quarta-feira, 17 de julho de 2013

CLIMAS



Obama lança plano de combate às mudanças climáticas
Presidente propôs ações em três frentes: reduzir as emissões de gases de efeito estufa para produção de energia; preparar os EUA para mudanças futuras e liderar esforços internacionais

Das agências internacionais

O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, propôs nesta terça-feira, 25, uma série de medidas para combater as mudanças climáticas. Em discurso na Universidade Georgetown, ele propôs ações em três frentes: reduzir as emissões de gases de efeito estufa da produção de energia; preparar o país para as mudanças que vão ocorrer e liderar os esforços internacionais para que o mundo encontre uma forma de lidar com a questão. 

Na semana passada, em Berlim, dando pistas do que estava por vir, Obama afirmou que as mudanças climáticas são a “ameaça global do nosso tempo” e prometeu ações para evitá-la.

Hoje destacou a "obrigação moral" que sente em iniciar a implementação de políticas avançadas que possam conter as emissões de gases de efeito estufa nos Estados Unidos e no exterior, na falta da uma legislação vinda do Congresso.

Mesmo sem citar metas numéricas, anunciou a adoção de padrões mais rígidos para usinas de energia novas e antigas. O projeto também inclui mais apoio federal para desenvolvimento e eficiência energética de combustíveis fósseis, além do rompimento de barreiras comerciais para produtos de energia limpa e impulsionar a cooperação bilateral climática com grandes economias como a China, Índia e Brasil.

Também ordenou que a Agência de Proteção Ambiental (EPA, na sigla em inglês) "estabeleça padrões de poluição por carbono tanto para usinas de energia novas quanto para as já existentes", em conjunto com os Estados, a indústria de energia e outras partes interessadas.
Jornal O Estado de S. Paulo

Os céticos do clima já ganharam


A humanidade decidiu bocejar e deixar que os perigos reais e imediatos das mudanças climáticas se acumulem. Foi esse o argumento que apresentei em minha coluna da semana passada. Nada que apareceu nas respostas à coluna enfraqueceu minha conclusão. Quando muito, as reações a reforçaram.

A julgar pela inação do mundo, os céticos climáticos já ganharam. Esse fato torna ainda mais surpreendente o sentimento que eles manifestam de terem queixas não atendidas. Para o restante de nós, a interrogação que fica é se ainda há algo que possa ser feito, e, se sim, o que é.

Ao analisar esta questão, uma pessoa racional certamente deve reconhecer o grau de consenso existente entre os cientistas climáticos quanto à hipótese do aquecimento provocado pelo homem.

Uma análise dos resumos de 11.944 artigos científicos revistos por pares, publicados entre 1991 e 2011 e redigidos por 29.083 autores, conclui que 98,4% dos autores que adotaram uma posição confirmaram o aquecimento global provocado pelo homem (antropogênico), 1,2% o rejeitaram e 0,4% se disseram incertos. Análises alternativas dos dados renderam proporções semelhantes.

Uma resposta possível consiste em insistir que todos esses cientistas se equivocaram. Isso é concebível, é claro. Cientistas já se equivocaram no passado. Mas rejeitar este ramo da ciência unicamente porque suas conclusões são tão incômodas é irracional, embora seja compreensível.

Isto nos conduz a uma segunda linha de ataque: insistir que esses cientistas foram corrompidos pelo dinheiro e a fama. A este argumento eu respondo: será mesmo? É plausível que uma geração inteira de cientistas tenha inventado e defendido um logro evidente para obter ganhos materiais (modestos), ciente de que a fraude será descoberta?

É mais plausível que os cientistas que rejeitam a visão mais comum o façam por justamente esses motivos, já que interesses poderosos se opõem ao consenso climático, e os acadêmicos do lado deles (os céticos) do debate são em número muito menor.

Infelizmente, por mais racional possa ser buscar reduzir o risco de resultados catastróficos, não é isso o que está acontecendo agora, nem parece provável que aconteça no futuro previsível.

Os dados sobre a queima de combustíveis fósseis desde meados do século 18 indicam um aumento regular nas emissões anuais de dióxido de carbono. É verdade que esses dados apontam para uma desaceleração no aumento das emissões anuais nas décadas de 1980 e 1990. Mas essa desaceleração foi invertida na década de 2000, quando a queima de carvão pela China aumentou (ver gráfico). Hoje, 30% do CO2 presente na atmosfera é diretamente devido à humanidade.

O que está por trás desse crescimento recente nas emissões está muito claro: o crescimento econômico de emparelhamento. A China foi responsável por 24% das emissões globais totais em 2009, contra 17% dos Estados Unidos e 8% da zona do euro. Mas cada chinês emite apenas um terço do volume emitido por um americano e menos de 4/5 do que é emitido por cada residente da zona do euro.

A China é uma economia emergente relativamente perdulária, em termos de suas emissões por unidade de produção. Mesmo assim, ela emite menos per capita que os países de alta renda, porque sua população ainda é relativamente pobre. Seus líderes consideram, justificadamente, que não existe razão moral para aceitarem um teto de emissões para cada indivíduo chinês que seja muito mais baixo que o nível ao qual os americanos consideram que têm direito.

À medida que os países emergentes se desenvolvem, as emissões per capita vão tender a subir em direção aos níveis presentes nos países de alta renda, com isso elevando a média global. É por essa razão que as emissões globais per capita subiram 16% entre 2000 e 2009, período marcado por crescimento acelerado nas economias emergentes.

Portanto, esqueça o discurso: não apenas os estoques de CO2 na atmosfera, mas até mesmo os fluxos de CO2 estão piorando. Os céticos convencidos de que o melhor a fazer é não fazer nada podem parar de reclamar: eles já ganharam.

E como ficamos nós, os outros? As chances de que a humanidade alcance a redução de emissões necessária para manter as concentrações de CO2 abaixo de 450 partes por milhão, com isso reduzindo em muito os riscos de uma elevação superior a 2ºC na temperatura global, são de quase zero. A redução de 25%-40% nas emissões dos países de alta renda até 2020, que seria necessária para conduzir o mundo a esse caminho, não vai acontecer.

Mas isso não quer dizer, de maneira alguma, que a inação deva continuar. A não ser que se concretize o cenário mais apocalíptico, a humanidade ainda pode reduzir as emissões e comprar tempo para sua sobrevivência. O que fazer, então, nesta situação tenebrosa? Seguem oito possibilidades.

Primeira: implementar impostos de carbono. Cobrar impostos sobre coisas negativas é sempre um bom começo. No contexto atual, as emissões de CO2 constituem uma coisa negativa.

Impostos são a maneira mais simples de deslocar incentivos. Como a receita tributária beneficiaria cada governo, ela poderia ser utilizada de modo pontual para reduzir outros impostos --sobre o emprego, por exemplo. As complexas questões de distribuição global poderiam ser ignoradas. Seria melhor se fosse possível os governos se comprometerem com uma tabela tributária crescente de longo prazo, proporcionando a investidores algum grau de previsibilidade do custo do carbono.

Segunda: optar pela energia nuclear. É graças a ela que a França é uma economia que gera tão pouco carbono. É um modelo ao qual outros países deveriam aderir, e não do qual deveriam fugir.

Terceira: impor padrões realmente rígidos de emissões a automóveis, eletrodomésticos e outros tipos de máquinas. A inovação cresceria em resposta a um misto de padrões de preços e regulamentação, como já aconteceu tantas vezes no passado. Se não nos atrevermos a perguntar, não saberemos do que as empresas são capazes em termos de inovação.

Quarta possibilidade: criar um regime global seguro de comércio de combustíveis de carbono mais baixo. Essa seria uma maneira de persuadir a China a afastar-se do consumo do carvão.

Quinta: desenvolver maneiras de financiar a transferência das melhores tecnologias possível para a criação e, ainda mais importante, a economia de energia em todo o planeta.

Sexta: deixar que os governos invistam em pesquisas e inovações em estágio inicial, adotando um misto de financiamento de pesquisas universitárias e apoio a parcerias público-privadas.

Sétima: investir na adaptação aos efeitos das mudanças climáticas. Este ponto certamente terá que ser foco de assistência ao desenvolvimento no futuro. Essa adaptação pode incluir deslocamentos populacionais em grande escala.

Finalmente: estudar a geoengenharia --a manipulação em grande escala do planeta para reverter as mudanças climáticas--, por mais tenebrosa essa ideia possa ser.

Nada disso será o suficiente para eliminar os riscos de mudanças climáticas gravemente adversas. Mas parece ser o melhor que podemos fazer agora, em vista das pressões econômicas.

A tentativa de afastar nossas escolhas daquelas que agora estão alimentando o crescimento constante das emissões fracassou. E vai continuar a fracassar, por enquanto. As razões disso são profundamente enraizadas. É provável que isso só mude diante da ameaça de mais desastres iminentes, e, até isso acontecer, é muito possível que já seja tarde demais. Trata-se de uma verdade deprimente, e é muito possível que seja um fracasso que condene a todos nós.

Tradução de CLARA ALLAIN

É comentarista chefe de Economia no jornal britânico "Financial Times". É membro honorário do Instituto de Política Econômica de Oxford e professor honorário da Universidade de Nottingham. Participa do Fórum de Davos desde 1999 e do Conselho Internacional de Mídia desde 2006. É doutor em letras pela Universidade de Nottingham e doutor em economia pela London School of Economics (LSE)
Folha de S. Paulo

Temperatura pode subir 4,8ºC, diz relatório do IPCC

Segundo o documento, o principal culpado pela elevação da temperatura terrestre é o homem
 Débora Spitzcovsky
Fonte: 
Thinkstock
O número do relatório é maior do que os 2ºC previstos pelos cientistas ligados às Nações Unidas

O Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), da ONU, é a mais nova vítima da rede. Na última sexta-feira (14), vazou na internet uma versão preliminar do Quinto Relatório de Avaliação da organização, mais conhecido como AR5. O documento, que atesta a atual situação do planeta, com base nas mudanças climáticas, estava previsto para ser lançado, apenas, em setembro de 2013.

O rascunho traz uma informação preocupante: muito além dos 2ºC considerados seguros pelos cientistas ligados às Nações Unidas, a temperatura do planeta pode subir até 4,8ºC neste século, com base nos níveis de 1950. E mais: contrariando muitos céticos, o documento afirma que o principal culpado desse aquecimento global é o homem.

Segundo o texto, "é extremamente provável que as atividades humanas tenham causado mais da metade do aumento observado na média global das temperaturas da superfície nos últimos 60 anos". Sendo que, de acordo com os padrões do IPCC, o termo "extremamente provável" significa, ao menos, 95% de certeza.

A prévia do AR5 ainda afirma que o nível dos oceanos deve subir entre 29 e 82 centímetros até 2100, ameaçando a população de áreas de baixa altitude, como Bangladesh, Nova York, Londres e Buenos Aires. No último relatório do IPCC, divulgado em 2007, os cientistas haviam previsto um aumento de 18 a 59 centímetros no nível dos mares.

Em comunicado oficial, o Painel da ONU não quis comentar muito o assunto. A organização, apenas, lamentou o ocorrido e disse que a divulgação prematura e não autorizada do texto pode provocar confusão, já que o relatório ainda estava sendo produzido e, provavelmente, sofreria alterações até ser lançado.

A prévia do texto foi divulgada no blog de um cético do clima americano, chamado Alec Rawls, que queria provar que os sumários executivos dos relatórios do IPCC sofrem interferência política antes de serem lançados "para dar a impressão de que existe uma crise climática descontrolada e, assim, manter o público com medo". Rawls está entre os 800 revisores que foram recrutados pelo IPCC para checar as informações do AR5 e, por isso, tinha acesso ao documento.
National Geographic Brasil

Notícias Geografia Hoje

Nuvens ajudam previsão do tempo
DAVID FERRIS
DO "NEW YORK TIMES"

Desde o início, o brasileiro Carlos F. Coimbra sabia que precisava decifrar o código das nuvens.

Professor de engenharia da Universidade da Califórnia em Merced, ele liderou uma campanha bem sucedida para que 15% da energia da escola viesse de um conjunto de painéis solares.

Em duas ocasiões, porém, as nuvens frustraram seus esforços, lançando sombras inesperadas e forçando a escola a depender da energia convencional.

Então, ele tentou um novo tipo de previsão. Ele escreveu um algoritmo de computador para projetar como as nuvens se movimentam e mudam de forma.

Hoje, seis anos mais tarde, Coimbra, 44, e seu colaborador, Jan P. Kleissl, 37, criaram um mecanismo de previsões que afirmam ser 20% a 40% mais preciso do que o modelo comumente usado.

Especialistas em meteorologia, energia e rede elétrica dizem que a inovação pode acelerar a adoção de fontes de energia renovável e possibilitar a economia de bilhões de dólares.

"Não posso dizer o que vai acontecer às 16h23 de domingo", disse Coimbra, cujas previsões se estendem por sete dias, mas com precisão decrescente. "Mas posso dizer o que vai acontecer hoje entre o meio-dia e as 18h."

O potencial de economia de custos atraiu o interesse de empresas que constroem e operam usinas de energia solar, além de empresas de eletricidade e operadores da rede elétrica.

Uma previsão certeira torna mais fácil o uso da energia esporádica do sol e do vento, levando a energia renovável a ter um grau de confiabilidade próximo ao de uma usina de combustível fóssil ou de energia nuclear.

À medida que poupa dinheiro nos mercados energéticos, a tecnologia também dinamiza o mundo das previsões meteorológicas.

As previsões ajudam os aeroportos a ter uma noção mais exata de quando tempestades vão chegar e ir embora, o que resulta em menos atrasos de voos.

Essa tecnologia também pode dizer a agricultores quando será a primeira geada do ano ou quando haverá um temporal, reduzindo a necessidade de bombear água para a irrigação.

Além disso, uma boa previsão pode guiar bombeiros que combatem incêndios florestais, projetar o percurso de um ataque de bioterrorismo ou localizar com precisão o caminho que será seguido por um tornado.

É provável que as previsões tenham sua primeira aplicação em usinas de energia solar e eólica, algumas das quais mantêm grandes e caros bancos de baterias para armazenar energia extra e liberá-la, se necessário.

Operadores da rede elétrica se acotovelam para comprar energia no mercado financeiro quando as fontes de energia relacionadas ao tempo escasseiam, pagando dez a cem vezes a mais do que pagariam se comprassem com um dia de antecedência.

Uma previsão perfeita dos ventos, se representasse 20% do fornecimento energético, pouparia entre US$ 1,6 bilhão e US$ 4,1 bilhões por ano.

O instrumento mais importante da tecnologia criada por Coimbra é uma câmera com uma lente grande-angular que faz fotos de 13 km2 do céu a cada 30 segundos.

Esse aparelho monitora a velocidade das nuvens e gera uma previsão para os próximos três a 20 minutos.

Para períodos maiores de tempo, o algoritmo de computador digere dezenas de medidas -irradiância solar, velocidade do vento, imagens de satélite, umidade do solo- e determina quais são relevantes.

Ninguém sabe como serão usadas as previsões solares quando elas forem aperfeiçoadas, mas Coimbra acha que suas viagens de motocicleta serão beneficiadas: "Vou saber o quanto posso ir antes de a chuva chegar."
Folha de S.Paulo

Por que a pressão atmosférica muda com a altitude?



A variação da pressão atmosférica está ligada à força da gravidade. Essa força tem origem no centro da Terra e atrai tudo o que está no planeta, inclusive a atmosfera (camada de gases que circunda a crosta terrestre). Quanto mais próximo da superfície, maior é a força exercida e, portanto, maior a pressão que a atmosfera faz sobre um ponto.
Franco Villela, meteorologista do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), na capital paulista.
Revista Nova Escola

Depois do dilúvio

Inundações, secas e ondas de calor vêm alertando administradores urbanos a tomar medidas ousadas para proteger pessoas e propriedades
por John A. Carey


Getty images
Inundações como esta do rio Delaware força cidades a planejar para o clima radical

Durante um século Dubuque, no estado americano de Iowa, atraiu trabalhadores. Conforme surgiam, as novas gerações construíram casas, lojas e ruas que acabaram por cobrir o córrego Bee Branch. A água borbulhava por tubos subterrâneos fora da vista e da memória de muitos.

Até que as chuvas vieram. Em 16 de maio de 1999, 14,2 cm de chuva caíram em 24 horas. Os tubos do riacho e as galerias pluviais transbordaram, levantando as tampas de bueiro e transformando as ruas em rios furiosos na altura do peito das pessoas. Centenas de casas e empresas foram inundadas.

O prefeito Roy Buol se lembra com detalhes da reunião de bairro realizada algumas semanas depois. “Todos estavam perturbados”, diz ele. Em 2001, a cidade concebeu um plano-mestre para resolver o problema da inundação: transformar o riacho submerso novamente em rio aberto com margens graduadas para dar conta das enchentes. Claro que isso exigiria derrubar dezenas de casas. “A sugestão não foi bem recebida”, segundo Deron Muehring, engenheiro civil da cidade. O planejamento foi interrompido.

Então, em junho de 2002, caíram mais de 15 cm de chuva durante dois dias, jogando novamente água da tempestade nas casas e edifícios que tinham acabado de ser reformados. Isso ajudou a romper o impasse político e uniu os líderes da cidade num plano de US$ 21 milhões para refazer o bairro que precisou eliminar casas e adicionar um parque verdejante com um riacho passando por ele, juntamente com duas bacias de retenção. A decisão não dependeu de palavras sobre a mudança climática ou da necessidade de salvar o planeta para as gerações futuras. Os moradores estavam fartos, e líderes locais temiam que o bairro sofresse um declínio irreversível. A cidade começou comprando 74 propriedades e o início da construção ocorreu após outra inundação em 2010. Engenheiros já restauraram cerca de 610 m do córrego Bee Branch. Quando o projeto estiver concluído em 2013, a cidade poderá até resistir a novos dilúvios de 25 cm ou mais de julho passado, que provocaram vários milhões de dólares em prejuízos.

As ações de Dubuque são um microcosmo de uma história maior que se desdobra em todos os Estados Unidos. As políticas federais de combate às mudanças climáticas estão paralisadas, e alguns membros do Congresso acusam os cientistas de inventarem tudo. Mas as cidades, vilarejos, autoridades de fornecimento de água, agências de transportes e outras entidades locais não estão interessadas em debater se a mudança climática é real ou não: estão agindo agora. Como Dubuque, eles já enfrentam enchentes, secas, ondas de calor, elevação dos mares sem precedentes e a morte e destruição que esses acontecimentos podem impor. “Temos de levar a adaptação a sério”, avalia o senador do estado de Iowa, Rob Hogg.

Aproximadamente 16 estados americanos têm ou estão desenvolvendo planos de adaptação às alterações climáticas, segundo o Georgetown Climate Center, em Washington, D.C., que trabalha com os estados. [Informação: a esposa do autor, Vicki Arroyo, é diretora- executiva do centro.] Embora ninguém tenha computado os números exatos, centenas de comunidades e agências vêm reagindo ao clima cada vez mais severo. Os que não estão trabalham com tapa-olhos, como sempre, segundo a urbanista Mikaela Engert, que ajudou a desenvolver os planos para Keene, New Hampshire.

Gente corajosa
O pacote emergente de iniciativas de adaptação concentra-se por vários pontos em comum. O primeiro é que nada chama mais atenção que casas inundadas ou reservatórios secos na comunidade. Mesmo em Dubuque, na conservadora Iowa, o argumento de que a mudança climática é uma farsa diminuiu quando as inundações continuaram chegando. “Quantos desses eventos que costumavam acontecer a cada 500 anos devem acontecer a cada poucos anos antes de você perceber que algo está mudando?” questiona o prefeito Buol. “Quer o homem esteja contribuindo ou não, o clima vem mudando em ritmo mais acelerado que em qualquer outra época da história.”

O segundo ponto é que “toda adaptação é local”, como observa Michael Simpson, presidente de estudos ambientais da Antioch University. É claro que a reação da San Francisco Bay Area à elevação dos mares que ameaça aeroportos, portos marítimos e comunidades costeiras deve ser diferente do plano de Chicago de construir telhados “verdes”, plantar árvores e instalar calçada “fria” para conter as ondas de calor. Com certeza, iniciativas nacionais e regionais podem desempenhar papéis relevantes. Mas a adaptação para os problemas locais depende de “gente corajosa”, que vai enfrentar o desafio, segundo Susanne Moser, consultora de adaptação ao clima e fellow da Stanford University.

Essas pessoas têm seu trabalho interrompido devido ao fato de a adaptação ser difícil. “Não é uma prioridade para as pessoas em geral”, avalia o senador Hogg. O processo de planejamento em si é um desafio, pois deve reunir muitos partidos. Mesmo quando medidas eficazes podem ser tomadas, muitas vezes há barreiras orçamentárias, políticas ou regulatórias. A adaptação fica ainda mais difícil quando as ameaças são incertas. Embora pareça óbvio diversificar o abastecimento de água diante da previsão de secas, como a Denver Water vem fazendo, é menos claro como fazer
adaptações, digamos, para as quebras generalizadas de safra, como as do Texas e Oklahoma.

As complexidades explicam por que as respostas são variadas. Por um lado, “fizemos progressos surpreendentes em período relativamente curto”, avalia Steve Adams, diretor da Climate Leadership Initiative, em Eugene, Oregon. Alguns exemplos: a Southern Nevada Water Authority está escavando um sistema de captação de águas de US$ 700 milhões abaixo do lago Mead para que a água ainda flua para o vale de Las Vegas quando os níveis do lago caírem abaixo das duas captações atuais, o que deve acontecer em breve. Toronto construiu uma nova rede de bacias de águas pluviais e drenos em resposta a várias inundações intensas recentes. Maryland está construindo embarcadouros mais altos e tem como alvo a aquisição de terras que possam agir como barreira contra a elevação do nível do mar e tempestades repentinas.

Vermont, que sofreu danos sem precedentes com o furacão Irene, planeja reconstrução melhor e mais sólida. “Antes, mudávamos nossos códigos e normas racionalmente para tornar nossa infraestrutura mais resistente à variação do tempo devido à mudança climática global”, declara Gina Campoli, gerente de política ambiental da Vermont Agency of Transportation. “Atualmente fazemos apenas isso.

cortesia da cidade de Dubuque

Dubuque, Iowa, abriu um riacho subterrâneo para absorver água durante as tempestades em vez de inundar a cidade.

Mais chuva, mais seca
Mais problemas devem aparecer, pois a ciência pinta um quadro cada vez mais certo de clima sendo alterado por ações humanas. Os modelos climáticos preveem, por exemplo, aumento da temperatura média noturna e, atualmente, as medidas mostram inequivocamente o que está acontecendo. O fenômeno pode estar provocando queda na produção do milho, pois as plantas respiram mais (emitem dióxido de carbono) durante as noites mais quentes, queimando o combustível que poderia ser usado para fazer crescer os grãos.

Os modelos preveem que com o aumento da temperatura da Terra, o calor e a seca aumentarão em faixas de todo o sudoeste americano e no Oriente Médio e que as ondas de calor serão mais comuns em latitudes mais altas, em locais que vão do centro-oeste superior americano à Rússia. O que vem acontecendo também.

Finalmente, esses modelos predizem mais dilúvios, como os que atingiram Vermont e Nova York no verão passado. Para cada 1 grau Celsius de aumento da temperatura, a atmosfera consegue reter mais 7% de umidade. Ou seja, 2%-3% mais de chuva em geral, mas 6%-7% a mais de eventos extremos de precipitação.

Sem um grande corte na emissão de gases de efeito estufa, “esses acontecimentos se tornarão mais comuns”, avalia Michael Wehner, cientista da equipe do Lawrence Berkeley National Laboratory. “Acho que ninguém discorda disso.” O trabalho de Peter Stott, chefe de monitoramento do clima e atribuição do U.K. Met Office, mostra que as chances de uma onda de calor como a que atingiu a Europa em 2003 multiplicaram- se por quatro se comparadas com os dias pré-industriais.

Embora seja impossível dizer que qualquer evento climático radical tenha sido provocado diretamente pela mudança climática, isso “não importa, porque é assim que a mudança climática se apresenta, e temos de estar preparados”, avalia David Behar, diretor de programa de clima da San Francisco Utilities Commission. Um projeto para o qual Simpson trabalhou usou informações passadas de pluviômetros em New Hampshire para mostrar que, das 15 maiores enchentes do estado desde 1934, 10 ocorreram nos últimos 15 anos, e que a quantidade torrencial de chuva no que costumavam ser tempestades a cada 200 anos atualmente ocorre a cada 25 anos. Mas a maioria dos engenheiros da Nova Inglaterra ainda projeta bueiros, bocas de lobo e pontes baseada em dados pluviométricos das décadas de 20-50. “Boa parte da infraestrutura construída agora está subdimensionada”, afirma Simpson.



Primeiros passos

O termo “mudança climática”, altamente politizado, nem precisa ser invocado para convencer as comunidades a rever suas práticas. Metrópoles e cidades que passaram pelos piores desastres tendem a estar na vanguarda da adaptação, e os líderes locais podem conseguir apoio da comunidade para superar as barreiras. Um bom exemplo é Keene. Em outubro de 2005, três dias após Simpson apresentar um relatório ao conselho da cidade identificando bueiros e estradas vulneráveis numa grande tempestade, a região foi atingida por 27,5 cm de chuva. A água destruiu esses bueiros e estradas, além de casas e pontes, paralisou a estação de tratamento de água e provocou várias mortes. O desastre estimulou a cidade, com pequena ajuda externa, a desenvolver um dos primeiros e mais abrangentes planos de adaptação do país, liderados pelo diretor de planejamento Rhett Lamb, e a encontrar financiamento para melhorias. Calçadas ao longo de uma das principais ruas da cidade – Washington Street – acabam de ser substituídas por concreto poroso, e estradas vicinais foram revestidas com bordas gramadas em vez de meios-fios, para que nos dois casos a água da chuva possa se espalhar e penetrar lentamente no terreno circundante em vez de subir na rua, provocando inundações.

Em Charles City, Iowa, o ponto de inflexão foi uma inundação devastadora em 2008, quando o rio Cedar se elevou quase 90 cm acima do recorde anterior. Quando as pessoas veem suas casas cheias de água “elas realmente refletem sobre a mudança no número de tempestades”, relata o administrador da cidade, Tom Brownlow. “Cabe a nós da liderança dizer: 'Este é um problema de longo prazo que devemos abordar'.” A cidade concordou. Demoliu 16 quarteirões de ruas e instalou pavimentação permeável sobre uma camada espessa de rocha e cascalho. O sistema permite a passagem da água para baixo do solo em vez de escorrimento superficial, provocando inundações. Além disso, a área sob a pavimentação carrega microrganismos que se alimentam de óleo e outros contaminantes antes que a água atravesse e finalmente chegue ao rio. A cidade também transformou a beira-mar, com amenidades como raias para canoagem de classe mundial. Agora “podemos ter uma chuva que só ocorre a cada 100 anos sem ficar com água parada nas ruas”, segundo Brownlow.

Os produtores de milho de Iowa também reagiram ao aumento de chuvas no estado. Gastaram dezenas de milhares de dólares, instalando mais cerâmicas de drenagem, para manter os campos menos encharcados, situação que pode atrasar o plantio e retardar o desenvolvimento das culturas. Ironicamente, eles também vêm plantando até três vezes mais sementes por acre, aproveitando o aumento de umidade no solo de primavera para cultivar mais culturas nos mesmos domínios. Mesmo que em grande parte os agricultores neguem que os humanos estejam alterando o clima, “eles já estão se adaptando e ganhando dinheiro com isso”, segundo Gene Takle, professor de meteorologia e mudanças climáticas globais da Iowa State University.

As inundações são uma ameaça imediata das mudanças climáticas. Mas certas comunidades estão se adaptando a efeitos de longo prazo. A San Francisco Bay Area, por exemplo, planeja gastar de US$ 20-40 milhões, reformando 16 emissários de esgoto na baía, para evitar que a elevação do mar e as tempestades empurrem a água de volta nos emissários e estações de tratamento de esgoto.

Uma pessoa persistente tem incutido uma visão de longo prazo em Hayward, Califórnia, na costa oriental da baía de São Francisco. Quando Bill Quirk, ex-modelador climático da Nasa e especialista em armas nucleares, ganhou um assento no conselho da cidade em 2004, ele tentou várias vezes fazer a cidade prestar atenção à ameaça da elevação do nível do mar, sem sucesso. “Eu era novo e não sabia como encaminhar as coisas”, diz ele.

Então, na véspera do Ano Novo de 2006, ondas de tempestade na maré alta arremeteram sobre os diques de proteção da cidade, provocando grandes prejuízos. A pedido de Quirk, a Hayward Área Shoreline Planning Agency destinou US$ 30 mil para estudar soluções. Nos séculos passados, sedimentos que vinham de riachos e córregos se acumulavam em áreas úmidas ao longo da baía, criando zonas-tampões contra ondas de tempestades. Mas assim que os riachos foram canalizados em bueiros e tubulações, o sedimento começou a fluir para fora na baía, onde se acumula em marinas e canais de navegação. A agência espera iniciar projetos-pilotos que permitam que um pouco de água e sedimentos retornem banhando mais uma vez as zonas úmidas para ajudar a sustentá-las.

A adaptação é mais difícil de ser concretizada quando as pessoas não enfrentam invasão de água sobre os diques ou porões inundados, especialmente quando os ventos orçamentários e políticos se opõem à ação. Em Iowa, o senador Hogg vem forçando um plano de recuperação das zonas úmidas que escoariam a água lentamente para os rios, reduzindo as inundações nas cidades. Mas não só a proposta não conseguiu passar no legislativo estadual, como os programas estaduais existentes estão sendo cortados. “Há momentos em que sinto que estou batendo a cabeça na parede”, o senador Hogg acrescenta, “mas temos de continuar a trabalhar.”

Encontrando resistência

Novas iniciativas poderiam necessitar de mais ajuda federal. Talvez venham mais coisas dali. Em 2009, o presidente Barack Obama exigiu que as agências governamentais desenvolvam seus próprios planos de adaptação ao clima até meados de 2012. Entre os que levam a tarefa a sério está o Departamento de Defesa, que se preocupa com as muitas instalações ao longo de costas vulneráveis. O Departamento de Transportes tem como objetivo identificar estradas,
pontes e outras infraestruturas que poderiam ser afetadas. E as agências protetoras de vida selvagem lutam para manter espécies, ecossistemas e refúgios de vida silvestre saudáveis diante de zonas de mudança climática.

Outro empurrão para a ação poderia vir do setor privado. A gigante de resseguros Swiss Re vem trabalhando com a McKinsey & Company e grupos ambientalistas sobre a economia da adaptação climática. Estudos de caso mostram que é muito mais barato para uma localidade gastar dinheiro agora e se tornar mais resistente que pagar prejuízos de desastres climáticos mais tarde, abordagem que, obviamente, beneficia as seguradoras também. A indústria de petróleo já elevou os padrões de resistência de equipamentos de perfuração para enfrentar furacões mais intensos. Da mesma forma, Joyce Coffee, vice-presidente da Edelman, que já ajudara a desenvolver um plano de adaptação de Chicago, está tentando convencer empresas de que a adaptação poderia criar grandes oportunidades. Um dono de shopping center que aposta em modernização no sistema de águas pluviais da comunidade, por exemplo, ganha boa vontade local, reduz o risco de danos provocados por inundações na propriedade e aumenta a chance de as pessoas ainda poderem fazer compras quando houver mau tempo.

Para Dubuque, com certeza vale a pena adaptar-se às mudanças climáticas. O desemprego é baixo, e espera-se que a renovação eleve os valores das propriedades e gere empregos. A cidade foi nomeada uma das cinco melhores e mais resistentes dos Estados Unidos, uma das dez mais inteligentes do planeta e uma das comunidades mais habitáveis do mundo. “As cidades que apostam na sustentabilidade desde o início terão vantagens econômicas, e é o que já estamos

John A. Carey é jornalista free-lancer, ex-correspondente-sênior da BusinessWeek, onde cobria ciência, tecnologia, medicina e meio ambiente.
Scientific American Brasil

Quais as semelhanças e diferenças entre furacão, tufão e ciclone?

Beatriz Santomauro
1. Ciclones e furacões têm a mesma formação. Sua origem é no mar, quando as águas atingem 27 ºC na superfície e evaporam.

2. O vapor de água aquecido sobe para as camadas mais frias, se condensa e forma nuvens densas de tempestade.

3. A condensação libera muita energia e cria uma zona de baixa pressão no topo, atraindo correntes ascendentes de ar.

4. Todo o ar ao redor tende a ser atraído para o centro (ou olho) do furacão e ocupa o espaço do ar que subiu, reforçando o fenômeno.

Todos são fenômenos caracterizados por grandes quantidades de ar que se deslocam de forma organizada em colunas verticais e executam um movimento giratório muito rápido, em função da energia do Sol e do movimento de rotação da Terra. Porém, de acordo com a velocidade do vento, recebem uma denominação diferente (veja no infográfico acima como esses ventos se formam). O ciclone é formado por ventos mais amenos. Quando eles são mais intensos, passam a ser chamados de furacão ou tufão - ambos têm as mesmas características, no entanto, nos países ocidentais, o fenômeno climático é denominado furacão, enquanto nos orientais é comum chamá-lo de tufão. Os efeitos e danos que esses fenômenos climáticos causam podem ser classificados de acordo com a intensidade de seus ventos, na escala anemométrica internacional de Beaufort, que vai do 0 ao 12.

Consultoria Luiz Cavalvanti, meteorologista chefe do Centro de Análise e Previsão do Tempo do Instituto Nacional de Meteorologia (Capre/Inmet). Cláudio Mendonça, geógrafo,professor do Colégio Stockler e autor de livros didáticos para o Ensino Médio.
Revista Nova Escola

Como se forma a chuva de granizo?

Renata Costa
Gelo acumulado na Rua Girassol,no bairro Vila Madalena.
Foto:Frederic Jean

As gotas de água que se evaporam dos rios, mares e da superfície terrestre, quando chegam às nuvens e encontram temperaturas abaixo de -80°C, viram gelo. Congelado, o vapor de água fica com mais peso do que a nuvem pode aguentar e cai, em forma de pedra de gelo, que chamamos de granizo.

A chuva de granizo, no entanto, não acontece nas regiões polares. O motivo? É que o granizo só se forma em um único tipo de nuvem, a cumulonimbus, também responsável por trovões e relâmpagos. Essa nuvem atinge até 25 km de altitude a partir da linha do Equador. "E ela só aparece nas regiões mais quentes", explica Mario Festa, professor de Meteorologia do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas (IAG) da Universidade de São Paulo. Isso acontece porque ela se forma graças a temperaturas elevadas e alto índice de umidade relativa do ar, mais raro nos países frios.

A ocorrência do granizo, portanto, é mais frequente nas regiões equatoriais, e vai diminuindo

gradativamente ao longo das regiões tropicais, extratropicais e temperadas. "Por isso, em algumas épocas do ano é até possível ter chuva de granizo na Escandinávia, mas é raro. Já nos polos, realmente, nunca foi registrada", diz o professor.

A pedra de gelo tem, em média, 0,5 a 5 centímetros de diâmetro, mas isso pode variar. Nos Estados Unidos, na década de 1970, foi registrado um granizo com 14 centímetros de diâmetro, com 750 gramas.
Revista Nova Escola

Notícias Geografia Hoje

cientistas associam terremotos às mudanças climáticas

pela primeira vez, estudo aponta influência do clima na ocorrência de tremores

Região atingida pelo terremoto e tsunami na cidade de Ishinomaki, Japão
Região atingida pelo terremoto e tsunami na cidade de Ishinomaki, Japão (Kimimasa Mayama/EFE)
A mudança climática pode ser responsável por potencializar o movimento das placas tectônicas, segundo um estudo geológico divulgado nesta quarta-feira na Austrália.

Um grupo de cientistas australianos, alemães e franceses estudou esse fenômeno na Índia, onde chegaram à conclusão que as monções se intensificaram durante os últimos dez milhões de anos.

Os pesquisadores descobriram que nesse período as chuvas aceleraram o movimento das placas da litosfera na região em um centímetro por ano.

O geólogo australiano Giampiero Iaffaldano falou sobre o ineditismo da pesquisa. "Pela primeira vez, se reconhece que a mudança climática pode, a longo prazo, atuar potencialmente como uma força e ter influência no movimento das placas tectônicas".

Iaffaldano assinalou que certos eventos geológicos causados pelo movimento das placas - como a criação dos continentes, o fechamento das conchas oceânicas e a formação dos cinturões montanhosos - podem ter influência no clima durante milhões de anos e com efeito retroativo.

Os cientistas consideram que o estudo pode contribuir para estudar os efeitos do movimento das placas tectônicas e determinar as regiões mais propensas a ser atingidas por devastadores tremores como o ocorrido recentemente no Japão.

"Para isso, deve-se levar em conta a história da mudança climática nos últimos milhões de anos", afirmou Iaffaldano.http://veja.abril.com.br

(com Agência EFE)

A utilização dos ditos populares e a observação do tempo e do clima

a atual realidade escolar no brasil demonstra que o ensino de climatologia não tem sido desenvolvido no ensino fundamental ii, ou, quando ocorre, é ministrado baseado na climatologia tradicional e separativa, cujos fatores elementos do clima são analisados individualmente, retratando-se a natureza de forma estática e totalmente destituída do real

Por Diego Corrêa Maia
ENSINO DE CLIMATOLOGIA ESCOLAR NA EDUCAÇÃO FUNDAMENTAL II
Por meio da observação dos elementos do clima, pretende-se demonstrar que o aprendizado dos "conteúdos climatológicos" pode ser auxiliado por meio dos ditos populares. O que se almeja aqui é demonstrar que, a partir da observação espontânea (diária) do tempo e do clima, com o auxílio dos ditos populares, os alunos do Ensino Fundamental II podem compreender as relações do tempo e do clima, assim como sua previsão. É necessário para essa atividade um período contínuo de observação para estabelecer a sequência habitual dos tipos de tempo de uma determinada estação do ano. O modo popular de prever o tempo foi iniciado quando o homem se fixou em cavernas; no entanto, esse hábito vem se perdendo em função da urbanização da sociedade. Para reforçar a importância dos provérbios populares para prever o tempo, realizar-se-á um pequeno histórico do nascimento da meteorologia popular, até a sua relevância destacada nos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) de Geografia.

Uma disciplina descritiva e de memorização 
Durante muito tempo a Geografia foi considerada uma disciplina descritiva e de memorização, na qual o conhecimento geográfico foi repassado ao aluno de forma fragmentada e hierárquica, resultando no insucesso do processo de ensino e de aprendizagem. Essa postura tradicional que visualiza o professor como um mero transmissor de informações precisa ser rompida por meio de novas práticas pedagógicas, para não tornar o ensino de Geografia enfadonho e desinteressante.

A renovação do ensino de Geografia, segundo Kaercher, será alcançada na medida em que o professor tenha uma formação plena, que leve em conta a integração do conhecimento geográfico e pedagógico do ensino escolar.
Diante desse panorama do ensino de Geografia, os alunos ainda demonstram grande dificuldade de compreensão e assimilação de alguns temas geográficos; dentre eles, o tema clima é aquele pela qual a maioria dos alunos nutre menos simpatia.
No âmbito escolar, os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) destacam a necessidade de inserção do tema clima, sugerindo o uso da percepção empírica sobre a sucessão dos tipos de tempo.
Por meio da utilização dos ditos populares e da observação sensível das nuvens, é possível contribuir para o fortalecimento da Climatologia Escolar no Ensino Fundamental. No entanto, é preciso se precaver para não fazer uso de "atos de fé" ou provérbios populares propagados por alguns professores de Geografia, os quais interpretam certos ditos populares que preveem o tempo de forma equivocada. Um exemplo corriqueiro exprime-se quando o professor de Geografia, ao ser questionado sobre a razão pela qual a tonalidade do céu é azul, diz que o fenômeno é gerado pela reflexão das águas dos oceanos. Sem dúvida esse é um legítimo ato de fé com potencial de reprodução nas futuras gerações. Vale ressaltar, a própria radiação solar e sua interação com o sistema Terra-atmosfera é um conteúdo praticamente ignorado nos bancos escolares, na maioria das escolas brasileiras.
Para contribuir para a melhoria do ensino da Climatologia no Ensino Fundamental II, pretende-se reunir e sistematizar novas possibilidades de prática de ensino voltadas para a formação de professores e alunos, utilizando para isso a observação sensível das nuvens auxiliada pela previsão do tempo evocada pelos anexins populares.
A produção do material "experimental" chamado O Tempo e o Clima. Esse material foi destinado para atender os alunos dos Ensinos Médio e Superior, acerca de conhecimentos básicos de dinâmica atmosférica. O objetivo principal do material didático foi a modificação da atitude do professor em relação ao ensino de Climatologia, tornando-o mais efetivo e relevante para o aluno. O material era constituído de um kit (um livro-texto mais um livro-guia, para o professor). Desde então, já se passaram quase duas décadas e nenhum outro material relacionado à Climatologia foi elaborado; e sequer este mesmo, de iniciativa da FUNBEC, veio a ser aperfeiçoado ou atualizado - o que seria imprescindível, em se tratando de um material didático datado da década de 80.
Em 1990 foi realizado o I Simpósio Brasileiro de Climatologia Geográfica na Universidade Estadual Paulista, Campus de Rio Claro. Desde então, trabalhos no âmbito climatológico vêm ganhando importância no cenário brasileiro. Nesse simpósio foram publicados 74 trabalhos científicos, sendo que apenas um esteve diretamente interessado pela questão do clima e seu ensino (Fialho; Azevedo, 2004).

Uma tal ausência de trabalhos voltados para o ensino de Climatologia ainda se repetiria nos encontros ocorridos em Presidente Prudente/SP (1996, com quatro trabalhos publicados), em Salvador/BA (1998, quatro), no Rio de Janeiro/RJ (2000, sete), em Curitiba/PR (2002, oito), em Aracaju/SE (2004, dez). Durante os doze anos delimitados pelos seis Simpósios de Climatologia Geográfica, foram publicados, ao todo, 744 trabalhos das diversas áreas da Climatologia; todavia, apenas 34 deles concernentes ao ensino (4,5% do total) - o que sinaliza uma preocupação restrita com este tema, a bem dizer tão profícuo e, no entanto, carente de trabalhos que reflitam sobre possibilidades didáticas. Outro problema do ensino de Climatologia diz respeito aos livros didáticos, cujos conteúdos aparecem como um somatório de informações variadas a serem memorizadas, retratando o clima como estado médio da atmosfera. Enfatizando essa ideia sobre as abordagens climáticas contidas nos livros didáticos, segundo Pontushka (1997, p. 217, parêntese nosso) são "raros os livros (didáticos) de 1° grau (atual fundamental II) que trabalham com massas de ar". Esses pressupostos reforçam a necessidade de enfocarmos o clima por meio da dinâmica atmosférica.
Para ser mais bem compreendida, a Geografia, segundo Kaercher, pode utilizar diferentes linguagens. Por exemplo, a partir do "uso da Literatura, da Pintura, da Música, dos relatos não acadêmicos, de imagens cotidianas, de fala dos populares etc." (Kaercher, 2004 p. 249, grifo nosso). O autor comenta sobre a importância de os professores de Geografia dominarem a "Geografia mais acadêmica, formal"; no entanto, sustenta que esta não é a melhor e mais completa. O autor complementa afirmando que o processo de ensino-aprendizagem na Geografia necessitaria de outros instrumentos que auxiliassem as formas de ver o mundo.


METODOLOGIA DA ATIVIDADE PARA O 7° ANO (6° SÉRIE) DO ENSINO FUNDAMENTAL II
Inicialmente, propõe-se que essa atividade seja aplicada ao 7° ano do Ensino Fundamental II, porém cabe ao professor escolher o momento certo para encaixá-la ou aplicá-la em séries posteriores, inclusive no Ensino Médio. A atividade a ser submetida aos alunos do Ensino Fundamental II compreenderá dois estágios básicos, sendo o primeiro a apresentação aos alunos dos principais tipos de nuvens, por meio de fotografias, slides, imagens e da observação desses hidrometeoros; em seguida, serão utilizados os ditos populares como ferramenta na previsão do tempo e do clima (no caso em questão, trabalhar-se-á com dois ditos). Vale lembrar que os alunos devem ter assimilado as noções de tempo e clima, para que a atividade seja proveitosa e as etapas possam ser alteradas em sua ordem, tornando a atividade flexível conforme a decisão do professor.

A duração dessa atividade pode se estender por dois meses, conforme a carga horária das aulas de Geografia. Deve-se sempre ter como linha norteadora a integração dos elementos (pressão atmosférica, temperatura, vento e umidade) e suas interações com as atividades rotineiras dos alunos.


CONHECENDO OS HIDROMETEOROS: AS NUVENS
O conhecimento das fases da água e suas mudanças de estado é necessário para realizar essa atividade. Esse conteúdo pode ser trabalhado pelo professor de Ciências, enquanto o professor de Geografia apresenta os principais tipos de nuvens no que se refere às altitudes em que elas se encontram e sua configuração, desenvolvendo, assim, um projeto multidisciplinar. É preciso assimilar a noção de dez nuvens, conforme demonstra a figura 1 e as tabelas 1 e 2.


Figura 1 Os principais tipos de nuvens (Fonte: GRIMM, 2010, modificado pelos autores)

Figura 2 Nuvem de baixa altitude (nível do solo), chamada cientificamente stratus e conhecida popularmente como nevoeiro (FONTE: MASTER - IAG, 2010)
Ademais, a classificação das nuvens pode ser feita segundo altura e forma, conforme se pode observar na figura 1.
As nuvens são classificadas, segundo Mendonça e Danni-Oliveira, conforme a altura de sua base em relação ao solo, sendo divididas em três categorias: nuvens altas, nuvens médias e nuvens baixas, conforme tabelas 1 e 2.

Tabela 1 Família de nuvens conforme a altitude e formato (Fonte: Mmendonça e Ddanni-Ooliveira, 2007, p. 69 apud Vvide, 1991)

As nuvens baixas nas regiões tropicais não ultrapassam 2 quilômetros de altura em relação ao solo (figura 1 e tabelas 1 e 2). A família de nuvens "mais" comuns são aquelas de desenvolvimento vertical granulosas, com aparência semelhante a uma "bigorna", denominada cientificamente de Cumulonimbos (Cb) (figura 1 e tabelas 1 e 2). Esse tipo de nuvem provoca chuvas fortes, trovoadas e granizo, e convém destacar que esse tipo de nuvem é o "terror" dos aeronavegantes, atingindo grandes altitudes, chegando 6 a 10 quilômetros de extensão vertical. Da mesma família das nuvens baixas, os Cumulus são conhecidas como nuvens de "bom tempo" e se apresentam dispersas pela atmosfera (figuras 1 e tabelas 1 e 2). Também da família das nuvens baixas, têm-se as nuvens estratificadas, denominadas de Stratus (St) e o Nimbostratus (Ns), responsáveis pelos chuviscos e até neve nas regiões temperadas e glaciais (figura 1 e tabelas 1 e 2). Os Stratocumulus (Sc) são as nuvens que finalizam a família das nuvens baixas, aparentando um aspecto granuloso-estratificado que ocasionalmente é responsável pela "chuva rala" (figura 1 e tabelas 1 e 2). Presentes na baixa troposfera, geralmente formadas junto ao solo ou perto dele, têm-se as nuvens estratiformes, conhecidas como névoas e nevoeiros (figura 2). O primeiro é menos intenso e, em comparação com o segundo, possibilita mais a visão. Os nevoeiros acarretam muitos problemas aos gerenciadores de transportes rodoviários, marítimos e terrestres em virtude do perigo de acidentes.
As nuvens de média altitude estão situadas acima de 2 quilômetros e abaixo dos 7 quilômetros de altitude (figura 1 e tabelas 1 e 2). Nesse patamar da troposfera, têm-se os Altostratus (As) e Altocumulus (AC), no qual se destacam pelo formato estratificado e granuloso-estratificado, respectivamente (figura 1 e tabelas 1 e 2). Essa família de nuvens responde pelas chuvas fracas e pelas coroas lunares.
As nuvens cuja base está a mais de 7 mil metros da superfície terrestre e se enquadram na troposfera superior, conhecidas como nuvens altas (figura 1 e tabelas 1 e 2), são consideradas verdadeiros "postes de sinalização" das condições do tempo, principalmente os Cirros (Ci), com aspectos fibrosos e ondulados. Os Cirrocumulus (Cc) são nuvens altas com aparência fibrosa e granulosa. Finalizando a família das nuvens altas, temos os Cirrostratus (Cs), apresentando feições fibrosas e estratificadas, responsáveis pelos halos solares e lunares (figura 1 e tabelas 1 e 2).
O surgimento dos ditos populares 
Desde o início da civilização as observações das condições atmosféricas foram utilizadas para a sobrevivência da espécie humana. Por meio da direção do vento, o caçador primitivo era conduzido a seguir seu destino, conforme relata Wolfe (1963, p. 7-8): "Se tomasse a direção exata, poderia caçar o tigre-de-sagre ou o mamute; se errasse, arriscava-se a passar um dia de fome na sua caverna".

Considerado o pai da Meteorologia, Aristóteles (nascido em 384 A.C.) foi um dos pensadores mais brilhantes de sua época, cujo pensamento alicerçou o cristianismo. Escreveu um livro que nomeou justamente de Meteorologia, cujo significado é "coisas acima da Terra". Sem o auxílio de pluviômetro, termômetro e barômetro, Aristóteles postulou explicações sobre a gênese dos fenômenos climáticos que hoje sabemos estarem equivocadas, tais como a suposição de que a origem dos ventos do Mediterrâneo estaria associada aos tremores de terra. No entanto, foi o primeiro a afirmar que a Lua e o Sol, quando estão envolvidos com um anel, indicam mudança de tempo.

TeofrastoFilósofo grego, considerado por muitos como o único botânico da Antiguidade, nasceu por volta de 372 a.C. na ilha de Lesbos, e morreu cerca de 288 a.C. O seu verdadeiro nome seria Tirtamos, mas Aristóteles o apelidou Teofrasto, nome que significa "o que tem eloquência divina", pelo qual ficou conhecido.

A obra de Aristóteles não fez sucesso entre os agricultores, pescadores e os habitantes da Grécia, já que eles necessitavam saber sobre as condições do tempo para as próximas horas ou para o dia seguinte. A partir dessa necessidade, um jovem estudioso do tempo chamado Teofrasto, discípulo de Aristóteles, com o auxílio dos ensinamentos sobre o tempo herdados dos babilônios, escreveu um livro intitulado Livro dos Sinais. Esse livro, segundo Wolfe (1963, p. 17-18), "mencionava oito maneiras diferentes para prever a chuva, 24 para tempo limpo, 45 para ventos, cinquenta para tempestades e sete que ajudaram a prever o tempo com um ano de antecedência".

O livro de Teofrasto, por sua vez, fez sucesso entre os gregos. Assim como Aristóteles, Teofrasto também cometeu erros e acertos sobre a previsão do tempo, por meio dos seus provérbios e adágios. Um provérbio curioso de Teofrasto sobre a previsão de uma tempestade discorre sobre o comportamento do burro na previsão do tempo:"Quando um burro abana as orelhas é sinal de tempestade". Porém, Teofrasto estava correto em sua previsão sobre as condições atmosféricas quando descrevia: "Depois de um nevoeiro há poucas possibilidades de chover" (Wolfe, 1963).

Semiárido brasileiroA região semiárida brasileira é uma das maiores, mais populosas e mais úmidas do mundo. Estende-se por 868 mil quilômetros, abrangendo o norte dos Estados de Minas Gerais e Espírito Santo, os sertões da Bahia, Sergipe, Alagoas, Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte, Ceará, Piauí e uma parte do sudeste do Maranhão. Vivem nessa região mais de 18 milhões de pessoas, sendo 8 milhões na área rural. A precipitação pluviométrica é de 750 milímetros anuais, em média. Em condições normais, chove mais de mil milímetros. Na pior das secas, chove pelo menos 200 milímetros, o suficiente para dar água de qualidade a uma família de cinco pessoas por um ano

Profetas das chuvas

No Semiárido brasileiro, mais especificamente no Estado do Ceará, existem muitos sertanejos que interpretam as manifestações da natureza para prever as condições do tempo e clima. Por meio da percepção empírica acumulada ao longo de muitas gerações, os "profetas das chuvas" - em função da vulnerabilidade do clima - criaram mecanismos para evitar o malogro de suas culturas, e assim manter as esperanças do sucesso da lavoura, perante as condições inóspitas do semiárido brasileiro. Cabe enfatizar que a utilização dos ditos populares não é intrínseca ao sertão cearense, e são utilizadas em todo território brasileiro, inclusive em outros países, cada qual com sua peculiaridade, e utilizados principalmente para prever o tempo para o dia seguinte e para as "estações" também.

Segundo Folhes e Donald, o sertanejo, por conviver em um ambiente extremamente hostil, desenvolveu uma acuidade detalhada para a observação dos fenômenos presenciados na natureza, em especial para a previsão do tempo e do clima, utilizando como referência o comportamento dos animais, o comportamento da vegetação e a posição dos astros, constelações e nuvens.
Com relação aos animais, eles observam o canto, atitude e conduta, como se pode exemplificar utilizando o comportamento das formigas, pois quando estas constroem suas casas em lugares altos e secos é indício de chuva à vista. Com relação à vegetação, esta pode ser uma rica fonte de informações para percepção da umidade relativa do ar, observada pelos agricultores do semiárido que desejam plantar sua roça, por meio da presença maciça de cocos da Macaúba e do aparecimento do milho-cobra (Dracontium asperum) e feijão - bravo (Dioclea grandiflora). No último grupo de sinais da natureza, os astros, constelação e nuvens são observados pelos sertanejos, com destaque para os ditos que associam o clima da próxima estação pela observação da Lua. Conforme os sertanejos, a estação vai ser chuvosa quando a primeira lua cheia de janeiro "sair vermelha, por detrás de uma barra de nuvens", mas "se surgir prateada é sinal de seca" (Folhes; Donald, 2007, p. 27).

Pelo breve histórico dos adágios populares relacionados à previsão do tempo e clima, e até mesmo considerando circunstâncias de maior "evolução civilizatória", vê-se que os conhecimentos a ela correlatos são fruto de observação empírica e repassada de geração para geração. Muitas das vezes são comprovados cientificamente, mas também podem ser apenas crendices que vão sendo propagadas de gerações em gerações. O objetivo deste artigo é demonstrar a possibilidade de utilização dos ditos populares como subsídio a observação das nuvens para o desenvolvimento de noções sobre o tempo e o clima para os alunos do 3° Ciclo do Ensino Fundamental II.
Escolha do tema 
Há uma clara necessidade de que se amplie o número de trabalhos voltados para o Ensino de Climatologia Escolar no Brasil.

Os Parâmetros Curriculares Nacionais discorrem sobre a necessidade de familiarização do aluno com as noções básicas sobre clima, sendo possível discutir os mecanismos climáticos, por exemplo, das massas de ar, as variações diárias de tipos de tempos atmosféricos. Ensinar como ocorrem e explorar a sua percepção empírica sobre a sucessão dos tipos de climas do lugar onde vive. Com base nesses conhecimentos, discutir que muitos ditos populares sobre o tempo atmosférico são desprovidos de verdade. Outros, no entanto, revelam um tipo de observação empírica acumulada culturalmente que permite previsões em pequena escala.
É possível trabalhar o tempo e o clima pela observação atenta dessa sucessão, mostrando que ela poderá garantir uma relativa previsibilidade. Assim, também garantir o reconhecimento da sucessão habitual das estações do ano como uma necessidade para a sociedade se organizar, tanto no plano da produção econômica como na vida prática do seu cotidiano. É importante que o professor explique e discuta com os alunos a ocorrência de certos fenômenos naturais dos climas de consequências catastróficas, como furacões, tempestades, tornados, que provocam grandes inundações, fortes nevascas, paralisando cidades. Nessas explicações, o aluno poderá ser levado à compreensão de que não se deve atribuir nenhuma culpa à natureza, mas à decorrência histórica de uma forma de escolha que a sociedade fez quando se estabeleceu nessas localidades (PCN, 1997, p.61-62).
Um fator que tem chamado a atenção é que, nos últimos anos, o conteúdo de Climatologia no Ensino Fundamental II tem sido trabalhado por professores de Ciências. José B. Conti (1990, p. 39) fala da importância de se recuperar o campo perdido pelo geógrafo; e que esse profissional deveria realizar um trabalho "ativo e interessante", visando à compreensão das "consequências espaciais" exercidas entre os fenômenos atmosféricos e a superfície terrestre.
Em um levantamento da produção em Climatologia nas Teses e Dissertações defendidas nos Programas de Pós-Graduação da USP e Unesp, entre 1971 e 2000, Zavattini constatou que, das 108 obras, apenas uma está ligada ao Ensino de Climatologia. Esse trabalho foi realizado no ano de 1997, intitula-se Uma proposta metodológica para o ensino de climatologia no primeiro grau e foi defendido por Berenice Bley Ribeiro Bonfim, sob a orientação do professor José Bueno Conti, na Universidade de São Paulo.
No início da década de 80, por meio de projeto da FUNBEC, Fundação Brasileira para o Desenvolvimento de Ensino de Ciências, com a cooperação dos professores do IBECC, Instituto Brasileiro de Educação, Ciência e Cultura, da Universidade de São Paulo, e com recursos da Unesco e da Fundação Ford, foi elaborado o Projeto Brasileiro para o Ensino de Geografia, no qual foram formulados materiais didáticos de apoio a diversas áreas da Geografia.

A Climatologia foi contemplada com
Após a abordagem teórica sobre as nuvens, especificando os principais tipos de nuvens (dez no total), com suas respectivas altitudes e formatos, deve-se proceder à atividade prática com os alunos. A atividade prática é dividida em duas fases:
1ª fase - ir a campo com os alunos durante um mês, fotografando as nuvens presentes na atmosfera próxima à escola; requerer-se dos alunos, sob a forma de grupos, fotografias, imagens ou ilustrações das dez nuvens presentes no Atlas ou o máximo de nuvens que conseguirem captar durante a atividade, assim como o preenchimento da tabela 3 (não esquecendo os nevoeiros que não estão citados na tabela); esta atividade pode ser feita por meio de uma máquina digital do professor/escola ou por celulares que disponham do dispositivo fotográfico;
2ª fase - apresentar e discutir as nuvens fotografadas, partindo então para um debate e confronto das divergências que surgirem. Em seguida ao exercício prático-teórico é necessário proceder à introdução dos ditos, primeiramente com o breve histórico, descrito anteriormente, utilizando os conhecimentos provenientes do imaginário popular como ferramenta para auxiliar a previsão do tempo e clima.




A PREVISÃO DO TEMPO COM O AUXÍLIO DOS DITOS POPULARES

Para tornar a tarefa instigante para os alunos, pode-se solicitar que realizem uma pesquisa juntos aos familiares e amigos, os questionando sobre o conhecimento de algum ditado popular relativo à previsão do tempo e do clima, e sua utilidade para as pessoas. Pode-se sugerir que exponham em sala de aula, reunindo todos os ditos populares em um quadro (lousa, cartaz ou flipchart). Acompanhando os ditos populares trazidos pelos alunos é possível inserir alguns ditos conhecidos pelo professor, como os relatados por Sartori (2000, p. 234-235) e seu respectivo país de origem. Dentre eles destacam-se:
"Asas abertas no galinheiro, sinal de aguaceiro." (Índia);
"Andorinhas a mil braças, céu azul sem jaça; andorinha rente ao chão, muita chuva com trovão." (China; Japão; Coreia; Rússia; Turquia; França e Suíça);
"Formiga carregando ovos barranco acima, é chuva que se aproxima." (Índia e Japão);
"Mosquitos voando em bando é sinal de chuva." (China)
"Sapo cantando ao anoitecer, bom tempo vai fazer." (Espanha)
"Cabras tossindo e espirrando, o tempo está mudando." (Espanha e Brasil)
"Gato se lambendo é sinal de chuva." (Reino Unido, Holanda e Bélgica)
"Céu avermelhado de manhã, chuva de tarde; tarde avermelhada, tempo bom."(China)
"Quando o Sol está em casa, a chuva não tarda." (Índios Zuni, do Novo México, EUA)
"Um círculo grande em volta da Lua é sinal de chuva iminente; um círculo pequeno é sinal de que a chuva ainda demora." (Índia)

Partindo dos provérbios populares relatados pelos alunos e por Sartori, é possível fazer entender o sentido de cada um e fazer uma comparação com o dia a dia dos alunos, chamando a atenção para a observação da natureza, ou seja, do comportamento dos animais e plantas, tomando como referência principal a reflexão e descrição das nuvens, percebendo assim a provável mudança de tempo.
Essas discussões em sala de aula são o "pontapé inicial" para trabalhar com os seguintes ditos populares:
1 "Névoa na baixa, sol que racha, névoa na serra, chuva que berra."
2 "Céu pedrento é sinal de chuva e vento."

Estes dois ditos populares nortearão a atividade que buscará responder à seguinte questão: Será que vai chover hoje?

NUVENS VERSUS DITOS POPULARES 
Em primeiro lugar, é preciso iniciar a observação e a descrição das nuvens, principalmente para os dez tipos descriminados, utilizando a paisagem como categoria para o ensino-aprendizagem da previsão atmosférica.

Kaercher discorre sobre a importância de utilizar a observação e a descrição dos fenômenos, mediante a categoria paisagem nas aulas de Geografia para [...] desenvolver e treinar mais a capacidade de observação e descrição, habilidades que foram erroneamente confundidas como sinônimo de "Geografia Tradicional", e, portanto, consideradas menores, e saber pensar os fenômenos para além do visível, do sensório e do imediato. Tarefas nada fáceis. Como fazer? Praticando com os alunos e estudando! É trabalho, não é dom!" (Kaercher, 2004, p. 233).
Conforme os anexins, "Névoa na baixa, sol que racha, névoa na serra, chuva que berra" e "Céu pedrento é sinal de chuva e vento", forem sendo explicados, os procedimentos didáticos podem ser alterados, mas convém destacar é a funcionalidade desses conhecimentos populares dentro da sala de aula atuando como uma ferramenta na assimilação dos conhecimentos climáticos.


1° DITO Névoa na baixa, sol que racha, névoa na serra, chuva que berra.
Iniciando a atividade com o dito popular "Névoa na baixa, sol que racha, névoa na serra chuva que berra", será necessário fazer uso de duas fotografias para facilitar a atividade, demonstrando a representação dos fenômenos localizados na "baixa" e na "serra", dando ênfase aos fatores relevo altitude, elementos importantes na origem da insolação (sol que racha) e chuva (chuva que berra), de acordo com figura 3.


A fotografia localizada à esquerda (figura 3), demonstra a presença de uma névoa, em um cruzamento viário, pela manhã. Observando a fotografia, percebe-se que a névoa não prejudica a visão de elementos próximos, como a placa de sinalização; no entanto, quando se instiga a enxergar os detalhes ao fundo da fotografia, a névoa impede essa ação.

Quanto ao sentido "Névoa na baixa, sol que racha", explica-se pela formação da névoa, devido à perda de radiação terrestre para a atmosfera durante a noite, e devido à ausência de nebulosidade e vento que precede a névoa ou nevoeiro. Geralmente esse fenômeno ocorre no inverno e em locais planos e com baixa altitude.
Com a perda de radiação terrestre, o ar junto ao solo se resfria e condensa, em razão da diminuição do ponto de orvalho; ou seja, quanto menor a temperatura do ar, menor a capacidade de armazenar a água no estado gasoso. A névoa tem uma duração temporal pequena, desaparecendo rapidamente logo que o Sol aparece. O dia que é precedido por névoa ou nevoeiro é agraciado por uma insolação plena, devido ao "céu de brigadeiro". Os gregos antigos já utilizam essa observação para prever o tempo.
Quanto ao dito "Névoa na serra, chuva que berra", ao observar a fotografia à direita, nota-se que a névoa está em uma localidade montanhosa e de elevadas altitudes, indicando a possibilidade de chuvas intensas provenientes das nuvens Nimbostratus e Cumulonimbos (figura 1 e tabelas 1 e 2). Caso a chuva for moderada, ou apenas um chuvisco, essa precipitação está ligada à nuvem Stratus (figura 1 e tabelas 1 e 2).


2° DITO Céu pedrento é sinal de chuva e vento
O cruzamento do conhecimento popular e do conhecimento científico pode ser verificado quando o ditado popular que prevê a mudança de tempo para o dia seguinte diz o seguinte: "Céu pedrento é sinal de chuva e vento". Esse provérbio popular relata a mudança do tempo indicada pelas nuvens Cirros, Cirroscumulos e Altocumulos (figura 4), no qual a presença destas antecipa a chegada de uma frente fria, gerando a movimentação do ar decorrente dos diferentes campos barométricos. O "céu pedrento" é uma alusão a "pedras", ou seja, nuvens de alta e média altitude. Esses três tipos de nuvens indicam a entrada de uma frente fria. Após a sinalização da chegada de uma frente fria, ocorrem chuvas fortes, geradas pela nuvem Cumulonimbos, nuvem esta que caracteriza precipitações intensas e de grande extensão vertical (figuras 1 e 2, e tabela 2).

Os dois ditos populares "Névoa na baixa, sol que racha" e "Ceú pedrento é sinal de chuva e vento" podem auxiliar na previsão do tempo, pois, tomando os devidos cuidados, é lícito afirmar que é muito provável que irá chover nas próximas horas ou no dia seguinte.

Para entender o conhecimento popular

A intenção deste artigo é contribuir para o entendimento e divulgação do conhecimento popular como fonte de informação importante para a Geografia Escolar. A interpretação da natureza, no caso específico, e a leitura do comportamento atmosférico por meio das nuvens com o auxílio dos anexins populares, podem ser utilizadas como ponto de partida para a compreensão do tempo e do clima, já que cientistas renomados sinalizam positivamente (como no Seminário de Tropicologia) para a aceitação dos ditos populares como fontes relevantes para a compreensão dos fenômenos atmosféricos.

A leitura da paisagem de forma direta (observação das nuvens), mediante a utilização das crenças populares possibilita a aquisição de habilidades para a leitura e interpretação dos diferentes tipos de tempo que podem interferir diretamente na vida das pessoas, seja na opção de vestimenta apropriada ou deixar o guarda-chuva de prontidão para evitar um aborrecimento futuro.
A própria Bíblia já relatava a importância de se observar a atmosfera para prever tempestades, quando fariseus e os saduceus pediram a Jesus para indicar algum sinal no céu daquele dia e Jesus disse "Quando é chegada a tarde, dizeis: haverá bom tempo, porque o céu está rubro, e, pela manhã: hoje haverá tempestade, porque o céu está de um vermelho sombrio. Hipócritas, sabeis discernir a face do céu, e não conheceis os sinais dos tempos?" (Mateus , Capítulo 16, versículos 1 a 3).
Dessa forma, espera-se por meio da proposição desta prática envolvendo a Climatologia Escolar, fortalecer as atividades de campo, valorando a percepção da natureza e demonstrando ao aluno a importância dos fenômenos atmosféricos e sua relação com a natureza.

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