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Lixo eletrônico vira terra-rara
Pesquisa feita no IPT abre caminho para o descarte de ímãs de computadores velhos e reaproveitamento de terras-raras, elementos químicos cujo monopólio mundial está nas mãos da China
Agência Fapesp - 21/11/2011
Uma pesquisa realizada no Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT) sobre o reprocessamento de ímãs de neodímio-ferro-boro (NdFeB) abre caminho para o descarte sustentável dos ímãs contidos nos discos rígidos de computadores fora de uso e para o desenvolvimento de tecnologias da cadeia produtiva de terras-raras.
Terras-raras compõem um grupo de 17 elementos químicos - entre os quais cério, praseodímio, térbio e neodímio - com aplicações diversas, como na produção de supercondutores, catalisadores e componentes para carros híbridos.
Realizada com bolsa da FAPESP durante o projeto, a pesquisa de Elio Alberto Périgo empregou uma série de ímãs sinterizados disponíveis comercialmente no mercado.
Segundo ele, a categoria de ímãs é a mais adequada para aplicações que demandem propriedades mais restritivas, como o uso em produtos tecnológicos de alto desempenho, e de maior valor agregado em relação aos ímãs aglomerados, que combinam material particulado e resina e têm propriedades magnéticas menores.
Périgo buscou comprovar a possibilidade de reprocessar o neodímio-ferro-boro e alcançar propriedades superiores às das ferrites, usadas atualmente para a produção dos tipos mais simples de ímãs.
"É o material de menor custo disponível no mercado, mas suas propriedades são relativamente baixas. A aplicação ocorre quando as propriedades magnéticas não são restritivas, como pequenos motores elétricos e alto-falantes", disse.
Para avançar na tentativa de reciclar compostos sinterizados de NdFeB para fabricar novos ímãs e manter as características originais, o pesquisador realizou o estudo por meio do processo HDDR. A técnica combina as etapas de hidrogenação, desproporção (transformação da fase magneticamente dura em outras fases), dessorção (retirada de hidrogênio da estrutura cristalina do composto previamente hidrogenado) e recombinação (obtenção da fase magneticamente dura com tamanho de grão inferior ao inicial) em ligas à base de neodímio-ferro-boro.
A pesquisa indicou a possibilidade do emprego do material reprocessado em aplicações nas quais é preciso elevada resistência à desmagnetização. E resultou no depósito de uma patente, tendo como titulares Périgo, o IPT, a FAPESP e o Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (Ipen), no qual o pesquisador realizou seu doutorado, também com Bolsa da FAPESP.
De acordo com o IPT, embora o material empregado nos ensaios fosse proveniente de ímãs comerciais, o estudo mostrou a viabilidade de extrapolar os dados obtidos para o reaproveitamento dos ímãs contidos em discos rígidos.
Segundo Périgo, os compostos de neodímio-ferro-boro encontrados nos dois produtos têm vários pontos em comum, como não poderem ser expostos ao ar para evitar a oxidação e a perda de propriedades ou pequenas variações de composição, que implicariam poucas alterações nas condições de temperatura e pressão para o processamento.
Para o pesquisador, o aproveitamento dos materiais magnéticos é uma alternativa para fomentar o mercado nacional de reciclagem do lixo eletrônico. Em cada disco rígido, são encontrados cerca de 30 gramas de material magnético, o que configura uma grande oportunidade para a destinação sustentável de computadores antigos.
"Quando o consumidor troca o computador, ele descarta o equipamento porque busca uma maior capacidade de processamento, por exemplo, e não porque o ímã parou de funcionar", explicou. "O material magnético continua operante e nas mesmas condições da época em que o computador foi comprado."
A fabricação de ímãs permanentes de alto desempenho é possível somente com o emprego das terras-raras, o grupo no qual está presente o neodímio. O mercado é atualmente dominado pela China, mas as recentes reduções nas quantidades de materiais que o país pode exportar aumentaram as dúvidas pela continuidade do abastecimento e impulsionaram projetos de desenvolvimento de empreendimentos de mineração em todo o mundo, principalmente no Canadá e na Austrália.
"Recentemente, o preço desses elementos subiu de forma abrupta, e no Brasil quem utiliza ímãs em compressores, motores e a indústria eletroeletrônica precisam importar esses materiais, já que não existem substitutos nacionais", disse Périgo.
A transformação do lixo em riqueza
A transformação do lixo em riqueza
O país avista a universalização da coleta de lixo. Mas a maioria dos detritos vai parar em áreas a céu aberto: ainda falta tratá-los e reaproveitá-los
Marcelo Sperandio / Coordenação: Mario Sabino
Veja - 02/11/2011
O Brasil caminha a passos largos para, finalmente, se livrar de um problema medieval: a falta de coleta de lixo. Em 2000, 79% dos domicílios contavam com esse serviço. Hoje, o índice chega a 87% - e continua subindo. A melhora não se deve à bondade dos políticos, mas ao senso de oportunidade deles. A licitação da coleta é um terreno fértil para a corrupção. A fiscalização dos contratos é complexa e os valores envolvidos nos pagamentos, milionários. Quanto mais uma administração amplia o serviço, mais negócios lucrativos ela pode fechar. Apesar disso, a maioria das cidades ainda tem um sistema manco. Os sacos são retirados da porta das casas e atirados em lixões a céu aberto. Poucos reciclam resíduos secos ou usam aterros para confinar o lixo orgânico.
Há exceções. Santo André, no ABC paulista, é um exemplo de gestão nesse setor. As 1 000 toneladas diárias de lixo que a cidade produz são coletadas por 31 caminhões - onze deles só para recicláveis. Os veículos são monitorados por GPS, para que nenhuma casa fique fora da varredura. Isso garante 100% de coleta - sempre seletiva, sempre porta a porta, um fato raro no país. Para atingir esse patamar, Santo André teve de reciclar, em primeiro lugar, seu modelo de tratamento de resíduos. Em 2000, ligações telefônicas automáticas informavam aos moradores o dia e a hora em que cada tipo de lixo seria recolhido. A população aderiu e passou a separar materiais. Hoje, duas cooperativas selecionam 15% dos resíduos secos e os vendem para reciclagem. Até o ano que vem, a meta é chegar a 30%. O aterro para onde segue o lixo orgânico também é eficiente: tudo o que chega é enterrado. Dois piscinões contêm o chorume, o líquido escuro produzido pela decomposição desse tipo de sujeira, e grandes escapamentos foram instalados para evitar que o gás metano - também resultado da decomposição - se acumule embaixo da terra. Com isso, o impacto ambiental é controlado. O plano, agora, é produzir etanol a partir da esterilização do lixo.
Na Amazônia, a situação se inverte. Santarém, no Pará, tem o pior índice de coleta entre as 106 cidades analisadas: só 75% das casas têm o lixo recolhido - o restante fica pelas ruas ou é queimado em quintais. O serviço municipal é feito por sete caminhões e quarenta carroças, movidas a tração animal. Tudo é despejado em um lixão, onde toneladas de resíduos se acumulam. Só uma pequena parte é aterrada. Lá, catadores e urubus competem pelo sustento. "Lata de cerveja é o que dá mais dinheiro, mas eu separo tudo para vender: papel, vidro, plástico... Às vezes, tiro até 400 reais por mês", diz Keliane da Silva, de 19 anos, que sobrevive do que encontra no lixão. A vizinhança sofre. Quando chove, a enxurrada carrega o chorume e contamina igarapés, de onde muita gente tira água para tomar banho e lavar roupas.
Na última década, a cidade com mais de 200 000 habitantes que mais ampliou a coleta foi Itaboraí, no Rio. Em 2000, 60% de seus domicílios eram atendidos. Hoje, são 93%. O investimento reduziu o despejo de lixo em rios e na Baía de Guanabara. Desde 2010, tudo é descartado em um aterro particular, em uma região isolada do município. Itaboraí se livrou da sujeira, mas ainda tem o desafio de reaproveitá-la. A cidade apenas engatinha na coleta seletiva. Para atingir o exemplo de Santo André, a população precisa exigir dos governantes, além da manutenção dos investimentos, o início de um programa de reciclagem. Só assim o lixo recolhido vai se transformar em riqueza.
LIXO (POPULAÇÃO ATENDIDA PELA COLETA)
AS MELHORES
Santo André (SP) - 100%
Taboão da Serra (SP) - 99,9%
Barueri (SP) - 99,9%
Americana (SP) - 99,9%
Joinville (SC) - 99,8%
AS PIORES
Santarém (PA) - 75%
Marabá (PA) - 78,5%
Caucaia (CE) - 82,5%
Petrolina (PE) - 88,7%
Belford Roxo (RJ) - 88,7%
Plásticos biodegradáveis não fazem milagres
Leticia Freire, do Mercado Ético
O lixo é um dos maiores problemas ambientais da atualidade. Os moldes de consumo adotados por boa parte das sociedades modernas provocaram o aumento contínuo e exagerado na quantidade de lixo produzido no planeta. Em meio a esse cenário está um dos grandes vilões: o plástico.
Segundo a Associação Brasileira de Supermercados (ABRAS), são consumidas no Brasil cerca de 12 bilhões de sacolinhas por ano. Dessas, 80% viram lixo, levando mais de mil anos para se decompor. Mas não são apenas essas embalagens que tem destinação final o estrago da natureza. Segundo um relatório do Programa Ambiental da ONU (Unep, na sigla em inglês), os produtos plásticos, como garrafas, sacos, embalagens de comida, copos e talheres, formam a maior parte do lixo encontrado no oceano. Em algumas regiões, esse elemento corresponde a 80% do lixo marinho.
Do mito à realidade dos biodegradáveis
Na tentativa de minimizar a pegada, alguns fabricantes adicionam amido ou celulose à mistura de plástico para, assim, acelerar o processo de decomposição de certas embalagens. Mas será que essa biodegradação soluciona mesmo o problema?
A resposa é não! “O título biodegradável não garante nada para absolutamente nada”, avisa Silvia Rolim, engenheira química e assessora técnica da Plastivida Instituto Sócio-Ambiental dos Plásticos, uma organização de referência nacional no que diz respeito a assuntos ligados ao plático. “Evidentemente, é melhor optar pelos biodegradáveis, mas a presença de amido ou celulose não é uma garantia de decomposição em ambientes sem luz e oxigênio”, explica ela.
De acordo com a engenheira, o plástico biodegradável requer condições específicas para decompor-se adequadamente. Seu descarte de forma inadequada pode torná-lo tão nocivo para o meio ambiente quanto o plástico convencional. “Até mesmo uma casca de banana quando jogada fora em condições erradas necessita de um a três anos para se biodegradar. A natureza não faz mágica”, complementa Silvia.
Eles se biodegradaram, e agora?
Mas mesmo no caso dos plásticos biodegradáveis, resta saber no que o material se transforma depois da decomposição. Essa dúvida fez a ANVISA (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) declarar que não se pode afirmar que o uso de plásticos biodegradáveis é mais aconselhável, porque esse novo material pode ocasionar novas formas de contaminação ao solo.
Para Silvia Rolim, a solução integral depende da eficiência da nova política pública nacional de resíduos sólidos e de uma intensa participação das empresas nesse processo. “Qualquer política de resíduos sólidos, isso inclui a utilização ou não de plásticos biodegradáveis, depende de coleta adequada e destinação correta desses resíduos”, reforça a engenheira.
Texto publicado no Envolverde
Carta Verde
O lixo é um dos maiores problemas ambientais da atualidade. Os moldes de consumo adotados por boa parte das sociedades modernas provocaram o aumento contínuo e exagerado na quantidade de lixo produzido no planeta. Em meio a esse cenário está um dos grandes vilões: o plástico.
Segundo a Associação Brasileira de Supermercados (ABRAS), são consumidas no Brasil cerca de 12 bilhões de sacolinhas por ano. Dessas, 80% viram lixo, levando mais de mil anos para se decompor. Mas não são apenas essas embalagens que tem destinação final o estrago da natureza. Segundo um relatório do Programa Ambiental da ONU (Unep, na sigla em inglês), os produtos plásticos, como garrafas, sacos, embalagens de comida, copos e talheres, formam a maior parte do lixo encontrado no oceano. Em algumas regiões, esse elemento corresponde a 80% do lixo marinho.
Do mito à realidade dos biodegradáveis
Na tentativa de minimizar a pegada, alguns fabricantes adicionam amido ou celulose à mistura de plástico para, assim, acelerar o processo de decomposição de certas embalagens. Mas será que essa biodegradação soluciona mesmo o problema?
A resposa é não! “O título biodegradável não garante nada para absolutamente nada”, avisa Silvia Rolim, engenheira química e assessora técnica da Plastivida Instituto Sócio-Ambiental dos Plásticos, uma organização de referência nacional no que diz respeito a assuntos ligados ao plático. “Evidentemente, é melhor optar pelos biodegradáveis, mas a presença de amido ou celulose não é uma garantia de decomposição em ambientes sem luz e oxigênio”, explica ela.
De acordo com a engenheira, o plástico biodegradável requer condições específicas para decompor-se adequadamente. Seu descarte de forma inadequada pode torná-lo tão nocivo para o meio ambiente quanto o plástico convencional. “Até mesmo uma casca de banana quando jogada fora em condições erradas necessita de um a três anos para se biodegradar. A natureza não faz mágica”, complementa Silvia.
Eles se biodegradaram, e agora?
Mas mesmo no caso dos plásticos biodegradáveis, resta saber no que o material se transforma depois da decomposição. Essa dúvida fez a ANVISA (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) declarar que não se pode afirmar que o uso de plásticos biodegradáveis é mais aconselhável, porque esse novo material pode ocasionar novas formas de contaminação ao solo.
Para Silvia Rolim, a solução integral depende da eficiência da nova política pública nacional de resíduos sólidos e de uma intensa participação das empresas nesse processo. “Qualquer política de resíduos sólidos, isso inclui a utilização ou não de plásticos biodegradáveis, depende de coleta adequada e destinação correta desses resíduos”, reforça a engenheira.
Texto publicado no Envolverde
Carta Verde
Reciclar óleo de cozinha pode contribuir para diminuir aquecimento global
Agência Brasil
Transformá-lo em sabão é uma alternativa, mas é preciso cuidado no manejo dos produtos.
Brasília, DF - A simples atitude de não jogar o óleo de cozinha usado direto no lixo ou no ralo da pia pode contribuir para diminuir o aquecimento global. O professor do Centro de Estudos Integrados sobre Meio Ambiente e Mudanças Climáticas da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) Alexandre D'Avignon, explica que a decomposição do óleo de cozinha emite metano na atmosfera.
O metano é um dos principais gases que causam o efeito estufa, que contribui para o aquecimento da terra. Segundo ele, o óleo de cozinha que muitas vezes vai para o ralo pia acaba chegando no oceano pelas redes de esgoto.
Em contato com a água do mar, esse resíduo líquido passa por reações químicas que resultam em emissão de metano. "Você acaba tendo a decomposição e a geração de metano, através de uma ação anaeróbica [sem ar] de bactérias".
Catadores de óleo
Mas o que fazer com o óleo vegetal que não será mais usado? A maioria dos ambientalistas concorda que não existe um modelo de descarte ideal do produto. Uma das alternativas é reaproveitar o óleo de cozinha para fazer sabão. A receita é simples e está no final desta matéria.
D'Avignon defende que quanto mais o cidadão evitar o descarte do óleo no lixo comum, mais estará contribuindo para preservar o meio ambiente. Segundo ele, uma das soluções é entregar o óleo usado a um catador de material reciclável ou diretamente a associações que façam a reciclagem do produto.
"Se nós conseguirmos dar algum valor de compra desse óleo para o catador, para que ele seja usado na produção de biodiesel, a gente vai fazer com que haja um ciclo de vida desse produto, para que ele volte para o sistema produtivo e produza biodiesel e isso substitua o consumo de óleo diesel", sugere o professor.
Receita para fazer sabão a partir do óleo de cozinhaMaterial
5 litros de óleo de cozinha usado
2 litros de água
200 mililitros de amaciante
1 quilo de soda cáustica em escama
Preparo
Coloque a soda em escamas no fundo de um balde cuidadosamente
Coloque, com cuidado, a água fervendo
Mexa até diluir todas as escamas da soda
Adicione o óleo e mexa
Adicione o amaciante e mexa novamente
Jogue a mistura numa fôrma e espere secar
Corte o sabão em barras
ATENÇÃO: A soda cáustica pode causar queimaduras na pele. O ideal é usar luvas e utensílios de madeira ou plástico para preparar a mistura
http://www.uniagua.org.br
Catalisadores orgânicos podem melhorar a reciclagem de plásticos | ||||||
Pesquisadores descobrem maneira de fabricar garrafas plásticas com ciclo de vida reciclável prolongado | ||||||
por Larry Greenemeier | ||||||
Entretanto, a segunda geração de plástico geralmente não é utilizável para fabricação de novas embalagens. Agora, pesquisadores descobriram uma maneira de fabricar garrafas plásticas que têm seu ciclo de vida reciclável prolongado. O problema das garrafas feitas de termoplástico tereftalato de polietileno (PET) é que o processo de fabricação frequentemente precisa de catalisadores de óxido ou hidróxido metálico. Esses catalisadores permanecem no material reciclado, o que o enfraquece com o passar do tempo, tornando impraticável sua reutilização pela terceira vez. A segunda geração de PET, portanto, acaba sendo utilizada em aplicações menos exigentes, como carpetes e fibra sintética utilizada como enchimento e isolante para casacos e sacos de dormir. Ou então, acaba como lixo. Nos Estados Unidos, cerca de 24 bilhões de embalagens plásticas de bebidas foram incineradas, jogadas em lixões ou descartadas nos primeiros três meses deste ano, de acordo com a entidade sem fins lucrativos, Instituto de Reciclagem de Embalagens, em Culver City, Califórnia.
Cientistas do Centro de Pesquisa Almaden, da IBM, em San Jose, Califórnia, e da Stanford University, relatam na edição de 16 de fevereiro da Macromolecules, que criaram uma família de catalisadores orgânicos passíveis de serem utilizados para fabricação de plásticos totalmente recicláveis e biodegradáveis.
Os pesquisadores dizem que o catalisador orgânico se equipara até mesmo ao mais ativo catalisador metálico e ao mesmo tempo é benéfico para o meio ambiente. Eles também acreditam que essa pesquisa pode levar a um processo de reciclagem capaz de quebrar polímeros em seus monômeros constituintes de forma a serem reutilizáveis.
Scientific American Brasil |
Plástico feito com plantas: boom ambiental ou maldição? | ||||||
Plásticos à base de cana brasileira estão começando a substituir o petróleo | ||||||
por David Biello | ||||||
Mais de 2,5 milhões de garrafas de plástico parcialmente elaborado a partir de plantas já estão em uso ao redor de todo o mundo em uma tentativa de substituir o petróleo como o bloco básico da produção do plástico diário. A garrafa chamada “PlantBottle” da Coca-Cola é feita dos açúcares presentes na cana-de-açúcar brasileira e substitui o polietileno tereftalato (PET) -comumente usado em garrafas de várias bebidas. Totalmente recicláveis, as garrafas estrearam em 2009 na Conferência do Clima de Copenhague das Nações Unidas.
O primeiro passo para a produção desse plástico é a fermentação do etanol da cana-de-açúcar no Brasil. Então, o etanol é exportado para a Índia, onde é processado junto ao dietilenoglicol, ou DEG, que compreende cerca de 30% de uma garrafa PET típica. O resto é composto de plástico tradicional e derivado do petróleo. "Essa é a matéria-prima mais sustentável, por enquanto", explica o químico Shell Huang, diretor de pesquisas de embalagens da Coca-Cola. "Nossa meta é fazer o plástico 100% a partir de resíduos vegetais", como a lignina e a celulose presentes nas folhas e bagaço da cana.
Devido à produção desse novo plástico, mais de 70 mil barris de petróleo foram poupados. "Estamos fazendo a PET a partir de um recurso renovável por isso há uma menor produção de carbono, e podemos tirar partido das infraestruturas existentes para reciclá-lo", explica Huang.
Naturalmente, os plásticos à base de plantas apontam para o mesmo problema que os combustíveis à base de plantas, direta ou indiretamente: o impacto sobre a produção de alimentos. Considerando que a fabricação do etanol de cana no Brasil é a energia mais eficiente, o cultivo e a colheita das plantas exigiriam a conversão de grandes áreas em canaviais. "Em longo prazo, isso poderia se tornar um problema", admite Frederic Scheer, presidente da Cereplast, que planeja lançar um produto à base de algas, além de um biopolímero à base de amido, até o fim de 2010. "Você não pode ter acesso a terra, sem criar pressões sobre o sistema alimentar e ao meio ambiente.”
Até agora, os bioplásticos só substituíram cerca de 1% das centenas de bilhões quilos de plásticos no mercado global, de acordo com a Lux Research, embora esse porcentual poderá crescer nos próximos anos. A maioria dos plásticos, como o PLA, não é reciclável, mas sim compostável.
É por isso que a Coca-Cola está trabalhando na direção de uma garrafa de plástico 100% à base de plantas. "Não temos um cronograma definido, mas já fizemos um estudo de viabilidade", diz Huang. "É tecnicamente possível fazer um frasco 100% de material vegetal."
Scientific American Brasil |
O futuro da Política de Resíduos Sólidos
O futuro da Política de Resíduos Sólidos
Fruto de 20 anos de debates, a lei sancionada em agosto traz avanços como o foco na prevenção e na precaução, estimulando padrões sustentáveis de produção e consumo. A partir de agora, a sociedade brasileira terá um papel decisivo na implementação dessas novas políticas públicas do setor
por Elisabeth Grimberg
Em 2 de agosto de 2010, foi sancionada a Lei nº 12.305/2010, que institui a Política Nacional de Resíduos Sólidos, fruto de 20 anos de luta por um marco regulatório. Mas ela vem ao encontro dos mesmos desafios do começo desse processo?
Em parte sim, quando a questão são os lixões presentes ainda em 50,8% dos 5.565 municípios brasileiros, segundo a recém-publicada Pesquisa Nacional de Saneamento Básico (2010). A cultura de negligência das administrações públicas com o meio ambiente neste setor não é novidade, e essa é uma questão emergencial a ser enfrentada. A nova lei, que definiu o prazo de quatro anos para fechamento dos lixões, certamente irá reverter este quadro lastimável.
Mas, nos últimos 10 anos de luta por uma política nacional para este setor, o cenário mudou e surgiram novos desafios e atores. Criou-se o Movimento Nacional de Catadores de Recicláveis; organizaram-se inúmeros fóruns com atores plurais em torno da consigna Lixo e Cidadania em níveis nacional, estadual e municipal, entre outras redes, em que se passou a defender e exigir um novo paradigma de gestão de resíduos de caráter sistêmico no qual se entrelaçam os aspectos ambiental, social, econômico, cultural, tecnológico e de saúde pública. A própria mídia passou a cumprir um papel relevante, ao trazer para o centro do debate soluções de caráter socioambiental pautadas pela sociedade e por representantes de governos com visão sustentável de futuro.
Prevenção e precaução
Nesse contexto, o processo de formulação da política acontece e termina por contemplar diretrizes que podem mudar radicalmente o padrão de gestão e destinação de resíduos sólidos no país. Destacam-se como aspectos positivos da lei o estabelecimento de diretrizes nacionais centradas nos princípios da prevenção e precaução, ou seja, de padrões sustentáveis de produção e consumo segundo a lógica da não geração, redução, reutilização e reciclagem, além da disposição final ambientalmente adequada dos rejeitos em aterros sanitários. A lei diferencia claramente o que é lixo, ou seja, rejeito, a fração dos resíduos que não tem possibilidade de ser reaproveitada – 5% de tudo que é gerado1 – do que é passível de reaproveitamento, trazendo instrumentos importantes para a estruturação de outro patamar de gestão, como a exigência de planos de resíduos sólidos em âmbitos nacional, estadual e municipal que apresentem “metas de redução, reutilização e reciclagem, com vistas a reduzir a quantidade de resíduos e rejeitos encaminhados para disposição final ambientalmente adequada”. Os governos estaduais e municipais terão prazo de dois anos para apresentar seus planos de ação.
Outro instrumento que merece destaque como conquista da sociedade é a instituição dos sistemas de logística reversa associados à responsabilidade do setor empresarial: a lei exige que fabricantes, importadores, distribuidores e comerciantes assumam responsabilidade sobre os resíduos gerados. A expectativa é de que os acordos setoriais a serem firmados entre poder público e setor empresarial viabilizem em nível municipal a implementação de sistemas de coleta seletiva (e triagem) previstos nos planos municipais de gestão integrada de resíduos sólidos. Está prevista a possibilidade de o setor empresarial remunerar o poder público municipal para realizar a logística reversa, o que é bastante razoável, tendo em vista que diversas multinacionais, presentes no Brasil, já praticam a responsabilidade compartilhada na gestão dos resíduos sólidos em países da Europa.
Seja qual for o procedimento a ser adotado para a implementação do retorno das embalagens pós-consumo para a cadeia de reciclagem, a aposta é que haja a devida valorização das cooperativas de catadores, como profissionais a serem contratados para prestar este serviço nas cidades. A lei garante em 11 referências a participação legal das cooperativas e associações de catadores, evidenciando o justo reconhecimento da contribuição ambiental desse segmento ao longo de décadas. Aliás, esses trabalhadores são genuínos agentes ambientais, que não só alimentam a cadeia produtiva, permitindo sua crescente dinamização, como desenvolvem um trabalho exemplar de educação ambiental junto à população. Vale lembrar que, em 2007, com a aprovação da Política Nacional de Saneamento Básico, também houve avanço ao ser criado um dispositivo para viabilizar a entrada dos catadores nos sistemas de coleta seletiva, como prestadores de serviços com dispensa de licitação.
Preços
Outro aspecto bastante positivo da lei são as medidas de incentivo à formação de consórcios e viabilização da gestão regionalizada, o que permitirá soluções com vistas a aumentar a capacidade de gestão das administrações municipais, a ganhos de escala, com redução de custos no caso de compartilhamento de aterros sanitários para disposição do rejeito; e no caso de criação de centrais de comercialização regionais, operadas por cooperativas de catadores, a possibilidade de ganhos de escala (pela armazenagem dos materiais recicláveis oriundos de cooperativas de diversos municípios) resultará em obtenção de melhores preços.
A lei vem em momento oportuno, dado que houve um aumento de 8% na geração de resíduos, de 2008 para 2009. Neste sentido, ainda há muito a avançar quanto à mudança no padrão de produção, de maneira a reduzir ao máximo os produtos descartáveis e de curta vida útil. Este ponto, que envolve análise e avaliação do ciclo de vida do produto, deixou a desejar na lei aprovada, porque com este instrumento o Estado poderia exigir dos fabricantes que apresentassem os impactos dos seus produtos, desde a extração da matéria prima até o pós-consumo, de forma a poder se comparar, por exemplo, no caso das embalagens, qual o melhor material a ser utilizado do ponto de vista ambiental. Estudos internacionais indicam que as embalagens retornáveis (como o vidro que retorna para a mesma finalidade) são a melhor opção ambiental, a partir do segundo ou terceiro reuso.
A sociedade brasileira vai jogar um papel estratégico para a implementação de políticas públicas com base na redução, reutilização e reciclagem, dado que a pressão dos interesses ligados aos negócios da incineração será grande. Isso exigirá a articulação daqueles que atuam na afirmação do interesse público – garantia da saúde humana, do meio ambiente e da justiça social (um milhão de catadores têm, na nova lei, a possibilidade de exercer seu trabalho de forma digna e sustentável).
A regulamentação, prevista para ser concluída até 2 de novembro de 2010, deverá trazer metas, prazos e procedimentos para viabilizar (as modalidades dos acordos setoriais entre a cadeia produtiva e o poder público) a elaboração dos planos e a integração das cooperativas de catadores. Um componente estratégico para o sucesso da lei será a criação de mecanismos de fiscalização e controle social de todas as medidas estabelecidas. Os estados terão um papel central no planejamento e instrumentalização técnica e institucional dos gestores municipais, bem como na fiscalização das ações a serem executadas. A importância da participação da sociedade está indicada na lei, quando cria instrumentos de controle social, tais como os órgãos colegiados municipais, além de apontar os conselhos de meio ambiente e de saúde, já instituídos, como instâncias a serem utilizadas na implementação das novas diretrizes de políticas públicas.
A aposta é que o novo sistema funcione de forma integrada e eficiente, trazendo as tão almejadas inovações para o setor dos resíduos sólidos, especialmente na perspectiva da mudança de padrão de gestão e destinação que reduza ao máximo o impacto ambiental do pós-consumo e, ao mesmo tempo, induza mudanças no padrão de produção e consumo, tão necessárias para o bem viver das atuais e futuras gerações.
Elisabeth Grimberg é coordenadora executiva e de ambiente urbano do Instituto Pólis.
1 Paul Connett, professor emérito de Química da St. Lawrence University, faz esta afirmação em encontro de integrantes da Aliança Global Anti-Incineração/ Aliança Global para Alternativas à Incineração (Gaia), entre 22 e 24 de agosto de 2008, em Cuernavaca, Morelos, México.
Le Monde Diplomatique Brasil
Como combater a invasão das sacolas?
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Bilhões de embalagens plásticas ameaçam o meio ambiente
HENRIQUE OSTRONOFF
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HENRIQUE OSTRONOFF
Ao percorrer os corredores de supermercados, o consumidor se depara com os mais variados artigos expostos nas prateleiras. Quase todos embalados em plástico: frutas, verduras e legumes colocados dentro de saquinhos, carnes e frios acomodados em bandejas de isopor recobertas de filme plástico, produtos de todos os tipos em caixas de papelão plastificadas ou com uma embalagem plástica em seu interior, potes, copos, tubos, bisnagas, recipientes de todos os tamanhos totalmente de plástico. Após pagar a conta, o consumidor acomoda suas compras para transportá-las – também em sacolas plásticas.
O mesmo acontece em padarias, farmácias, videolocadoras, açougues, lojas de roupas e calçados, papelarias, bancas de jornais, lojas de móveis – até cadeiras e sofás se encontram envoltos em plástico, assim como geladeiras, fogões, aparelhos eletrônicos etc. É infindável a lista de produtos embalados dessa maneira e dos estabelecimentos que fornecem sacolas plásticas para o consumidor transportar suas compras.
O uso intensivo de sacolas plásticas, de acordo com a Associação Paulista de Supermercados (Apas), começou nos anos 1970: "Elas foram introduzidas como um serviço adicional e acabaram se tornando um hábito incorporado à rotina do consumidor. Passaram a ser adotadas em grande escala porque são o único material capaz de transportar a mais variada gama de produtos – congelados, resfriados, latas, artigos de limpeza e outros".
Os números referentes às sacolas impressionam – são 16 bilhões produzidas por ano no país, o que significa 89 por pessoa em média, informa o Instituto Socioambiental dos Plásticos (Plastivida), entidade que representa institucionalmente a cadeia produtiva do setor. Já a Apas estima que, nos mais de 1,5 mil supermercados de São Paulo, sejam consumidas mensalmente cerca de 66 milhões de sacolas plásticas. A média é de 1,6 unidade ao mês por habitante do estado.
O plástico, de modo geral, tem chamado a atenção dos ambientalistas, que apontam a presença do material nos depósitos de lixo como um dos grandes vilões da poluição. Além de fabricado a partir de derivados de petróleo, uma fonte não renovável, seu tempo de degradação é contado em séculos: dependendo do tipo, especialistas calculam que leve entre 100 e 500 anos para se decompor nas condições médias do ambiente terrestre.
A solução mais aceita, diante desse problema, consiste em coleta seletiva e reciclagem. Em 2005, o país reciclou 767,5 mil toneladas do material. Em 2006, esse total foi de 19,8% do plástico consumido, segundo dados da Plastivida. É um índice bastante expressivo, se levarmos em consideração um levantamento de 2005 sobre a situação da reciclagem na Europa. Naquele ano, os melhores resultados foram da Alemanha, que registrou 32%, e da Suécia, com 25%. A Holanda e a Itália alcançaram 18%, a Noruega 17% e a Finlândia 10%. Segundo ainda a Plastivida, a indústria de reciclagem de plásticos do Brasil tem capacidade ociosa em torno de 40%, ou seja, seria possível reaproveitar 1,28 milhão de toneladas desse material.
Outra alternativa – ainda que discutível aos olhos dos ambientalistas – é a utilização de plástico biodegradável, que há algum tempo vem sendo desenvolvido pela iniciativa privada e centros de pesquisa acadêmicos. No Brasil, a PHB Industrial, controlada por empresas do setor sucroalcooleiro, fabrica, ainda em escala modesta, numa usina localizada no interior de São Paulo, o Biocycle, plástico biodegradável poliidroxibutirato, a partir do bagaço de cana. Em 2003, o pesquisador Leonard Sebio, do Centro de Pesquisa em Tecnologia de Extrusão da Faculdade de Engenharia de Alimentos (FEA) da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), anunciou o desenvolvimento de um plástico biodegradável à base de amido de milho. Pesquisadores do Laboratório de Engenharia de Alimentos do Departamento de Engenharia Química da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (USP) criaram um filme plástico produzido com amido de mandioca e açúcares. Projetado para servir de embalagem para alimentos, além de biodegradável é comestível.
Há também opções que vêm de fora. A Iraplast, pequena empresa do setor de transformação do plástico, deve distribuir em breve um material importado da americana Cereplast, o plástico polilactídeo (PLA) derivado do milho e com degradação completa calculada entre 2 meses e 3 anos, dependendo da temperatura do ambiente.
Existe ainda uma tecnologia que permite a produção de plástico suscetível à oxidegradação. O processo se baseia na introdução de uma quantidade muito pequena de aditivo pró-degradante durante a fabricação convencional, resultando em uma mudança de comportamento do plástico, segundo informa a RES Brasil, que representa no país o produtor inglês do aditivo que transforma o plástico comum em oxibiodegradável. De acordo com a empresa, o aditivo reduz a estrutura molecular de modo a permitir o acesso de microorganismos ao carbono e ao hidrogênio, e o plástico é então consumido por bactérias e fungos. Por essa razão, o material, que deixa assim de ser plástico e se torna uma fonte de alimento, pode ser considerado "biodegradável". Tal processo continua até que ele tenha se decomposto em CO2, água e húmus, sem que restem fragmentos de petropolímeros no solo.
Vaivém legal
Por conta da onipresença do plástico, diversas propostas vêm surgindo em câmaras municipais e assembléias legislativas, com vistas a diminuir seus efeitos sobre o meio ambiente. Essa movimentação ganhou impulso com o aumento da preocupação com o aquecimento global verificado após a divulgação, em fevereiro de 2007, do quarto relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC, na sigla em inglês), reforçada pela concessão do Prêmio Nobel da Paz a essa iniciativa do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma). Desde então, é notável o crescimento do interesse, sincero ou não, demonstrado por governos e empresas em ajudar a conter a poluição ambiental, pois segundo o documento é de 90% a probabilidade de a atividade humana ser responsável pelo aumento do efeito estufa, causa das mudanças climáticas verificadas na Terra.
Nem sempre, porém, as iniciativas dos parlamentares têm redundado em mudanças legais, uma vez que ainda não há consenso quanto à melhor forma de diminuir o consumo ou os efeitos do material plástico. Na Assembléia Legislativa de São Paulo, por exemplo, foi aprovado no ano passado um projeto de lei do deputado Samuel Moreira (PSDB) que "estabelece a proibição da comercialização e do uso de sacos de lixo e de sacolas plásticas feitos de polietileno de baixa densidade (PEBD), conhecido como plástico-filme" e autoriza a utilização "de sacolas, sacos de lixo e outros, derivados de tecnologia em plástico oxibiodegradável ou biodegradável". Dentre os argumentos apresentados pelo deputado para justificar sua proposta está o de que "o material orgânico contido nas sacolas comuns, quando usadas para lixo, forma gás metano, que é 21 vezes mais prejudicial ao meio ambiente do que o CO2 desprendido quando se usam sacolas oxibiodegradáveis ou biodegradáveis". Segundo ainda o deputado, "cada família brasileira descarta cerca de 40 quilos de plástico por ano, e 80% de todos os plásticos são usados apenas uma vez e jogados fora". Enviada ao Executivo no segundo semestre de 2007, a lei foi no entanto vetada pelo governador José Serra.
Destino similar teve o projeto do vereador Anselmo Tatto (PT) na Câmara Municipal de São Paulo, que previa tornar obrigatória aos estabelecimentos comerciais localizados no município a utilização, para acondicionamento de produtos e mercadorias, de embalagens plásticas oxibiodegradáveis. Apesar de ter recebido votação favorável no plenário, a lei, enviada ao Executivo em 2007, foi vetada pelo prefeito Gilberto Kassab.
No Paraná, embora as redes de supermercados estejam adotando as embalagens biodegradáveis, com o apoio do governo estadual, a Câmara Municipal de Curitiba manteve o veto do prefeito Beto Richa à lei de autoria do vereador Luizão Stellfeld (PC do B), que previa a substituição das sacolas de plástico comum pelas oxibiodegradáveis.
Desde março de 2003, está em funcionamento no estado – onde são utilizadas mensalmente 80 milhões de sacolas plásticas, o equivalente a 20 toneladas do material – o Programa Desperdício Zero, cujo objetivo é reduzir em 30% a quantidade de resíduos lançada nos aterros sanitários locais. No entanto, segundo o secretário do Meio Ambiente e Recursos Hídricos, Rasca Rodrigues, a opção por sacolas biodegradáveis ou de outros materiais, como pano, não é tão importante: "O que realmente interessa é a mudança de atitude. Afinal, o que nos preocupa são as toneladas de plástico, um dos maiores problemas ambientais da atualidade, que são colocadas em aterros sanitários ou lançadas no meio ambiente sem qualquer responsabilidade".
Outros dispositivos legais que tratam da questão encontram-se ainda em apreciação. No Rio de Janeiro, por exemplo, a vereadora Cristiane Brasil (PTB) apresentou, em 2007, projeto de lei que proíbe supermercados e mercados do município de usar sacolas de plástico, obrigando-os a fornecer as produzidas em papel. E o governador do estado, Sérgio Cabral, enviou recentemente à Assembléia Legislativa projeto de lei que determina a substituição de sacolas plásticas de estabelecimentos comerciais pelas reutilizáveis, feitas com materiais como papelão ou pano.
Em Pernambuco, o deputado estadual Izaías Régis (PTB) apresentou proposta de lei que determina a obrigatoriedade aos estabelecimentos comerciais localizados em cidades onde haja coleta seletiva de lixo de imprimir nas sacolas plásticas informações sobre a reciclabilidade dos tipos de resíduo.
Já o deputado Dedé Teixeira (PT), do Ceará, propôs à Assembléia Legislativa local projeto semelhante ao paulista – obriga estabelecimentos comerciais que distribuem sacolas plásticas aos clientes a utilizar embalagens produzidas com plástico biodegradável ou oxibiodegradável.
Biodegradável é bom?
Pergunta-se então por que leis que pregam a substituição das sacolas de plástico comum pelas biodegradáveis têm encontrado dificuldade para ser adotadas. A questão é controversa. Os motivos de desacordo dizem respeito a características de degradação de determinados plásticos, em especial o oxibiodegradável.
Um dos pareceres técnicos que deram suporte à decisão do governador de São Paulo de vetar a lei que obrigava à utilização pelo comércio de sacolas produzidas com esse tipo de material foi preparado, em julho de 2007, pelo Centro de Tecnologia de Embalagem (Cetea), vinculado ao Instituto de Tecnologia de Alimentos (Ital), da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo. De acordo com o relatório, materiais plásticos degradáveis não constituem solução para o problema do resíduo sólido urbano, pois continuariam a ocupar lugar em aterros, uma vez que a taxa de biodegradação não é tão rápida nesses ambientes. Além disso, esse processo produz gases que colaboram para aumentar o efeito estufa, como o dióxido de carbono (CO2) e o metano (CH4). Embora admita a degradação mais rápida do plástico aditivado, o parecer adverte que o resíduo não desaparece, mas se transforma em pequenas partículas que se dispersam no meio ambiente ou que são metabolizadas por microorganismos em CO2. Nessas partículas, continua o texto, estão, entre outros, aditivos e resíduos de tintas e de pigmentos, cujo impacto ambiental ainda está para ser estabelecido.
O parecer do Cetea diz também que é preciso quebrar o paradigma de que na gestão de resíduo sólido "o que é degradável ou biodegradável é bom para o meio ambiente". Dessa forma, afirma, os programas de educação ambiental deveriam divulgar a idéia do consumo sustentável, incluindo a reciclagem de materiais inertes – plástico, alumínio, aço, vidro – e o reaproveitamento do potencial calorífico daqueles que têm poder energético, em vez de pregar que produtos degradáveis podem ser jogados na natureza.
A melhor opção
A decisão do governador José Serra, assim como a do prefeito Gilberto Kassab, de vetar as leis referentes às sacolas plásticas foi apoiada por supermercados e fabricantes de plásticos. Para a Apas, não houve consenso dos pesquisadores sobre os benefícios do plástico oxibiodegradável para o meio ambiente e, assim, "o setor aguarda o surgimento de uma alternativa ambientalmente adequada, que seja chancelada pelo poder público e pelos estudiosos do assunto". Enquanto isso, a associação "tem apoiado movimentos de conscientização da população para o uso de sacolas de compra reaproveitáveis em vez das descartáveis".
Para a Plastivida, com o veto do projeto de lei, o governador Serra "demonstrou prudência ao exigir maior rigor técnico na adoção de medidas que possam pôr em risco o meio ambiente". Segundo seu presidente, Francisco de Assis Esmeraldo, a entidade propõe uma melhora na qualidade das sacolas: "Com o emprego de material mais resistente, a Plastivida calcula que haverá uma redução de pelo menos 30% no consumo atual dessas embalagens". Além disso, aponta a reciclagem como o melhor destino para elas: "Como qualquer outro produto feito com plástico comum, as sacolas são 100% recicláveis".
Na opinião de Merheg Cachum, presidente da Associação Brasileira da Indústria do Plástico (Abiplast), o problema maior é a educação em relação ao lixo. Segundo ele, está havendo muito "oba-oba" sobre o assunto: "As sacolas plásticas são totalmente recicláveis. O que falta é o governo disciplinar a coleta seletiva e fornecer recursos para que ela possa acontecer".
Já o diretor superintendente da RES Brasil, Eduardo Van Roost, afirma que a atitude do governador de São Paulo "foi uma questão política e não de viabilidade". De acordo com ele, o projeto de lei apresentado na Assembléia "reflete a tendência mundial de banimento das embalagens plásticas e de resolver o problema do plástico como um todo, e não só o das sacolas". Além disso, "o plástico oxibiodegradável é adotado em mais de 50 países e aprovado internacionalmente por laudos que atestam sua eficácia e segurança". Em sua opinião, as críticas ao oxibiodegradável resultam da falta de informação: "Tem muita gente que não se baseia em argumentos técnicos corretos".
O professor Sabetai Calderoni, doutor em ciências pela USP e presidente do Instituto Brasil Ambiente, empresa especializada em consultoria para projetos de licenciamento ambiental e reciclagem, afirma que o uso indiscriminado de sacolas feitas de plástico comum é péssimo para o meio ambiente. No entanto, segundo sua avaliação, o plástico oxibiodegradável é prejudicial da mesma forma, pois, se tem a capacidade de se decompor com maior rapidez, também impregna o solo com materiais poluentes. Calderoni aponta possíveis soluções. Reciclar é uma boa opção, embora não resolva totalmente o problema, na medida em que apenas alguns materiais, como vidro, aço e alumínio, podem ser reaproveitados indefinidamente. O plástico, por sua vez, possui ciclo de vida limitado. O processo continuado causa sua degradação física, tornando-o impróprio para a reciclagem depois de determinada etapa. A partir daí, a melhor alternativa é transformá-lo em combustível para a geração de energia por meio da queima. No entanto, a opção mais correta já é bem conhecida: "A vovó é que tinha razão: usava a mesma sacola várias vezes", afirma ele, referindo-se às reutilizáveis como a solução ideal.
Revista Problemas Brasileiros
Lixo ,tesouro abandonado
Lixo ,tesouro abandonado
Cada brasileiro gera quase meia tonelada de lixo todo ano. O melhor caminho para driblar o caos é uma equação de três
por Cláudia Baima
Em vários países do mundo desenvolvido já existem comunidades que praticamente não produzem lixo. Chamam-se “parques eco-industriais” e são de um bom senso desconcertante. O parque de Kalundborg, na Dinamarca, tem uma usina de energia, uma indústria farmacêutica, uma fábrica de lambris e uma refinaria de óleo. Essas empresas dividem o uso das fontes de energia de que precisam, como gás e água refrigerada, e mantêm entre si um comércio que elimina o que hoje conhecemos como resíduo: o que sobra numa empresa é interessante para a outra. A usina de força vende o dióxido sulfúrico que entope suas chaminés para a fábrica de lambris, que usa isso como matéria-prima. E assim por diante. Até o calor produzido nas fábricas é conduzido a residências e estufas agrícolas.
Enquanto não fazemos uma reengenharia geral de nossos centros industriais e urbanos para chegar a um mundo mais Kalundborg, temos de pensar em três coisas: reduzir, reutilizar e reciclar. É uma equação conhecida como 3R, de uso fácil nas empresas, e que tende a ser disseminada nas casas, nas ruas e em todo lugar. Porque já somos seis bilhões de habitantes, seremos mais, e quanto mais formos mais lixo produziremos. Os Estados Unidos fazem cerca de 200 milhões de toneladas todo ano, algo como 725 quilos por pessoa. O Brasil está na casa dos 88 milhões de toneladas, o que dá mais ou menos 440 quilos para cada um. São 240 000 toneladas por dia. Sem falar no lixo industrial, que polui o ar, a água e a terra.
O raciocínio pode não ser original, mas é muito oportuno: ou acabamos com o lixo ou o lixo acaba com a gente.
O que o mundo faz com o lixo hoje
Nosso primeiro grande engano é quanto ao que produzimos e consumimos. Numa economia como a de hoje, que, cada vez mais, imita os padrões americano e europeu, usamos materiais demais para fabricar tudo. Nossos automóveis e equipamentos ainda são enormes, têm milhares de componentes, e quase tudo que compramos possui uma embalagem externa, outra interna, e inclui um papel de embrulho e um saquinho para carregar. Tudo isso, mais dia, menos dia, vira lixo.
A reutilização e a reciclagem de materiais está ganhando adeptos na indústria e nos lares, mas ainda é pouco expressiva diante da montanha de excessos que destinamos aos lixões, aterros sanitários e incineradores. O Japão, que é um dos países mais adiantados no gerenciamento do lixo, recicla 50%. Os Estados Unidos e a Europa caminham para esse patamar e já estão acabando com os aterros – que de sanitários têm muito pouco – para construir depósitos de alta tecnologia, capazes de amenizar as complicações do armazenamento, além de usinas de reaproveitamento e reciclagem.
Nova York produz 80 000 toneladas de lixo por dia, segundo dados do World Resources Institute. Quarenta por cento é reciclado e o restante vai para aterros ou incineradores. A cidade de São Paulo produz 13 800 toneladas de lixo por dia, segundo dados da Limpurb – 92% vão para dois grandes aterros, enquanto 7% seguem para incineradores (extremamente poluidores) e usinas de compostagem (extremamente interessantes, uma vez que transformam lixo orgânico em fertilizantes naturais). Apenas 1% é reciclado. Metrópoles como essas têm ainda um problema político para resolver: elas não têm espaço para novos lixões ou aterros e não encontram mais municípios interessados nesse presente de grego. Nos próximos anos, esse conflito trará uma discussão profunda sobre o lixo.
Aterros sanitários não podem ser construídos perto de cidades, já que cheiram mal, facilitam a proliferação de roedores, moscas e mosquitos, disseminam doenças como malária, dengue e peste bubônica, formam água de lixívia (uma solução acidificada que resulta da água de chuva misturada aos resíduos) e produzem metano (CH4) – gás incolor altamente explosivo criado pela decomposição de bactérias. Como agravante, uma parte do lixo é composta de pilhas, baterias de celular e outras maravilhas tecnológicas que contêm os terríveis materiais pesados, como cádmio, cobalto e mercúrio, ruins para o ser humano e para o meio ambiente.
No Brasil, de 5 507 municípios apenas 135 praticam algum tipo de coleta seletiva. E, a não ser por exceções pontuais, ainda estamos na fase do lixão, que vem antes do aterro. É o que, em linguagem técnica, se pode chamar de fim da picada – ou o começo dela, conforme o ponto de vista. Ainda assim, esbarramos em recordes mundiais quando o assunto é reciclagem de alumínio: damos conta de cerca de 73% da produção nacional.
O que podemos fazer de agora em diante
É essencial que se limite a geração de lixo ao máximo, seguindo o princípio de “redução na fonte”. As embalagens representam, em média, 50% do volume e 30% do peso do lixo. Ou seja, entre evitar o lixo e não lhe dar um destino adequado depois, a primeira opção é mais sensata. Poderemos contrariar a indústria de consumo e mudar de hábitos, passando a comprar só o necessário, consertando em vez de substituir.
Algumas iniciativas que estão dando certo no Primeiro Mundo poderiam se propagar. Um decreto na União Européia obriga que os fabricantes de automóveis se responsabilizem por 85% dos materiais de seus carros a partir de 2006. Em vários países, os fabricantes de produtos muito poluentes, como pilhas e baterias, são obrigados a gerenciar seu destino final (o mesmo começa a acontecer no Brasil). Na Espanha, produtores de azeite estão queimando o bagaço da azeitona para gerar energia. A Monsanto e a Heartland Faber trabalham juntas numa variação de milho cujas fibras interessem às indústrias de papel. Já existem máquinas que trocam dinheiro por garrafas plásticas e podemos esperar por micróbios que transformam moléculas poluidoras em substâncias inofensivas – uma ajuda e tanto para os ecossistemas combalidos.
Mas se nem a preservação de um meio ambiente saudável parece suficiente, podemos acordar para o fato de que lixo é dinheiro. Na verdade, é um tesouro. Calcula-se que, para cada tonelada reciclada, economizam-se perto de 500 dólares. Segundo o economista Sabetai Calderoni, do Núcleo de Políticas e Estratégias da Universidade de São Paulo, autor do livro Os Bilhões Perdidos no Lixo, o Brasil poderia ganhar 5,8 bilhões de reais por ano com a reciclagem. Mais uma vez, basta observar a natureza: tudo o que ela produz é transformado, para depois servir a outro fim. E sem ganhar um tostão.
Daqui pra frente...
CENÁRIO NEGATIVO
Manteremos a impressão de que o ciclo do lixo acaba na porta de casa, portanto consumiremos e poluiremos em excesso. Os lixões e aterros não terão como crescer ou se multiplicar, por isso contaminarão o meio ambiente e as pessoas. Quando acordarmos, será tarde.
CENÁRIO POSITIVO
A ficha cai. Um modo de vida mais simples e prático reduz o consumo ao necessário. Tudo é reutilizável ou reciclável, nada se perde. Rios e lagos se recuperam, assim como a terra e o ar. Seremos felizes e mais saudáveis com muito menos.(junho/2001)
Revista Super Interessante
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