quarta-feira, 17 de julho de 2013

CRISE DA ÁGUA

Agricultura consome 92% da água do planeta


Agricultura consome 92% da água do planeta
Manuela Alegria
Um estudo holandês alerta para o consumo de água existente na agricultura atual, que chega a utilizar 92% da água doce no planeta, transformando a produção de alimentos e outros produtos em algo insustentável. O autor do estudo é o pesquisador Arjen Y. Hoekstra, criador da pegada hídrica – indicador que mede o uso direto e indireto da água doce para produzir um bem consumível.
O estudo, publicado no periódico científico Proceedings of the National Academy of Sciences (PNAS), ressalta que uma pessoa consome em média quatro mil litros de água por dia, incluindo o necessário para a produção de alimentos e bens de consumo.
O consumo do bem natural, entretanto, varia muito de país para país. Um norte-americano, por exemplo, consome mais do que o dobro da média global, enquanto habitantes da China e Índia consomem pouco mais de mil litros. O Brasil é o quarto maior consumidor de água (em média, 3.780 litros de água diários por pessoa), e também o quarto exportador de bens que mais necessitam de água.
A pegada hídrica do consumidor médio é determinada principalmente pelo consumo de cereais (27%), carne (22%) e produtos lácteos (7%). Há ainda a importação e exportação virtual da água. Um consumidor holandês, por exemplo, ao comprar uma camisa feita com algodão e produzida fora da Holanda, usa a água do país de produção.
Os pesquisadores também esperam ver uma mudança drástica no consumo na China, que depende cada vez mais de terras agrícolas fora do seu território, acarretando no aumento da importação do recurso. O estudo salienta que a escassez de água não é um problema local e deve ser vista de uma perspectiva global.
* Publicado originalmente no site EcoD.Revista Meio Ambiente
Meta de acesso à água potável no mundo é batida antes do prazo
Apesar de 89% das pessoas terem água considerada segura, 2,5 bilhões ainda estão sem rede de esgoto, informa relatório da ONU
Funcionário da Cedae retira uma amostra da estação de tratamento do Guandu, que abastece a Região Metropolitana do Rio

SERGIO BORGES
RIO - O acesso a água potável é garantido a 6,1 bilhões de pessoas, o que equivale 89% da população mundial, informa a ONU em relatório divulgado nesta terça-feira. Sendo assim, o mundo conseguiu superar em 1% a meta dos Objetivos do Desenvolvimento do Milênio (ODM) e cinco anos antes do previsto. Os dados são referentes a 2010 e o prazo estipulado para as ODMs é 2015. Em relação ao saneamento básico, no entanto, ainda há um longo caminho a ser percorrido: 2,5 bilhões ainda não têm acesso à rede de esgoto.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) e o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) monitoraram as condições de abastecimento de água e de saneamento entre 1990 e 2010. Neste período, mais de 2 bilhões de pessoas ganharam acesso seguro à água potável. A pesquisa usou como base pesquisas domiciliares e censos.
O relatório, porém, não mede a qualidade da água distribuída nem se a exploração da fonte é sustentável. Apenas considera como água segura aquela que está protegida de contaminação externa. Por isto, o documento chamado “Progress on drinking water and sanitation” (progresso em água potável e saneamento) ressalva que o número de pessoas usando água seguro deve estar superestimado.
Chama a atenção o fato de que quase a metade dos 2 bilhões que melhoraram seu acesso a água viverem na China ou na Índia. E muitos países africanos não conseguiram bater a meta nem estão no caminho para atingí-la até 2015. Mais de 40% das pessoas que não encontram água segura vivem na África subsaariana.
O secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, afirmou, em nota distribuída pela ONU, que este é um dos primeiros ODM a serem atingidos. Ele foi anunciado depois de o Banco Mundial ter anunciado, no mês passado, que a pobreza extrema fora reduzida pela metade.
- Os esforços bem sucedidos para fornecer um maior acesso à água potável são um testemunho de todos os que veem os ODM não como um sonho, mas como uma ferramenta vital para melhorar as vidas de milhões das pessoas mais pobres – disse Ban Ki-moon.
Já Barbara Frost, presidente da ONG WaterAid, ressaltou a importância de melhorar o saneamento básico:
- As diarreias provocadas por saneamento inadequado são as maiores assassinas de crianças na África.
Conheça os 7 ODMs
Ao todo, são sete metas estipuladas pela ONU. Estes são compromissos assumidos por escrito por todos os 191 estados-membros.
1) Erradicar a extrema pobreza e a fome
O objetivo global de até 21% de pobreza já foi ultrapassado.
2) Atingir o ensino básico universal
Em mais de 60 países em desenvolvimento, mais de 90% das crianças estão matriculadas em escolas. O número de crianças fora da escola caiu de 115 milhões em 2001 para 72 milhões em 2007, mesmo com o crescimento da população mundial. Nos países da Africa Subsaariana 41 milhões de crianças ainda estão fora da escola.
3) Promover a igualdade entre os sexos e a autonomia das mulheres
Até 2005, cerca de dois terços dos países em desenvolvimento tinham alcançado a paridade de gênero no ensino básico. A expectativa é de que esse objetivo seja alcançado globalmente em 2015 tanto para o ensino básico quanto para o fundamental, diz a ONU.
4) Reduzir a mortalidade na infância
A ONU reconhece a dificuldade de bater estas metas. A taxa global de mortalidade de bebês e crianças até cinco anos caiu de 101 óbitos por mil nascimentos em 1990 para 74 em 2007, ainda longe do objetivo.
5) Melhorar a saúde materna
Em 2005, mais de meio milhão de mulheres morreram durante a gravidez, parto ou nas seis primeiras semanas após o nascimento do filho.
6) Combater o HIV/Aids, a malária e outras doenças
O número de novas infecções vem diminuindo, mas apenas 28% do número estimado de pessoas que necessitam de tratamento o recebem. A malária mata um milhão de pessoas por ano, principalmente na África. Dois milhões morrem de tuberculose por ano em todo o mundo. Os dados são da ONU
7) Garantir a sustentabilidade ambiental
O acesso à água potável e saneamento estão neste item. A sustentabilidade é uma questão-chave para o mundo e será discutida durante a Rio+20.
8) Estabelecer uma Parceria Mundial para o Desenvolvimento
Descontado o perdão das dívidas, a assistência estrangeira ao desenvolvimento cresceu 6,8% em termos reais. No comércio global, a crise financeira tem atrapalhado parcerias.
Jornal O Globo
Meta de acesso à água potável no mundo é batida antes do prazo
Apesar de 89% das pessoas terem água considerada segura, 2,5 bilhões ainda estão sem rede de esgoto, informa relatório da ONU
Funcionário da Cedae retira uma amostra da estação de tratamento do Guandu, que abastece a Região Metropolitana do Rio

SERGIO BORGES
RIO - O acesso a água potável é garantido a 6,1 bilhões de pessoas, o que equivale 89% da população mundial, informa a ONU em relatório divulgado nesta terça-feira. Sendo assim, o mundo conseguiu superar em 1% a meta dos Objetivos do Desenvolvimento do Milênio (ODM) e cinco anos antes do previsto. Os dados são referentes a 2010 e o prazo estipulado para as ODMs é 2015. Em relação ao saneamento básico, no entanto, ainda há um longo caminho a ser percorrido: 2,5 bilhões ainda não têm acesso à rede de esgoto.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) e o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) monitoraram as condições de abastecimento de água e de saneamento entre 1990 e 2010. Neste período, mais de 2 bilhões de pessoas ganharam acesso seguro à água potável. A pesquisa usou como base pesquisas domiciliares e censos.
O relatório, porém, não mede a qualidade da água distribuída nem se a exploração da fonte é sustentável. Apenas considera como água segura aquela que está protegida de contaminação externa. Por isto, o documento chamado “Progress on drinking water and sanitation” (progresso em água potável e saneamento) ressalva que o número de pessoas usando água seguro deve estar superestimado.
Chama a atenção o fato de que quase a metade dos 2 bilhões que melhoraram seu acesso a água viverem na China ou na Índia. E muitos países africanos não conseguiram bater a meta nem estão no caminho para atingí-la até 2015. Mais de 40% das pessoas que não encontram água segura vivem na África subsaariana.
O secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, afirmou, em nota distribuída pela ONU, que este é um dos primeiros ODM a serem atingidos. Ele foi anunciado depois de o Banco Mundial ter anunciado, no mês passado, que a pobreza extrema fora reduzida pela metade.
- Os esforços bem sucedidos para fornecer um maior acesso à água potável são um testemunho de todos os que veem os ODM não como um sonho, mas como uma ferramenta vital para melhorar as vidas de milhões das pessoas mais pobres – disse Ban Ki-moon.
Já Barbara Frost, presidente da ONG WaterAid, ressaltou a importância de melhorar o saneamento básico:
- As diarreias provocadas por saneamento inadequado são as maiores assassinas de crianças na África.
Conheça os 7 ODMs
Ao todo, são sete metas estipuladas pela ONU. Estes são compromissos assumidos por escrito por todos os 191 estados-membros.
1) Erradicar a extrema pobreza e a fome
O objetivo global de até 21% de pobreza já foi ultrapassado.
2) Atingir o ensino básico universal
Em mais de 60 países em desenvolvimento, mais de 90% das crianças estão matriculadas em escolas. O número de crianças fora da escola caiu de 115 milhões em 2001 para 72 milhões em 2007, mesmo com o crescimento da população mundial. Nos países da Africa Subsaariana 41 milhões de crianças ainda estão fora da escola.
3) Promover a igualdade entre os sexos e a autonomia das mulheres
Até 2005, cerca de dois terços dos países em desenvolvimento tinham alcançado a paridade de gênero no ensino básico. A expectativa é de que esse objetivo seja alcançado globalmente em 2015 tanto para o ensino básico quanto para o fundamental, diz a ONU.
4) Reduzir a mortalidade na infância
A ONU reconhece a dificuldade de bater estas metas. A taxa global de mortalidade de bebês e crianças até cinco anos caiu de 101 óbitos por mil nascimentos em 1990 para 74 em 2007, ainda longe do objetivo.
5) Melhorar a saúde materna
Em 2005, mais de meio milhão de mulheres morreram durante a gravidez, parto ou nas seis primeiras semanas após o nascimento do filho.
6) Combater o HIV/Aids, a malária e outras doenças
O número de novas infecções vem diminuindo, mas apenas 28% do número estimado de pessoas que necessitam de tratamento o recebem. A malária mata um milhão de pessoas por ano, principalmente na África. Dois milhões morrem de tuberculose por ano em todo o mundo. Os dados são da ONU
7) Garantir a sustentabilidade ambiental
O acesso à água potável e saneamento estão neste item. A sustentabilidade é uma questão-chave para o mundo e será discutida durante a Rio+20.
8) Estabelecer uma Parceria Mundial para o Desenvolvimento
Descontado o perdão das dívidas, a assistência estrangeira ao desenvolvimento cresceu 6,8% em termos reais. No comércio global, a crise financeira tem atrapalhado parcerias.
Jornal O Globo

Consciência sobre a Água


Olimpio Araujo Junior
Geógrafo-ambientalista; Diretor de Comunicação da Rede de Comunicação Ambiental EcoTerra Brasil
oaj@ecoterrabrasil.com.br
Segundo a Organização Mundial de Saúde, no Brasil, morrem atualmente 29 pessoas/dia por doenças decorrentes da qualidade da água e do não tratamento de esgotos e estima-se que cerca de 70% dos leitos dos hospitais estão ocupados por pessoas que contraíram doenças transmitidas pela água.
A superfície de nosso planeta é constituída por apenas 30% de terra firme, os 70% restantes são de água, mas nem toda essa água está disponível para uso humano, 97% são águas salgadas e apenas 3% são doces. Destes, apenas 0,6% são águas doces superficiais sendo que um pouco mais da metade está disponível nos lagos e nos rios. Nosso corpo também é em sua maior parte constituído por água e por isso nossa vida depende diretamente dela.
Cada vez mais vemos crescer a consciência sobre sua importância vital, porém, mesmo sabendo da incomensurável importância para nossas vidas e do risco eminente da falta da mesma, muitos ainda continuam poluindo rios e reservatórios com esgotos domésticos e industriais, retirando vegetação protetora das margens e mananciais, o que apressa seu assoreamento, envenenando com metais pesados e agrotóxicos, construindo em suas margens e modificando seus cursos, além de muitas outras agressões. Ao mesmo tempo, empresas multinacionais, que já entenderam o valor vital da água, resolveram agora embutir um valor econômico, transformando o que deveria ser direito de todos em mais um bem de consumo, um produto para enriquecer ainda mais quem já tem bastante dinheiro.
Imagem: www.educarede.org.br

A natureza, o homem e até mesmo as cidades estão interligados e dependem de um equilíbrio do ciclo da água. Apenas quando tivermos um destino adequado para todo o lixo e todo esgoto produzido nas áreas urbanas, poderemos garantir a conservação de nossos rios e mananciais. Por isso é preciso combater a poluição dos rios, impedir a ocupação irregular de seus leitos e, principalmente, investir em na recomposição das matas ciliares e dos mananciais. A vegetação ciliar, ou matas de galeria, atuam como um amortecedor das chuvas, ajudando o solo a absorver cerca de 99,5% das suas águas, que são posteriormente liberadas lentamente para o lençol freático, mantendo desde mananciais e rios até olhos d’água e nascentes.
A ÁGUA EM NOSSAS VIDAS
A água, como todos sabemos, é um elemento essencial para que a vida exista na Terra. Nenhum ser, animal ou vegetal sobrevive sem ela. Mas esse não é seu único papel na natureza. Como agente intempérico ela molda rochas, modifica paisagens, forma rios, mares e lagos. Sem sua ação intempérica não teríamos o solo que nos dá alimento e é sustentação de grande parte da vida vegetal existente.
A água também enfeita nossos céus. Quem nunca brincou de descobrir a forma das nuvens quando era criança, quem nunca parou para observar as nuvens no horizonte durante o crepúsculo. Na imensidão branca do Alaska, ou no deserto de gelo da Antártida, assim como nos cumes das montanhas a água se apresenta em estado sólido, formando paisagens exuberantes que atraem a curiosidade de milhares de aventureiros.
No ambiente urbano a água tem um papel fundamental, podendo ser fonte de vida ao saciar nossa sede e ajudar em nossa higiene, ou fonte de graves doenças, quando é poluída por nossos próprios dejetos transformando-se em um veículo para micro e macro organismos maléficos.
Ela também é essencial para regular o clima da cidade, pois como tem capacidade de armazenar calor pode colaborar com o arrefecimento da mesma. Em cidades onde a água e a vegetação aparecem com menor freqüência, o micro clima urbano pode variar em até 9ºC a mais do que em ambientes naturais.
A chuva faz parte do ciclo da água, e é graças a ela que muitos de nossos mananciais se mantém abastecidos, que nossas lavouras continuam produzindo alimentos para nossa mesa, porém, ao encontrar o solo impermeabilizado da cidade, o que é uma dádiva para a agricultura pode se tornar um pesadelo para muitos.
A ocupação irregular em áreas de alagamento (várzeas), a poluição excessiva, a retirada indiscriminada das matas ciliares e a própria impermeabilização do solo urbano são responsáveis por enchentes que deixam milhares de pessoas desabrigadas todos os anos. É a natureza dando sua resposta pelos ataques que sofre.
A água no ambiente urbano também pode ter sua função estética e de lazer. Enfeitando praças e chafarizes, formando lagos, ou sendo utilizada em parques aquáticos e clubes, ela também ajuda a melhorar nossa qualidade de vida.
A água é uma grande aliada da vida, mas muitas vezes nós mesmos a transformamos em uma arma por não respeitá-la da forma devida. O futuro de todo o planeta depende dela, e está em nossas mãos encontrar meios para preservá-la.
PERIGO NO PLANETA ÁGUA
Nos últimos 50 anos a população mundial passou de 2,5 bilhões de pessoas para 6,1 bilhões. Estima-se que até 2050 nosso palneta tenha entre 9 e 11 bilhões de habitantes. Com este crescimento populacional, cresce também a demanda por alimentos, por energia, água e recursos minerais, aumentando também a poluição e a degradação ambiental.
Atualmente a proporção de área cultivada por pessoa caiu de 0,24ha/pessoa em 1950 para 0,12ha/pessoa em 2000. Calcula-se que em 2050 a proporção será de 0,08ha/pessoa. A terra agriculturável é cada vez mais escassa e a biotecnologia já provou não ser eficiente no aumento da produtividade.
Dentro deste contexto, nos resta uma grande esperança nos oceanos e nos mares. Dois terços da superfície do planeta estão cobertos por águas salgadas, caracterizando-se como uma fonte importantíssima de riquezas, de energia e principalmente, de alimentos. Se forem explorados de maneira sustentável, os oceanos e os mares podem contribuir em muito com a solução de nossos principais problemas.
Todos os anos são capturados no mundo cerca de 90 milhões de toneladas de peixes, que além de gerar renda para milhares de famílias de pescadores e de comerciantes, ainda ajudam a amenizar a fome e a melhorar a dieta de muitos. Os oceanos também ajudam a estabilizar o clima mundial, são fonte de água potável, após tratamento especial, em muitos países onde a água doce é escassa, e também são considerados uma importante fonte alternativa de energia elétrica e de combustíveis fósseis. Trinta por cento da produção mundial de petróleo provém dos mares, sendo que o Brasil é líder mundial na exploração em grandes profundidades. O transporte marítimo é responsável hoje por oitenta por cento do comércio mundial.
Com todos estes argumentos, fica fácil perceber que a vida e o futuro na Terra dependem também da utilização correta dos mares e dos oceanos, porém, não estamos tomando todos os cuidados que deveríamos. O litoral brasileiro, por exemplo, é famoso por bons e maus motivos. Com suas praias exuberantes e seus portos indispensáveis para o escoamento de nossos produtos, também enfrenta o despejo de esgotos de cidades inteiras além da falta de consciência de muitos turistas e empresas que colaboram diretamente no aumento da poluição. Acidentes com petroleiros também tem colocado em risco nossas águas salgadas. Exemplo disso foram os dois petroleiros, o Erika, ao largo da costa de França, e o Prestige, ao largo da costa da Galiza, que juntos causaram um dos mais graves acidentes ambientais da história.
Alguns poucos homens, na ganância de satisfazer seus desejos capitalistas, já destruíram grande parte dos ambientes naturais de nossos continentes, colocando em risco todos os demais seres humanos, agora, estão acabando com os Oceanos, antes mesmo que possamos conhece-los melhor. Precisamos fazer algo imediatamente, pois é o nosso futuro e o de todas os formas de vida que está em jogo.
VAI FALTAR ÁGUA!
A vida começou com a água e a falta dela pode nos extinguir. Segundo a ONU, até 2025, dois bilhões e setecentos milhões de pessoas vão sofrer severamente com a falta de água. O homem é o grande consumidor de água doce, em média são utilizados 200 litros de água/dia/pessoa, em números aproximados.
Sabe-se que o consumo de uma família na cidade é seis vezes maior que de outra família no campo, porém, o consumo de água na agricultura é responsável por 70% do total mundial. Uma descarga sanitária equivale a doze litros, e para se lavar uma quantidade de roupas na máquina, o consumo aproximado é de 120 litros. Um quilo de carne corresponde a 18.000 litros de água que foram fornecidos direta ou indiretamente ao animal que lhe deu origem, até a carne estar pronta para o consumo.
Graças a esse consumo exagerado, rios famosos como o Nilo ou o Colorado já não conseguem alcançar sua foz na estação seca. Até mesmo o Mar de Aral na Rússia teve seu volume diminuído pela metade devido a utilização de sua água na agricultura. Todos os setores da economia necessitam de grandes quantidades de água, por isso a preservação dos nossos recursos hídricos devem tornar-se prioridade imediata no que se refere à sua qualidade, pois direta ou indiretamente todos dependemos deles.

Um litro de esgoto lançado em um rio deixa centenas litros de água impróprios para consumo. Esse tipo de poluição é responsável por 5 milhões de mortes por ano, causadas por doenças como a cólera e a disenteria. A degradação de nossos recursos hídricos também está diretamente ligada com os desmatamentos, causados pela mineração e pela urbanização. Isso tudo é resultado da irresponsabilidade dos governos, das indústrias e até mesmo da sociedade, que durante anos não respeitaram as legislações ambientais, por desconhecimento ou mesmo pela constante busca do lucro fácil, resultando na diminuição de investimentos no tratamento de seus resíduos.
Através da lei 9.433/97 o uso e a poluição da água começarão a ser cobrados com a intenção de reduzir o consumo e punir quem não se preocupa com a sustentabilidade de nossos recursos hídricos, mas é preciso que a população participe deste processo, tanto na fiscalização, como com denúncias e mesmo com a mudança de seus próprios hábitos, ou não conseguiremos reverter estas tristes estatísticas que podem nos levar a uma catástrofe irreversível.
O PETRÓLEO POTÁVEL
Desde a descoberta da utilização do petróleo como combustível e como matéria prima para a indústria pudemos assistir centenas de conflitos bélicos e comerciais pela disputa do chamado “Ouro Negro”. Atualmente estamos vivenciando a busca por novas fontes de energia, já que a previsão para as reservas mundiais não ultrapassa trinta anos. Porém, as guerras não deverão acabar por esse motivo, muito pelo contrário, a tendência é que elas mudem seu foco para outro líquido precioso, o “petróleo potável”, isto é, a água.
Em muitos países, a guerra já começou há séculos com é o caso do Oriente Médio e Norte da África. Suas populações continuam crescendo e seus reservatórios continuam diminuindo. Com menor valor econômico mas não de menor importância, a água é essencial para a sobrevivência humana, animal e vegetal. Sem ela, todo o planeta corre risco, toda vida existente na Terra nasceu da água e poderá desaparecer pela falta da mesma.
Arte Online/Folha Imagem

Fonte: IWMI (International Water Management Institute)
No Brasil, temos concentrada na bacia Amazônica 16% de toda a água doce disponível no planeta além da maior reserva de água subterrânea do mundo: o Aqüífero Guarani No total, utilizamos apenas cerca de 1% de nossas reservas enquanto a China acompanha seu lençol freático baixar 1,5 metro por ano, já somando 59 metro a menos nos últimos 35 anos. Eles também enfrentam junto com os Estado Unidos, Chile, Argentina e Índia a presença de pequenas quantidades de arsênico na água que levam todos os anos milhares de pessoas à morte com câncer de pele, diabetes, doenças vasculares, digestivas, hepáticas, nervosas e renais. A natureza se encarrega de evaporar a água dos oceanos, transformá-las em água doce e entrega-las a terra, porém, antes de chegar a superfície ela passa por gases tóxicos emitidos por indústrias e automóveis, depois encontra solos saturados de agrotóxicos, cidades e rios poluídos.
A ação não significa recuperação imediata, quando ela é apenas localizada e não geral os resultados são ainda menores. Precisamos urgentemente mudar nossas atitudes pois apenas com uma reversão global de valores conseguiremos evitar uma catástrofe mesmo que a longo prazo. No Brasil ainda temos muita água, mas ela não servirá de nada se estiver completamente poluída.
Universidade da Água



29/09/2011 13
Meio ambiente: 40% da água produzida no País é desperdiçadaAgência Câmara
Durante o Congresso Brasileiro de Desenvolvimento Humano – Saneamento Total e Dignidade da Pessoa Humana, o presidente da Comissão de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável da Câmara, Giovani Cherini (PDT-RS), assinalou que 40% da água produzida no País são desperdiçados.

O ministro da Saúde, Alexandre Padilha, afirmou que para cada R$ 1 investido em saneamento básico, são economizados R$ 4 em saúde, e que o tema tem dimensões muito concretas na saúde. Ele lembrou que as doenças que mais matam no mundo são as cardiovasculares, mas assinalou que os últimos relatórios da Organização Mundial de Saúde (OMS) apontam crescimento ano a ano de mortes por catástrofes como secas prolongadas, maremotos e enchentes. “O saneamento faz parte da construção de um mudo sustentável. Os investimentos estão sendo feitos. A Funasa já está destinando R$ 230 milhões para levar água para regiões do semiárido, por exemplo”, declarou.
Cherini disse ainda que apenas 43% dos municípios brasileiros têm acesso a saneamento básico, e apenas 1/3 conta com esgoto tratado. “A falta de saneamento é a causa do surgimento de 80% das doenças que atingem a população mais carente. São necessários pelo menos 20 anos para universalizar o saneamento básico no País, se houver aumento nos investimentos”, alertou.
Cidades grandes sem saneamento
O primeiro-vice-presidente da comissão, Oziel Oliveira (PDT-BA), chamou a atenção para as cidades que ainda não contam com saneamento básico. Ele citou Barreiras, na Bahia, que tem 120 anos e somente agora passa a contar com saneamento. “É uma cidade que faz parte do pólo de desenvolvimento do agronegócio brasileiro e demorou tanto tempo para ter esse benefício. Os investimentos na saúde não podem ser dissociados do saneamento básico. Grandes centros urbanos ainda jogam o esgoto a céu abeto. Um exemplo é o que ocorre em Guarulhos, São Paulo”, disse.
O evento ocorre no auditório da TV Câmara.
(Instituto CarbonoBrasil)

Dessalinização é a saída chinesa para a crise da água


Mitch Moxley, da IPSCientistas da China trabalham para desenvolver novas tecnologias de dessalinização que aliviem, nos próximos anos, a grave escassez de água que atinge todo o país. Apesar dos milhares de milhões de dólares investidos por Pequim em construção de represas e escavação de poços, fazendeiros no norte ainda precisam trabalhar duro em terra ressecada, enquanto centenas de cidadãos em todo o país sofrem falta de água e deterioração da qualidade dos recursos hídricos.

O déficit de água em Pequim logo estará entre 200 milhões e 300 milhões de metros cúbicos, segundo informes da imprensa estatal, enquanto a cidade espera que seja completado o Projeto de Transferência de Água do Sul para o Norte, no valor de US$ 62 bilhões, que causará o deslocamento de aproximadamente 330 mil pessoas.

O Banco Mundial alertou que a crise poderá provocar descontentamento e gerar atritos entre moradores das cidades e a população rural. Se não forem feitas profundas mudanças no uso da água, dezenas de milhões de chineses se converterão em refugiados ambientais na próxima década, alertou a instituição. Por outro lado, países asiáticos mais ao sul, como Birmânia, Laos, Camboja e Vietnã, afirmam que a agressiva política chinesa para construir represas no Rio Mekong priva de água seus cidadãos.

Para alguns, a resposta está na tecnologia de dessalinização. A China realiza pesquisas neste campo desde 1958, e em 1975 começou a testar seus primeiros artefatos. Em 1986, concluiu a fabricação de um dispositivo para dessalinizar água marinha mediante o processo de osmose reversa.

Tianjin, cidade costeira a 150 quilômetros de Pequim, representa a vanguarda nacional nesta tecnologia. Segundo o governo local, o Projeto de Dessalinização de Água Marinha de Dagang Xinquan é a “maior central da Ásia”. A “municipalidade desenvolve tecnologias de dessalinização desde 2000, e é considerada a mais confiável fonte de água para suprir as necessidades”, diz um informe realizado pelo Probe International, grupo ambientalista independente.

Wang Shichang, diretor do Centro de Tecnologias de Dessalinização da Universidade de Tianjin, informou que cientistas chineses trabalham em mais de 200 projetos e recebem apoio do Ministério da Ciência e Tecnologia e da Fundação Nacional da Ciência, da China. O centro dirigido por Wang introduziu o primeiro artefato de destilação subita de efeito múltiplo, que realiza o processo canalizando a água para diferentes câmaras, reduzindo a pressão progressivamente. O vapor gerado é capturado e convertido em água doce.

A capacidade de dessalinização chinesa atingiu quase 200 mil toneladas em 2009, contra 30 mil em 2005. Segundo o atual plano de desenvolvimento do governo, poderá chegar a entre 800 mil e um milhão de toneladas até o final deste ano. No entanto, Wang lembra que isto não é suficiente. Afirmou que ainda representa uma grande brecha entre a capacidade inovadora da China e a de países do Norte industrializado. São necessários mais subsídios estatais e acesso a empréstimos bancários, afirmou.

Enquanto Wang trabalha para conseguir um uso mais sustentável da água, Tian Juncang, professor da Universidade de Ningxia, tenta reduzir o desperdício dos recursos hídricos na agricultura. O trabalho de Tian se concentra em aplicar sistemas de irrigação por gotejamento e aspersão, maximizando a efetividade dos fertilizantes. Ele assegura que desta forma o uso de água pode ser reduzido em 50%.

A indústria agrícola chinesa atualmente emprega 70% de todos os recursos hídricos do país, e grande parte é desperdiçada, disse Tian. “A indústria agrícola da China enfrenta grandes desafios”, afirmou à IPS. Contudo, ao adotar a nova tecnologia, “a atual quantidade de água pode manter o dobro de terra cultivável”, acrescentou. Em 2007, o governo lançou um plano de 11 anos para promover a conservação da água, propondo metas detalhadas.

Tian afirmou que a conservação deve ser um esforço sistemático, com apoio e cooperação da indústria e da sociedade como um todo. Os esforços para preservar o recurso também exigirão maior financiamento do Estado, bem como de leis e regulações melhoradas, e infraestrutura avançada e melhor administrada, afirmou. “Os esforços de conservação da água foram fortalecidos nos últimos anos, mas ainda não é o suficiente”, ressaltou. Envolverde/IPS

Carta Verde

O PETRÓLEO POTÁVEL

Desde a descoberta da utilização do petróleo como combustível e como matéria prima para a indústria pudemos assistir centenas de conflitos bélicos e comerciais pela disputa do chamado “Ouro Negro”. Atualmente estamos vivenciando a busca por novas fontes de energia, já que a previsão para as reservas mundiais não ultrapassa trinta anos. Porém, as guerras não deverão acabar por esse motivo, muito pelo contrário, a tendência é que elas mudem seu foco para outro líquido precioso, o “petróleo potável”, isto é, a água.

Em muitos países, a guerra já começou há séculos com é o caso do Oriente Médio e Norte da África. Suas populações continuam crescendo e seus reservatórios continuam diminuindo. Com menor valor econômico mas não de menor importância, a água é essencial para a sobrevivência humana, animal e vegetal. Sem ela, todo o planeta corre risco, toda vida existente na Terra nasceu da água e poderá desaparecer pela falta da mesma.

Arte Online/Folha Imagem
Fonte: IWMI (International Water Management Institute)

No Brasil, temos concentrada na bacia Amazônica 16% de toda a água doce disponível no planeta além da maior reserva de água subterrânea do mundo: o Aqüífero Guarani No total, utilizamos apenas cerca de 1% de nossas reservas enquanto a China acompanha seu lençol freático baixar 1,5 metro por ano, já somando 59 metro a menos nos últimos 35 anos. Eles também enfrentam junto com os Estado Unidos, Chile, Argentina e Índia a presença de pequenas quantidades de arsênico na água que levam todos os anos milhares de pessoas à morte com câncer de pele, diabetes, doenças vasculares, digestivas, hepáticas, nervosas e renais. A natureza se encarrega de evaporar a água dos oceanos, transformá-las em água doce e entrega-las a terra, porém, antes de chegar a superfície ela passa por gases tóxicos emitidos por indústrias e automóveis, depois encontra solos saturados de agrotóxicos, cidades e rios poluídos.
A ação não significa recuperação imediata, quando ela é apenas localizada e não geral os resultados são ainda menores. Precisamos urgentemente mudar nossas atitudes pois apenas com uma reversão global de valores conseguiremos evitar uma catástrofe mesmo que a longo prazo. No Brasil ainda temos muita água, mas ela não servirá de nada se estiver completamente poluída. http://www.uniagua.org.br

Olimpio Araujo Junior
Geógrafo-ambientalista; Diretor de Comunicação da Rede de Comunicação Ambiental EcoTerra Brasil
oaj@ecoterrabrasil.com.br
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VAI FALTAR ÁGUA!

A vida começou com a água e a falta dela pode nos extinguir. Segundo a ONU, até 2025, dois bilhões e setecentos milhões de pessoas vão sofrer severamente com a falta de água. O homem é o grande consumidor de água doce, em média são utilizados 200 litros de água/dia/pessoa, em números aproximados.
Sabe-se que o consumo de uma família na cidade é seis vezes maior que de outra família no campo, porém, o consumo de água na agricultura é responsável por 70% do total mundial. Uma descarga sanitária equivale a doze litros, e para se lavar uma quantidade de roupas na máquina, o consumo aproximado é de 120 litros. Um quilo de carne corresponde a 18.000 litros de água que foram fornecidos direta ou indiretamente ao animal que lhe deu origem, até a carne estar pronta para o consumo.
Graças a esse consumo exagerado, rios famosos como o Nilo ou o Colorado já não conseguem alcançar sua foz na estação seca. Até mesmo o Mar de Aral na Rússia teve seu volume diminuído pela metade devido a utilização de sua água na agricultura. Todos os setores da economia necessitam de grandes quantidades de água, por isso a preservação dos nossos recursos hídricos devem tornar-se prioridade imediata no que se refere à sua qualidade, pois direta ou indiretamente todos dependemos deles.

Um litro de esgoto lançado em um rio deixa centenas litros de água impróprios para consumo. Esse tipo de poluição é responsável por 5 milhões de mortes por ano, causadas por doenças como a cólera e a disenteria. A degradação de nossos recursos hídricos também está diretamente ligada com os desmatamentos, causados pela mineração e pela urbanização. Isso tudo é resultado da irresponsabilidade dos governos, das indústrias e até mesmo da sociedade, que durante anos não respeitaram as legislações ambientais, por desconhecimento ou mesmo pela constante busca do lucro fácil, resultando na diminuição de investimentos no tratamento de seus resíduos.
Através da lei 9.433/97 o uso e a poluição da água começarão a ser cobrados com a intenção de reduzir o consumo e punir quem não se preocupa com a sustentabilidade de nossos recursos hídricos, mas é preciso que a população participe deste processo, tanto na fiscalização, como com denúncias e mesmo com a mudança de seus próprios hábitos, ou não conseguiremos reverter estas tristes estatísticas que podem nos levar a uma catástrofe irreversível.http://www.uniagua.org.br

Olimpio Araujo Junior

Geógrafo-ambientalista; Diretor de Comunicação da Rede de Comunicação Ambiental EcoTerra Brasil
oaj@ecoterrabrasil.com.br
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PERIGO NO PLANETA ÁGUA

Nos últimos 50 anos a população mundial passou de 2,5 bilhões de pessoas para 6,1 bilhões. Estima-se que até 2050 nosso palneta tenha entre 9 e 11 bilhões de habitantes. Com este crescimento populacional, cresce também a demanda por alimentos, por energia, água e recursos minerais, aumentando também a poluição e a degradação ambiental.
Atualmente a proporção de área cultivada por pessoa caiu de 0,24ha/pessoa em 1950 para 0,12ha/pessoa em 2000. Calcula-se que em 2050 a proporção será de 0,08ha/pessoa. A terra agriculturável é cada vez mais escassa e a biotecnologia já provou não ser eficiente no aumento da produtividade.
Dentro deste contexto, nos resta uma grande esperança nos oceanos e nos mares. Dois terços da superfície do planeta estão cobertos por águas salgadas, caracterizando-se como uma fonte importantíssima de riquezas, de energia e principalmente, de alimentos. Se forem explorados de maneira sustentável, os oceanos e os mares podem contribuir em muito com a solução de nossos principais problemas.
Todos os anos são capturados no mundo cerca de 90 milhões de toneladas de peixes, que além de gerar renda para milhares de famílias de pescadores e de comerciantes, ainda ajudam a amenizar a fome e a melhorar a dieta de muitos. Os oceanos também ajudam a estabilizar o clima mundial, são fonte de água potável, após tratamento especial, em muitos países onde a água doce é escassa, e também são considerados uma importante fonte alternativa de energia elétrica e de combustíveis fósseis. Trinta por cento da produção mundial de petróleo provém dos mares, sendo que o Brasil é líder mundial na exploração em grandes profundidades. O transporte marítimo é responsável hoje por oitenta por cento do comércio mundial.
Com todos estes argumentos, fica fácil perceber que a vida e o futuro na Terra dependem também da utilização correta dos mares e dos oceanos, porém, não estamos tomando todos os cuidados que deveríamos. O litoral brasileiro, por exemplo, é famoso por bons e maus motivos. Com suas praias exuberantes e seus portos indispensáveis para o escoamento de nossos produtos, também enfrenta o despejo de esgotos de cidades inteiras além da falta de consciência de muitos turistas e empresas que colaboram diretamente no aumento da poluição. Acidentes com petroleiros também tem colocado em risco nossas águas salgadas. Exemplo disso foram os dois petroleiros, o Erika, ao largo da costa de França, e o Prestige, ao largo da costa da Galiza, que juntos causaram um dos mais graves acidentes ambientais da história.
Alguns poucos homens, na ganância de satisfazer seus desejos capitalistas, já destruíram grande parte dos ambientes naturais de nossos continentes, colocando em risco todos os demais seres humanos, agora, estão acabando com os Oceanos, antes mesmo que possamos conhece-los melhor. Precisamos fazer algo imediatamente, pois é o nosso futuro e o de todas os formas de vida que está em jogo.
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Olimpio Araujo Junior
Geógrafo-ambientalista; Diretor de Comunicação da Rede de Comunicação Ambiental EcoTerra Brasil
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A ÁGUA EM NOSSAS VIDAS

A água, como todos sabemos, é um elemento essencial para que a vida exista na Terra. Nenhum ser, animal ou vegetal sobrevive sem ela. Mas esse não é seu único papel na natureza. Como agente intempérico ela molda rochas, modifica paisagens, forma rios, mares e lagos. Sem sua ação intempérica não teríamos o solo que nos dá alimento e é sustentação de grande parte da vida vegetal existente.
A água também enfeita nossos céus. Quem nunca brincou de descobrir a forma das nuvens quando era criança, quem nunca parou para observar as nuvens no horizonte durante o crepúsculo. Na imensidão branca do Alaska, ou no deserto de gelo da Antártida, assim como nos cumes das montanhas a água se apresenta em estado sólido, formando paisagens exuberantes que atraem a curiosidade de milhares de aventureiros.
No ambiente urbano a água tem um papel fundamental, podendo ser fonte de vida ao saciar nossa sede e ajudar em nossa higiene, ou fonte de graves doenças, quando é poluída por nossos próprios dejetos transformando-se em um veículo para micro e macro organismos maléficos.
Ela também é essencial para regular o clima da cidade, pois como tem capacidade de armazenar calor pode colaborar com o arrefecimento da mesma. Em cidades onde a água e a vegetação aparecem com menor freqüência, o micro clima urbano pode variar em até 9ºC a mais do que em ambientes naturais.
A chuva faz parte do ciclo da água, e é graças a ela que muitos de nossos mananciais se mantém abastecidos, que nossas lavouras continuam produzindo alimentos para nossa mesa, porém, ao encontrar o solo impermeabilizado da cidade, o que é uma dádiva para a agricultura pode se tornar um pesadelo para muitos.
A ocupação irregular em áreas de alagamento (várzeas), a poluição excessiva, a retirada indiscriminada das matas ciliares e a própria impermeabilização do solo urbano são responsáveis por enchentes que deixam milhares de pessoas desabrigadas todos os anos. É a natureza dando sua resposta pelos ataques que sofre.
A água no ambiente urbano também pode ter sua função estética e de lazer. Enfeitando praças e chafarizes, formando lagos, ou sendo utilizada em parques aquáticos e clubes, ela também ajuda a melhorar nossa qualidade de vida.
A água é uma grande aliada da vida, mas muitas vezes nós mesmos a transformamos em uma arma por não respeitá-la da forma devida. O futuro de todo o planeta depende dela, e está em nossas mãos encontrar meios para preservá-la.
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Olimpio Araujo Junior
Geógrafo-ambientalista; Diretor de Comunicação da Rede de Comunicação Ambiental EcoTerra Brasil
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Consciência sobre a Água


Segundo a Organização Mundial de Saúde, no Brasil, morrem atualmente 29 pessoas/dia por doenças decorrentes da qualidade da água e do não tratamento de esgotos e estima-se que cerca de 70% dos leitos dos hospitais estão ocupados por pessoas que contraíram doenças transmitidas pela água.
A superfície de nosso planeta é constituída por apenas 30% de terra firme, os 70% restantes são de água, mas nem toda essa água está disponível para uso humano, 97% são águas salgadas e apenas 3% são doces. Destes, apenas 0,6% são águas doces superficiais sendo que um pouco mais da metade está disponível nos lagos e nos rios. Nosso corpo também é em sua maior parte constituído por água e por isso nossa vida depende diretamente dela.

Cada vez mais vemos crescer a consciência sobre sua importância vital, porém, mesmo sabendo da incomensurável importância para nossas vidas e do risco eminente da falta da mesma, muitos ainda continuam poluindo rios e reservatórios com esgotos domésticos e industriais, retirando vegetação protetora das margens e mananciais, o que apressa seu assoreamento, envenenando com metais pesados e agrotóxicos, construindo em suas margens e modificando seus cursos, além de muitas outras agressões. Ao mesmo tempo, empresas multinacionais, que já entenderam o valor vital da água, resolveram agora embutir um valor econômico, transformando o que deveria ser direito de todos em mais um bem de consumo, um produto para enriquecer ainda mais quem já tem bastante dinheiro.
Imagem: www.educarede.org.br

A natureza, o homem e até mesmo as cidades estão interligados e dependem de um equilíbrio do ciclo da água. Apenas quando tivermos um destino adequado para todo o lixo e todo esgoto produzido nas áreas urbanas, poderemos garantir a conservação de nossos rios e mananciais. Por isso é preciso combater a poluição dos rios, impedir a ocupação irregular de seus leitos e, principalmente, investir em na recomposição das matas ciliares e dos mananciais. A vegetação ciliar, ou matas de galeria, atuam como um amortecedor das chuvas, ajudando o solo a absorver cerca de 99,5% das suas águas, que são posteriormente liberadas lentamente para o lençol freático, mantendo desde mananciais e rios até olhos d’água e nascentes. http://www.uniagua.org.br

Olimpio Araujo Junior
Geógrafo-ambientalista; Diretor de Comunicação da Rede de Comunicação Ambiental EcoTerra Brasil
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Notas sobre a água

[Por Luana Copini para o EcoDebate] Nas cartilhas escolares distribuídas pela Companhia Catarinense de Águas e Saneamento (CASAN) aprendemos que: 12% da água doce do mundo está no Brasil.

Além de abrigar o maior rio em extensão e volume de água, o Amazonas, mais de 90% do território brasileiro recebe chuvas abundantes durante o ano e as condições climáticas e geológicas propiciam a formação de uma extensa e densa rede de rios.

O que incide no Brasil, porém, é a má distribuição desta água. Enquanto a Amazônia com baixos índices populacionais possui 78% da água superficial, o sudeste que possui a maior concentração de população do país tem disponível apenas 6% do total da água.

De acordo com a Agência Nacional das Águas (ANA) a água no país representa apenas 0,3% do total de água do planeta em mais de 8,5 milhões de Km², vários biomas e quase metade do território ocupado pela floresta Amazônica.

Como em toda lógica natural, ou econômica, todo recurso natural é escasso, não seria diferente com a água.

Para Maria de Lourdes Davies de Freitas, pesquisadora e Secretaria Executiva da Rede Brasileira de Agrofloresta, a sociedade ao invés de evoluir está “involuindo”. “O índio no passado sabia aonde ir, era nômade (ainda alguns os são), aonde não existia água, eles não ficavam”.

No Brasil 50% da água captada para uso é destinada à irrigação, em apenas 5% da área total, segundo relatório divulgado pela ANA. Para onde vai o restante, nem o brasileiro sabe, segundo a pesquisadora.

Sem água não há vida, afirma Maria de Loudes acrescentando que a sociedade brasileira tem que acordar para questões que dizem respeito à sustentabilidade e ao uso da água, não apenas quanto ao desperdício mas também quanto ao não desmatamento das florestas.

Levando em consideração a preocupação com a escassez de água, a ANA criou o Atlas Brasil de Abastecimento Urbano de Água que faz o mapeamento e aponta as vulnerabilidades de todas as regiões metropolitanas e de todos os municípios do País.

E o último Atlas (2010) aponta a necessidade de investimentos que ultrapassam R$ 20 bilhões. Indica ainda que se efetuadas as obras, o Brasil terá oferta de água suficiente até 2025. Caso contrário, até 2015 pode faltar água em muitos municípios brasileiros.

Luana Copini é participante do Projeto Repórter do Futuro, que visa à interação de alunos de jornalismo e da sociedade civil sob estudos e experiências com relação à Amazônia e ao meio ambiente
Revista Eco Debate

MUNDO AFOGADO


Cena do filme Vidas Secas, de Nelson Pereira dos Santos
Pelo controle da água
Há pelo menos 50 anos a gestão da água está na agenda internacional (e doméstica), mas avançamos pouco e o cenário está longe de ser auspicioso. O descaso é geral: está no consumo frenético e irresponsável da água por boa parte da humanidade, no desejo de controle pelas corporações, na falta de saneamento básico, na maciça urbanização e na pavimentação de recursos naturais, na predação do agrobusiness e na barafunda de legislações, acordos e tratados. Já vivemos tensões e estamos sujeitos, até, a guerras: mais pelo controle da água do que por sua escassez
No filme Vidas Secas, de 1963, dirigido por Nelson Pereira dos Santos e baseado em obra homônima de Graciliano Ramos, um casal, seus dois filhos, uma cadela e um papagaio vagam por uma desértica paisagem nordestina – um cenário exacerbado pela magnífica fotografia crua e esbranquiçada de Luiz Carlos Barreto. Eles perambulam em busca de água e de dignidade, esquecidos pelo mundo, privados dos mais mínimos direitos – os diálogos quase não existem e, no limite onde os homens secam junto com a falta de água, a cachorra Baleia parece mais gente que as pessoas.

A situação da região sofreu importantes alterações de lá para cá, com grande avanço na distribuição de recursos hídricos e obras de saneamento básico – que ocorreu também em grande parte dos países subdesenvolvidos. Mas que tipo de água se está consumindo, e a que preço? Quanto tempo levará para que ela se esgote novamente pela utilização ambiental e socialmente irresponsável? E mais: quando o esgotamento deste recurso natural começará a levar países ao recurso da força para obtê-lo, num cenário onde estes conflitos principiam a se esboçar?

Cidadãos comuns entendem a utilização da água em sua forma mais palpável e imediata, ou seja, aquela usada nos lares para limpeza, higiene e cozinha. Pouca gente se dá conta de que um litro de suco de laranja, comprado ontem no supermercado, consumiu 3.700 litros para sua produção. Ou que 1/2 quilo de carne para o almoço significou um consumo de 9.250 litros. Que o jornal lido pela manhã gastou 550 litros e, mais, que o carro que leva alguém ao trabalho necessitou de 148.000 litros até chegar à concessionária. E, ainda, que um litro de etanol preciso de outros 7.700 litros de água. Ou seja, seres humanos têm sede, mas quase tudo aquilo que consomem também tem.

O consumo de água pela humanidade, para suas necessidades básicas e para o supérfluo; a ação de grandes corporações e instituições financeiras internacionais por seu controle crescente e consequente precificação acima do poder de compra de partes significativas da população mundial; a maciça urbanização e pavimentação de recursos naturais; a predação do agrobusiness e a barafunda de legislações, acordos e tratados sobre o assunto ajudam a compor um panorama que não é nem de longe auspicioso.

“Para o bem-estar das populações, bem como para o seu desenvolvimento, os recursos hídricos vêm, a cada dia ganhando importância, seja nos cenários domésticos, seja no cenário internacional. Não que essa preocupação seja nova. Em 1960, há 50 anos, o Clube de Roma discutiu a criação de uma política acerca dos recursos hídricos e de seu controle”, observa Gustavo Korte, advogado especialista em direito regulatório e administrativo.

“Hoje, um coordenado e altamente eficaz movimento internacional pela justiça na questão da água está lutando contra o poder das empresas privadas de água e o abandono governamental da responsabilidade por cuidar de recursos hídricos nacionais e por oferecer água limpa ao povo”, diz Maude Barlow, conhecida ativista canadense, co-fundadora do *Blue Planet Project e autora de 12 livros sobre o tema (Leia a reportagem Maude Barlow alerta sobre a causa da água, publicada quando ela visitou o Brasil, e a resenha do livro Água: Pacto Azul).

Serão necessários esforços titânicos e muita vontade política para reverter um quadro assombroso. De acordo com a *Organização Mundial de Saúde, 1.2 bilhão de pessoas no mundo não têm acesso a água potável, e 2.6 bilhões não têm serviços sanitários adequados. A *ONU – Organização das Nações Unidas estima que cerca de 2.8 bilhões de pessoas em 48 países viverão em situação de escassez de água até 2025.

O tema é vasto e complexo, e a intenção desta reportagem é de tentar despertar preocupação para o problema pela exemplificação de alguns de seus componentes mais visíveis. Um deles, que certamente ilustra claramente um desvio no uso da água é seu engarrafamento em embalagens plásticas para o consumidor final. Foi um produto de consumo luxuoso de início, mas, já em 1970, eram vendidos cerca de um bilhão de litros de água engarrafada em todo o mundo. Em 2006, este consumo chegava a 200 bilhões de litros e, hoje, o crescimento do mercado é de cerca de 10% ao ano. Sem contar o dano ambiental causado pelo polietileno tereftalato (PET), de que são feitas as garrafas (que ainda despejam 18 toneladas de dóxido de carbono no ambiente para cada milhão de litros), parte substancial desta água é extraída de fontes privatizadas, em projetos de financiamento bancados por dinheiro público.

“Há que se estabelecer um acordo de comércio que importe em regras claras para os fluxos e volumes de bens e commodities, como a água, que na ordem atual de produção e exportação, estão destruindo regiões do planeta”, afirma Gustavo Gazzinelli, do Movimento pelas Serras e Águas de Minas.

ÁGUA INVISÍVEL
Estes fluxos incorporam o que se convencionou, recentemente, chamar de água virtual – ou seja, se são necessários cerca de 100 litros de água para produzir uma banana, significa que uma dúzia delas, exportada, tira do país produtor 1200 litros (O mapa encartado na Edição Azul da revista National Geographic, nas bancas em 22/03, explica como funciona a circulação dessa água no mundo). Fora a transferência de água desta forma, a questão do desperdício é gritante. No momento, cerca de 30 a 50% dos alimentos que produzimos – com a água virtual embutida neles – são desperdiçados antes de chegar ao consumo, diz Daniel Zimmer, diretor-executivo do *Conselho Mundial de Água, com sede em Marselha, na França. Estas perdas se dão durante a colheita, produção, o processamento, transporte e estocamento.

Por isso, Zimmer aconselha: “Carne consome cerca de 10 vezes mais água para ser produzida do que vegetais. Mude de dieta e economize até 3 mil litros de água por dia”.

No caso da água virtual, por ser um indicador recente, as informações são controvertidas. O Worldometers – World Statistics Updated in Real Time acaba de me informar, em seu site, que, até o presente momento, foram consumidos este ano 905 bilhões de litros em todo o mundo. Se você pesquisar agora, encontrará outro número. Outro site muito interessante, o Virtual Water, fornece medidas mais detalhadas no caso da água virtual, assim como a ONG Virtual Water, a Water Footprint, o The Global Development Research Center e, ainda, o site de conteúdo Tree Hugger.

A discrepância de informações se deve à falta de um padrão mínimo comum de medição, além de fontes que podem ser influenciadas por lobbies corporativos ou governos locais. Aqui mesmo - no site do Planeta Sustentável e no Especial Água -, você pode encontrar números diferenciados, como é o caso do painel sobre Água Virtual (apresentado no evento Planeta no Parque, no Ibirapuera, em janeiro), que teve como fonte a Sabesp e o post, de mesmo título.

Neste caso, o mapa da Edição Azul da National Geographic, que já comentei acima, é uma ótima fonte para se aprender mais sobre a água virtual: explica, por exemplo, quanta água é utilizada em cada fase da criação de uma vaca, durante três anos.

UMA NOVA ÉTICA PARA LIDAR COM A ÁGUA
“O ser humano demora muito para mudar sua atitude”, diz Cláudio Bedran, advogado e gestor ambiental ligado à ONG *Planeta Verde. O que faz lembrar das pessoas que vemos cotidianamente a usar mangueiras para limpar folhas ou cocos de cachorros da calçada ou para lavar seus carros. É óbvio que não se pode culpá-las por atitudes que decorrem da simples falta de informação (sem esquecermos – claro! – daqueles que não se importam com o desperdício). Na maior parte dos casos, a água é um problema cultural e de administração, mais do que de recursos. É preciso uma nova ética para o recurso, e que os governos se envolvam mais em projetos para beneficiar as populações, do que as populações em projetos de governos.

“A excessiva centralização das ações relativas ao gerenciamento de recursos hídricos que alija e aliena os setores usuários da gestão, vem sendo apontada também como um dos fatores que impedem uma maior proteção dos recursos e uma alocação mais racional”, lembra Marilene Ramos, secretária estadual do Ambiente do Rio de Janeiro.

No limite, mas por enquanto ainda no território da ficção, a humanidade poderá estar sujeita a guerras, mais pelo controle de água que propriamente por sua escassez. Tensões já são observadas entre Israel e países vizinhos, entre índia e Paquistão, dentro do Sri Lanka (onde um grupo rebelde desviou um importante canal), na passagem noroeste da região polar norte do Canadá (que os EUA querem internacionalizar) e em diversos países dependentes do rio Nilo, no norte, leste e centro da África. O deslocamento de milhões de pessoas de seus habitats naturais pela fuga da seca causa também um clima de animosidade em fronteiras e países hospedeiros (O Dossiê Terra, publicado pela National Geographic em 2009 – que ainda é vendido na *Loja Abril -, trata dessa questão). De acordo com Maude Barlow, em todo o mundo, mais de 215 grandes rios e 300 bacias de água subterrânea e aquíferos são compartilhados por dois ou mais países.

Alguns outros dados referentes à situação dos recursos hídricos no mundo convidam à reflexão. Um ser humano médio deixa por ano no planeta uma “pegada de água” de 885 mil litros de água – isto inclui tudo para cozinhar, para roupas e outros produtos que consumimos que dependem dela. Na China, a pegada média é de 686 mil litros. Nos Estados Unidos, de 2,4 milhões, o maior consumo per capita do planeta. E o acesso à água encanada é de 85% para 20% da população mundial mais rica.

“Todo ser humano tem o direito a um padrão de vida adequado... a seu bem estar e de sua família, incluindo alimentação, roupa, moradia, cuidado médico e serviços sociais necessários.” Esta é parte das *Declaração Universal dos Diretos Humanos das Nacões Unidas, divulgada em 10 de dezembro de 1948. Exatamente dez anos antes, no romance de Graciliano Ramos, Fabiano, Vitória, o filho mais velho, o filho mais novo e a cadela Baleia empreendiam sua travessia num mundo crestado e sem promessa.

*Conselho Mundial da Água – World Water Council
*Organização Mundial de Saúde
*ONU
*Planeta Verde
*Declaração Universal dos Direitos Humanos
http://planetasustentavel.abril.com.br

Aquífero Guarani e a água do Mercosul

mapas e ilustrações de L.F. Martini
ESPONJA
Imagine uma caixa-d’água. Coloque dentro dela areia. A água vai preencher os poros entre os grãos. Cubra com concreto, deixando livre as bordas. Geologicamente, essa poderia ser uma simplificação do aquífero Guarani, o imenso reservatório de água subterrânea que se estende por mais de um milhão de quilômetros quadrados pelas fronteiras do Mercosul, antiga área ocupada pelo povo guarani e que hoje abrange os territórios brasileiro, argentino, uruguaio e paraguaio
Redação
National Geographic – 03/2010


Coberto por uma gigantesca estrutura debasalto sobre uma espessa camada de areia, o Guarani contém cerca de 33 mil quilômetros cúbicos de água, dos quais hoje poderiam ser explorados 6% desse total. É um conjunto de rocha arenítica saturado de água – e não um rio subterrâneo, como muita gente imagina. Essas rochas basálticas são extremamente férteis, e sobre o aquífero vivem cerca de 30 milhões de pessoas, com solo de alta produtividade agrícola. De 2 054 poços que atingem diretamente o Guarani, estima-se que seja extraído 1,04 quilômetro cúbico de água por ano – valor igual ao da recarga das águas.

ESPONJA SUBTERRÂNEA
O aquífero não é um rio que corre sob a terra, mas uma camada arenosa, formada geologicamente ao longo de milhares de anos, que armazena água e permite o movimento dela pelos poros e fraturas existentes. Nas margens, ele possui zonas de afloramento, em que ocorrem a recarga e a descarga de água em seu interior – um movimento mapeado recentemente. Nesses locais, a exploração comercial da água é mais viável.
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Toda a área do Guarani é caracterizada pela alta produtividade agrícola. O sedimento do basalto é conhecido como a fertile terra roxa. Nas margens de afloramento, a facilidade para se captar água incentiva a irrigação.

Onde agora é água, um dia foi deserto. Movimentos tectônicos criaram uma área de baixada, em que se acumulou areia de erosão. Quando o basalto vulcânico cobriu essa área, a água ficou confinada. Em alguns locais, o aquífero pode estar a mil metros abaixo do solo.

MÚLTIPLOS RESERVATÓRIOS
Nas áreas em que ocorre o confinamento, o movimento da água é lento. Além disso, uma recente pesquisa, sob a coordenação da Organização dos Estados Americanos (OEA), feita em conjunto com os países que cobrem o Guarani, mostrou que existem barreiras ao fluxo, assim como há áreas nas quais a taxa de permeabilidade é baixa. Ou seja, existem diversas sub-regiões confinadas e isoladas entre si na área do aquífero. “Os estudos mostraram que o Guarani, na verdade, é feito de vários reservatórios separados por barreiras geotectônicas com características distintas entre si”, explica o consultor Luiz Amore, secretário-geral do programa da OEA. Em termos políticos, a informação é relevante para a gestão internacional do uso das águas. “Logo, o que se faz em uma parte não vai necessariamente afetar a outra e, eventualmente, outros países. É necessário redefinir o conceito de recurso transfronteiriço em águas subterrâneas”, afirma.

Quatro países dividem a área do aquífero tentam estabelecer um plano de gestão, o qual esbarra não só nas legislações internas mas também na falta deconhecimento da dinâmica do próprio Guarani. Sob a égide da Organização dos Estados Americanos (OEA), tentam criar uma legislação internacional.
Fonte: Aquífero Guarani, Programa estratégico de ação da OEA.

A água que vem do fundo da terra

As necessidades cada vez maiores de água para as pessoas, a indústria e a agricultura estimulam a exploração das reservas existentes no subsolo. Mas boa parte dos cuidados exigidos para esse aproveitamento ainda não é adotada
A vida e o sustento da humanidade dependem da água, e o crescimento populacional impõe uma busca contínua por esse líquido precioso. No entanto, muitas pessoas vivem em áreas onde falta água potável. Para suprir com qualidade a raça humana, além da agricultura e da indústria, é indispensável aproveitar a água subterrânea, a maior e mais segura de todas as fontes de água potável. É ela que responde por 80% da água potável consumida na Europa e na Rússia, e mais ainda no norte da África e no Oriente Médio.
A água subterrânea existe em todo o mundo. A possibilidade de extraí-la varia muito de lugar para lugar, dependendo das chuvas e da distribuição dos aqüíferos (as formações geológicas em que a água pode ser armazenada e que possuem permeabilidade suficiente para permitir que ela se movimente). Em geral, a água subterrânea é renovada apenas numa época do ano, mas pode ser extraída o ano inteiro. Desde que o reabastecimento seja adequado e a fonte esteja protegida da poluição, essa extração pode ser feita indefinidamente.
A água subterrânea integra o ciclo da água (ver pág. 50) e, portanto, está intimamente ligada a processos atmosféricos ou climáticos, ao regime de rios e lagos e às nascentes e às terras úmidas que essa água alimenta ao chegar à superfície. Todos esses recursos se complementam, estendendo-se das regiões áridas até os trópicos.
Os recursos de água doce da Terra são, principalmente, o gelo, a neve e as águas subterrâneas (os rios e lagos constituem apenas uma pequena parte desse total). O volume de água subterrânea fresca gira em torno de 10 milhões de quilômetros cúbicos - mais de 200 vezes o total dos recursos de água doce renovados anualmente pela chuva.
Nas zonas áridas, a escassez de água doce força as populações locais a usar a água subterrânea disponível. Mas a extração muito intensiva não é sustentável e pode originar riscos como subsidência (afundamento abrupto ou gradativo da superfície terrestre) e fissuração dos solos. A captação de água subterrânea só é praticável em casos (raros) nos quais a reserva estática do líquido é, proporcionalmente, muito maior do que a população.
Nos climas úmidos, as chuvas fazem com que grandes quantidades de água se infiltrem no solo e nas rochas, contribuindo para alimentar os rios nos períodos mais secos.

EMBORA FIQUEM atrás dos rios no que se refere à distribuição de toda a água doce existente, as águas subterrâneas são o maior regulador desse recurso. Elas constituem a parte invisível do ciclo da água, em que evaporação, precipitação, infiltração e descarga são os principais componentes. Os componentes "visíveis" são fortemente afetados pelas condições climáticas. Podem ser poluídos rapidamente, mas também podem recuperar-se em pouco tempo. Já os processos subterrâneos duram de anos a milênios. Porém, com uma gestão cuidadosa, todos podem ser usados para criar um sistema de fornecimento que faça frente a condições de seca.
O risco da poluição

Se poluída, a água pode transmitir doenças e transportar substâncias químicas venenosas. A água não contaminada é, assim, um importante tema transversal no âmbito dos Objetivos do Milênio para o Desenvolvimento da ONU (www.un.org/ milleniumgoals/).
Em geral, a água subterrânea é menos poluída, pois está protegida da contaminação na superfície proveniente dos solos e da cobertura rochosa. No entanto, o aumento da população, as mudanças observadas no uso da terra e a industrialização acelerada ameaçam as reservas. Por isso, a qualidade dessa água deve ser controlada antes, durante e após sua utilização.


OS REGIMES DE água subterrânea diferem de região para região (ver ilustrações da página ao lado). Em climas úmidos, as chuvas levam grandes volumes de água a infiltrar-se no solo e nas rochas, contribuindo ativamente para alimentar rios, fontes e zonas úmidas nos períodos de menor precipitação. Já nos climas áridos e semi-áridos quase não há trocas entre a água de superfície e a subterrânea, pois o reduzido volume de chuva raramente penetra nos solos espessos e secos. Nessas áreas, a recarga das reservas é mínima.
A disponibilidade de água subterrânea varia muito de acordo com a região. As condições climáticas - em especial a chuva - determinam o volume recarregado, que é controlado pelas características das rochas- reservatório. Os recursos hídricos apenas podem ser utilizados de forma sustentável se sua extensão espacial e sua variação ao longo do tempo forem bem compreendidas. Mas essa informação é em geral desconhecida, mesmo nos países desenvolvidos.
Cerca de 30% da área continental (exceto a Antártica) tem aqüíferos relativamente homogêneos com reservas importantes. Por volta de 19% envolve regiões geologicamente complexas bem providas de água subterrânea. Metade da área continental contém, em geral, reservas menos significativas, mas muitas vezes suficientes para sustentar cidades pequenas e médias.
Quinze por cento das terras do planeta recebem, em média, menos de 200 mm de chuvas por ano (cerca de 200 litros por m2). Nessas regiões há, normalmente, uma recarga muito baixa da água subterrânea; por isso, a quantidade usada não será reposta por centenas (ou milhares) de anos. Assim, a extração de água nessas áreas deve ser vista como a exploração de um recurso limitado.
A renovação dos estoques disponíveis de água é uma questão crucial no atual momento. Segundo a ONU, o volume médio anual de água renovável é de 43 mil quilômetros cúbicos - cerca da metade da água doce existente em todos os lagos naturais da Terra. A recarga de água subterrânea é de 10 mil km3 anuais (cerca de 0,1% de todas as reservas) - ou seja, uma pequeníssima proporção do volume total desses estoques é reposta a cada ano.
Nascidos sob climas muito mais úmidos, alguns sistemas de água subterrânea situados nas zonas áridas do mundo não são renováveis nas condições atuais, mas estão sendo explorados de forma cada vez mais intensa. Um deles é o Sistema Aqüífero do Arenito Núbio, cujos mais de 2 milhões de km2 estendem-se sob terras do Chade, do Egito, da Líbia e do Sudão, na África. Ele conteria cerca de cem vezes o atual valor anual do consumo de água no mundo.
O ciclo da água tem diferenças nas várias zonas climáticas do mundo. Acima, os exemplos da Alemanha (esquerda) e da Namíbia.
Sem fronteiras

A água subterrânea não pára à porta das fronteiras políticas. Explorá-la em determinado país pode afetar dramaticamente a água de outro. Por esse motivo, sua gestão requer cooperação internacional e instituições governamentais e legais apropriadas. Uma vez que a água subterrânea se desloca obedecendo a leis físicas, as estruturas hidrogeológicas devem ser investigadas, exploradas e geridas na sua totalidade. Isso significa que a investigação deve atravessar, igualmente, fronteiras nacionais - um fato muito importante em regiões áridas sensíveis, nas quais as áreas de captação da água dos rios à superfície podem ser bastante diferentes das ocorrências de água subterrânea, localizadas a profundidades maiores.


IMAGINA-SE QUE existam depósitos com dimensões idênticas a essas e recarga limitada em quase todos os continentes, mas a quantidade de água utilizável neles é desconhecida. É necessário obter informações sobre aspectos como idade, tempo de permanência e fluxo da água no subsolo, características geológicas e químicas e processos envolvidos. Duas iniciativas da Unesco colaboram nesse sentido: 1) O Programa Mundial de Avaliação e Cartografia Hidrogeológica (WHYMAP, Unesco - www.whymap.org), em cooperação com a Associação Internacional de Hidrogeólogos, a Agência Internacional de Energia Atômica e o Instituto Federal Alemão para as Geociências e os Recursos Naturais. 2) O Centro Internacional de Avaliação de Recursos de Água Subterrânea (Igrac - www.igrac.nl), co-patrocinado pela World Meteorological Organization.
A procura de água cresce à medida que aumentam a população, a atividade econômica e a irrigação. Mas as reservas mundiais acessíveis de água diminuem devido a sua superutilização e poluição. Mais de 30 países sofrem de uma séria e crônica falta d'água e recorrem cada vez mais à água subterrânea.
A agricultura é a maior consumidora de água no mundo (70%), seguida da indústria (20%) e das residências (10%). Esforços consideráveis têm sido feitos para reduzir o consumo na indústria e nos lares, mas ainda há muito a fazer quanto à irrigação.
A proporção de água usada nesses setores varia de região para região, em sintonia com a economia. Na Europa e na América do Norte, o principal consumidor é a indústria; na Ásia e na África, a agricultura. Em muitas regiões áridas e semi-áridas, cerca de 30% da água subterrânea é extraída para irrigação, e a tendência tem aumentado. Em boa parte dessas áreas, as atuais políticas de gestão da água agravaram o problema. Embora seja essencial reduzir a exploração dos aqüíferos não recarregados, muitos países em climas secos a subsidiam. O reúso de efluentes tratados oferece uma solução parcial para o problema.

Os temas-chave

Embora a extração da água subterrânea tenha crescido nas últimas décadas, ainda se sabe pouco sobre esse recurso e seu uso sustentável, uma vez que a hidrogeologia é uma área científica jovem. Em 2005, a ONU proclamou a Década para a Água a fim de encorajar temas transversais relativos à água implicados nos Objetivos do Milênio para o Desenvolvimento. A água subterrânea terá um papel significativo nesta Década.
Ações em desenvolvimento no âmbito desse programa:
*Cartografar e quantificar os recursos de água doce subterrânea, incluindo a identificação de bacias transfronteiriças partilhadas por vários países.
*Investigar os processos de recarga, fluxo e descarga em sistemas de água doce subterrânea e seu papel nos ecossistemas.
*Minorar os impactos ambientais oriundos da extração e degradação das águas subterrâneas, protegendo zonas úmidas afetadas, prevenindo a deterioração dos estoques em termos de quantidade e qualidade e monitorando seus sistemas a longo prazo.
*Reconhecer o valor da água em diversos ambientes e implementar estratégias para conservar e salvaguardar os recursos hídricos.
Questões-chave:
Quanta água subterrânea existe e como pode ser usada de forma sustentável?
Como a exploração inadequada das reservas "fósseis" de água pode ser identificada e gerida a fim de minimizar seu esgotamento e suas desastrosas conseqüências humanas/ecológicas? Isso requer um entendimento melhor da recarga em geral.
Como as reservas vulneráveis de água subterrânea podem ser protegidas da poluição? Como os recursos vitais poluídos podem ser recuperados?

INDEPENDENTEMENTE das medidas de conservação adotadas, a extração de água subterrânea é quase inevitável. Esses estoques significam, muitas vezes, o único fornecimento de água a um preço justo. Como os fluxos de água subterrânea são muito lentos, as conseqüências da superexploração só poderão ser visíveis daqui a alguns anos ou décadas. Assim, as estratégias futuras deverão incluir um monitoramento bem planejado da extração e da qualidade desse líquido.
A água subterrânea é o mais aproveitado recurso natural. Sua produção em 2004 ficou entre 600 e 700 bilhões de toneladas - no mesmo ano, o consumo mundial de areia e brita foi de aproximadamente 18 bilhões de toneladas. O caráter essencial desse recurso o torna, inclusive, propriedade pública em muitos países. Para manter o abastecimento sustentável, porém, os custos de exploração, tratamento e fornecimento precisam ser cobertos via pagamento de taxas.
A discussão sobre o fornecimento público, os lucros, a irrigação, a liberalização do mercado hídrico e o investimento privado continua em todos os níveis da sociedade. O Objetivo do Milênio para o Desenvolvimento, formulado pela ONU a fim de reduzir em 50% o número de pessoas sem acesso a água potável até 2015, será atingido apenas com um investimento hoje estimado em torno de R$ 38 bilhões anuais.
Se a sociedade continuar a usar a água subterrânea sem assegurar o necessário reabastecimento, a crise da água só se agravará. Estratégias de uso sustentável devem ter em conta as características de todos os reservatórios do ciclo da água e garantir que seu pleno uso seja feito segundo bases científicas.

Autores: William Struckmeier (Alemanha), com Yoram Rubin (Estados Unidos) e J.A.A. Jones (Grã-Bretanha).

PARA SABER MAIS
Site: www.yearofplanetearth.org

Revista Planeta

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