sexta-feira, 19 de julho de 2013

FENÔMENOS NATURAIS

Desastres: Natureza irada


Os desastres que abalaram a humanidade

José Sérgio Osse 

Terremoto em São Paulo e em mais 4 estados, ciclone no Rio Grande do Sul e tornado em Santa Catarina. Parece que, de repente, o Brasil entrou na lista de países que sofrem com desastres naturais. Na verdade, já fomos vítimas de grandes castástrofes. Uma das maiores ocorreu perto do epicentro do terremoto que aconteceu em abril deste ano. Em 1532, um maremoto em São Vicente, no litoral paulista, aterrou a entrada do porto da região e forçou sua mudança para um novo local, em Santos. Mesmo assim, continuamos sendo peixe pequeno em matéria de devastação. “O Brasil não tem falhas geológicas importantes, não tem vulcões e está longe das zonas de atrito das placas tectônicas”, afirma o americano David Crossley, professor de Geologia da Universidade de Saint Louis. O mesmo não vale para várias outras regiões que, de tempos em tempos, sofrem com catástrofes grandiosas, que já deixaram um longo rastro de mortes e de prejuízos e se mostraram capazes de mudar os rumos da História. Conheça as maiores delas.

Ataques mortais
O pior deles matou 4 milhões de pessoas

79 d.C. - Chuva de cinza e rochas

Em 19 horas, o Vesúvio matou 16 mil pessoas. Uma chuva de cinza e rochas soterrou o balneário romano de Pompéia. Por outro lado, a erupção garantiu que a vila fosse mantida intacta para a posteridade.

1556 - O terremoto mais mortal

Embora não tenha sido o mais intenso da História, o tremor que atingiu a província de Shaanxi, na China, em 23 de janeiro de 1556, é o mais mortal de que se tem registro. Ele matou 830 mil pessoas.

1755 - Lisboa destruída

A capital portuguesa e várias cidades litorâneas do país foram devastadas por um terremoto, seguido de um tsunami com ondas de mais de 6 metros. O tremor, de 8,7 pontos na escala Ritcher, deu ao marquês de Pombal a chance de reconstruir Lisboa.

1780 - “Grande Furacão”

Também conhecido como Furacão de São Calixto, deixou 27 mil mortos em várias ilhas do Caribe. Ocorrido durante a guerra de independência dos Estados Unidos, afundou dezenas de navios ingleses e franceses posicionados na região.

1883 - O Krakatoa ruge

Depois de uma semana de erupções, o monte Krakatoa, na Indonésia, atingiu o auge da ira no dia 27 de agosto. Foi quando aconteceram quatro explosões, sendo que a última pôde ser ouvida a mais de 4 800 quilômetros. As detonações arremessaram rochas a mais de 80 quilômetros de altura.

1900 - Índia sem água

As secas na Índia são relativamente comuns desde o século 18. A maior dessas tragédias aconteceu no ano 1900, no norte do país. Estima-se que tenham morrido até 3,25 milhões de cidadãos indianos.

1931 - China com água demais

A inundação do rio Amarelo, na China, é considerada o desastre natural mais mortal da História. Deixou cerca de 4 milhões de mortos, seja durante a cheia, seja por causa das doenças provocadas pelo desastre.

1970 - Ventos de 222 km/h

Nunca houve ciclone tropical tão devastador. O Bhola surgiu na baía de Bengala e deixou de 300 mil a 500 mil mortos em Bangladesh e na Índia. Com ventos de 222 km/h, causou prejuízos de 500 milhões de dólares.

2002 - Morrendo no frio

Na república russa da Ossétia do Norte, uma placa de gelo de 150 metros de espessura percorreu 32 quilômetros de distância a uma velocidade de 100 km/h. Saldo da pior avalanche conhecida: 125 soterrados.

2004 - Ondas a 800 km/hO maior desastre natural do século 21 até agora foi causado por um terremoto de 9 pontos na escala Richter, na Indonésia. Mais de 225 mil pessoas foram mortas pelo tsunami, cujas ondas alcançaram 800 km/h.
REVISTA AVENTURAS NA HISTÓRIA

El Niño


O nome é doce, mas esse fenômeno climático provoca estragos enormes e alterações bruscas na vida de diversas populações

O El Niño foi assim batizado por pescadores peruanos e o nome é uma referência ao menino Jesus. Isso porque perto do Natal costuma chegar ao mar da região uma corrente marítima quente, sendo que, em certas épocas, a temperatura excede o normal. O nome desse fenômeno climático não deixa de trazer consigo uma certa dose de ironia. Ao contrário de Jesus, que fazia o milagre da multiplicação dos peixes, o El Niño significava para os pescadores peruanos um longo período sem trabalho.
Esse fenômeno, também chamado de “episódio quente”, é uma combinação entre o aquecimento anormal do oceano Pacífico e o enfraquecimento dos ventos alísios (que sopram de leste para oeste) na região equatorial. Essa conjugação de acontecimentos provoca mudanças na circulação da atmosfera, e portanto fenômenos como secas e enchentes são observados em várias partes do globo de cada dois a sete anos.
Para entendermos melhor o impacto do El Niño é preciso conhecer como é o oceano Pacífico sem ele. Vamos imaginar uma piscina cheia de água, num dia ensolarado. Se colocarmos nas bordas um grande ventilador, o vento (ventos alísios) formará uma turbulência na água. Com o passar do tempo, haverá um represamento no lado oposto ao ventilador e o nível da água próximo ao ventilador será um pouco menor que o do lado oposto. Isso ocorre porque o vento está “empurrando” as águas superficiais para o outro lado, expondo águas mais frias das partes mais profundas da piscina.
Isso nos remete a outro fator importante da nossa história. Os ventos alísios, junto à costa oeste da América do Sul, favorecem um mecanismo chamado pelos oceanógrafos de ressurgência, que seria o afloramento de águas mais profundas do oceano.
Com o deslocamento das águas quentes, as camadas mais frias chegam à superfície, com mais oxigênio dissolvido e carregadas de nutrientes e microrganismos vindos das profundezas do mar, que servirão de alimento para os peixes. Não é por acaso que a costa oeste da América do Sul é uma das regiões mais piscosas do mundo. O que surge também é uma cadeia alimentar, pois os pássaros que vivem naquela região se alimentam dos peixes, que por sua vez se alimentam dos microrganismos e nutrientes daquela região.

Desligando o ventilador
Vamos agora voltar ao nosso “modelinho”. Desligue o ventilador, ou coloque-o em potência mínima. O que irá acontecer? O arrasto que os “ventos alísios” provocavam na água da piscina irá desaparecer ou diminuir. As águas do lado oposto ao
ventilador irão então refluir para que o mesmo nível seja observado em toda a piscina. O calor do sol, teoricamente, atingirá por igual todos os pontos da superfície da água.
Agora, todo o oceano Pacífico Equatorial começa a se aquecer. Esse aumento de temperatura gera evaporação com movimento ascendente que, por sua vez, gera a formação de nuvens. A diferença agora é que em vez de observarmos a formação de nuvens com intensas chuvas próximas à Ásia no Pacífico Equatorial Ocidental (quando a água quente era deslocada pelos alísios), vamos observar o aumento de chuva nas regiões do Taiti e da costa oeste da América do Sul, no Pacífico Equatorial Central e Oriental.

Mas as transformações climáticas têm reflexos em outras regiões do planeta além do eixo leste-oeste do Pacífico. No Brasil, as porções norte e leste da Amazônia e o norte da região Nordeste enfrentam períodos de estiagem durante a estação chuvosa (de fevereiro a maio). No Sudeste ocorre um aumento de temperatura principalmente no inverno e no verão, mas não há padrão característico de mudança das chuvas durante o fenômeno, com exceção do extremo sul do estado de São Paulo. O problema com as chuvas ocorre principalmente nas regiões Centro-Oeste e Sul do país. Em maio de 1983
, o El Niño provocou uma das piores enchentes da história do estado de Santa Catarina. A Austrália, África e Indonésia sofreram tempestades de poeira e incêndios florestais. O Peru foi atingido pela pior tempestade de que se tem notícia. Alguns de seus rios subiram mil vezes acima do leito normal. Calcula-se que o fenômeno foi responsável pela morte de 2 mil pessoas no mundo e por um prejuízo de US$ 13 bilhões de dólares na economia.

Em 1997, ocorreu um dos mais fortes El Niños já registrado no planeta. Houve intensa seca na região da Indonésia e na Austrália. A população, em muitas regiões, utilizava máscaras, tamanho eram os índices de poluição na região, provocados pelas queimadas e pela poluição das grandes cidades. Por causa disso, foram registrados alguns acidentes por falta de visibilidade. No Brasil, observaram-se enchentes nos estados da região Sul. No ano de 1998, uma grande seca em Roraima provocou uma das piores queimadas da região. Foi observada uma intensa seca no norte da região Nordeste (região semi-árida) que espalhou muita fome e miséria.
Mas, apesar de tudo, enquanto o El Niño espalha medo, existe um pedaço do mundo que
respira aliviado nos anos em que o fenômeno se manifesta. Com as mudanças que ocorrem na circulação atmosférica, os ventos em altos níveis da atmosfera se modificam no Atlântico Tropical Norte e isso dificulta a formação de furacões naquela região e no Caribe.

Como ocorre?
Essa é uma pergunta que eu também faço. Por que há aquecimento em alguns anos e em outros não? É interessante, pois no presente momento conseguimos dizer com antecedência quando irá começar um novo El Niño, o que ele poderá ocasionar, quando irá terminar. No entanto, não sabemos ao certo o porquê do aquecimento anômalo. Existem várias teorias, mas nenhuma, até hoje, explica todos os aspectos do fenômeno. Alguns chegam mesmo a dizer que os responsáveis pelo aquecimento são os vulcões submersos no oceano. Outros dizem que os El Niños coincidem com as manchas solares. Mas estas duas teorias já foram descartadas. A teoria mais aceita atualmente é chamada de oscilador-retardado (em inglês, delayed oscillator). A teoria se refere a uma formulação muito complexa que incorpora interações entre o oceano e a atmosfera e está relacionada a ondas oceânicas chamadas de Rossby e Kelvin e ao tamanho da bacia do Pacífico, que é muito grande. Entretanto, o que sabemos é que a principal fonte geradora do aquecimento é o Sol. Porém existe uma interação extremamente complexa entre a atmosfera e o oceano que até hoje ninguém conseguiu explicar exatamente.

Para finalizar, é importante entender o “diálogo” que existe entre a atmosfera e o oceano, que na verdade é uma espécie de ciclo, para perceber como eles estão intimamente interligados: mudanças na intensidade dos ventos alísios ao longo do Equador induzem a mudanças nas correntes oceânicas e na ressurgência, que induzem a mudanças na temperatura do oceano, que altera a distribuição da precipitação, que altera a intensidade dos ventos alísios ao longo do equador, que induzem…
Gilvan Sampaio é autor de livros e pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).
Revista Discutindo Geografia

La Niña

La Niña

O termo La Niña (“a menina”, em espanhol) surgiu porque o fenômeno se caracteriza por ser oposto ao El Niño. Pode ser chamado também de episódio frio, ou ainda El Viejo (em espanhol, “o velho”).
Para entender La Niña, vamos retornar ao nosso “modelo” feito para explicar o que ocorre normalmente no Pacífico Equatorial, que seria o exemplo da piscina com o ventilador ligado, que faria com que as águas da piscina fossem empurradas para o lado oposto ao ventilador. Pois bem, agora, em vez de desligar o ventilador, vamos ligá-lo com potência maior. Ou seja, fazer com que ele produza ventos mais intensos. O que acontecerá?
Com os ventos mais intensos, maior quantidade de água vai se acumular no lado oposto ao ventilador na piscina. Com isso, o desnível entre um lado e outro da piscina também vai aumentar. Vamos retornar ao oceano Pacífico. Com os ventos alísios (que seriam os ventos do ventilador) mais intensos, mais águas irão ficar “represadas” no Pacífico Equatorial Oeste e o desnível entre o Pacífico Ocidental e Oriental irá aumentar. Com os ventos mais intensos, a ressurgência também irá aumentar na costa oeste sul-americana (no Pacífico Equatorial Oriental) e, portanto, virão mais nutrientes das profundezas para a superfície do oceano, ou seja, aumenta a chamada ressurgência no lado oriental do Pacífico Equatorial.

Por outro lado, devido à maior intensidade dos ventos alísios, as águas mais quentes irão ficar represadas mais a oeste do que o normal e, portanto, novamente teríamos aquela velha história: águas mais quentes geram evaporação e conseqüentemente movimentos ascendentes, que por sua vez geram nuvens pluviométricas e, em anos de La Niña, os períodos de chuva ficam maiores que o normal. A região com grande quantidade de chuvas é a do nordeste do oceano Índico, a oeste do oceano Pacífico, passando pela Indonésia. Já no Pacífico Equatorial Central e Oriental ocorre mais seca. Em geral, episódios Las Niñas também têm freqüência de dois a sete anos, todavia têm ocorrido em menor quantidade que o El Niño durante as últimas décadas. Além do mais, enquanto o El Niño provoca um aumento de cerca de 5 °C na temperatura, no La Niña as maiores anomalias observadas ficam de 3 a 4 °C abaixo do normal.

No Brasil, os principais efeitos do La Niña são passagens rápidas de frentes frias na região Sul do país, com uma diminuição na precipitação entre junho a fevereiro – fenômeno que também atinge o centro-nordeste da Argentina e o Uruguai. O Nordeste também enfrenta mais frentes frias, no litoral da Bahia, Sergipe e Alagoas, e chuvas acima da média na região semi-árida. Há tendência de chuvas abundantes no norte e leste da Amazônia. As vazões do rio Amazonas e as cotas do rio Negro (em Manaus), em eventos passados mostraram valores maiores que a média.

Revista Discutindo Geografia

Tsunami" no Atlântico

Pesquisadores contam como escaparam de ondas gigantes que cobriram ilhotas brasileiras no Atlântico e destruíram estação científica
texto: Martha San Juan

O arquipélago São Pedro e São Paulo é um conjunto de ilhotas isoladas a mil quilômetros do litoral do Rio Grande do Norte


O resgate da equipe de quatro cientistas no arquipélago São Pedro e São Paulo parece um daqueles pesadelos que os participantes querem esquecer. Ou contar para os amigos como se fosse uma aventura distante. Não dá para acreditar que, há poucos meses, quatro pessoas tiveram de escapar do arquipélago, um conjunto de ilhotas brasileiras no meio do Oceano Atlântico, da única maneira possível: se atirando de um penhasco, no intervalo de ondas gigantescas, e nadando até um barco de pesca avisado por meio de um transmissor portátil salvo entre os escombros da estação mantida pela Marinha naquele lugar afastado da costa brasileira.

“A pior parte foi quando tivemos de nos refugiar no farol”, recorda o médico Fábio Tozzi, 45 anos, um dos membros da equipe. Tozzi conta que, no dia 3 de junho, um sábado, ele e a mulher, a bióloga da Universidade de São Paulo Adriana Kohlrausch, de 29 anos, uma veterana de expedições à estação, chegaram no arquipélago para uma estadia de 15 dias. Junto, estavam os biólogos João Paulo Machado Torres, 40 anos, e a estudante de pós-graduação Larissa Cunha, 37 anos, da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Os biólogos pretendiam dar prosseguimento ao trabalho com a fauna local e Tozzi acompanhou-os como instrutor e médico.

Na segunda-feira, dia 5, eles receberam a informação de que um dos pescadores de um barco nas proximidades havia se ferido com o anzol no olho direito. Foi examinado por Tozzi que telefonou para a Base Naval de Natal para que providenciasse a sua remoção para tratamento cirúrgico. O barco de apoio, levando o pescador, dirigiu-se então ao arquipélago de Fernando de Noronha, situado a 650 quilômetros de São Pedro e São Paulo. Na ocasião, os pesquisadores ficaram sabendo que poderiam enfrentar mar turbulento nos dias seguintes.

No final da tarde de terça, ondas enormes vindas do lado sul da ilha aumentavam de intensidade e freqüência, encharcando a casa dos pesquisadores e invadindo o recinto do gerador. Como a estação estava muito exposta, os quatro decidiram passar a noite no velho farol, ponto mais alto do arquipélago, construído em 1930 pela Marinha brasileira e reformado nos anos 90.


Cenas da destruição causada pelas ondas: o ancoradouro e a casa de madeira
“Foi uma noite infernal; nós quatro confinados em um espaço de 1 metro de largura e 10 de altura, sem nada além de algumas laranjas, sacos de batata frita, azeitonas e um pão que pegamos rapidamente”, conta Tozzi. “No começo, ficamos dois de pé e dois sentados, mas depois de algumas horas ficou impossível. Então improvisamos uma espécie de poleiro para que os quatro pudessem se sentar.”

Em seu relatório para a Marinha, o biólogo Machado Torres dá uma versão semelhante: “Improvisamos uma moradia no interior do farol, com o que sobrou de madeira da passarela. Foi uma experiência indescritível, algo que os astronautas russos devem ter ensinado ao nosso astronauta Marcos Pontes – como passar mais de 12 horas dentro de um cilindro abraçando os joelhos...”

Apesar do desconforto, a precaução salvou a vida dos pesquisadores. Na madrugada de quarta, a estação, que também servia de residência, foi atingida pelas ondas. A contenção de madeira que protegia a edificação foi ultrapassada pela violência da água. Parte do prédio, feito de madeira, desabou. “As ondas entravam com força total na casa sem o obstáculo das paredes, atingindo até as estantes altas nas paredes opostas e varrendo tudo que encontrava pelo caminho”, diz Machado Torres.

Durante a tempestade, a casa das baterias e o depósito de galões de água haviam tombado e foram destruídos. A casa do gerador, a parede do banheiro e os rádios da estação foram levados pelas ondas, junto com todo o equipamento de comunicação. A parede da casa, que dava face para o muro de contenção, também estava em escombros, as janelas arrancadas. A força das ondas foi tanta que os bancos em que estavam guardados o material de limpeza e equipamentos médicos haviam sido lançados para a varanda, por onde tudo ia sendo arrastado.

“A notícia do que havia acontecido chegara ao continente e esperávamos ser resgatados em breve”, conta Fábio Tozzi. Mas havia também a informação vinda de Fernando de Noronha, de que ondas maiores estavam se formando. “Pedimos na quinta-feira para o pesqueiro Ave-Maria, que estava nas proximidades, vir nos buscar. Não dava para esperar mais.”

Por causa das ondas, o bote de resgate não conseguiria atracar no que restava do dique de pedras. Foi preciso descer até um ponto atrás do farol, onde a profundidade era maior, reduzindo o tamanho da ressaca. Enquanto um dos pesquisadores ficava observando a entrada das ondas, os outros desceram alternadamente próximo da linha d’água, de onde pulavam e nadavam até alcançar a bóia lançada pelos tripulantes do pesqueiro. A seguir, eram trazidos para a embarcação.

No dia seguinte, quando o navio-patrulha Guaíba, da Marinha, chegou para socorrer a equipe, Tozzi voltou à ilha para recuperar o que ainda restava dos computadores portáteis, câmeras fotográficas e parte da pesquisa sobre aves, peixes e caranguejos. A estação precisa agora ser reconstruída. Segundo a Marinha, é o que deve ocorrer nos próximos meses e em um local mais seguro. Quando isso acontecer, os pesquisadores esperam voltar ao arquipélago. “É um lugar maravilhoso”, afirma Tozzi, esperando, no entanto, dias mais calmos.

O Brasil no meio do Atlântico

Poucos animais sobrevivem nas ilhas. Apenas atobás, que fazem seus ninhos sobre as pedras, viuvinhas e caranguejos. Em compensação, em volta, há uma infinidade de peixes
O arquipélago São Pedro e São Paulo já teve visitantes ilustres: Charles Darwin lá esteve em 1832, no início da viagem pela América do Sul que resultaria na Teoria da Evolução. Mas, além dele, poucos exploradores se interessaram por essas quatro ilhotas inóspitas e vários pontos de rochedos pontiagudos situados acima da linha do Equador, a cerca de mil quilômetros do Rio Grande do Norte. É fácil entender o motivo. Na pequena superfície das ilhas (área total de 10 mil metros quadrados) não há água potável nem vegetação. O mar, freqüentemente agitado, nem sempre ajuda a aproximação de barcos. E os rochedos pontiagudos mal permitem um passeio a pé. Para piorar, trata-se da única região do território nacional que sofre regularmente com terremotos. O arquipélago é a parte emersa de uma cadeia montanhosa no meio do Atlântico e sua origem é vulcânica. As quatro ilhotas formam uma enseada em forma de ferradura em cujas margens fica a estação científica construída pela Marinha há dez anos para abrigar os pesquisadores que visitam o local em esquema de revezamento. Para esses pesquisadores, o grande atrativo do arquipélago está na vida que abriga – caranguejos, aves oceânicas (atobás, que deixam seus ovos sobre as pedras; e viuvinhas, que usam as algas soltas na arrebentação para construir ninhos), insetos, aranhas e parasitas associados. No mar profundo, em volta da parte submersa dos penhascos, está um fantástico mundo de corais, algas e animais marinhos, entre os quais peixes endêmicos, que só existem naquele lugar – além de tubarões, é claro.

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