. “Mas também poderia ser um lastro de navio. Era tudo tão inusitado que poderia ser qualquer coisa.”
O reforço de que pode se tratar mesmo de um pedaço de continente veio agora com uma expedição do navio japonês Yokosuda dentro do projeto “Busca pelos Limites da Vida” – uma iniciativa da Agência Japonesa de Ciência e Tecnologia da Terra e do Mar (Jamstec), que tem a cooperação científica de pesquisadores de universidades brasileiras e do CPRM.
Durante a viagem realizada no mês passado entre a África do Sul e o Rio de Janeiro, onde o navio aportou no final de semana, foi feita uma observação de um “morrete” bem onde o CPRM fez a dragagem da rocha misteriosa. A bordo de um minissubmarino – o Shinkai 6500 –, que desceu à profundeza de 2500 a 3000 metros – os pesquisadores visualizaram um monte com “rochas com feições semelhantes a rochas graníticas”, conta Ventura. Eles não fizeram, porém, nenhuma coleta e ainda não se tem certeza se a rocha dragada anteriormente tenha vindo exatamente desse morrete.
Para saber com certeza, explica Ventura, o próximo passo é fazer perfurações nesse local, para fazer uma amostragem e novas análises. “Falamos em Atlântida mais pelo simbolismo. Obviamente não esperamos encontrar nenhuma cidade perdida no meio do Atlântico”, brinca o geólogo. “Mas se for verdade que encontramos um continente no meio do oceano, será uma descoberta muito grande, que pode ter várias implicações, em relação à extensão da plataforma continental”, diz.
Jornal O Estado de S. Paulo
Até dois terços das espécies marinhas podem ser desconhecidos, diz estudo
RAFAEL ANDERY
RAFAEL ANDERY
Nos últimos dez anos, mais espécies marinhas foram descobertas pela ciência do que em qualquer outra década da história. Apesar disso, cientistas estimam que até dois terços das espécies que habitam os oceanos ainda sejam completamente desconhecidas, afirma estudo recém-publicado na revista científica "Current Biology".
A publicação americana divulgou hoje em seu site o lançamento de um censo da vida marinha, criado a partir da colaboração de diversos cientistas ao redor do mundo.
O Worms (Registro Mundial de Espécies Marinhas) foi criado a partir do trabalho de 270 estudiosos de 146 instituições, provenientes de 32 países. O catálogo pode ser acessado gratuitamente através do sitehttp://www.marinespecies.org, e é constantemente atualizado a partir da descoberta de novas espécies.
Russ Hopcroft/AP
A lesma-do-mar "Platybrachium antarcticum"
Mark Costello, pesquisador da Universidade de Auckland (Nova Zelândia) que ajudou na construção do projeto, afirmou que o trabalho de coleta de dados "não foi tão fácil quanto deveria".
"Um problema encontrado pelos pesquisadores foi a ocorrência de diferentes nomes e descrições para as mesmas espécies, os chamados sinônimos", afirmou Costello. As baleias e golfinhos, por exemplo, apresentam em média 14 diferentes nomes científicos para cada espécie, em geral dadas por pesquisadores diferentes que estão trabalhando com o mesmo bicho sem saber. Quando esse problema é percebido, fica valendo o nome que foi publicado primeiro.
A partir da exclusão dos sinônimos, cerca de 40 mil espécies foram retiradas da base de dados que forma o Worms, apesar de seus nomes científicos continuarem disponíveis para a consulta no site.
"Pela primeira vez podemos fornecer um olhar detalhado sobre a riqueza de espécies marinhas. Nunca soubemos tanto sobre a vida nos oceanos", afirmou Ward Appeltans, colaborador do projeto e membro da Comissão Intergovernamental de Oceanografia, órgão ligado à Unesco.
A partir do levantamento das quase 215 mil espécies já catalogadas pelo Worms, pesquisadores estimam que o número total de espécies que habitam os oceanos possa chegar a até 1 milhão. Até a publicação desse estudo, estimativas costumavam apontar para números muito maiores.
A pesquisa fornece um ponto de referência para esforços de conservação e estimativas de taxas de extinção, afirmam os pesquisadores. Eles esperam que a grande maioria das espécies desconhecidas -- principalmente pequenos crustáceos, moluscos, vermes e esponjas --- seja achada ainda neste século.
"Apesar de menos espécies viverem nos oceanos do que na terra, a vida marinha apresenta linhagens evolutivas muito mais antigas, fundamentais para a nossa compreensão da vida no planeta", disse Appeltans. "Em certo sentido, o Worms é só o começo."
Appeltans ainda ressaltou a importância do trabalho colaborativo dos cientistas na construção do projeto. "Esse banco de dados nos fornece um exemplo de como outros biólogos também podem colaborar para produzir um inventário coletivo de toda a vida na Terra", diz Appeltans.
Folha de S.PauloEm qual lugar a água do mar é mais quente?
por Viviane Palladino
Segundo o Guinness, o "livro dos recordes", a maior temperatura já registrada no oceano é 404 ºC. Só para dar uma idéia, o fogão da sua casa não passa de 300 ºC! Esse calor infernal foi medido no oceano Pacífico, a cerca de 480 quilômetros da costa oeste dos Estados Unidos. Mas você nunca vai conseguir nadar nessa temperatura escaldante. Isso porque o recorde foi medido a mais de 2 mil metros de profundidade, junto a uma fonte hidrotermal, um lugar em que o magma vulcânico fica muito próximo do leito do oceano, aquecendo brutalmente a água. Se você estiver a fim de dar um tibum nas águas de superfície mais quentes do planeta, pegue um avião até a região onde ficam países como Filipinas, Indonésia, Brunei e Timor Leste. Por lá, em qualquer época do ano você pode se banhar em águas que passam dos 30 ºC. Se você não quiser ir tão longe, dê uma chegadinha até o canal de Moçambique, entre o leste africano e a ilha de Madagascar. Nessa área, a água também costuma atingir temperaturas acima de 27 ºC - no sudeste do Brasil, por exemplo, a temperatura média é de 24 ºC. Tanto no sudeste asiático quanto na costa leste da África, a a água é quentinha porque as correntes marítimas que banham a região percorrem uma longa distância, partindo da costa oeste das Américas. Como boa parte do percurso rola na zona equatorial, as correntes recebem um monte de luz solar durante o trajeto. No final da viagem, as águas estão bem mais quentes que no resto do planeta.
Aumento do nível do mar
Bombear água do solo em excesso cancela efeito de represas
©Ramon grosso dolarea / Shutterstock
Quando bombeamos água do subsolo para irrigação, consumo e usos industriais, ela não volta totalmente para o solo: evapora para a atmosfera ou corre para rios e canais que desaguam nos oceanos. De acordo com um novo estudo, de 2050 em diante o bombeamento da água do subsolo provocará um aumento global no nível do mar de aproximadamente 0,8 mm por ano.
“Além do gelo terrestre, a extração excessiva de água do subsolo está rapidamente se tornando a contribuição mais importante para o aumento do nível do mar”, observa o principal autor do estudo, Yoshihide Wada, da Utrecht University, na Holanda. Nas décadas seguintes, espera-se que as contribuições da água do subsolo para o aumento se tornem tão significativas quanto as provenientes do derretimento de geleiras e calotas polares da Groenlândia e Antártica.
“Entre 1970 e 1990, o aumento do nível do mar provocado pelo bombeamento de água do subsolo foi anulado pela construção de represas, que acumulam água em reservatórios para que ela não vá para o mar”, explica Wada. Sua pesquisa mostra que desde 1990, quando os países bombeiam mais água do subsolo que constroem represas, esse cenário mudou.
Os pesquisadores não olharam apenas para a contribuição do bombeamento de água do solo, que já haviam investigado, mas também para outros fatores que influenciam a quantidade de água terrestre entrando nos oceanos, incluindo drenagem de pântanos, desmatamento e novos reservatórios. Wada e seus colegas calculam que na metade desse século o efeito de fatores adicionais somará mais 0,05mm por ano ao nível do mar atual – além da contribuição da água do subsolo.
Segundo Wada, o último relatório do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas das Nações Unidas, em 2007, abordou o efeito do derretimento do gelo terrestre sobre o aumento do nível do mar, incluindo geleiras e calotas polares, mas não quantificou a contribuição futura de outras fontes de água terrestres como do subsolo, de reservatórios e áreas úmidas, porque os autores do relatório consideraram as estimativas para essas fontes como incertas.
“Eles supuseram que as contribuições positivas e negativas da água do subsolo e dos reservatórios se cancelariam”, esclarece Wada. “Descobrimos que esse não é o caso. A contribuição da água do subsolo vai aumentar e superar a contribuição negativa dos reservatórios”.
No estudo atual, os pesquisadores estimaram o impacto de depleção da água do subsolo desde 1900 usando dados de países individuais sobre bombeamento, modelos de simulação de recarga e reconstruções de como a demanda por água mudou ao longo dos anos. Eles também compararam e corrigiram essas estimativas com observações de fontes como o satélite Grace, que usa medições gravitacionais para determinar variações no armazenamento de água do subsolo.
Com essas taxas de depleção, Wada e seus colegas estimam que no ano 2000 cerca de 204 km³ de água do subsolo foram bombeados – e a maior parte foi usada para irrigação. Essa maneira de utilizar água, por sua vez, evapora de plantas, entra na atmosfera e retorna em forma de chuva. Levando em consideração a infiltração da água do solo de volta para os aquíferos, bem como a evaporação e o escoamento, os pesquisadores estimaram que o bombeamento resultou em um aumento marítimo de aproximadamente 0,57mm em 2000 – muito maior que o de 1900, de 0,035mm.
Os pesquisadores projetaram também depleção da água do subsolo, armazenagem em reservatórios e outros impactos para o resto do século usando modelos climáticos e crescimento estimado de população, além de mudanças no uso de terras. Eles descobriram que o aumento na depleção da água do subsolo entre 1900 e 2000 é devido, em sua maior parte, à demanda por água. Já o aumento projetado entre 2000 e 2050 estará relacionado, de forma geral, a fatores climáticos como diminuição da disponibilidade de água na superfície e campos agrícolas irrigados, que secam mais rápido em climas quentes.
Se tudo continuar como projetado, Wada estima que em 2050 o efeito cumulativo dessas fontes e reservatórios de água terrestre independentes de gelo – incluindo o bombeamento da água do subsolo, a drenagem de pântanos e represas – terá adicionado 31mm ao nível do mar (desde 1900).
De acordo com Wada, o novo estudo supõe que as pessoas encontrarão uma forma de extrair água do subsolo, onde quer que ela esteja. Mas alguns de seus colegas estão pesquisando os limites de extração. Uma forma de reduzir a contribuição da água do subsolo ao aumento do nível do mar, aponta ele, é melhorar a eficiência da água na agricultura: plantar mais, com menos.
O artigo da equipe de pesquisa foi publicado na Geophysical Research Letters, periódico da American Geophysical Union.
Scientific American Brasil
Notícias Geografia Hoje
Pesquisa cria índice global de saúde dos mares
DO "NEW YORK TIMES"
Um grupo de cientistas acaba de produzir o primeiro índice global de saúde dos oceanos, uma ferramenta que deve ajudar a avaliar o estado dos mares da Terra.
O índice leva em conta os principais fatores que influenciam a qualidade dos ecossistemas marinhos e das atividades econômicas que dependem deles: a viabilidade da pesca, a presença de biodiversidade, a capacidade dos mares de estocar gases do efeito estufa e o turismo, entre outros quesitos.
Cada um dos dez fatores recebe uma "nota" de 0 a 100, que depois é ponderada para chegar a uma nota da saúde geral do mar em cada região do planeta.
A pesquisa, publicada na revista científica britânica "Nature", deu uma pontuação de 60 à média da saúde dos mares do planeta. Entre as regiões, a nota mais baixa, 36, foi para Serra Leoa, no oeste da África. A mais alta foi 86, para a ilha Jarvis (desabitada), perto do Havaí. O Brasil, com uma nota geral de 62, se saiu ligeiramente melhor que a média dos países.
"Não dá para fazer o manejo sustentável da saúde do oceano sem ter uma ferramenta para medi-lo", explica Ben Halpern, diretor do Centro de Avaliação e Planejamento Marinho da Universidade da Califórnia em Santa Barbara e um dos líderes do projeto. Para ele, o índice dá às populações que exploram os oceanos uma ideia de como suas práticas afetam os recursos marinhos dos quais dependem para viver.
Segundo Halpern, a "nota" geral de 60 indica que, embora muita coisa precise ser melhorada, "há coisas boas acontecendo" em termos de conservação marinha.
A maioria das regiões marinhas estudadas pelo projeto ficam em águas a uma distância máxima de 350 km da costa de cada país, as chamadas zonas econômicas exclusivas nacionais, sobre as quais cada país tem direitos de exclusividade de exploração.
No geral, países em desenvolvimento tiraram notas mais baixas, enquanto as nações mais ricas tinham pontuação mais elevada. Há, porém, exceções: países pobres como Seychelles e Suriname tinham pontuação alta, contra notas baixas da Polônia e de Cingapura.
FOLHA DE S.PAULO
Sobrepesca e aquecimento dos oceanos ameaçam bilhões de pessoas, diz relatório
Publicação propõe medidas de precaução para o sustento da pesca e a preservação dos grandes ecossistemas marinhos, como forma de garantir a segurança alimentar das populações costeiras
PNUD
O aquecimento das águas superficiais dos oceanos limita o movimento de nutrientes e pode resultar em diminuição da produção de peixes, afetando a vida de bilhões de pessoas. A conclusão é de um recente estudo publicado pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) sobre os efeitos das mudanças climáticas nos grandes ecossistemas marinhos e nos recursos costeiros.
As projeções de longo prazo publicadas no relatório indicam que a limitação do movimento ascendente dos nutrientes das águas mais profundas e frias (conhecido como ressurgência) afetará os grandes ecossistemas marinhos (GEMs) dos países em desenvolvimento situados em latitudes mais quentes da Ásia, África e América Latina. Nestas regiões, é alta a dependência de recursos costeiros para segurança alimentar e outros meios de subsistência.
O relatório intitulado Toward Recovery and Sustainability of the World’s Large Marine Ecosystems during Climate Change (Rumo à Recuperação e Sustentabilidade dos Grandes Ecossistemas Marinhos do Mundo durante as Alterações Climáticas), observa que entre 1982 e 2006, as temperaturas da superfície do mar aumentaram em 61 dos 64 GEMs. Em cerca de um terço das áreas cobertas por esses ecossistemas, a temperatura está aumentando de duas a quatro vezes mais rápido do que as tendências de aquecimento global relatadas pelo Painel Intergovernamental da ONU sobre Mudança Climática.
Embora as taxas de pesca de captura estejam aumentando em águas mornas, o tamanho médio dos peixes está em declínio. Este efeito sobre a população reprodutora pode resultar no colapso de outras espécies de peixes. Em função disso, o relatório recomenda que são necessárias providências para estabelecer níveis de captura sustentáveis para a pesca em latitudes mais quentes. Além disso, o estudo propõe medidas de precaução que devem ser tomadas imediatamente para sustentar a pesca marinha, restaurar e proteger os habitats costeiros, incluindo importantes sumidouros de carbono, e reduzir a carga de poluição.
“A mudança climática é uma questão global muito importante e crítica. Sem ação, a mudança climática poderia anular décadas de progresso no desenvolvimento destes países e minar os esforços para a promoção do desenvolvimento sustentável”, disse Veerle Vandeweerd, Diretora do Grupo de Meio Ambiente e Energia do PNUD, em Nova York.
A publicação foi lançada durante a Conferência sobre Mudanças Climáticas (COP 17) realizada recentemente em Durban, na África do Sul. Também contribuíram para o relatório as seguintes instituições: Gordon and Betty Moore Foundation, International Union for Conservation of Nature, US National Oceanic and Atmospheric Administration e Global Environment Facility.
Grandes ecossistemas marinhos (GEMs) são regiões extensas do espaço oceânico (acima de 200.000 km2) que abrangem as zonas costeiras das bacias e estuários. Os limites geográficos dos GEMs são definidos pelos contornos continentais e pelas correntes costeiras oceânicas.
São regiões relativamente grandes caracterizadas por distintas batimetrias, hidrografias, produtividades e populações troficamente dependentes. Em uma escala global, 64 grandes ecossistemas marinhos sustentam a maioria da pesca marítima do mundo e estão sendo prejudicados pela poluição costeira, pesca predatória, espécies invasoras e degradação do habitat.
São regiões relativamente grandes caracterizadas por distintas batimetrias, hidrografias, produtividades e populações troficamente dependentes. Em uma escala global, 64 grandes ecossistemas marinhos sustentam a maioria da pesca marítima do mundo e estão sendo prejudicados pela poluição costeira, pesca predatória, espécies invasoras e degradação do habitat.
De onde vêm os nomes dos oceanos?
Alberto C.M lerveseO nome do Oceano Atlântico tem origem mitológica, o do Pacifico, histórica, e os dos três restantes {Indica Glacial Ártico e Glacial Antártico. geográfica. Atlântico vem de Atlas, filho do deus dos mares. Netuno é pai das Atlântidas. Em 1520, quando navegador português Fernão de Magalhães percorreu o litoral sul-americano a oeste da Cordilheira dos Andes, ficou impressionado com a tranqüilidade das águas. Daí o nome Oceano Pacifico. Por sua vez, o Indico recebe o nome das costas que banha, da Índia e da Indonésia, já o Ártico, situado no pólo norte, sob constelação da Ursa Menor, deve o nome à palavra grega arctos, que significa urso. Por oposição geográfica, denomina-se Antártico o oceano próximo ao pólo sul.Revista Superinteressante
Recifes de corais
Oceanos mais quentes estimulam o crescimento de algumas espéciesDavid Biello©Rich Carey/shutterstock
Uma das maiores tragédias naturais dos últimos anos é a deterioração da Grande Barreira de Corais da Austrália, uma enorme estrutura de corais na costa leste do continente, que abriga uma profusão de vida selvagem. Além da poluição e da pesca excessiva, a maior estrutura natural do mundo sofre com a elevação da temperatura dos oceanos. Entretanto, talvez menos conhecidos e afastados da costa oeste australiana, existem alguns recifes enormes no sudeste do Oceano Índico. Corais maciços do gênero Porites afloram à superfície e uma nova pesquisa publicada na Science sugere que os corais localizados em águas mais frias, mais distantes ao sul, se desenvolvem melhor, graças ao aquecimento da temperatura do oceano.
“Onde vemos maior aquecimento, há uma resposta acentuada”, avalia o biólogo marinho Timothy Cooper, do Australian Institute of Marine Science. “Até o momento, são as mudanças de temperatura que produzem impacto dominante no crescimento dos corais, como evidenciado pelas crescentes taxas de calcificação em nossos locais mais ao sul.”
As descobertas sugerem que as mudanças de temperatura desempenham um papel maior no destino de corais, pelo menos a curto prazo, do que qualquer acidificação do oceano, onde a água do mar absorve níveis crescentes de dióxido de carbono da atmosfera, tornando-a mais ácida.
Corais, pólipos microscópicos, formam recifes extraindo o cálcio dos arredores e o usam para criar minúsculas conchas-casas para si, que podem se acumular ao longo dos séculos em estruturas maciças. Este processo, conhecido como calcificação, é sensível à temperatura e à acidez, que podem dificultar o crescimento. Além disso, os próprios corais são sensíveis à temperatura, e as demasiado elevadas podem levar a eventos de branqueamento que podem matar um recife.
Cooper e seus colegas perfuraram recifes de Porites em seis locais, abrangendo cerca de 1.000 km de norte a sul da costa oeste da Austrália. Eles extraíram 27 amostras de núcleos. Cada um revelou um registro da densidade anual das casas à base de cálcio do coral Porites. Comparando a velocidade anual de calcificação do coral com a densidade média de 1900 a 2010, Cooper e seus colegas revelaram quando e onde ocorreu alguma alteração anormal. Então, pesquisadores compararam esse registro com os dados mensais de temperatura no mar, para tentar entender se ela levou a um impacto e, em caso afirmativo, qual foi.
Os estudiosos descobriram que os Porites no extremo sul da costa oeste da Austrália produziram casas cada vez mais espessas nas últimas décadas, conforme as água mais frias do oceano se aqueceram. Mais ao norte, o inverso é verdadeiro: Porites em águas já quentes, subtropicais e tropicais, sofrem quando o oceano se aquece demais. “Onde houve pouco aquecimento, houve pouca mudança na calcificação”, relata Cooper. “Até agora, são as mudanças de temperatura que produzem impacto dominante no crescimento dos corais, como evidenciado pelas crescentes taxas de calcificação em nossas localidades mais ao sul.” Os núcleos sugerem que a acidificação crescente do oceano provocou, até agora, menos impacto sobre corais que a temperatura. No final, no entanto, espera-se que a acidificação acabe prejudicando o crescimento de corais, não importando a temperatura da água. “A acidificação dos oceanos será cada vez mais um fator limitante para o crescimento dos recifes tropicais”, lamenta Cooper.
Porém, pode existir uma falha neste estudo: os registros mensais de temperatura usados. Os corais reagem à temperatura na escala de dias ou semanas, daí os eventos de branqueamento na Grande Barreira de Corais ou em outras partes do mundo, que podem “retardar o crescimento da colônia por anos”, alerta o biólogo marinho John Bruno, da University of North Carolina, em Chapel Hill, que também estuda corais, mas que não se envolveu nesta pesquisa. “Infelizmente, essa informação [sobre temperatura] não existe.” Dados muito específicos sobre mudanças locais de temperatura seriam necessários para entender melhor como a temperatura, o aumento da acidez e o crescimento de corais interagem, embora esteja cada vez mais claro que impactos de oceanos mais quentes determinarão o futuro dos corais.
Também está claro que tanto os impactos do aumento das emissões humanas de CO2, aquecimento global, quanto a acidificação dos oceanos, estão dificultando a vida os recifes, incluindo o declínio rápido de crescimento do Porites na Grande Barreira de Corais. E não existe solução fácil: o trabalho de Bruno mostra que mesmo reservas marinhas protegidas, essencialmente parques marinhos, não conseguem proteger os recifes de problemas globais como mudanças climáticas. Como Cooper acrescenta: “Alterações como esta, com quantidade relativamente modesta de aquecimento global até agora (em comparação com o que está previsto para as próximas décadas), é motivo de preocupação.”Scientific American Brasil
“Onde vemos maior aquecimento, há uma resposta acentuada”, avalia o biólogo marinho Timothy Cooper, do Australian Institute of Marine Science. “Até o momento, são as mudanças de temperatura que produzem impacto dominante no crescimento dos corais, como evidenciado pelas crescentes taxas de calcificação em nossos locais mais ao sul.”
As descobertas sugerem que as mudanças de temperatura desempenham um papel maior no destino de corais, pelo menos a curto prazo, do que qualquer acidificação do oceano, onde a água do mar absorve níveis crescentes de dióxido de carbono da atmosfera, tornando-a mais ácida.
Corais, pólipos microscópicos, formam recifes extraindo o cálcio dos arredores e o usam para criar minúsculas conchas-casas para si, que podem se acumular ao longo dos séculos em estruturas maciças. Este processo, conhecido como calcificação, é sensível à temperatura e à acidez, que podem dificultar o crescimento. Além disso, os próprios corais são sensíveis à temperatura, e as demasiado elevadas podem levar a eventos de branqueamento que podem matar um recife.
Cooper e seus colegas perfuraram recifes de Porites em seis locais, abrangendo cerca de 1.000 km de norte a sul da costa oeste da Austrália. Eles extraíram 27 amostras de núcleos. Cada um revelou um registro da densidade anual das casas à base de cálcio do coral Porites. Comparando a velocidade anual de calcificação do coral com a densidade média de 1900 a 2010, Cooper e seus colegas revelaram quando e onde ocorreu alguma alteração anormal. Então, pesquisadores compararam esse registro com os dados mensais de temperatura no mar, para tentar entender se ela levou a um impacto e, em caso afirmativo, qual foi.
Os estudiosos descobriram que os Porites no extremo sul da costa oeste da Austrália produziram casas cada vez mais espessas nas últimas décadas, conforme as água mais frias do oceano se aqueceram. Mais ao norte, o inverso é verdadeiro: Porites em águas já quentes, subtropicais e tropicais, sofrem quando o oceano se aquece demais. “Onde houve pouco aquecimento, houve pouca mudança na calcificação”, relata Cooper. “Até agora, são as mudanças de temperatura que produzem impacto dominante no crescimento dos corais, como evidenciado pelas crescentes taxas de calcificação em nossas localidades mais ao sul.” Os núcleos sugerem que a acidificação crescente do oceano provocou, até agora, menos impacto sobre corais que a temperatura. No final, no entanto, espera-se que a acidificação acabe prejudicando o crescimento de corais, não importando a temperatura da água. “A acidificação dos oceanos será cada vez mais um fator limitante para o crescimento dos recifes tropicais”, lamenta Cooper.
Porém, pode existir uma falha neste estudo: os registros mensais de temperatura usados. Os corais reagem à temperatura na escala de dias ou semanas, daí os eventos de branqueamento na Grande Barreira de Corais ou em outras partes do mundo, que podem “retardar o crescimento da colônia por anos”, alerta o biólogo marinho John Bruno, da University of North Carolina, em Chapel Hill, que também estuda corais, mas que não se envolveu nesta pesquisa. “Infelizmente, essa informação [sobre temperatura] não existe.” Dados muito específicos sobre mudanças locais de temperatura seriam necessários para entender melhor como a temperatura, o aumento da acidez e o crescimento de corais interagem, embora esteja cada vez mais claro que impactos de oceanos mais quentes determinarão o futuro dos corais.
Também está claro que tanto os impactos do aumento das emissões humanas de CO2, aquecimento global, quanto a acidificação dos oceanos, estão dificultando a vida os recifes, incluindo o declínio rápido de crescimento do Porites na Grande Barreira de Corais. E não existe solução fácil: o trabalho de Bruno mostra que mesmo reservas marinhas protegidas, essencialmente parques marinhos, não conseguem proteger os recifes de problemas globais como mudanças climáticas. Como Cooper acrescenta: “Alterações como esta, com quantidade relativamente modesta de aquecimento global até agora (em comparação com o que está previsto para as próximas décadas), é motivo de preocupação.”Scientific American Brasil
Bonitinho, mas predadorAtirado por acidente na Costa Leste dos EUA, o peixe-leão desceu o Atlântico, deixou um rastro de destruição no Caribe, está perto do Brasil e ameaça a população nacional de lagostasWilson Aquino
Um peixe fofinho, de cerca de 30 centímetros, que encanta os aquaristas por causa de suas listras coloridas e barbatanas, é apontado pela comunidade científica como o novo terror dos mares. Desde que foi atirado acidentalmente no Oceano Atlântico, na Costa Leste dos Estados Unidos, o peixe-leão-vermelho, contrariando as expectativas dos biólogos, disseminou-se pela América Central e já chegou à América do Sul, deixando um rastro de devastação que, temem os cientistas, pode causar grave desequilíbrio ecológico. Seu apetite voraz o leva a consumir todo tipo de peixe e organismo marinho que caiba na boca – seu estômago pode se expandir em até 30 vezes, ou seja, comporta muitos camarões, siris e filhotes de lagosta, as vítimas preferidas. E o pior é que o peixinho está cada vez mais perto do Brasil. Foi avistado na costa da Venezuela, a cerca de 1.500 quilômetros do Amapá.
Nativo das águas quentes dos recifes de corais dos oceanos Índico e Pacífico, ele se adaptou bem à temperatura do Atlântico, onde não para de se multiplicar. “Como não tem predador natural, exatamente por ser exótico, a população dele cresce muito rápido”, explica o professor do departamento de biologia marinha da Universidade Federal Fluminense (UFF) Abílio Soares Gomes.
O peixe-leão-vermelho também não tem presa específica para devorar. “Nos Estados Unidos, constataram que apenas um peixe-leão pode arrasar um hectare de corais em uma semana”, alerta a diretora-executiva do Instituto Hórus de Desenvolvimento e Conservação Ambiental, Sílvia Ziller. O peixe-leão-vermelho também ameaça o ser humano, já que seus espinhos venenosos causam dor intensa. “Os pescadores do Amapá estão sob risco”, adverte Sílvia.
Revista ISTOÉNativo das águas quentes dos recifes de corais dos oceanos Índico e Pacífico, ele se adaptou bem à temperatura do Atlântico, onde não para de se multiplicar. “Como não tem predador natural, exatamente por ser exótico, a população dele cresce muito rápido”, explica o professor do departamento de biologia marinha da Universidade Federal Fluminense (UFF) Abílio Soares Gomes.
O peixe-leão-vermelho também não tem presa específica para devorar. “Nos Estados Unidos, constataram que apenas um peixe-leão pode arrasar um hectare de corais em uma semana”, alerta a diretora-executiva do Instituto Hórus de Desenvolvimento e Conservação Ambiental, Sílvia Ziller. O peixe-leão-vermelho também ameaça o ser humano, já que seus espinhos venenosos causam dor intensa. “Os pescadores do Amapá estão sob risco”, adverte Sílvia.
Cientistas suspeitam que atividades humanas contribuem para elevar os níveis de ruído nos oceanos, afetando a saúde e o comportamento da vida marinha. A Unesco e pesquisadores internacionais vão investigar o tema no Experimento Oceano Silencioso Internacional, que deverá durar dez anos.
Wendy Watson-Wright *
Wendy Watson-Wright *
A mudança climática global pode ter alterado ambientes invisíveis no último século. A “paisagem sonora” submarina ou o ruído ambiental dos oceanos vem aumentando há décadas, em razão da presença humana nos mares. A exploração industrial crescente dos oceanos introduziu fontes de som submarinas, tais como sonares militares, armas de ar comprimido para exploração de petróleo e gás, fixação de estacas, meios de transporte e navegação de recreio.
Em particular, ao longo das últimas décadas, a contribuição dos navios comerciais para o ruído ambiente cresceu 12 decibéis – um aumento significativo acima do estado natural em alguns locais. Ruídos antrópicos associados a essas atividades e à industrialização têm aumentado em todo o espectro de som submarino, sobretudo na faixa de frequência baixa (<500Hz). Além disso, no oceano as ondas sonoras podem se propagar por centenas de quilômetros.
Estamos apenas começando a entender a grande variedade de sons do oceano e do papel do som na vida e no comportamento dos animais marinhos. Muitos dependem da acústica para perceber o ambiente, para comunicar-se e procurar alimento. Os sons de baixa frequência são muito importantes para várias espécies marinhas, como baleias e golfinhos, e é exatamente essa faixa a que está experimentando o maior aumento de ruídos originários de seres humanos.
As respostas dos animais às mudanças nos sons de fundo, ou até mesmo a fontes de ruído locais, podem ser de difícil observação para os cientistas. Encalhes de peixes ligados a exercícios com sonares militares são a evidência mais facilmente observada de uma resposta comportamental ao estresse do som.
Além disso, suspeita-se da existência de uma síndrome de diminuição da capacidade de desempenhar funções normais em muitas espécies da fauna marinha. Por exemplo, descobriu-se que, na presença de um alto ruído de fundo, diversas espécies de baleias “levantam a voz” ou mudam seus chamados a fim de comunicar-se, ou ainda param de vocalizar todas juntas.
Nosso conhecimento da maneira como a maioria dos organismos marinhos sente e responde comportamentalmente a estímulos sonoros é muito limitado. Precisamos iluminar os tipos de respostas dados por organismos individuais a ruídos diferentes, sobretudo em espécies que já foram identificadas como ameaçadas de extinção.
No experimento que estamos preparando, a ideia de “oceano silencioso” implica comparar as mudanças comportamentais quando o nível de som de fundo muda, seja manipulando diretamente o ruído ambiental, seja realizando estudos do tipo “antes e depois” em locais onde a acústica do oceano muda, tais como antes e durante a construção de projetos marinhos ou quando o tráfego de embarcações pode ser redirecionado de uma área para outra.
O Experimento Oceano Silencioso Internacional (IQOE, na sigla em inglês), que a Unesco promove com pesquisadores de diversos países, é coordenado pelo Comitê Científico de Pesquisa Oceânica e pela Parceria para Observação dos Oceanos do Globo, da qual a Comissão Oceanográfica Intergovernamental da Unesco (IOC, na sigla em inglês) é membro. Por meio do Sistema Global de Observação dos Oceanos, o IOC está envolvido na avaliação da possibilidade de observações sistemáticas globais da “paisagem sonora” do oceano.
Com duração prevista de dez anos, o Experimento visa engajar de forma colaborativa a comunidade oceanográfica mundial, combinando os conhecimentos de oceanógrafos físicos, especialistas em acústica, biólogos comportamentais, modeladores de ecossistema e biólogos populacionais. Os objetivos são quantificar a paisagem sonora do oceano em escala global, determinar os limiares de mudança de comportamento de várias espécies e examinar a relação funcional entre o som e a viabilidade de organismos marinhos fundamentais, em nível individual, no nível das espécies e do ecossistema.
O IOC está desenvolvendo um plano científico para a experiência. Um fórum organizado em Paris, em setembro, permitiu identificar lacunas de informação e recolher contribuições da comunidade científica sobre as pesquisas, as observações e a modelagem de atividades que devem ser incluídas na pesquisa.
A ideia é fazer o IOC facilitar a cooperação internacional e, se necessário, a intergovernamental para resolver esse problema em escala global e integrar medições acústicas contínuas e sustentáveis à nossa compreensão da atividade humana e da mudança climática global.
* Wendy Watson-Wright é secretária-executiva da Comissão Oceanográfica Intergovernamental da Unesco (IOC, na sigla em inglês).Revista Planeta
Em particular, ao longo das últimas décadas, a contribuição dos navios comerciais para o ruído ambiente cresceu 12 decibéis – um aumento significativo acima do estado natural em alguns locais. Ruídos antrópicos associados a essas atividades e à industrialização têm aumentado em todo o espectro de som submarino, sobretudo na faixa de frequência baixa (<500Hz). Além disso, no oceano as ondas sonoras podem se propagar por centenas de quilômetros.
Estamos apenas começando a entender a grande variedade de sons do oceano e do papel do som na vida e no comportamento dos animais marinhos. Muitos dependem da acústica para perceber o ambiente, para comunicar-se e procurar alimento. Os sons de baixa frequência são muito importantes para várias espécies marinhas, como baleias e golfinhos, e é exatamente essa faixa a que está experimentando o maior aumento de ruídos originários de seres humanos.
As respostas dos animais às mudanças nos sons de fundo, ou até mesmo a fontes de ruído locais, podem ser de difícil observação para os cientistas. Encalhes de peixes ligados a exercícios com sonares militares são a evidência mais facilmente observada de uma resposta comportamental ao estresse do som.
Além disso, suspeita-se da existência de uma síndrome de diminuição da capacidade de desempenhar funções normais em muitas espécies da fauna marinha. Por exemplo, descobriu-se que, na presença de um alto ruído de fundo, diversas espécies de baleias “levantam a voz” ou mudam seus chamados a fim de comunicar-se, ou ainda param de vocalizar todas juntas.
Nosso conhecimento da maneira como a maioria dos organismos marinhos sente e responde comportamentalmente a estímulos sonoros é muito limitado. Precisamos iluminar os tipos de respostas dados por organismos individuais a ruídos diferentes, sobretudo em espécies que já foram identificadas como ameaçadas de extinção.
No experimento que estamos preparando, a ideia de “oceano silencioso” implica comparar as mudanças comportamentais quando o nível de som de fundo muda, seja manipulando diretamente o ruído ambiental, seja realizando estudos do tipo “antes e depois” em locais onde a acústica do oceano muda, tais como antes e durante a construção de projetos marinhos ou quando o tráfego de embarcações pode ser redirecionado de uma área para outra.
O Experimento Oceano Silencioso Internacional (IQOE, na sigla em inglês), que a Unesco promove com pesquisadores de diversos países, é coordenado pelo Comitê Científico de Pesquisa Oceânica e pela Parceria para Observação dos Oceanos do Globo, da qual a Comissão Oceanográfica Intergovernamental da Unesco (IOC, na sigla em inglês) é membro. Por meio do Sistema Global de Observação dos Oceanos, o IOC está envolvido na avaliação da possibilidade de observações sistemáticas globais da “paisagem sonora” do oceano.
Com duração prevista de dez anos, o Experimento visa engajar de forma colaborativa a comunidade oceanográfica mundial, combinando os conhecimentos de oceanógrafos físicos, especialistas em acústica, biólogos comportamentais, modeladores de ecossistema e biólogos populacionais. Os objetivos são quantificar a paisagem sonora do oceano em escala global, determinar os limiares de mudança de comportamento de várias espécies e examinar a relação funcional entre o som e a viabilidade de organismos marinhos fundamentais, em nível individual, no nível das espécies e do ecossistema.
O IOC está desenvolvendo um plano científico para a experiência. Um fórum organizado em Paris, em setembro, permitiu identificar lacunas de informação e recolher contribuições da comunidade científica sobre as pesquisas, as observações e a modelagem de atividades que devem ser incluídas na pesquisa.
A ideia é fazer o IOC facilitar a cooperação internacional e, se necessário, a intergovernamental para resolver esse problema em escala global e integrar medições acústicas contínuas e sustentáveis à nossa compreensão da atividade humana e da mudança climática global.
* Wendy Watson-Wright é secretária-executiva da Comissão Oceanográfica Intergovernamental da Unesco (IOC, na sigla em inglês).Revista Planeta
Oceano apresenta sintomas de grandes extinções em massa
De acordo estudo internacional, espécies marinhas estão em risco de entrar numa fase de extinção sem precedentes
BBC Brasil
Um novo estudo indica que os ecossistemas marinhos enfrentam perigos ainda maiores do que os estimados até agora pelos cientistas e que correm o risco de entrar em uma fase de extinção de espécies sem precedentes na história da humanidade.
BBC Brasil
Um novo estudo indica que os ecossistemas marinhos enfrentam perigos ainda maiores do que os estimados até agora pelos cientistas e que correm o risco de entrar em uma fase de extinção de espécies sem precedentes na história da humanidade.
O levantamento foi feito realizado por especialistas que integram o Programa Internacional sobre o Estado dos Oceanos (IPSO, na sigla em inglês), uma entidade formada por cientistas e outros especialistas no assunto.
Eles concluíram que fatores como a pesca excessiva, a poluição e as mudanças climáticas estão agindo em conjunto de uma forma que não havia sido antecipada.
A pesquisa reuniu especialistas de diferentes disciplinas, incluindo ambientalistas com especialização em recifes de corais, toxicologistas e cientistas especializados em pesca.
‘‘As conclusões são chocantes. Estamos vendo mudanças que estão acontecendo mais rápido do que estávamos esperando e de formas que não esperávamos que fossem acontecer por centenas de anos’’, disse Alex Rogers, diretor científico do IPSO e professor da Universidade de Oxford.
Plástico
Entre as mudanças que estão ocorrendo antes do esperado estão o derretimento da camada de gelo no Ártico, na Groenlândia e na Antártida, o aumento do nível dos oceanos e liberação de metano no leito do mar.
O estudo observou também que existem efeitos em cadeia provocados pela ação de diferentes poluentes.
A pesquisa observou, por exemplo, que alguns poluentes permanecem nos oceanos por estarem presos a pequenas partículas de plástico que foram parar no leito do oceano.
Com isso, há um aumento também do poluentes que são consumidos por peixes que vivem no fundo do mar.
Partículas de plástico são responsáveis também por transportar algas de parte a parte, contribuindo para a proliferação de algas tóxicas, o que também é provocado pelo influxo para os oceanos de nutrientes e poluentes provenientes de áreas agrícolas.
O estudo descreveu ainda como a acidificação do oceano, o aquecimento global e a poluição estando agindo de forma conjunta para aumentar as ameaças aos recifes de corais, tanto que 75% dos corais mundiais correm o risco de sofrer um severo declínio.
Ciclos
A vida na Terra já enfrentou cinco ''ciclos de extinção em massa'' causados por eventos como o impacto de asteróides e muitos cientistas que o impacto de diferentes ações exercidas pelo homem poderá contribuir para um sexto ciclo.
''Ainda contamos com boa parte da biodiversidade mundial, mas o ritmo atual da extinção é muito mais alto (do que no passado) e o que estamos enfrentando é, certamente, um evento de extinção global significativa'', afirma o professor Alex Rogers.
O relatório observa ainda que eventos anteriores de extinção em massa tiveram ligação com tendências que estão ocorrendo atualmente, como distúrbios no ciclo de carbono, acidificação e baixa concentração de oxigênio na água.
Os níveis de CO2 que estão sendo absorvidos pelos oceanos já são bem mais altos que aqueles registrados durante a grande extinção de espécies marinhas que ocorreu há 55 milhões de anos, afirma a pesquisa.
Entre as medidas que o estudo aconselha sejam tomadas imediatamente estão o fim da pesca predatória, especialmente em alto mar, onde, atualmente há pouca regulamentação; mapear e depois reduzir a quantidade de poluentes, como plásticos, fertilizantes agrícolas e detritos humanos; e reduzir de forma acentuada os gases do efeito estufa.
As conclusões do relatório serão apresentadas na sede da ONU, em Nova York, nesta semana, durante um encontro de representantes governamentais sobre reformas na maneira de gerenciar os oceanos.
http://ultimosegundo.ig.com.br
Eles concluíram que fatores como a pesca excessiva, a poluição e as mudanças climáticas estão agindo em conjunto de uma forma que não havia sido antecipada.
A pesquisa reuniu especialistas de diferentes disciplinas, incluindo ambientalistas com especialização em recifes de corais, toxicologistas e cientistas especializados em pesca.
‘‘As conclusões são chocantes. Estamos vendo mudanças que estão acontecendo mais rápido do que estávamos esperando e de formas que não esperávamos que fossem acontecer por centenas de anos’’, disse Alex Rogers, diretor científico do IPSO e professor da Universidade de Oxford.
Plástico
Entre as mudanças que estão ocorrendo antes do esperado estão o derretimento da camada de gelo no Ártico, na Groenlândia e na Antártida, o aumento do nível dos oceanos e liberação de metano no leito do mar.
O estudo observou também que existem efeitos em cadeia provocados pela ação de diferentes poluentes.
A pesquisa observou, por exemplo, que alguns poluentes permanecem nos oceanos por estarem presos a pequenas partículas de plástico que foram parar no leito do oceano.
Com isso, há um aumento também do poluentes que são consumidos por peixes que vivem no fundo do mar.
Partículas de plástico são responsáveis também por transportar algas de parte a parte, contribuindo para a proliferação de algas tóxicas, o que também é provocado pelo influxo para os oceanos de nutrientes e poluentes provenientes de áreas agrícolas.
O estudo descreveu ainda como a acidificação do oceano, o aquecimento global e a poluição estando agindo de forma conjunta para aumentar as ameaças aos recifes de corais, tanto que 75% dos corais mundiais correm o risco de sofrer um severo declínio.
Ciclos
A vida na Terra já enfrentou cinco ''ciclos de extinção em massa'' causados por eventos como o impacto de asteróides e muitos cientistas que o impacto de diferentes ações exercidas pelo homem poderá contribuir para um sexto ciclo.
''Ainda contamos com boa parte da biodiversidade mundial, mas o ritmo atual da extinção é muito mais alto (do que no passado) e o que estamos enfrentando é, certamente, um evento de extinção global significativa'', afirma o professor Alex Rogers.
O relatório observa ainda que eventos anteriores de extinção em massa tiveram ligação com tendências que estão ocorrendo atualmente, como distúrbios no ciclo de carbono, acidificação e baixa concentração de oxigênio na água.
Os níveis de CO2 que estão sendo absorvidos pelos oceanos já são bem mais altos que aqueles registrados durante a grande extinção de espécies marinhas que ocorreu há 55 milhões de anos, afirma a pesquisa.
Entre as medidas que o estudo aconselha sejam tomadas imediatamente estão o fim da pesca predatória, especialmente em alto mar, onde, atualmente há pouca regulamentação; mapear e depois reduzir a quantidade de poluentes, como plásticos, fertilizantes agrícolas e detritos humanos; e reduzir de forma acentuada os gases do efeito estufa.
As conclusões do relatório serão apresentadas na sede da ONU, em Nova York, nesta semana, durante um encontro de representantes governamentais sobre reformas na maneira de gerenciar os oceanos.
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Desertos marinhos
O Estreito de Long Island, entre essa ilha e o litoral de Connecticut, na costa leste dos Estados Unidos, é uma das centenas de zonas mortas nos mares do mundo - áreas em que fatores como a poluição baixam o nível de oxigênio a ponto de arruinar os ecossistemas locais
Joe Bergman prepara iscas para a captura de lagostas, uma das principais atividades econômicas da região do Estreito de Long Island. Desde 1999, os lagosteiros estão sendo duramente atingidos pelas mudanças ambientais verificadas na área.
O Estreito de Long Island é um braço de mar do Oceano Atlântico, entre os rios East (que banha Nova York, a oeste) e Connec- Uma população que ultrapassa 8 milhões de pessoas vive em sua bacia hidrográfica. Mas o estreito está poluído. Nova York e outros sistemas municipais de esgoto despejam há muito tempo poluentes como o nitrogênio nas águas, o que contribui para torná- las uma zona morta. Sedimentos poluídos do porto, do rio e da dragagem do canal foram jogados em quatro pontos do estreito. Oticut (a leste). A região proporciona benefícios econômicos e recreativos para milhões de pessoas, enquanto oferece hábitats naturais para mais de 170 espécies de peixes e dúzias de espécies de pássaros migratórios.
Uma população que ultrapassa 8 milhões de pessoas vive em sua bacia hidrográfica. Mas o estreito está poluído. Nova York e outros sistemas municipais de esgoto despejam há muito tempo poluentes como o nitrogênio nas águas, o que contribui para torná- las uma zona morta. Sedimentos poluídos do porto, do rio e da dragagem do canal foram jogados em quatro pontos do estreito.
Um estudo divulgado na revista Science mostrou que há um número crescente de áreas em oceanos ao redor do mundo onde existem níveis de oxigênio inferiores ao adequado. Os pesquisadores chamam essas áreas de "zonas mortas" (dead zones) e afirmam que elas estão danificando os ecossistemas marinhos. Uma das maiores áreas em que isso ocorre nos Estados Unidos é justamente o Estreito de Long Island, localizado entre a ilha e o litoral do Estado de Connecticut. Os pescadores profissionais de lagosta na área sofreram uma queda violenta de produção a partir de 1999, quando começaram a capturar armadilhas repletas de lagostas mortas - um fenômeno ainda inexplicado. A pesca no Estreito de Long Island caiu de 5,4 milhões de quilos, em 1998, para pouco mais de 1,3 milhão de quilos, em 2007. Conseqüentemente, o número de lagosteiros parados (muitos dos quais estão procurando outras maneiras de viver) e de armadilhas colocadas no estreito caiu. Em 1998, as armadilhas utilizadas somavam 500 mil; no ano passado, essa quantidade havia sido reduzida à metade.
Uma pesquisa recente descobriu que as substâncias químicas não filtradas provenientes da água do esgoto nas plantas de processamento e no escoamento do esgoto de áreas metropolitanas são grandes responsáveis pelo efeito "zona morta".
Joe Bergman puxa para o barco de Richard Sawyer armadilha com lagostas pescadas; outro lagosteiro, Ryan (esquerda), recolhe a armadilha, sob o olhar de Sawyer; Sawyer pilota seu barco; exemplar capturado é examinado. A família de Sawyer vive da pesca da lagosta no Estreito de Long Island desde os anos 1850.
O ESTREITO DE LONG ISLAND não é a única zona morta nos mares do mundo. Segundo um estudo de 2008 publicado na revista Science, feito pelo oceanógrafo Robert Diaz, do Virginia Institute of Marine Science, e pelo ecologista marinho Rutger Rosenberg, da Universidade de Gotemburgo (Suécia), já existem nos oceanos mais de 400 zonas mortas - regiões nas quais o baixo nível de oxigênio (denominado hipoxia), fenômeno derivado sobretudo de atividades humanas, pode ser insuficiente para dar suporte a peixes e outras formas de vida marinha. O nitrogênio e o fósforo contidos em fertilizantes químicos são a principal causa do desastre, mas ele também pode ter origem em resíduos industriais ou fenômenos naturais. Aqui estão algumas das demais regiões que sofrem com esse problema.
Mar Báltico - Quase que um grande lago (sua única ligação com o Mar do Norte é o Kattegat, estreito entre a Dinamarca e a Suécia), o Báltico é considerado a maior zona morta do mundo. Com cerca de 378.000 km2, ele sofre com a pouca circulação de água e o despejo de fertilizantes agrícolas em suas águas.
Golfo do México - Uma área de mais de 22.000 km2 recebe fertilizantes despejados ao longo da bacia do rio Mississippi - que cruza, vale lembrar, o Meio-Oeste, a mais importante região do agronegócio norte-americano. A pesca de camarão naquela parte do mar já está seriamente afetada.
Golfo da Califórnia - O excesso de fertilizantes utilizados na cultura de trigo no Vale Yaqui favorece a rápida proliferação de algas nas águas litorâneas desse vasto braço de mar no Oceano Pacífico, que o oceanógrafo Jacques Cousteau chamou de "o aquário do mundo". Uma pesquisa feita por cientistas da Universidade Stanford em 2005 definiu em 577 km2 a área ocupada por essa zona morta.
Chesapeake Bay - Essa baía de 11.600 km2 localizada na costa leste dos Estados Unidos foi uma das primeiras zonas mortas detectadas, ainda na década de 1970. A origem do problema são os resíduos de fertilizantes e despejos industriais levados pelos rios que desembocam na região. Uma atividade econômica particularmente afetada foi a indústria de ostras, um animal que serve como filtro natural para as águas da baía. Estudos mostraram que, enquanto nos tempos pré-coloniais as ostras precisavam de 3,3 dias para filtrar toda a água da baía, em 1998 esse tempo havia subido para 325 dias.
Baía de Guanabara - Uma das regiões mais belas do mundo, a Baía de Guanabara, com seus 412 km2, sofre com o despejo de esgoto não tratado e resíduos industriais, que têm afastado os peixes e os pássaros. As medidas anunciadas para recuperar a área ainda são tímidas.
Revista Planeta
O fim dos oceanos
Pescamos demais. Poluímos demais. Navegamos demais. E nem fazemos idéia do estrago que causamos nos mares
Por Claudia Carmello
Você nunca brincou de colocar uma concha no ouvido e ficar curtindo o barulho do mar, as ondas, a calmaria? Hoje seria bem mais realista colocar seu iPod no ouvido – e no volume máximo. Isso, sim, se aproxima do som que o oceano produz para boa parte das criaturas que vivem dentro dele. Um navio de carga emite, pelo estouro das bolhas que seus propulsores criam na água, ruídos de 150 a 195 decibéis. É mais do que uma britadeira (120 decibéis) ou um iPod no talo (114 decibéis). Imagine então o barulho produzido por 100 mil cargueiros que cruzam os mares durante o ano inteiro!
Qual o problema disso? É que os animais marinhos usam a audição para quase tudo – para encontrar o lugar de procriação, o parceiro sexual, a comida. E o mar virou uma linha cruzada dos diabos. Cientistas concluíram que a baleia-azul está ficando surda – escuta a distâncias até 90% menores do que antes. Já a orca está precisando gritar – produzir cantos mais longos para se fazer ouvir. Outras baleias aparecem mortas nas praias após testes militares com sonares caça-submarinos – seus 235 decibéis causam hemorragia nos ouvidos e nos olhos dos animais.
Os oceanos são 70% da superfície do planeta. Em volume, representam muito mais que isso. E sempre o vimos como uma vastidão infinita e onipotente. Mas não poderíamos estar mais enganados. Segundo a ONU, os mares estão em ruínas porque pescamos demais, produzimos lixo, gases do efeito estufa e esgoto demais e bagunçamos os ecossistemas. Pior: nem fazemos idéia do que está acontecendo lá embaixo em conseqüência disso. Ultimamente, aprendemos a pensar que o oceano está trasbordando de tanta água. Mas está acontecendo o contrário: ele está esvaziando, perdendo vida.
A PRÓXIMA FRONTEIRA
Conhecemos melhor o solo da Lua do que o fundo do mar, dizem os ecologistas. Nossa última fronteira são as águas profundas: entre 200 e 7 mil metros submarinos. Elas são 90% do volume dos oceanos e podem abrigar até 100 milhões de espécies – mais do que em todo o resto do planeta. A essa profundidade, não há luz para sustentar o fitoplâncton. Portanto, só animais e bactérias circulam. Até os 1 000 metros ainda há um lusco-fusco. Abaixo disso, a escuridão é total. Faz frio, de até 3oC.
SERES MUITO ESTRANHOS
As criaturas monstrengas das profundezas têm dentes ou olhos desproporcionais, protuberâncias que brilham no escuro, dimensões assustadoras – um tipo de água-viva chega a 40 metros de comprimento (algo como 13 andares)! Normalmente, esses seres vivem de restos caídos das águas de cima. Vivem muito tempo e deslocam-se e reproduzem-se com mais lentidão que os de superfície – por isso suas populações sofrem muito mais impacto com a sobrepesca.
Já comemos animais dessas profundezas. Por exemplo, o feioso olho-de-vidro, que nada a até 1 800 metros de profundidade, vive 150 anos e não procria antes dos 30 – por isso pescá-lo comercialmente
é tão pouco sustentável.
AS FAZENDAS MARINHAS
Uma solução encontrada para amenizar o declínio dos estoques de pesca é a aqüicultura, as fazendas marinhas. São hoje o setor da indústria alimentícia que mais cresce no mundo. Bem manejadas, as fazendas marinhas podem até aliviar a pressão sobre o oceano. Delas já saem 30% dos frutos do mar que comemos – salmão, truta, bacalhau, camarão.
No Brasil, os criadores de camarão desmatam e poluem imensas áreas de mangues preservados. Criadouros de salmão do Canadá sofreram uma explosão de parasitas que infestou o mar aberto e
as populações selvagens.PARA SABER MAIS
The Unnatural History of the Sea Callum Roberts, Island Press, 2007.
The End of the Line, de Charles Clover, University of California Press, 2007.
Extinção da vida marinha pode ser sem precedentes, diz estudo
DA BBC BRASIL
Um novo estudo indica que os ecossistemas marinhos enfrentam perigos ainda maiores do que os estimados até agora pelos cientistas e que correm risco de entrar em uma fase de extinção de espécies sem precedentes na história da humanidade.
O levantamento vem de especialistas que integram o IPSO (sigla em inglês de Programa Internacional sobre o Estado dos Oceanos), entidade formada por cientistas e especialistas no assunto.
IPSO/BBC
Substâncias poluidoras como plásticos, que estão sendo ingerido por peixes, contribuem com degradação
Eles concluíram que fatores como a pesca excessiva, a poluição e as mudanças climáticas estão agindo em conjunto de uma forma que não havia sido antecipada.
A pesquisa reuniu diferentes disciplinas, incluindo ambientalistas com especialização em recifes de corais, toxicologistas e cientistas especializados em pesca.
"As conclusões são chocantes. Estamos vendo mudanças que estão acontecendo mais rápido do que estávamos esperando e de formas que não esperávamos que fossem acontecer por centenas de anos'', disse o diretor científico do IPSO, Alex Rogers, também professor da Universidade de Oxford.
PLÁSTICO
Entre as mudanças que estão ocorrendo antes do esperado estão o derretimento da camada de gelo no Ártico, na Groenlândia e na Antártida, o aumento do nível dos oceanos e a liberação de metano no leito do mar.
O estudo observou também que existem efeitos em cadeia provocados pela ação de diferentes poluentes. Alguns deles permanecem nos oceanos por estarem presos a pequenas partículas de plástico que foram parar no leito do oceano. Com isso, há um aumento do poluentes que são consumidos por peixes que vivem no fundo do mar.
Partículas de plástico são responsáveis também por transportar algas de um lado para outro, contribuindo para a proliferação de algas tóxicas, o que também é provocado pelo influxo para os oceanos de nutrientes e poluentes provenientes de áreas agrícolas.
O levantamento descreveu ainda como a acidificação do oceano, o aquecimento global e a poluição estão agindo de forma conjunta para aumentar as ameaças aos recifes de corais, tanto que 75% dos corais mundiais correm o risco de sofrer um severo declínio.
CICLOS
A vida na Terra já enfrentou cinco "ciclos de extinção em massa'' causados por eventos como o impacto de asteróides, e muitos cientistas acreditam que o impacto de diferentes ações exercidas pelo homem poderá contribuir para um sexto ciclo.
"Ainda contamos com boa parte da biodiversidade mundial, mas o ritmo atual da extinção é muito mais alto [do que no passado] e o que estamos enfrentando é, certamente, um evento de extinção global significativa'', afirma o professor Rogers.
O relatório observa ainda que eventos anteriores de extinção em massa tiveram ligação com tendências que estão ocorrendo atualmente, como distúrbios no ciclo de carbono, acidificação e baixa concentração de oxigênio na água.
Os níveis de CO2 que estão sendo absorvidos pelos oceanos já são bem mais altos que aqueles registrados durante a grande extinção de espécies marinhas que ocorreu há 55 milhões de anos, afirma a pesquisa.
Entre as medidas que o estudo aconselha sejam tomadas imediatamente está o fim da pesca predatória, especialmente em alto-mar, onde atualmente há pouca regulamentação. Outras medidas envolvem mapear e depois reduzir a quantidade de poluentes --como plásticos, fertilizantes agrícolas e detritos humanos-- e reduzir de forma acentuada os gases do efeito estufa.
As conclusões do relatório serão apresentadas na sede da ONU, em Nova York, nesta semana, durante um encontro de representantes governamentais sobre reformas na maneira de gerenciar os oceanos.
Os oceanos à beira da catástrofe
Os oceanos à beira da catástrofe
A vida marinha encara a extinção em massa "dentro de uma geração humana" O estado dos mares é "muito pior do que pensávamos", diz um painel global de cientistas.
Por Michael McCarthy
Os oceanos do mundo encaram uma perda de espécies sem precedentes, comparável às grandes extinções em massa da pré-história, sugere hoje um importante relatório. Os mares estão se degenerando muito mais rapidamente do que qualquer um havia previsto, diz o relatório, por causa do impacto cumulativo de um número de severas agressões individuais, que vão do aquecimento do clima e a acidificação da água marinha até a poluição química disseminada e a grosseira sobrepesca.
A combinação desses fatores agora ameaça o ambiente marinho com uma catástrofe “sem precedentes na história humana”, de acordo com o relatório de um painel de cientistas marinhos de ponta, reunidos em Oxford no começo deste ano pelo Programa Internacional sobre o Estado do Oceano (IPSO) e pela União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN).
A dura sugestão feita pelo painel é que a extinção potencial de espécies, de peixes grandes, num extremo da escala, até minúsculos corais, na outra, é diretamente comparável às cinco grandes extinções em massa do registro geológico, durante as quais boa parte da vida do mundo morreu. Elas vão do “evento” Ordoviciano-Siluriano de 450 milhões de anos atrás à extinção Cretáceo-Terciária de 65 milhões de anos atrás, que foi aquela que, acredita-se, extinguiu os dinossauros. Acredita-se que o pior desses eventos, no fim do período Permiano, 251 milhões de anos atrás, eliminou 70% das espécies terrestres e 96% de todas as espécies marinhas.
O painel de 27 cientistas, que levou em consideração as pesquisas mais recentes em todas as áreas da ciência marinha, concluiu que “uma combinação de agressões está criando as condições associadas a todas as principais extinções de espécies na história da Terra”. Eles também concluíram que:
A intensidade e a rapidez da degeneração dos oceanos é muito maior que qualquer um havia previsto.
Muitos dos impactos negativos que foram identificados são piores que as piores previsões.
Os primeiros passos de uma significativa extinção global já podem ter sido dados.
“As descobertas são chocantes”, disse o Dr. Alex Rogers, professor de biologia da conservação na Universidade Oxford e diretor científico do IPSO. “Quando consideramos o efeito cumulativo do que a humanidade faz aos oceanos, as implicações tornam-se muito piores do que havíamos percebido individualmente”.
“Esta é uma situação séria, que exige ação inequívoca em todos os níveis. São consequências para a humanidade que terão impacto durante o nosso tempo de vida e, pior, durante o tempo de vida dos nossos filhos e das gerações vindouras”. Ao considerar as pesquisas recentes, o painel de especialistas “encontrou indícios firmes” de que os efeitos da mudança climática, junto com outros impactos induzidos pelos humanos, como a sobrepesca e o esgotamento de nutrientes devido à agricultura, já provocaram um declínio dramático na saúde dos oceanos.
Não apenas há declínio severo em muitas espécies de peixes, ao ponto de extinção comercial em alguns casos, e uma extinção regional de alguns tipos de habitat em ritmo “sem paralelo”, como é o caso dos mangues e pradarias marinhas, mas alguns ecossistemas inteiros, como os recifes corais, podem desaparecer dentro de uma geração.
O relatório diz: “A crescente hipoxia [baixo nível de oxigênio] e anóxia [ausência de oxigênio, conhecida como zonas marinhas mortas], combinadas com o aquecimento do oceano e a acidificação, são os três fatores que estiveram presentes em todos os eventos de extinção em massa na história da Terra”.
“Há fortes indícios científicos de que esses três fatores estão se combinando no oceano novamente, exacerbados por múltiplas agressões severas. O painel científico concluiu que um novo acontecimento de extinção é inevitável se a atual trajetória de danos continua”.
O painel apontou uma série de indicadores de como a situação é grave. Disse, por exemplo, que um único descoloramento em massa de corais em 1998 matou cerca de 16% de todos os recifes corais do mundo, e apontou que a sobrepesca já reduziu alguns estoques de peixes comerciais e populações de espécies “bycatch” (capturadas involuntariamente) em mais de 90%.
O painel também revelou que novas pesquisas científicas sugerem que os poluidores, incluindo-se os químicos que retardam a combustão e os almíscares sintéticos encontrados em detergentes, estão sendo acompanhados nos oceanos polares e que esses químicos podem ser absorvidos por partículas plásticas minúsculas no oceano que são, por sua vez, ingeridas pelos peixes que se alimentam nas profundezas.
As partículas plásticas também ajudam no transporte de algas, aumentando a ocorrência de florescimentos algais tóxicos – que também são causados pelo influxo de poluição rica em nutrientes vindas das terras agricultadas.
Os especialistas concordaram que, quando estas e outras ameaças se somam, o oceano e seus ecossistemas são incapazes de se recuperar, já que são constantemente bombardeados com ataques múltiplos.
O relatório estabelece uma série de recomendações e convoca Estados, corpos regionais e as Nações Unidas para que coloquem em vigor medidas de conservação dos ecossistemas oceânicos, e em particular exige a adoção urgente de melhor governança dos altos-mares que estão, em larga medida, desprotegidos.
“Os principais especialistas do mundo em oceanos estão surpresos com a magnitude e a intensidade das mudanças que estamos observando”, diz Dan Laffoley, conselheiro sênior de ciência marinha e da conservação no IUCN. “Os desafios para o futuro dos oceanos são vastos mas, ao contrário das gerações anteriores, nós agora sabemos o que deve acontecer. A hora de proteger o coração do nosso planeta é agora, hoje e urgente”.
As conclusões do relatório serão apresentadas na ONU esta semana, quando os delegados iniciarem as discussões sobre a reforma da governança dos oceanos.
Michael McCarthy é editor de meio ambiente do jornal inglês "The Independent".
TRadução de Idelber Avelar. Foto de http://www.flickr.com/photos/jeffgunn/.
Revista Fórum
De olho no mar
País amplia investimentos em estudos sobre o oceano, mas ainda há muito a conhecer e explorar
EVANILDO DA SILVEIRA
Arte PB |
Não há como negar a importância do mar ao longo da história do Brasil. Foi por ele que chegaram seus descobridores e, mais tarde, os invasores, franceses e holandeses. Hoje, é a via de acesso de 95% de seu comércio exterior e o lugar de onde provêm 85% do petróleo que move a economia do país – 1,9 milhão de barris por dia, volume que deve aumentar com a produção da camada pré-sal. Não é de estranhar, portanto, que essa porção do território nacional venha recebendo cada vez mais atenção, tanto do governo como das instituições de pesquisa e de órgãos militares. Na verdade, nunca foram investidos tantos recursos em estudos oceanográficos – insuficientes ainda, vale ressaltar, uma vez que o Brasil pouco conhece e explora suas águas territoriais e as riquezas potenciais que elas comportam.
A 62ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), um dos maiores eventos científicos do país, realizada em julho de 2010 em Natal, teve como tema central “Ciências do Mar: Herança para o Futuro”. De 25 a 30 daquele mês, dezenas de pesquisadores de instituições de todo o Brasil e agentes governamentais, entre eles representantes dos ministérios da Ciência e Tecnologia (MCT) e do Meio Ambiente (MMA), além de militares da Marinha, apresentaram e discutiram os mais diversos aspectos relacionados ao mar.
Um amplo estudo sobre o oceano brasileiro e seus recursos naturais realizado em 2007 pelo Centro de Gestão e Estudos Estratégicos (CGEE) e pelo então Núcleo de Assuntos Estratégicos (NAE) da presidência da República é outro indicativo da importância que o país vem dando à questão. O trabalho resultou no relatório em forma de livro Mar e Ambientes Costeiros, lançado recentemente. Realizado sob a coordenação de três pesquisadores das áreas de oceanografia física, biológica e geológica e com a participação de mais de 50 especialistas nessas e em ciências afins, o estudo teve como objetivo apontar prioridades “para orientar o estabelecimento de estratégias governamentais relativas ao desenvolvimento científico e tecnológico em temas ligados ao mar”.
Além de apresentar indicações sobre a melhor maneira de explorar de forma sustentável os recursos marinhos existentes em áreas de interesse para o Brasil no Atlântico Sul e Equatorial, o trabalho traz subsídios à pesquisa necessária para elucidar o papel de regiões oceânicas no clima do território nacional em terra. Para dar uma finalidade prática ao estudo, seus realizadores fazem, no final, três recomendações: criação de uma rede nacional de ciências e tecnologia marinha, manutenção e melhoria da infraestrutura laboratorial dos centros existentes e implantação de um instituto nacional de oceanografia operacional.
Pelo menos parte dessas sugestões deverá se tornar realidade em breve. Durante a reunião da SBPC em Natal, o ministro da Ciência e Tecnologia, Sergio Rezende, anunciou o lançamento ainda neste ano de editais para a criação de dois institutos nacionais de ciência e tecnologia voltados para pesquisas do mar. Segundo Rezende, uma das instituições se dedicará a estudos sobre os litorais norte e nordeste e a outra às regiões costeiras do sul e sudeste. A princípio, ambas receberão R$ 30 milhões para financiar sua implantação e o início das pesquisas.
Tímida fração
O país vem, sistematicamente, destinando recursos a estudos sobre o oceano. “A crescente preocupação com as mudanças climáticas, as descobertas de valor biotecnológico de organismos marinhos e a presença de petróleo na plataforma continental são exemplos de motivações para o financiamento de pesquisas oceanográficas”, diz Maria Cordélia Machado, coordenadora para Mar e Antártica do MCT. “Os investimentos do ministério e seus parceiros vêm crescendo ao longo do tempo e tiveram elevação significativa nos dois últimos anos. Em 2008, por exemplo, houve um aumento de 50% em relação a 2007. Já 2009 foi um marco para as ciências do mar no Brasil, com um crescimento dos recursos financeiros de 122% em relação ao ano anterior.”
Em números absolutos, o valor aplicado passou de R$ 5,5 milhões em 2004 para R$ 23 milhões em 2009, ano que teve o maior número de editais lançados para projetos em oceanografia. Além dos recursos provenientes do MCT, há outros, dispersos e, por isso, difíceis de mensurar. “Ainda não contamos com um programa de ciências do mar, que permita centralizar os investimentos da área e garantir periodicidade no que se refere ao lançamento de editais”, explica Maria Cordélia.
Segundo o pesquisador Fábio Hazin, diretor do Departamento de Pesca e Aquicultura da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE) e um dos coordenadores do estudo do CGEE, é preciso reconhecer que as pesquisas na área de ciências do mar no país tiveram um grande impulso nas duas últimas décadas, com alguns projetos estruturadores importantes, entre os quais o Programa de Avaliação do Potencial Sustentável de Recursos Vivos na Zona Econômica Exclusiva (Revizee) e o Programa de Avaliação da Potencialidade Mineral da Plataforma Continental Jurídica Brasileira (Remplac). Paralelamente, vem ocorrendo uma ampliação dos cursos de nível superior com vocação na área, como engenharia de pesca, oceanografia e biologia marinha.
Ainda assim, as necessidades são maiores que os recursos para uma exploração eficiente das águas territoriais brasileiras. “Infelizmente, diante das dimensões do mar nacional e, acima de tudo, do potencial de benefícios que ele pode trazer ao país, é preciso reconhecer também que o que já foi feito é uma tímida fração do que ainda resta por fazer”, diz Hazin. De acordo com ele, um dos grandes problemas para o desenvolvimento das ciências do mar no Brasil é a falta de infraestrutura, em particular de embarcações de pesquisa e treinamento, sem as quais os estudos pesqueiros e oceanográficos, em grande parte dos casos, simplesmente não podem ser realizados.
O físico Edmo Campos, da Universidade de São Paulo (USP), Ph.D. em meteorologia e oceanografia física, concorda. Segundo ele, o Brasil está muito atrasado, na comparação com várias outras nações. “Historicamente, a pesquisa oceânica no país tem se limitado às zonas costeiras, onde não é necessário o uso de embarcações oceanográficas de grande porte”, explica. “O pouco que se sabe sobre regiões do Atlântico mais ao largo é fruto do esforço de estudos empreendidos pelo Instituto de Oceanografia da Universidade de São Paulo (IO-USP), a bordo do navio Professor Besnard, e da grande contribuição da Marinha do Brasil, que fornece embarcações para pesquisas em águas mais profundas.”
Recursos variados
Hazin, que também é presidente da Associação Brasileira de Engenharia de Pesca, lembra outro aspecto no qual o país tem deficiências. “Conhecemos pouco e exploramos mal nossas águas territoriais, tanto na pesca costeira como oceânica, por razões diversas”, diz. “No caso da primeira, a maioria dos recursos pesqueiros já se encontram sobre-explorados e muitos deles estão em declínio, principalmente pela degradação dos ecossistemas devido à poluição urbana (esgoto doméstico não tratado), agrícola (fertilizantes e defensivos) e industrial, além da pesca excessiva e desordenada.”
Em relação à pesca oceânica, a participação brasileira na captura de atuns e espécies afins, por exemplo, é ainda tímida. Segundo Hazin, isso acontece, em grande parte, devido ao fato de o país não dispor de uma frota capaz de explorar economicamente esses recursos – uma deficiência agravada pela falta de tecnologia e de mão de obra especializada.
As riquezas que podem ser extraídas do oceano, no entanto, vão muito além de petróleo, gás e pescados. Há outros recursos minerais e vivos que podem ser aproveitados. Um exemplo são as imensas reservas dos chamados granulados marinhos, que nada mais são que areia e cascalho. “Esses depósitos cada vez mais despertam interesse, tendo em vista sua utilização na construção civil”, explica o oceanólogo Lauro Calliari, da Universidade Federal do Rio Grande (Furg). “Esse material, cuja importância aumenta à medida que escasseia no continente, é também empregado na recuperação de praias, especialmente aquelas próximas a centros urbanos ou locais turísticos que estão sofrendo erosão acelerada.”
Entre os recursos minerais, há ainda os chamados nódulos polimetálicos, que são bolotas com altas concentrações de metais como óxidos de ferro e manganês, além de outros elementos metálicos economicamente importantes, como níquel, cobre e cobalto. Eles estão espalhados pelo solo marinho, mas ainda não existe tecnologia para sua exploração sustentável e economicamente viável. Vários países, no entanto, inclusive o Brasil, estão estudando formas de aproveitar esse material.
De acordo com a Marinha, o oceano conta ainda com depósitos de minerais pesados valiosos, derivados da erosão de rochas continentais, como ouro, platina, magnetita, óxidos de titânio e mesmo diamantes, além de outros, que já são explorados em diversas partes do mundo. “Tailândia, Malásia e Indonésia, por exemplo, extraem cassiterita em suas plataformas continentais há mais de um século”, informa o Centro de Comunicação Social da Marinha. “Japão e Nova Zelândia retiram magnetita do mar. No Alasca e no Oregon, nos Estados Unidos, a exploração do ouro é feita nas praias.”
Além dos minerais
A par dos recursos energéticos (petróleo e gás), minerais e pesqueiros, Hazin lembra que o mar é uma importantíssima fonte de renda baseada no turismo e no lazer para a população. Além disso, não se pode esquecer seu potencial em termos de recursos vivos. “A vida surgiu no oceano e ainda é lá que reside a maior parte da biodiversidade do planeta”, diz. “É algo que não só tem um valor intrínseco incalculável como pode se traduzir em riquezas para o país por meio da biotecnologia.”
As perspectivas são amplas. Muitos organismos marinhos, como algas e esponjas, podem fornecer substâncias para a produção de cosméticos e novos medicamentos. A primeira droga para tratamento eficaz da aids, o AZT, por exemplo, teve origem numa substância extraída de uma esponja. Entre as algas, além das espécies usadas na fabricação de produtos de beleza, há outras que servem como suplementos alimentares.
Edmo Campos faz questão de ressaltar outro aspecto: “Para o Brasil, com seus mais de 8 mil quilômetros de costa, entender os impactos de mudanças no Atlântico Sul em decorrência das variações do clima é de fundamental importância”, explica. É por essa razão também que o físico do IO-USP Belmiro Mendes de Castro, um dos coordenadores do estudo do CGEE, diz que o país deve começar a fazer a chamada oceanografia operacional, que se caracteriza pela coleta contínua e automática de dados do mar. “Para isso, seria necessário implantar uma rede de equipamentos como a que já existe na área de meteorologia. Entre as informações colhidas estariam, por exemplo, temperatura da água, salinidade, correntes, parâmetros químicos, oxigenação e o nível do oceano.”
Amazônia Azul
Com a finalidade de realçar a importância estratégica do oceano, a Marinha designou como Amazônia Azul a região compreendida pelas águas jurisdicionais brasileiras. Como alerta Hazin, não se trata de termo científico. “É uma expressão de conotação política, que tem como objetivo chamar a atenção da sociedade, por meio de uma analogia com a Amazônia em terra, para a imensidão e a riqueza do mar”, explica o pesquisador. “Nesse sentido, acho que é mais do que adequada.”
Até 3 de setembro deste ano, a Amazônia Azul tinha cerca de 3,6 milhões de quilômetros quadrados. Nesse dia, por meio de uma resolução da Comissão Interministerial para os Recursos do Mar (Cirm), o Brasil colocou sob sua proteção mais 960 mil quilômetros quadrados – área um pouco maior que a do estado de Mato Grosso –, que vinham sendo pleiteados na Comissão de Limites da Plataforma Continental (CLPC) da Organização das Nações Unidas (ONU). Com base nessa decisão, nenhuma empresa ou estado estrangeiro poderá explorar essa área da plataforma continental sem autorização do governo brasileiro. Dessa forma, as águas jurisdicionais do Brasil passam a ter 4,5 milhões de quilômetros quadrados – o que corresponde a 52% da área continental do país. Para efeito de comparação, a Amazônia Legal tem aproximadamente 5,2 milhões de quilômetros quadrados, equivalentes a 61% do território terrestre nacional, que é de 8,5 milhões de quilômetros quadrados.
A história da delimitação da extensão das águas jurisdicionais dos países litorâneos começou na metade do século passado. Até então, todos aceitavam a existência do denominado mar territorial, com 3 milhas náuticas ou marítimas de largura (1 milha marítima equivale a 1.852 metros), a contar da linha da costa. Esse limite correspondia ao alcance dos canhões da época, instalados nas fortificações que existiam no litoral de cada nação. Aos poucos, no entanto, os Estados costeiros começaram a perceber que o oceano continha muitas riquezas e passaram a discutir formas de ampliar seus domínios nessa massa líquida.
Por isso, no final da década de 1950, a ONU iniciou a elaboração do que viria a ser, mais tarde, a Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do Mar (CNUDM). O Brasil participou de todas as reuniões, com representantes do Ministério das Relações Exteriores e da Marinha. Em 1982, a CNUDM ficou pronta, mas só passou a vigorar para o Brasil em novembro de 1994, quando o país a ratificou. Até hoje, 156 nações fizeram o mesmo. Entre os que ainda não a assinaram estão os Estados Unidos.
Expansão
Entre outras determinações, a convenção estabeleceu que o mar territorial dos Estados costeiros teria 12 milhas de largura a contar da costa, mais uma zona contígua do mesmo tamanho, a partir do limite externo do primeiro. A maior novidade da convenção, porém, foi o estabelecimento da zona econômica exclusiva (ZEE), com 200 milhas de largura, englobando, portanto, as duas primeiras áreas. Os direitos que o país tem sobre cada uma dessas regiões são diferentes, no entanto. No mar territorial e no espaço aéreo a ele sobrejacente a soberania é plena.
O mesmo não ocorre em relação à zona contígua e à ZEE. A primeira funciona como uma área de proteção ao mar territorial e, embora nesse caso a soberania do Estado não seja plena, ele tem a obrigação de fiscalizá-la para evitar e reprimir infrações a normas sanitárias, de imigração e outras vigentes em seu território. Na ZEE, é prerrogativa do país que a detém a exploração científica e econômica dos recursos vivos e não vivos do subsolo, do solo e das águas. Se não tiver condições de fazer isso, no entanto, não pode impedir que outras nações o façam. Tanto na zona contígua como na ZEE, é obrigatória a permissão para trânsito de navios, inclusive de guerra, de outras bandeiras.
A CNUDM estabeleceu ainda que no prazo de dez anos, a partir de sua ratificação, todo país poderia solicitar o aumento da área jurisdicional de sua plataforma continental até um limite máximo de 350 milhas. Nessa nova extensão, o Estado costeiro tem o direito de explorar os recursos do solo e subsolo, mas não os vivos da camada líquida. De olho nessa potencial riqueza, o Brasil foi o segundo a apresentar uma proposta de expansão de suas águas – o primeiro foi a Rússia –, em setembro de 2004.
Para elaborá-la e embasá-la, foi criado em 1989 o Plano de Levantamento da Plataforma Continental (Leplac), que durante mais de dez anos reuniu dados para justificar a pretensão do país. Depois de analisá-la, a CLPC não concordou com a reivindicação relativa a cerca de 190 mil quilômetros quadrados dos 960 mil pretendidos. O Brasil, por sua vez, não aceitou a decisão da comissão e tem o direito de apresentar nova proposta, com mais dados e informações sobre a área que pleiteia. A previsão é de que isso ocorreria ainda neste ano, e a CLPC deverá se pronunciar até 2012. Por ora, com a resolução de 3 de setembro, o Brasil não permitirá explorações estrangeiras nesses 960 mil quilômetros quadrados, até que saia a decisão final da ONU.
Revista Problemas Brasileiros
Quente e imprevisível
Edição Impressa 177 - Novembro 2010
De olho no mar
País amplia investimentos em estudos sobre o oceano, mas ainda há muito a conhecer e explorar
EVANILDO DA SILVEIRA
Arte PB
Não há como negar a importância do mar ao longo da história do Brasil. Foi por ele que chegaram seus descobridores e, mais tarde, os invasores, franceses e holandeses. Hoje, é a via de acesso de 95% de seu comércio exterior e o lugar de onde provêm 85% do petróleo que move a economia do país – 1,9 milhão de barris por dia, volume que deve aumentar com a produção da camada pré-sal. Não é de estranhar, portanto, que essa porção do território nacional venha recebendo cada vez mais atenção, tanto do governo como das instituições de pesquisa e de órgãos militares. Na verdade, nunca foram investidos tantos recursos em estudos oceanográficos – insuficientes ainda, vale ressaltar, uma vez que o Brasil pouco conhece e explora suas águas territoriais e as riquezas potenciais que elas comportam.
A 62ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), um dos maiores eventos científicos do país, realizada em julho de 2010 em Natal, teve como tema central “Ciências do Mar: Herança para o Futuro”. De 25 a 30 daquele mês, dezenas de pesquisadores de instituições de todo o Brasil e agentes governamentais, entre eles representantes dos ministérios da Ciência e Tecnologia (MCT) e do Meio Ambiente (MMA), além de militares da Marinha, apresentaram e discutiram os mais diversos aspectos relacionados ao mar.
Um amplo estudo sobre o oceano brasileiro e seus recursos naturais realizado em 2007 pelo Centro de Gestão e Estudos Estratégicos (CGEE) e pelo então Núcleo de Assuntos Estratégicos (NAE) da presidência da República é outro indicativo da importância que o país vem dando à questão. O trabalho resultou no relatório em forma de livro Mar e Ambientes Costeiros, lançado recentemente. Realizado sob a coordenação de três pesquisadores das áreas de oceanografia física, biológica e geológica e com a participação de mais de 50 especialistas nessas e em ciências afins, o estudo teve como objetivo apontar prioridades “para orientar o estabelecimento de estratégias governamentais relativas ao desenvolvimento científico e tecnológico em temas ligados ao mar”.
Além de apresentar indicações sobre a melhor maneira de explorar de forma sustentável os recursos marinhos existentes em áreas de interesse para o Brasil no Atlântico Sul e Equatorial, o trabalho traz subsídios à pesquisa necessária para elucidar o papel de regiões oceânicas no clima do território nacional em terra. Para dar uma finalidade prática ao estudo, seus realizadores fazem, no final, três recomendações: criação de uma rede nacional de ciências e tecnologia marinha, manutenção e melhoria da infraestrutura laboratorial dos centros existentes e implantação de um instituto nacional de oceanografia operacional.
Pelo menos parte dessas sugestões deverá se tornar realidade em breve. Durante a reunião da SBPC em Natal, o ministro da Ciência e Tecnologia, Sergio Rezende, anunciou o lançamento ainda neste ano de editais para a criação de dois institutos nacionais de ciência e tecnologia voltados para pesquisas do mar. Segundo Rezende, uma das instituições se dedicará a estudos sobre os litorais norte e nordeste e a outra às regiões costeiras do sul e sudeste. A princípio, ambas receberão R$ 30 milhões para financiar sua implantação e o início das pesquisas.
Tímida fração
O país vem, sistematicamente, destinando recursos a estudos sobre o oceano. “A crescente preocupação com as mudanças climáticas, as descobertas de valor biotecnológico de organismos marinhos e a presença de petróleo na plataforma continental são exemplos de motivações para o financiamento de pesquisas oceanográficas”, diz Maria Cordélia Machado, coordenadora para Mar e Antártica do MCT. “Os investimentos do ministério e seus parceiros vêm crescendo ao longo do tempo e tiveram elevação significativa nos dois últimos anos. Em 2008, por exemplo, houve um aumento de 50% em relação a 2007. Já 2009 foi um marco para as ciências do mar no Brasil, com um crescimento dos recursos financeiros de 122% em relação ao ano anterior.”
Em números absolutos, o valor aplicado passou de R$ 5,5 milhões em 2004 para R$ 23 milhões em 2009, ano que teve o maior número de editais lançados para projetos em oceanografia. Além dos recursos provenientes do MCT, há outros, dispersos e, por isso, difíceis de mensurar. “Ainda não contamos com um programa de ciências do mar, que permita centralizar os investimentos da área e garantir periodicidade no que se refere ao lançamento de editais”, explica Maria Cordélia.
Segundo o pesquisador Fábio Hazin, diretor do Departamento de Pesca e Aquicultura da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE) e um dos coordenadores do estudo do CGEE, é preciso reconhecer que as pesquisas na área de ciências do mar no país tiveram um grande impulso nas duas últimas décadas, com alguns projetos estruturadores importantes, entre os quais o Programa de Avaliação do Potencial Sustentável de Recursos Vivos na Zona Econômica Exclusiva (Revizee) e o Programa de Avaliação da Potencialidade Mineral da Plataforma Continental Jurídica Brasileira (Remplac). Paralelamente, vem ocorrendo uma ampliação dos cursos de nível superior com vocação na área, como engenharia de pesca, oceanografia e biologia marinha.
Ainda assim, as necessidades são maiores que os recursos para uma exploração eficiente das águas territoriais brasileiras. “Infelizmente, diante das dimensões do mar nacional e, acima de tudo, do potencial de benefícios que ele pode trazer ao país, é preciso reconhecer também que o que já foi feito é uma tímida fração do que ainda resta por fazer”, diz Hazin. De acordo com ele, um dos grandes problemas para o desenvolvimento das ciências do mar no Brasil é a falta de infraestrutura, em particular de embarcações de pesquisa e treinamento, sem as quais os estudos pesqueiros e oceanográficos, em grande parte dos casos, simplesmente não podem ser realizados.
O físico Edmo Campos, da Universidade de São Paulo (USP), Ph.D. em meteorologia e oceanografia física, concorda. Segundo ele, o Brasil está muito atrasado, na comparação com várias outras nações. “Historicamente, a pesquisa oceânica no país tem se limitado às zonas costeiras, onde não é necessário o uso de embarcações oceanográficas de grande porte”, explica. “O pouco que se sabe sobre regiões do Atlântico mais ao largo é fruto do esforço de estudos empreendidos pelo Instituto de Oceanografia da Universidade de São Paulo (IO-USP), a bordo do navio Professor Besnard, e da grande contribuição da Marinha do Brasil, que fornece embarcações para pesquisas em águas mais profundas.”
Recursos variados
Hazin, que também é presidente da Associação Brasileira de Engenharia de Pesca, lembra outro aspecto no qual o país tem deficiências. “Conhecemos pouco e exploramos mal nossas águas territoriais, tanto na pesca costeira como oceânica, por razões diversas”, diz. “No caso da primeira, a maioria dos recursos pesqueiros já se encontram sobre-explorados e muitos deles estão em declínio, principalmente pela degradação dos ecossistemas devido à poluição urbana (esgoto doméstico não tratado), agrícola (fertilizantes e defensivos) e industrial, além da pesca excessiva e desordenada.”
Em relação à pesca oceânica, a participação brasileira na captura de atuns e espécies afins, por exemplo, é ainda tímida. Segundo Hazin, isso acontece, em grande parte, devido ao fato de o país não dispor de uma frota capaz de explorar economicamente esses recursos – uma deficiência agravada pela falta de tecnologia e de mão de obra especializada.
As riquezas que podem ser extraídas do oceano, no entanto, vão muito além de petróleo, gás e pescados. Há outros recursos minerais e vivos que podem ser aproveitados. Um exemplo são as imensas reservas dos chamados granulados marinhos, que nada mais são que areia e cascalho. “Esses depósitos cada vez mais despertam interesse, tendo em vista sua utilização na construção civil”, explica o oceanólogo Lauro Calliari, da Universidade Federal do Rio Grande (Furg). “Esse material, cuja importância aumenta à medida que escasseia no continente, é também empregado na recuperação de praias, especialmente aquelas próximas a centros urbanos ou locais turísticos que estão sofrendo erosão acelerada.”
Entre os recursos minerais, há ainda os chamados nódulos polimetálicos, que são bolotas com altas concentrações de metais como óxidos de ferro e manganês, além de outros elementos metálicos economicamente importantes, como níquel, cobre e cobalto. Eles estão espalhados pelo solo marinho, mas ainda não existe tecnologia para sua exploração sustentável e economicamente viável. Vários países, no entanto, inclusive o Brasil, estão estudando formas de aproveitar esse material.
De acordo com a Marinha, o oceano conta ainda com depósitos de minerais pesados valiosos, derivados da erosão de rochas continentais, como ouro, platina, magnetita, óxidos de titânio e mesmo diamantes, além de outros, que já são explorados em diversas partes do mundo. “Tailândia, Malásia e Indonésia, por exemplo, extraem cassiterita em suas plataformas continentais há mais de um século”, informa o Centro de Comunicação Social da Marinha. “Japão e Nova Zelândia retiram magnetita do mar. No Alasca e no Oregon, nos Estados Unidos, a exploração do ouro é feita nas praias.”
Além dos minerais
A par dos recursos energéticos (petróleo e gás), minerais e pesqueiros, Hazin lembra que o mar é uma importantíssima fonte de renda baseada no turismo e no lazer para a população. Além disso, não se pode esquecer seu potencial em termos de recursos vivos. “A vida surgiu no oceano e ainda é lá que reside a maior parte da biodiversidade do planeta”, diz. “É algo que não só tem um valor intrínseco incalculável como pode se traduzir em riquezas para o país por meio da biotecnologia.”
As perspectivas são amplas. Muitos organismos marinhos, como algas e esponjas, podem fornecer substâncias para a produção de cosméticos e novos medicamentos. A primeira droga para tratamento eficaz da aids, o AZT, por exemplo, teve origem numa substância extraída de uma esponja. Entre as algas, além das espécies usadas na fabricação de produtos de beleza, há outras que servem como suplementos alimentares.
Edmo Campos faz questão de ressaltar outro aspecto: “Para o Brasil, com seus mais de 8 mil quilômetros de costa, entender os impactos de mudanças no Atlântico Sul em decorrência das variações do clima é de fundamental importância”, explica. É por essa razão também que o físico do IO-USP Belmiro Mendes de Castro, um dos coordenadores do estudo do CGEE, diz que o país deve começar a fazer a chamada oceanografia operacional, que se caracteriza pela coleta contínua e automática de dados do mar. “Para isso, seria necessário implantar uma rede de equipamentos como a que já existe na área de meteorologia. Entre as informações colhidas estariam, por exemplo, temperatura da água, salinidade, correntes, parâmetros químicos, oxigenação e o nível do oceano.”
Amazônia Azul
Com a finalidade de realçar a importância estratégica do oceano, a Marinha designou como Amazônia Azul a região compreendida pelas águas jurisdicionais brasileiras. Como alerta Hazin, não se trata de termo científico. “É uma expressão de conotação política, que tem como objetivo chamar a atenção da sociedade, por meio de uma analogia com a Amazônia em terra, para a imensidão e a riqueza do mar”, explica o pesquisador. “Nesse sentido, acho que é mais do que adequada.”
Até 3 de setembro deste ano, a Amazônia Azul tinha cerca de 3,6 milhões de quilômetros quadrados. Nesse dia, por meio de uma resolução da Comissão Interministerial para os Recursos do Mar (Cirm), o Brasil colocou sob sua proteção mais 960 mil quilômetros quadrados – área um pouco maior que a do estado de Mato Grosso –, que vinham sendo pleiteados na Comissão de Limites da Plataforma Continental (CLPC) da Organização das Nações Unidas (ONU). Com base nessa decisão, nenhuma empresa ou estado estrangeiro poderá explorar essa área da plataforma continental sem autorização do governo brasileiro. Dessa forma, as águas jurisdicionais do Brasil passam a ter 4,5 milhões de quilômetros quadrados – o que corresponde a 52% da área continental do país. Para efeito de comparação, a Amazônia Legal tem aproximadamente 5,2 milhões de quilômetros quadrados, equivalentes a 61% do território terrestre nacional, que é de 8,5 milhões de quilômetros quadrados.
A história da delimitação da extensão das águas jurisdicionais dos países litorâneos começou na metade do século passado. Até então, todos aceitavam a existência do denominado mar territorial, com 3 milhas náuticas ou marítimas de largura (1 milha marítima equivale a 1.852 metros), a contar da linha da costa. Esse limite correspondia ao alcance dos canhões da época, instalados nas fortificações que existiam no litoral de cada nação. Aos poucos, no entanto, os Estados costeiros começaram a perceber que o oceano continha muitas riquezas e passaram a discutir formas de ampliar seus domínios nessa massa líquida.
Por isso, no final da década de 1950, a ONU iniciou a elaboração do que viria a ser, mais tarde, a Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do Mar (CNUDM). O Brasil participou de todas as reuniões, com representantes do Ministério das Relações Exteriores e da Marinha. Em 1982, a CNUDM ficou pronta, mas só passou a vigorar para o Brasil em novembro de 1994, quando o país a ratificou. Até hoje, 156 nações fizeram o mesmo. Entre os que ainda não a assinaram estão os Estados Unidos.
Expansão
Entre outras determinações, a convenção estabeleceu que o mar territorial dos Estados costeiros teria 12 milhas de largura a contar da costa, mais uma zona contígua do mesmo tamanho, a partir do limite externo do primeiro. A maior novidade da convenção, porém, foi o estabelecimento da zona econômica exclusiva (ZEE), com 200 milhas de largura, englobando, portanto, as duas primeiras áreas. Os direitos que o país tem sobre cada uma dessas regiões são diferentes, no entanto. No mar territorial e no espaço aéreo a ele sobrejacente a soberania é plena.
O mesmo não ocorre em relação à zona contígua e à ZEE. A primeira funciona como uma área de proteção ao mar territorial e, embora nesse caso a soberania do Estado não seja plena, ele tem a obrigação de fiscalizá-la para evitar e reprimir infrações a normas sanitárias, de imigração e outras vigentes em seu território. Na ZEE, é prerrogativa do país que a detém a exploração científica e econômica dos recursos vivos e não vivos do subsolo, do solo e das águas. Se não tiver condições de fazer isso, no entanto, não pode impedir que outras nações o façam. Tanto na zona contígua como na ZEE, é obrigatória a permissão para trânsito de navios, inclusive de guerra, de outras bandeiras.
A CNUDM estabeleceu ainda que no prazo de dez anos, a partir de sua ratificação, todo país poderia solicitar o aumento da área jurisdicional de sua plataforma continental até um limite máximo de 350 milhas. Nessa nova extensão, o Estado costeiro tem o direito de explorar os recursos do solo e subsolo, mas não os vivos da camada líquida. De olho nessa potencial riqueza, o Brasil foi o segundo a apresentar uma proposta de expansão de suas águas – o primeiro foi a Rússia –, em setembro de 2004.
Para elaborá-la e embasá-la, foi criado em 1989 o Plano de Levantamento da Plataforma Continental (Leplac), que durante mais de dez anos reuniu dados para justificar a pretensão do país. Depois de analisá-la, a CLPC não concordou com a reivindicação relativa a cerca de 190 mil quilômetros quadrados dos 960 mil pretendidos. O Brasil, por sua vez, não aceitou a decisão da comissão e tem o direito de apresentar nova proposta, com mais dados e informações sobre a área que pleiteia. A previsão é de que isso ocorreria ainda neste ano, e a CLPC deverá se pronunciar até 2012. Por ora, com a resolução de 3 de setembro, o Brasil não permitirá explorações estrangeiras nesses 960 mil quilômetros quadrados, até que saia a decisão final da ONU.
Revista Problemas Brasileiros
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