quarta-feira, 17 de julho de 2013

CHUVA ÁCIDA

Que fatores interferem na amplitude térmica?

Bruna Nicolielo
Infográfico: Gerson Mora

Apesar de associarmos o calor intenso ao deserto e às regiões litorâneas, os dois têm características distintas. Nos desertos quentes, o solo seco, devido à falta de água, e o sol forte intensificam a variação, que pode chegar a 60 ºC em um único dia. Já em uma cidade litorânea quente como Santos, a 80 quilômetros de São Paulo, a temperatura varia apenas 15 ºC.
Consultoria Eduardo Silvestre de Albuquerque e Maria Ligia Cassol Pinto, professores da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG-PR).
Revista Nova Escola

Os efeitos da chuva ácida

As florestas contam com a capacidade de tamponamento de seu solo para se protegerem da chuva ácida. As águas ácidas tiram as toxinas do solo, como o alumínio. As árvores absorvem as substâncias venenosas, e os escoamentos seguem para lagos, rios e canais. A chuva ácida também dissolve os minerais e os nutrientes úteis, como cálcio, magnésio e potássio, antes de as árvores absorvê-los. A chuva ácida raramente mata uma floresta totalmente, porém, ela retarda seu crescimento através de anos de degradação do solo. A perda de nutrientes e a exposição às toxinas aumentam as chances de as árvores caírem durante tempestades ou morrerem no inverno.

Mesmo as árvores em solos bem tamponados podem enfraquecer com a forte neblina ácida. As florestas de alta elevação penetram nas nuvens ácidas, que tiram das folhas os nutrientes e acabam com a capacidade das árvores de resistirem ao frio. Os picos descobertos das montanhas apalachianas revelam o efeito venenoso da chuva ácida nas florestas de alta elevação.

Fotógrafo: Michael Drager | Agência: Dreamstime.com
A chuva ácida pode corroer rocha e metal. Ela acelerou o
processo natural de desgaste do rosto desse anjo em rocha.

Materiais e acabamentos
A chuva ácida possui a terrível capacidade de destruir rocha e metal, os materiais mais duráveis. Construções antigas, monumentos e lápides carregam sinais leves de corrosão ácida e deterioração. A deposição ácida acelera o desgaste natural causado pela chuva, sol, neve e vento.

A chuva ácida também estraga a pintura de automóveis. A indústria automotiva considera a deposição ácida um tipo de precipitação ambiental corrosiva, além da seiva de árvores, pólen e excrementos de pássaros. As marcações ácidas deixam formas corrosivas e irregulares em superfícies horizontais. Pintar novamente é a única forma de reparar o acabamento de um carro desfigurado pela chuva ácida.

Fotógrafo: Socrates­ | Agência: Dreamstime.com
Chuva ácida e o Taj Mahal

Chuva ácida arruina alguns dos monumentos culturais mais belos do mundo. A redução das emissões, no entanto, ajudou a diminuir o índice de prejuízos na América do Norte e na Europa. O Taj Mahal na Índia também não teve sorte. O mausoléu construído pelo imperador Mughal Shah Jahan para sua querida esposa Mumtaz Mahal está perdendo seu brilho e tornando-se uma sombra pálida. Os cientistas responsabilizam a poluição das fundições locais e de uma refinaria de petróleo próxima.

Saúde
Já que a chuva ácida pode matar animais aquáticos, enfraquecer árvores e decompor rochas, é como se ela pudesse também queimar seres humanos. Mas ela não afeta as pessoas da mesma forma que o faz com peixes ou plantas. A chuva ácida parece uma chuva comum - não há perigo em nadar em um lago ácido. Mas os particulados de nitrato e sulfato da deposição seca podem causar asma, bronquite e problemas cardíacos. O NOx na deposição ácida também reage com os VOCs (compostos orgânicos voláteis) para formarem o ozônio no nível do solo. O ozônio, ou poluição, agrava e debilita o sistema respiratório.

Introdução
Se você andar pelas montanhas apalachianas, verá marcas de árvores enfraquecidas e mortas. Se morar na cidade, verá construções de pedra deterioradas, riscos no capô do carro ou grades e estátuas metálicas corroídas. Você pode observar os efeitos da chuva ácida praticamente em todo lugar, mas com a atenção do público e da mídia voltada para a ameaça do aquecimento global, a chuva ácida foi deixada de lado. O castigo do céu parece um problema do século XX - uma questão tratada nas décadas de 80 e 90 pela legislação.
A chuva ácida ocorre com mais freqüência no Hemisfério Norte - a parte mais industrializada e poluída do globo. Os ventos podem soprar os gases das chaminés altas e carregar os poluentes para longe, atravessando estados e fronteiras nacionais no processo. A chuva ácida pode não ter a mesma abrangência global que os gases de estufa, mas é um problema transfronteira, conseqüentemente, internacional.
As emissões de dióxido de enxofre e óxidos de nitrogênio reagem com
o vapor da água na atmosfera para criar os ácidos nítrico e sulfúrico

A chuva ácida, também conhecida como deposição ácida, é provocada por emissões de dióxido de enxofre (SO2) e óxidos de nitrogênio (NOx) de usinas de energia, carros e fábricas. Fontes naturais, como vulcões, incêndios florestais e relâmpagos também contribuem para a poluição feita pelo homem. SO2 e NOx tornam-se ácidos quando entram na atmosfera e reagem com o vapor d'água. Os ácidos nítrico e sulfúrico resultantes podem cair como deposições secas ou úmidas. A deposição úmida é a precipitação: chuva ácida, neve, granizo ou neblina. A deposição seca cai como particulados ácidos ou gases.

Chuva ácida volta a preocupar cientistas


Desta vez, o problema está nas emissões de óxidos de nitrogênio em países da Europa e nos Estados Unidos

Maria Fernanda Ziegler
Um problema antigo volta a preocupar cientistas no Primeiro Mundo. A chuva ácida voltou a ser detectada na Europa e nos Estados Unidos, só que desta vez ela está sendo provocada por substâncias diferentes. Diferentes tipos de óxidos de nitrogênio liberados na atmosfera por termoelétricas, fertilizantes agrícolas e veículos automotivos quando combinados com a água da chuva produzem ácido nítrico (HNO3), que provoca desequilíbrios no solo, chegando a matar plantas, peixes e insetos, se firmando como um grave risco ambiental. A substância também contribui para o aumento no solo de minerais tóxicos como o alumínio, que quando carregado pelo curso dos rios é altamente tóxico para espécies aquáticas.

De acordo com William Schlesinger, presidente do Cary Institute, que estuda o retorno da chuva ácida, o ácido nítrico pode ser tão prejudicial para o meio ambiente quanto o óxido de enxofre foi na década de 70. Os óxidos de nitrogênio também eram emitidos naquela época, mas agora sua emissão está maior. “Conforme as emissões de dióxido de enxofre (SO2) foram caindo, há 30 anos, as de óxidos de nitrogênio foram crescendo na atmosfera”, disse ao iG Schlesinger. Outra diferença é que os óxidos de nitrogênio se dispersam na atmosfera com um pouco mais de facilidade que os de enxofre, de acordo com o professor.

Dados da agência americana de proteção ambiental (EPA) afirmam que as emissões de dióxido de enxofre diminuíram quase que 70% de 1990 a 2008. Já as emissões de dióxido de nitrogênio diminuíram apenas 35% no mesmo período. O composto começa a substituir o ácido sulfúrico como novo vilão do meio ambiente.

Na Europa, muitos países também não conseguiram atingir as metas de poluição do ar por nitrogênio acordadas no Protocolo de Gotemburgo, de 1999, sobre a diminuição de emissões atmosféricas.

Questão antiga
Há 30 anos a chuva ácida, junto com o buraco da camada de ozônio, era o principal problema ambiental do mundo. Os primeiros registros de danos na vegetação e saúde provocados por emissões de termoelétrica datam de 1661 na Inglaterra e França.

A maior tragédia com chuva ácida aconteceu na cidade de Londres em dezembro de 1952, quando condições da atmosfera impediram a dispersão de poeira presente no ar. Cerca de quatro mil pessoas morreram ao respirar ar que continha alta quantidade de enxofre, presente na atmosfera por conta da queima de carvão.

Na década de 60, estudos norte-americanos já mostravam que a água da chuva estava de 100 a 1000 vezes mais ácida no leste americano devido as emissões de óxidos de enxofre e também de nitrogênio por conta de termoelétricas.

De acordo com a professora Adalgiza Fornaro, do Instituto de Química da USP, o fenômeno da chuva ácida continua a existir em diferentes regiões do planeta. “No Brasil temos pouca emissão de enxofre em comparação com os outros países, pois 70% de nossa energia provêm de hidrelétrica”, disse. Em relação aos óxidos de nitrogênio, a professora afirma que também não temos a mesma tendência que os países desenvolvidos. “Para a gente não é tão forte quanto lá”, disse.

Dados do estudo Indicadores de Desenvolvimento Sustentável, apresentados pelo IBGE na quarta-feira, mostram que, na maior parte das regiões metropolitanas do país, a concentração de poluentes do ar está estável ou em declínio, e isto inclui gases como o dióxido de enxofre e os óxidos de nitrogênio.

No País, uma das piores tragédias relacionadas à chuva ácida aconteceu em Cubatão entre 1984 e 1985, quando a concentração de sulfato atingiu níveis muito altos nas águas das chuvas. Ainda assim, tecnicamente elas não foram consideradas como chuvas ácidas, pois o pH da água estava alto, o que fez com que ela ficasse alcalina. A causa da concentração de ácidos de enxofre em Cubatão se deu por causa da emissão de indústrias da região.

Estudos analisam emissões de óxidos de nitrogênio

Duas pesquisas publicadas hoje analisam a influência do gás poluente nas grandes cidades e na química dos oceanos

Alessandro Greco

Os óxidos de nitrogênio são um dos gases mais nocivos à saúde humana e ao ambiente, causando de irritação nos olhos à destruição da camada de ozônio, passando pela chuva ácida. Emitidos, por exemplo, por motores de automóveis, a presença desses óxidos em megacidades alcançou níveis preocupantes mas os inventários delas ainda são imprecisos.

Um estudo publicado nesta quinta-feira (22) na revista Science desenvolveu um método para capturar ao mesmo tempo a concentração e o tempo de vida dos óxidos de nitrogênio com base em dados de satélite e padrões dos ventos em megacidades como Madri, Los Angeles, Tóquio, Moscou, Riad e Cingapura.

“Um inventário preciso dessas emissões é pré-requisito para a modelagem e entendimento da química da atmosfera. Os inventários feitos de baixo para cima [não por satélites] são baseados em estatísticas nacionais. Ou seja: é difícil conseguir uma consistência global com eles e as incertezas ainda são altas”, afirmou ao iG Steffen Beirle, do Instituto Max Planck, na Alemanha. E completou: “Vamos debater nossas descobertas com aqueles que fazem os inventários de emissões globais e ver como nossos resultados podem ser usados para atualizá-los”.

O trabalho foi feito em locais que estão razoavelmente isolados de complexos industriais e de outras cidades, uma forma de simplificar a análise das emissões. Atualmente os pesquisadores estão trabalhando na modificação da metodologia para que ela possa ser aplicada a todo tipo de cidade.

Outro estudo publicado na mesma edição da Science descobriu que as emissões de nitrogênio estão mudando a química do Oceano Pacífico. O pesquisador Tae-Wook Kim, da Universidade de Ciência e Tecnologia da Coréia, e colegas analisaram duas bases de dados com concentrações de nitrato e fosfato nos mares ao redor da Coréia e do Japão nos últimos 30 anos. O grupo constatou que a quantidade de nitrato aumentou muito em relação ao fósforo, fruto da deposição dos óxidos de nitrogênio, no leste da China e na Coréia do Sul.

A descoberta confirma suspeitas que vem sendo levantadas há quase 30 anos de que a deposição de nitrogênio no mar modifica a química dos oceanos. Segundo os cientistas caso este padrão de aumento do nitrato continue, a vida marinha da região pode ser afetada pela falta de fosfato.

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