quarta-feira, 17 de julho de 2013

LIXO NUCLEAR

Chernobyl: o desastre soviético e a contaminação radioativa



Depois de um terremoto de intensidade jamais vista e de um tsunami de poder destrutivo avassalador, o Japão encara mais um pesadelo: o risco de uma catástrofe nuclear. A região atingida pelos tremores, no nordeste do território japonês, tem diversas usinas de energia atômica, e o abalo provocou rachaduras, vazamentos e explosões. De acordo com o governo, a situação ainda está sob controle, mas ninguém descarta a chance de novo acidente nas usinas. A situação trouxe de volta à lembrança das pessoas a tragédia mais famosa da história da energia nuclear: a explosão ocorrida há 25 anos em Chernobyl, na antiga União Soviética, atual Ucrânia. O desastre foi tema de uma reportagem de capa de VEJA em 1986.
O governo soviético admitiu: ocorreu um acidente num dos cinquenta reatores em operação no país – o da usina de Chernobyl, nas vizinhanças de Kiev, a terceira maior cidade da URSS. A partir daí a Europa começava a viver dias de medo ao mesmo tempo em que o mundo se dava conta, aos poucos, dos detalhes do maior acidente nuclear de todos os tempos. Em poucos dias, a nuvem radioativa estendeu-se por toda a Europa Central, atingindo a Suíça, o norte da Itália e batendo, na sexta-feira, sobre uma parte da Inglaterra. Carregada de iodo, césio e estrôncio radioativos, ela cobriu uma distância de 3.100 quilômetros, atingindo doze países, numa área equivalente à que vai de São Paulo ao Ceará. Enquanto isso, o governo soviético reconhecia o desastre em pílulas. Lacônico até mesmo diante das perguntas da Agência Internacional de Energia Atômica, à qual está filiado, ele só admitiu na noite de segunda-feira um desastre que ocorrera três dias antes. Desde o momento em que admitiram o desastre, fixou-se na versão de que o problema fora controlado, com a perda de duas vidas e a existência de 197 feridos. A estimativa dos serviços de espionagem americanos gira em tomo de 2.000 mortos, mas o governo soviético classifica todos esses cálculos como simples “boatos”. Era difícil saber o que sucedera em Chernobyl na noite de 25 de abril.
O que aconteceu depois
Quando as circunstâncias da tragédia ficaram claras, soube-se que trinta pessoas morreram imediatamente em razão do acidente e que a causa foi um experimento não autorizado que fugiu ao controle dos cientistas. Nos anos seguintes, mais de 5.000 mortes foram atribuídas à contaminação e pelo menos 5 milhões de pessoas sofreram problemas físicos ou psicológicos em razão da exposição à nuvem de poeira radioativa. Ainda hoje, pesquisadores avaliam o aumento dos casos de câncer e outras doenças em razão da tragédia em Chernobyl. O colapso da União Soviética e a miséria que imperou nas ex-repúblicas na década de 1990 ajudaram a piorar o cenário. A Ucrânia, onde está a usina, interrompeu ou passou a atrasar o pagamento de compensações e ajudas às vítimas e famílias das vítimas. Em meados dos anos 90, o presidente da vizinha Bielo-Rússia, Alexander Lukashenko, permitiu que moradores pobres voltassem a morar na região contaminada, numa medida que gerou muitos protestos. Os demais reatores de Chernobyl funcionaram até 2000, quando as autoridades cederam à pressão internacional e desativaram toda a usina.
Em abril de 2003, 17º aniversário da tragédia de Chernobyl, autoridades russas fizeram alertas sobre a possibilidade de colapso do escudo de concreto erguido, pouco após o acidente, ao redor do reator problemático, para minimizar o vazamento de material radioativo. “O sarcófago foi construído para durar cinco anos, mas já está instalado lá há dezessete. E ninguém investiga a sério as reações que acontecem dentro dele”, disse o ministro da Energia Atômica da Rússia, Alexander Rumyantsev. “Há buracos nele e o teto pode cair. Precisamos de um novo escudo ao redor do antigo”, acrescentou. O governo da Ucrânia negou a possibilidade de um novo acidente e garantiu que as medidas necessárias estão em execução e serão finalizadas a tempo se houver ajuda financeira do Ocidente. Técnicos da usina reconheceram os problemas e divulgaram um plano para estabilizar as condições do escudo antigo rapidamente e erguer um novo caixão de concreto em volta do atual. Em setembro de 2005, um relatório preparado pelo Fórum Chernobyl, que inclui oito agências da ONU, apresentou mais detalhes da tragédia. A investigação foi realizada por centenas de cientistas, economistas e médicos. Em abril de 2006, no vigésimo aniversário do acidente, a data foi marcada por protestos contra a criação de novas usinas nucleares pelo mundo.
Revista Veja

Energia nuclear: riscos – e vantagens – das usinas atômicas




A energia nuclear é responsável por 16% da eletricidade consumida no mundo — e também por alguns dos piores pesadelos da humanidade. A concretização de um deles, o acidente na usina de Chernobyl, na Ucrânia, colocou o mundo em choque em 1986. Agora, o planeta novamente assiste com apreensão aos vazamentos nucleares no Japão, que tiveram início após o devastador terremoto que atingiu o país na última sexta-feira. As usinas nucleares são consideradas uma fonte de energia limpa porque emitem pouco carbono e, por isso, não contribuem para o aquecimento global – mas é impossível ignorar os riscos que elas representam aos países que as abrigam.
O acidente de Chernobyl, que se tornaria o maior desastre nuclear da história, ocorreu na madrugada do dia 26 de abril de 1986, durante um teste de rotina do reator número 4 da usina. Por um erro dos técnicos, o processo de reação nuclear em cadeia se descontrolou, aquecendo a água que deveria resfriar o reator. Seguiram-se uma explosão e um incêndio que durou dez dias, espalhando toneladas de material radioativo por uma área de 150.000 quilômetros quadrados.
O debate sobre a energia atômica é tão antigo quanto sua utilização. Em 1971, reportagem de VEJA relatava o debate sobre o tema nos Estados Unidos, país que recebeu sua primeira usina nuclear em 1957. O uso da tecnologia atômica em território americano ficava a cargo da Comissão de Energia Atômica (AEC), abolida em 1974. “Para os mais acesos de seus críticos, a AEC, que hoje planta instalações para gerar a energia, amanhã colherá crianças geneticamente doentes, cânceres e terra envenenada”, dizia o texto de VEJA. “Mas os defensores da energia nuclear veem os átomos por um lado diferente. ‘A chave para uma civilização avançada é um avançado padrão de vida’, diz Glenn F. Seaborg, presidente da AEC. ‘E a chave para isso é a energia’.”
As usinas nucleares chegaram ao Brasil na década de 70. A usina de Angra 1 fora comprada praticamente pronta, em 1969, da americana Westinghouse. O objetivo era que iniciasse o fornecimento comercial de energia elétrica em 1977, com um custo total de construção de 300 milhões de dólares. Porém, Angra 1 só entrou em funcionamento seis anos mais tarde, após ter consumido 1,8 bilhão de dólares. Em 2000, foi inaugurada a Angra 2, que levou mais de 20 anos para ser construída. Já a construção da usina nuclear Angra 3 sofre, há mais de trinta anos, de paralisia crônica. O Brasil perdeu muito dinheiro em Angra dos Reis. Com o capital gasto no projeto nuclear até aqui, seria possível construir cinco usinas nucleares, não apenas três.
A história recente do país evidencia o grau de amadorismo e fragilidade com que o Brasil trata um assunto tão delicado. Em 2004, uma fábrica de urânio em Resende, interior do Rio, vazou, atingiu quatro operadores – e tudo ficou na surdina. Mas o pior acidente nuclear em território brasileiro ocorreu em 1987, em Goiânia. Uma unidade de radioterapia abandonada nas ruínas do Instituto de Radioterapia, contendo uma cápsula de Césio, um poderoso elemento radioativo, foi destruída por catadores de papel. Quatro pessoas morreram vítimas da contaminação. E as autoridades brasileiras tentaram encobrir por todos os meios suas responsabilidades pela tragédia.
Como se nota na reação da comunidade internacional em relação à crise nuclear japonesa, acidentes em usinas fazem os países repensar o uso de energia atômica. Nos anos que se seguiram à tragédia de Chernobyl, a maior parte dos países desistiu ou abandonou seus projetos nucleares, principalmente em razão dos custos cada vez mais altos de construção ou da pressão dos ecologistas. Os Estados Unidos já haviam interrompido a construção de novos reatores desde 1979, quando ocorreu um superaquecimento do reator de Three Mile Island.
A tragédia no Japão ocorre justamente num momento de retomada dos investimentos em energia nuclear. Reportagem de VEJA de 2008 já mostrava como uma tecnologia vista até bem pouco tempo como sinistra passou a ser encarado, em muitos países, como uma esperança de energia limpa e barata. O renascimento da energia nuclear é explicado por uma conjunção de fatores. O primeiro é econômico. A disparada do preço do petróleo e do gás natural, que juntos respondem por 25% da eletricidade produzida no planeta, torna cada vez mais cara a energia obtida desses combustíveis fósseis. O segundo fator que impulsiona o renascimento da energia nuclear é o combate ao aquecimento global, uma causa que mobiliza governos e opinião pública.
A rigor, o único problema das usinas nucleares é o que fazer com o lixo atômico que produzem. Até agora não se tem uma solução prática para os rejeitos radioativos que não seja o armazenamento, o que ainda deixa boa parte da opinião pública desconfiada com a nova escalada na construção de reatores. Há esperança de que, no futuro, se descubra uma forma mais eficiente de descartar esse material ou reutilizá-lo. Novamente, porém, o futuro dos investimentos em energia nuclear volta a ficar incerto em boa parte do planeta.

Maior lixão radioativo dos EUA


Crise nuclear reaviva preocupação com maior lixão radioativo dos EUA
Fábrica desativada de Hanford, de onde saiu a bomba de Nagasaki, guarda 200 milhões de litros de lama radioativa



Hanford: 177 contêineres de concreto cheios desta lama radioativa (Mark Ralston/AFP)
Parecia uma boa ideia. Na corrida para construir uma bomba atômica durante a II Guerra Mundial, autoridades americanas isolaram um deserto intocado e construíram o primeiro reator de plutônio da história. 
Hoje, 68 anos depois, a crise nuclear do Japão reaviva o temor da população nos arredores de Hanford, no estado de Washington, noroeste dos Estados Unidos. É lá que fica o maior depósito de lixo nuclear dos Estados Unidos. O local é a segunda instalação mais contaminada do mundo - atrás apenas de Chernobyl, na Ucrânia. São 200 milhões de litros de lama radioativa, subproduto da fabricação de bombas de plutônio.
Foi dos antigos reatores nucleares de Hanford, fechados há mais de 20 anos, que saiu a bomba lançada sobre Nagasaki em 1945. Hoje cerca de 12 mil pessoas trabalham no local simplesmente para garantir sua limpeza. O lixão tem 15 vezes o tamanho de Paris e abriga abaixo da terra 177 contêineres de concreto cheios desta lama radioativa. As autoridades dizem que é seguro.
Walt Tamosaitis, engenheiro com 40 anos de experiência, trabalhou na usina até o ano passado. Alega ter sido foi demitido por levantar questões técnicas sobre a segurança da usina. "É como dirigir um carro com os pneus carecas. Nos primeiros quilômetros o pneu aguenta, mas nada indica que vá continuar assim no futuro."
Tamosaitis diz que a usina nuclear de Fukushima estava melhor preparada para uma eventualidade que Hanford. J.D. Dowell, do departamento de energia dos Estados Unidos, rebate a afirmação. "É como comparar maçãs e laranjas." A usina japonesa tinha reatores ativos, enquanto Hanford está fechada há muito tempo para limpeza.
Tom Carpenter, do movimento ambientalista Hanford Challenge, teme o impacto de um terremoto ou atentado terrorista - além do lixão, a região também abriga uma usina nuclear em funcionamento. "Os governos não duram para sempre. Será que vai ter ainda alguém aqui em cem ou mil anos para garantir que ninguém vai entrar no local ou que os lençóis freáticos não serão contaminados?"
Indenização - Nos anos 60, a usina jogou seus dejetos diretamente na natureza. O poder público reconheceu que mais de 3,8 milhões de litros de lama tóxica haviam vazado e que parte havia penetrado o solo. As autoridades gastaram 100 bilhões de dólares para limpar o lixão. Pretendem também construir até 2019 uma nova fábrica para vitrificar a lama e estocá-la de maneira mais segura.
O Departamento americano de Energia garante que a segurança da instalação avança, com obras para proteger o Rio Columbia, que corta a região. Mas os ambientalistas temem que as verbas sofram com os cortes orçamentários debatidos no Congresso.
Tarde demais, de qualquer forma, para Gloria Wise, de 67 anos, moradora da região. Em 2005, ela recebeu uma indenização de mais de 300 mil dólares por causa de um câncer de tireoide, depois de processar a Dupont e a General Electric, que operavam na fábrica de bombas atômicas. A família de Gloria cultivava legumes no jardim. "Tenho certeza de que a radioatividade entrou em nossos alimentos", diz. "Eu sei como essas coisas funcionam, as empresas não nos contam o que está acontecendo."
(com AFP)

domingo, 27 de março de 2011

Notícias Geografia Hoje


O maior lixão nuclear das Américas
O maior depósito de lixo nuclear do continente americano contém 200 milhões de litros de lama radioativa, subproduto da fabricação de bombas de plutônio. O local é seguro, segundo as autoridades, mas o acidente nuclear japonês fez ressurgir o medo entre os moradores locais.
Mais de vinte anos após seu fechamento, 12 mil pessoas ainda trabalham no lixão Hanford, simplesmente para garantir a limpeza da instalação que data da Segunda Guerra Mundial. Foi desta fábrica, situada no estado de Washington (noroeste dos Estados Unidos), que saiu a bomba lançada sobre Nagasaki em 1945.
Sessenta e cinco anos mais tarde, o local, que tem 15 vezes o tamanho de Paris, abriga abaixo da terra 177 contêineres de concreto cheios desta lama radioativa. Tom Carpenter, do movimento ambientalista Hanford Challenge, teme o impacto de uma catástrofe natural neste estado ameaçado por terremotos. Além disso, Handford dispõe também de uma usina nuclear em funcionamento.
Carpenter teme ainda que terroristas ou loucos coloquem as mãos nos dejetos: "Os governos não duram para sempre. Será que vai ter ainda alguém aqui em cem ou mil anos para garantir que os resíduos estejam fora de alcance, que ninguém vai entrar no local ou que os lençóis freáticos não serão contaminados?"
Nos anos 60, Hanford jogou seus dejetos diretamente na natureza: o poder público reconheceu que mais de 3,8 milhões de litros de lama tóxica havia vazado e que parte havia entrado no solo.
As autoridades, que já gastaram 100 bilhões de dólares para limpar o lixão, pretendem construir até 2019, ou seja, com 11 anos de atraso, uma nova fábrica que vai vitrificar a lama, aquecendo o material a 1.150 graus, e depois estocar pela eternidade.
"É como uma bomba-relógio. Cedo ou tarde vai acontecer alguma coisa", teme Walt Tamosaitis, engenheiro que trabalhou por 40 anos no local e afirma ter sido demitido ano passado por ter exprimido abertamente suas preocupações. "Seria terrível se os reservatórios rachassem. Não haveria como impedir isso".
O Departamento americano de Energia garante que a segurança na instalação avança, com obras para proteger o Colúmbia, rio que corre perto dali, e a demolição de duas usinas elétricas.
Mas em período de vacas magras, os ambientalistas temem que a limpeza do local pague a conta pelos cortes orçamentários debatidos no Congresso.
Tarde demais, de qualquer forma, para Gloria Wise, 67 anos, habitante da região que recebeu em 2005 uma indenização de mais de 300 mil dólares por causa de seu câncer de tireoide. A soma foi conseguida após Gloria ter processado duas grandes empresas, Dupont e General Electric, que operavam na fábrica de bombas atômicas.
"Tenho certeza de que a radioatividade entrou em nossos alimentos", contou, acrescentando que a família cultivava legumes no jardim. "Nos entregavam leite também, todos os dias, quando era criança. Nunca contavam tudo o que estava acontecendo..."
http://br.noticias.yahoo.com

domingo, 20 de março de 2011

Notícias Geografia Hoje

usina nuclear de Fukushima
Chernobyl
Three Mile Island
Exemplo para o mundo

Heitor Scalambrini Costa em 18/03/2011
Quando se pensa em acidentes nucleares, logo vêm à mente as tragédias mais recentes de Three Mile Island, ocorrida na Pensilvânia – Estados Unidos em 1979, e de Chernobyl, na Ucrânia em 1986. Nos dois casos, os acidentes foram causados por falhas que provocaram um superaquecimento no reator, e vazamento de material radioativo para a atmosfera.

Agora estamos acompanhando um desastre nuclear provocado pelo terremoto de 9 graus de magnitude que atingiu o Japão em 11 de março, provocando um tsunami que devastou inúmeras províncias costeiras.

A central nuclear atingida de Fukushima Daiichi, situada a 250 km a nordeste de Tóquio, é composta por seis reatores BWR (Boiling Water Reactor) que geram conjuntamente 4.696 MW elétricos. O combustível dos reatores é o MOX (“combustível óxido misto” – mixed oxide, ou “combustível de plutônio”) novo combustível composto de urânio e de plutônio bem mais reativo que os combustíveis padrões. O plutônio, que não existe em estado natural, é veneno químico extremamente violento, e é para o Japão sua maior fonte de energia, resultante do reprocessamento dos resíduos nucleares produzidos pelas usinas existentes em seu território. Trata-se de uma das substâncias mais radiotóxicas e perigosas de que se tem notícia.

Segundo a Tokio Electric Power Company (TEPCO), empresa de energia responsável pela usina nuclear de Fukushima, três dos seis reatores da central nuclear estavam ativos no momento do terremoto. Os outros três, estavam fechados para manutenção. O reator 1 teve seu sistema de resfriamento danificado o que provocou aumento considerável da temperatura no núcleo do reator, e assim como já admitido pelos órgãos de segurança nuclear japonês, ocorreu o derretimento do reator, liberando material altamente tóxico para a atmosfera. Os reatores 2 e 3 também estão apresentando problemas em seus sistemas de resfriamento, e também podem se fundir, aumentando de maneira catastrófica o desastre nuclear ocorrido.

Convenhamos que a explosão em uma usina nuclear, vista praticamente em tempo real por todo mundo, não é algo que possa ocorrer. E mais do que isso, após o desastre, os responsáveis dizerem que não sabem os motivos. O fato de não ter explicações para uma explosão ocorrida em uma usina sob sua responsabilidade demonstra que a empresa perdeu o controle da situação. Devemos lembrar que a empresa TEPCO, que está no centro da crise nuclear, tem um passado de escândalos e uma trajetória cheia de tropeços em sua atuação nuclear.

As lições que devemos retirar deste lamentável e trágico episódio é que mesmo com os avanços tecnológicos no setor da segurança, os perigos ainda existem. Aqueles defensores das usinas nucleares que chegaram a afirmar que o risco é zero ou praticamente inexiste a possibilidade de ocorrências de falhas, e conseqüentemente desastres nas usinas, devem calçar as “sandálias da humildade”. Devem admitir que não podemos permitir quaisquer riscos ligado com as usinas nucleares, simplesmente pela grande catástrofe, econômica, ambiental e social que possíveis acidentes, ocorrendo, podem legar a toda humanidade.

Daí é preciso repetir que o Brasil/Nordeste não precisa de usinas nucleares. Os recursos naturais e renováveis disponíveis como Sol, vento, água, biomassa são suficientes para atender nossa demanda energética.

O autor é professor associado da Universidade Federal de Pernambuco (hscosta@ufpe.br)

segunda-feira, 12 de outubro de 2009

Do bem ou do mal?



Do bem ou do mal?

Utilização cada vez maior de fontes radioativas amplia benefícios mas multiplica riscos

ANDRÉ CAMPOS

Conservação de comida, cura e diagnóstico de doenças, técnicas de medição: essas são apenas algumas das aplicações cada vez mais rotineiras das fontes de radiação. Na indústria, elas estão presentes em segmentos como o siderúrgico e o petrolífero – utilizadas, por exemplo, no controle de espessuras e de fluxos. Nos supermercados é comum encontrar alimentos submetidos a irradiação para eliminar bactérias e fungos. Isso sem falar nas usinas nucleares – responsáveis, segundo a Agência Internacional de Energia Atômica (Aiea), por cerca de 16% da geração de eletricidade mundial.

Dados da Comissão Nacional de Energia Nuclear (Cnen) – entidade governamental responsável pelo controle das fontes de radiação ionizante – indicam que, no Brasil, sua expansão é considerável. Entre 1995 e 2007, subiu de 2,1 mil para 3,5 mil o número de estabelecimentos que as manipulam. Calcula-se que, em 2006, aproximadamente 3 milhões de procedimentos médicos empregaram isótopos radioativos, levando a produção desses materiais para a medicina a quase triplicar no país desde 2000.

Quando bem empregada, a radiação salva vidas. Negligências em sua manipulação, no entanto, podem ser trágicas. Tal fato faz com que a legislação que regulamenta seu uso – formada principalmente por normas da Cnen – seja das mais exigentes quanto aos procedimentos de segurança. Ela determina, por exemplo, que cada equipamento ou material emissor de radiação ionizante tenha um supervisor responsável. Além disso, devem ser constantemente monitorados os locais e os profissionais que lidam com eles.

Garantir o cumprimento dos princípios de radioproteção é uma responsabilidade partilhada. Além de certificar os supervisores, cabe à Cnen inspecionar e licenciar as instalações radioativas, assim como o transporte das fontes. Na área de saúde pública, as vigilâncias sanitárias também têm poder de fiscalização, e a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) impõe algumas regulamentações específicas. O Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) é outro órgão que licencia empreendimentos que empregam fontes de radiação.

Há, então, segurança? Para muitos, a resposta é não. "O maior acidente radiológico do Brasil e do mundo aconteceu em Goiânia [ver boxe acima], devido à falta de controle de fontes radioativas", informa relatório de 2006 da Comissão de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável da Câmara dos Deputados. O documento conclui que a falta de controle se mantém e pede alterações profundas no gerenciamento do setor.

Prejuízos à saúde
Radiações ionizantes são, por definição, aquelas capazes de alterar a estrutura elétrica de átomos e moléculas. Podem ser geradas por equipamentos movidos a eletricidade – como nas radiografias médicas – e por isótopos radioativos em si, como o urânio 235 e o césio 137. Justamente por "atravessar" corpos, tais irradiações podem danificar nossas células e estão associadas a doenças como alguns tipos de câncer e problemas hereditários ligados a anomalias genéticas – síndrome de Down, por exemplo.

Em situações de exposição intensa, há efeitos imediatos: queimaduras e lesões internas mortais são duas das conseqüências possíveis. De forma geral, porém, são os desdobramentos tardios a maior preocupação. Profissionais freqüentemente irradiados podem, muitos anos depois, desenvolver patologias graves. O mesmo vale para quaisquer pessoas envolvidas em "episódios radioativos", embora seja quase impossível ter certeza, em grande parte dos casos, se a radiação foi o fator desencadeante do problema.

A lei brasileira, baseada em parâmetros da Aiea, fixa limites de irradiação a que podem ser submetidos, nas mais diversas circunstâncias, a população em geral e os trabalhadores da área. Essas precauções não são, porém, sinônimo de risco zero. "Uma exposição pequena também deve ser considerada potencialmente causadora de problemas", esclarece a médica Maria Vera de Oliveira, especialista no assunto. Isso porque os danos são probabilísticos. "Cada partícula de radiação lançada é como um tiro para cima, e cada cromossomo é como um passarinho voando", compara o físico Eden Ruga. "Quanto mais tiros, maior a probabilidade de que se vá acertar um deles."

Na década de 1990, Ruga foi especialista em radioproteção da Defesa Civil de Campinas (SP). Sua experiência mostra que nem sempre tudo está sob controle. Equipamentos que contêm material radioativo entregues para leilão e descarte indevido de fontes são algumas das situações constatadas. Houve até, conta ele, um episódio em que sumiram, durante uma reforma hospitalar, algumas cápsulas de césio semelhantes às do acidente de Goiânia. Inacreditavelmente, elas foram encontradas cimentadas sob o novo piso. "Em Campinas aconteceu esse acidente, mas as cápsulas foram resgatadas. E no resto do Brasil, onde a Defesa Civil não está preparada para lidar com a questão?", indaga Ruga.

Em território nacional, os pára-raios radioativos destacam-se como uma das mais abundantes fontes dispersas. Somente em Campinas, a Defesa Civil recolheu centenas deles em locais como ferros-velhos e matagais. A Cnen estima que cerca de 59 mil foram instalados no país até 1989 – acreditava-se erroneamente serem mais eficientes que os convencionais. Desde então, tornaram-se proibidos e foi determinado seu recolhimento às autoridades da área. Grande parte, contudo, tem paradeiro ignorado. Em resposta a um requerimento de 2003 do deputado federal Edson Duarte (PV-BA), a Cnen informou que, até então, haviam sido recolhidos cerca de 16 mil.

Devido a sua baixa atividade radioativa, tais pára-raios trazem pouco risco às pessoas que eventualmente tenham contato com eles. As circunstâncias, entretanto, podem torná-los probabilisticamente mais perigosos. Em Campinas, descobriu-se que, durante meses, uma criança manteve um deles como brinquedo, guardado embaixo da cama. Alguns municípios aprovaram leis que prevêem multas e prazos para a retirada daqueles ainda instalados, mas são uma minoria.

Perigo sobre rodas

Entre as situações de risco que envolvem material radioativo, o transporte é, em todo o mundo, uma das mais sensíveis a perdas, roubos e acidentes. Por isso mesmo, no Brasil sua realização é restrita a empresas aprovadas pela Cnen. Em 2002, uma equipe da Aiea veio ao país para avaliar leis e práticas relacionadas ao tema. De maneira geral, a entidade mostrou-se satisfeita com o que encontrou – identificando inclusive boas práticas, tomadas como exemplo para outros países.

Em compensação, uma pesquisa de 2003 acendeu o sinal de alerta. Na ocasião, Marly Dantas – então inspetora de vigilância sanitária na Bahia – avaliou o transporte utilizado por 11 serviços de medicina nuclear em Salvador (BA), para os quais eram contratadas duas empresas paulistas devidamente autorizadas. Estas, porém, terceirizavam a operação para transportadoras locais – que, por sua vez, não cumpriam preceitos básicos como sinalizar a presença de material radioativo no veículo, monitorar níveis da irradiação e usar rotas menos perigosas.

Na própria Bahia, há casos de roubos e acidentes. Em 2006, foram saqueadas embalagens de tecnécio 99m de um caminhão que tombou em Juazeiro. Dois anos antes, em Ilhéus, uma cápsula de iodo foi furtada de dentro de um automóvel. Procurada para falar sobre transporte e outros itens relacionados à segurança das fontes de radiação, a Cnen não se manifestou.

Além de ruas e estradas, indústrias também registram furtos e casos de negligência. Um episódio recente, em Carmópolis (SE), mostra que falhas podem inclusive afetar trabalhadores não diretamente ligados ao uso da radiação. Em maio de 2007, um ajudante de guindaste pegou com as mãos uma cápsula de césio 137 – pertencente à Schlumberger Serviços de Petróleo – que caiu por duas vezes de um contêiner aberto. O episódio só veio à tona meses depois, quando foi constatada redução de plaquetas no trabalhador, após ele se queixar de tonturas. "Estamos aguardando a visita de técnicos da Cnen para investigar as causas do acidente", diz Antônio Pádua, coordenador estadual da Vigilância Sanitária, que acompanha o caso.

Outra ocorrência, desta vez na área médica: em janeiro deste ano, técnicos em radiologia da Santa Casa de Misericórdia de Campo Grande (MS) denunciaram fuga excessiva de radiação em dois aparelhos de raios X e ameaçaram paralisar as atividades. De acordo com Adão Júlio da Silva, presidente do sindicato estadual da categoria, tais problemas eram de conhecimento da direção da Santa Casa – que foi procurada pela reportagem, mas não se manifestou – desde dezembro de 2006, quando foi feita uma avaliação interna. Entretanto, os trabalhadores do setor só teriam sido informados quatro meses depois. "Foi então prometido que, em 120 dias, tudo seria resolvido, mas nada foi feito", diz ele. Trata-se de uma situação de risco para funcionários e pacientes. O Ministério Público do Trabalho solicitou uma perícia, cujo resultado não foi divulgado ainda.

Valdelice Teodoro, presidente do Conselho Nacional de Técnicos em Radiologia, afirma que muitos trabalhadores da área estão apresentando problemas de saúde devido à radiação. Há, segundo ela, falta de manutenção em equipamentos – principalmente nos serviços públicos – e deixa muito a desejar a fiscalização das vigilâncias sanitárias estaduais, que muitas vezes não contam com profissionais preparados. "Se houvesse uma vigilância mais atuante, com certeza um número bem maior de clínicas seriam fechadas", diz Valdelice. O exercício ilegal da profissão em áreas como veterinária e controle de bagagem é outro problema destacado por ela.

Entre as atividades mais críticas, a odontologia é freqüentemente citada, e diversas pesquisas indicam falhas na radioproteção nos consultórios. Em uma delas, realizada em 2005 pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), foram entrevistados 240 cirurgiões-dentistas da cidade de São Paulo. Constatou-se que mais da metade dos profissionais não colocava avental de chumbo nos pacientes, em clara desobediência à lei. Segundo Fabiana Paes, especialista em regulação e vigilância sanitária da Anvisa, a ignorância é uma das causas desse tipo de negligência. "É comum pensar que a radiação emitida por um equipamento odontológico é muito pequena e, portanto, inofensiva", diz ela.

Debate regional

Em Caetité (BA), onde uma mina de urânio é operada pela empresa de economia mista Indústrias Nucleares do Brasil (INB) – companhia que monopoliza a lavra desse minério no país –, os perigos da radiação são discutidos há anos. Histórias nebulosas sobre possíveis acidentes, com liberação de efluentes radioativos no meio ambiente, trazem suspeitas de impactos à saúde da população. O tema já foi, em 2005, motivo de audiência pública. Na ocasião, a Secretaria de Saúde da Bahia apresentou dados que indicavam haver uma tendência de crescimento dos casos de câncer entre as causas de morte na região. Não há até o momento, no entanto, nenhuma evidência científica de que isso possa estar ligado à radiação.

Realizar estudos que investiguem impactos na saúde pública é uma imposição da licença ambiental concedida à INB para exploração da mina. O não-cumprimento dessa condição já gerou multas de R$ 300 mil à empresa, lavradas pelo Ibama. "Os programas de monitoramento mantidos pela Unidade de Concentração de Urânio comprovam que a operação não expõe a população da região aos seus produtos operacionais primários ou secundários", garante a companhia, por intermédio de sua assessoria de imprensa. Em fevereiro, a INB abriu licitação para contratar a instituição que fará tais estudos. O primeiro relatório deve ser apresentado seis meses após a assinatura do contrato.

A INB está envolvida também em um dos mais emblemáticos casos de pessoas afetadas por radiação no país – ex-trabalhadores da Usina Santo Amaro (Usam), instalação da empresa na cidade de São Paulo cujas atividades se encerraram em 1992 e onde era processado material rico em urânio. "Não sabíamos dos riscos. Só começamos a ter medo depois do acidente em Goiânia", conta José Venâncio Alves, representante de uma comissão de ex-funcionários – na maioria trabalhadores braçais. Por essa época, diz ele, técnicos da Cnen impuseram banhos de descontaminação e monitoramento com dosímetros na saída de setores da fábrica. "Antes, não tinha nada disso", revela.

Maria Vera de Oliveira faz o acompanhamento desses ex-funcionários da INB no Centro de Referência em Saúde do Trabalhador de Santo Amaro. Com base inclusive em relatórios da Usam, ela concluiu que ao menos 60 estiveram expostos à radiação sem proteção adequada. Até o momento, num universo de 80 pessoas, houve nove óbitos por câncer – índice, calcula ela, cerca de quatro vezes maior que o da média da população.

Nos últimos anos da Usam, a Delegacia Regional do Trabalho passou a acompanhar seus funcionários. Segundo Fernanda Giannasi, auditora fiscal à época, foram colocados obstáculos à atuação do órgão. "Quando começamos a pressionar por mudanças, a Cnen questionou nossas prerrogativas de fiscalização na área nuclear", diz. Em 2007, os trabalhadores da usina, após anos de disputa, conseguiram na Justiça assistência de saúde vitalícia bancada pela INB. A Convenção 115 da Organização Internacional do Trabalho (OIT) – ratificada pelo Brasil, porém nunca regulamentada – determina que trabalhadores sujeitos a radiação passem por exames médicos regulares mesmo após o término da relação de trabalho.

Questões estruturais
Em 2000, o Tribunal de Contas da União (TCU) iniciou uma auditoria, de resultados desanimadores, no cadastro de fontes radioativas da Cnen. O estudo de uma amostra dos estabelecimentos indicou que 10% não operavam mais no endereço que constava no registro, e 20% afirmaram não utilizar mais radioisótopos. Além disso, verificou-se que mais de 45% das instituições que receberam dinheiro do Sistema Único de Saúde (SUS) para aplicar em medicina nuclear e radioterapia não estavam na lista da comissão. "Não há mais casos de endereço não encontrado", declarou em 2005 o presidente da Cnen, Odair Dias Gonçalves, em audiência na Câmara dos Deputados para tratar de assuntos relativos às fontes radioativas. "Foi uma operação de guerra para atualizar e verificar isso."

Em outubro de 2002, o TCU analisou o plano anual de fiscalizações da entidade. Verificou que, até aquele mês, haviam sido realizadas somente 44% das inspeções previstas para radioterapia, indústria e medicina nuclear. Outra constatação do órgão foi a falta de coordenação entre a Cnen e as vigilâncias sanitárias. A existência de conflitos de responsabilidade entre as duas partes é confirmada pelo relatório da Câmara dos Deputados referente à questão. "A fiscalização das instalações radioativas ainda hoje apresenta variadas interpretações e omissões quanto a que órgão cabe a competência legal de fiscalizá-las", diz o documento.

A Cnen é, ao mesmo tempo, gestora e reguladora do programa nuclear brasileiro. Faz parte, por exemplo, do conselho administrativo da INB e do conselho superior do Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (Ipen) – principal produtor de radioisótopos para medicina no país. Na opinião dos críticos, tal situação gera, na prática, conflitos de interesse que fragilizam a fiscalização, principalmente nas estatais. Nesse contexto, a inexistência de legislação referente a multas aplicáveis a quem infringe normas de radioproteção seria um exemplo das distorções relacionadas ao modelo.

Em 2006, um relatório da Aiea sobre o Brasil recomendou a criação de uma entidade específica para fiscalizar a área. "Quando se atinge determinado nível de escala, o desmembramento das atividades de licenciamento e fiscalização ocorre naturalmente", argumenta Alfredo Tranjan Filho, presidente da INB. "Isso ocorreu em outros países e, certamente, também acontecerá um dia no Brasil."

Anselmo Paschoa, diretor de fiscalização da Cnen entre 1990 e 1992, é um dos que defende a divisão imediata. A falta de independência, diz o físico, foi um dos motivos de sua saída do órgão. "No orçamento da Cnen, a radioproteção não significa nem 10%", ressalta. A seu ver, controlar com eficiência os materiais radioativos torna-se ainda mais urgente devido ao crescimento do terror radiológico – que se vale inclusive de fontes hospitalares e industriais. "Algumas já foram usadas em episódios de terrorismo, como o césio 137, na Chechênia, e o iodo 135, na China", revela. No ano passado, a Aiea divulgou um alerta sobre a questão, no qual chamava a atenção para 250 casos de roubo ou perda de fontes no mundo em 2006 – o dobro dos incidentes do gênero no ano anterior.



O acidente de Goiânia
Em 1985, uma clínica de radioterapia localizada no centro da capital goiana deixava sua sede na Avenida Paranaíba para instalar-se em novo endereço. Na antiga edificação, ficou para trás um equipamento abandonado, que continha 19,3 gramas de césio 137.

Esse é o prólogo de dias de pânico na cidade. Em ruínas, o local foi invadido, em 1987, por dois catadores de sucata, que pegaram a peça com a fonte radioativa e venderam-na a um ferro-velho. Lá a cápsula que embalava o césio foi aberta. Em pouco tempo, seu conteúdo – um fascinante pó de brilho azulado – estava sendo distribuído entre amigos e familiares do dono do local. Não demorou para que várias pessoas apresentassem sintomas como tontura, vômito e diarréia.

No decorrer de poucas semanas, quatro morreram em agonia, com múltiplas lesões hemorrágicas. Outras 245 pessoas foram contaminadas e muitas delas tiveram de ser temporariamente isoladas. Casas foram demolidas, pessoas realojadas e ruas interditadas. Os rejeitos radioativos – de roupas a calçamento de rua – encheram mais de 4 mil tambores.

O total de vítimas é incerto. Centenas de pessoas ainda recebem cuidados por conta dos possíveis efeitos tardios da radiação. Para a Associação de Vítimas do Césio 137, no entanto, o número de afetados – física ou financeiramente – é bem maior do que o oficialmente reconhecido. A entidade defende que, até o momento, ao menos 59 pessoas morreram de doenças ligadas à tragédia. Militares que atuaram em Goiânia também reivindicam benefícios como supostas vítimas não contabilizadas.

Criminalmente, foram responsabilizados os três sócios do Instituto Goiano de Radioterapia – a clínica em questão –, além do funcionário que era, perante a Cnen, o supervisor da fonte. Também sofreu condenação cível a Cnen por co-responsabilidade nas circunstâncias do acidente.


Celulares, antenas, monitores...
Ao contrário da radiação ionizante, de riscos amplamente reconhecidos, ainda restam muitas dúvidas sobre o impacto que outras energias invisíveis podem ter na saúde humana. Monitores de vídeo e telefones celulares são alguns dos emissores das chamadas radiações não-ionizantes, provenientes de campos eletromagnéticos, cuja possível relação com várias doenças é discutida atualmente.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) afirma serem fracos, até o momento, os indicativos de males trazidos à população por campos eletromagnéticos de baixa freqüência – existentes, por exemplo, no entorno de linhas de transmissão. Pesquisas mais incisivas indicam, no entanto, o aumento dos casos de leucemia infantil entre aqueles que moram perto de tais estruturas. Com base nessas evidências, a Agência Internacional de Pesquisa sobre o Câncer estabeleceu como "possível carcinógeno" as irradiações desses campos.

Pesquisadores ligados à Associação Brasileira de Compatibilidade Eletromagnética estão desenvolvendo um estudo pioneiro no país sobre o tema. Um dos objetivos é mapear, na capital paulista, as pessoas que moram distantes até 50 metros de linhas de transmissão – perímetro que, em média, abarca a intensidade de campo a partir da qual se pondera uma maior incidência de leucemia infantil em exposições de longo prazo. Dois bairros – Itaim Bibi e Campo Belo – já foram analisados. Neles, 5,8% das pessoas se enquadram nesse recorte.

A Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) adota os limites de precaução propostos pela OMS como referência para a instalação de antenas de TV, rádio e celular. Nos últimos anos, contudo, tornaram-se freqüentes os casos de torres desativadas por descumprir normas de segurança – alguns municípios possuem leis mais rígidas que as normas da Anatel. Não há conclusões sólidas sobre o risco representado pela radiação proveniente dessas antenas. Quanto aos aparelhos celulares, a OMS recomenda no máximo seis minutos por ligação.
mai/jun 2008

Revista Problemas Brasileiros

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