Carvão vegetal, no rastro da siderurgia
Carvão vegetal, no rastro da siderurgia
Uso sem controle da mata nativa produz conflitos, desmatamento e trabalho escravo
ANDRÉ CAMPOS
Uso sem controle da mata nativa produz conflitos, desmatamento e trabalho escravo
ANDRÉ CAMPOS
O ferro e o aço, materiais símbolo da industrialização – que, por sua vez, durante décadas foi sinônimo de progresso –, avançam pelo século 21 como um dos pilares da economia brasileira. Apesar da crise internacional, que atingiu em cheio a siderurgia, produtos feitos a partir desses metais seguem desempenhando papel-chave na balança comercial – corresponderam, sozinhos, a cerca de 6% das exportações no primeiro trimestre de 2009. Tal número, embora expressivo, nem de longe resume o peso do setor na vida nacional, dada sua importância para viabilizar muitas outras indústrias, como, por exemplo, as de materiais de transporte, bens de capital e equipamentos elétricos – apenas estas, juntas, somaram mais de 20% das vendas externas do país em 2008.
A relevância da siderurgia no Brasil, contudo, também conta com capítulos menos nobres, que remetem a impactos socioambientais muitas vezes pouco divulgados. Um deles está relacionado a uma matéria-prima cuja presença na cadeia produtiva do setor nem sequer é conhecida por boa parte da população: o carvão vegetal.
Esse insumo exerce dupla função nas fábricas. Como combustível, aquece os altos-fornos onde o minério de ferro é fundido. Além disso, durante a fusão, é um dos reagentes no processo que extrai o metal (Fe) do minério (Fe2O3). O ferro-gusa, produto final desse beneficiamento, é a principal matéria-prima para a fabricação do aço.
Ainda hoje, grande parte desse carvão provém de matas nativas. É feito em fornos rústicos, popularmente conhecidos como "rabo quente", nas regiões de fronteira agrícola do país. Desmatamento, trabalho escravo e conflitos territoriais são alguns dos problemas associados a esses empreendimentos – um obstáculo indigesto às pretensões de viabilizar novas fábricas baseadas no carvão vegetal. "Sua utilização, de forma compatível com as exigências da legislação ambiental, requer mecanismos cada vez mais rigorosos de controle de origem e de monitoramento das condições de produção do carvão adquirido no mercado", admite o Relatório de Sustentabilidade 2008 do Instituto Brasileiro de Siderurgia (IBS).
Evolução
Em parte por não possuir reservas qualificadas de carvão mineral, em parte por ser detentor de uma das maiores áreas florestais do mundo, o Brasil é, atualmente, o único país que adota a biomassa na siderurgia de forma expressiva – no cenário internacional, o carvão fóssil é, de longe, o principal insumo utilizado. Dados divulgados pelo IBS mostram que cerca de um terço do parque nacional recorre ao carvão vegetal. Nesse universo, os principais consumidores são as chamadas guseiras, indústrias de médio porte que não fabricam o aço, vendendo apenas o ferro-gusa para outras siderúrgicas e setores como o de autopeças.
O volume de matéria-prima demandado impressiona. Somente em 2007, segundo a Associação Mineira de Silvicultura (AMS), o consumo de carvão vegetal no Brasil foi de 9,2 milhões de toneladas – mais de 90% destinou-se ao setor siderúrgico. Para se ter uma ideia, são necessárias 48 árvores, conforme parâmetros do Ministério do Meio Ambiente, para produzir apenas uma tonelada de carvão. Em outras palavras, naquele ano mais de 440 milhões de árvores foram para o forno. Ainda de acordo com a AMS, aproximadamente 50% do que hoje é consumido advém de matas nativas – a outra metade é proveniente de áreas reflorestadas. A notória existência de um volumoso comércio ilegal, à margem do controle do Estado, torna no entanto duvidosa qualquer afirmação mais assertiva sobre a realidade desse percentual.
No século 19, as florestas próximas ao Quadrilátero Ferrífero mineiro já eram parte da equação que viabilizou as primeiras fundições importantes do país. O carvão vegetal foi a base do incipiente setor até a década de 1940, quando a Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) inaugurou o uso de carvão mineral importado para fabricar aço. Mais adequado a altos-fornos de grande capacidade, ele permitiu um substancial aumento na escala de produção. Empreendimentos que usam biomassa, contudo, não deixaram de existir, e, na década seguinte, multiplicaram-se com o advento da indústria automobilística paulista, que necessitava de ferro-gusa. Atualmente, são mais de 60 guseiras em Minas Gerais, 18 no Polo de Carajás – que perpassa o Pará e o Maranhão –, além de outras em estados como Mato Grosso do Sul e Espírito Santo.
Do cerrado ao bioma amazônico, no rastro da expansão dos altos-fornos, consolidou-se um mercado de carvão baseado numa vasta gama de fornecedores independentes, impulsionados, muitas vezes, por apoio técnico e financeiro das siderúrgicas. Nos dias atuais, as carvoarias estão fortemente integradas à economia das regiões onde atuam. É comum, por exemplo, fazendeiros permitirem empreendimentos do gênero em suas propriedades – obtendo, como pagamento, o desmate do terreno para a formação de pastos –, bem como o uso de restos de serrarias para queimar no carvoejamento.
Somente no Pará, segundo estimativa de 2007 do governo estadual, existem cerca de 25 mil carvoarias, número que ajuda a dimensionar a quantidade de pessoas envolvidas na atividade. "Em Açailândia [município maranhense com cinco siderúrgicas instaladas], há bairros inteiros que vivem do carvão", conta Xavier Plassat, coordenador da campanha nacional contra o trabalho escravo da Comissão Pastoral da Terra (CPT). A mão de obra é, em grande medida, formada por trabalhadores sem-terra que vivem de bicos, como serviços agropecuários e florestais temporários. Há, no entanto, situações diversas, incluindo a de moradores de assentamentos arregimentados para a atividade.
Impactos socioambientais
"Mesmo com o uso dos equipamentos de proteção, é uma tarefa sempre penosa", lembra Plassat. Acidentes com farpas de madeira, esforço muscular acentuado, muita fumaça, calor e fuligem são alguns elementos típicos do carvoejamento, cujo impacto na saúde, especialmente devido à poluição do ar, é tema de diversas pesquisas. Não bastasse isso, carvoarias são palco de denúncias frequentes envolvendo jornadas excessivas, alimentação inadequada e alojamentos insalubres – para não falar na corriqueira ausência de carteira assinada. Não raro, ocorrem situações ainda mais graves, como a retenção de salários e a chamada "peonagem" por dívidas, onde o trabalhador é coagido a permanecer no serviço para pagar supostos débitos de alimentação, transporte ou outros alegados por seus chefes.
Situações como essas fazem dos donos de carvoarias uma presença significativa na "lista suja" do trabalho escravo – um cadastro do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) com os empregadores flagrados incorrendo no crime. Entre os quase 200 nomes atualmente arrolados no documento, figuram, segundo levantamento da ONG Repórter Brasil, ao menos 36 produtores de carvão. Os casos remetem a sete estados: Bahia, Goiás, Maranhão, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Pará e Tocantins. De todos os ramos de atividade que integram a "lista suja", somente a pecuária tem mais representantes.
Também o desmatamento ilegal é motivo de constantes denúncias associadas ao carvão. Esse é um impacto de difícil mensuração, visto que parcela significativa dos empreendimentos trabalha à margem da lei, às vezes até sem existência formal. A alta mobilidade dos fornos rabo quente, que raramente ficam mais do que poucos meses em uma área, torna ainda mais difícil ligar carvoarias a seu rastro de passivos.
Para produzir carvão é preciso permissão dos órgãos ambientais, com a previsão da fonte de biomassa utilizada – área específica de desmate autorizado ou certa quantidade de resíduos de serraria, por exemplo –, dados que permitem, por sua vez, controlar o montante passível de ser fabricado e vendido. Relatos de fiscais, no entanto, descrevem uma refinada variedade de técnicas usadas para driblar esse controle. Um exemplo são as carvoarias que operam mais fornos do que o previsto em suas licenças ambientais, transportando, posteriormente, mais carvão do que o declarado nas guias florestais que acompanham a carga. Também ocorre a reutilização dessas guias, originalmente relacionadas a certa quantidade de matéria-prima, para acobertar o transporte de outro tanto proveniente de desmatamento ilegal – algo que está por trás inclusive do comércio desses papéis entre carvoeiros.
As ilegalidades respingam em cheio nas guseiras, já que a lei obriga os usuários de produtos florestais a comprovar a origem daquilo que consomem. Em abril de 2007, por exemplo, o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) lavrou R$ 150 milhões em multas durante inspeção em oito indústrias do Polo de Carajás. Em junho de 2008, o instituto bateu à porta de 60 siderúrgicas em Minas Gerais, Mato Grosso do Sul e Espírito Santo. Dessa vez, as autuações, relativas ao consumo de 800 mil metros cúbicos de carvão irregular, ultrapassaram R$ 400 milhões.
Paulino Cícero de Vasconcellos, presidente do Sindicato da Indústria do Ferro no Estado de Minas Gerais (Sindifer), classifica de incompetente a ação do Ibama e revela que o setor – como é de praxe em autuações do gênero – recorreu das multas. "Ninguém vai pagar, não há como", afirma. "Quando o cidadão faz a remessa da área de carvoejamento para a usina, ele não tem lá balança de precisão, está no meio do mato." Isso explica, segundo Vasconcellos, diferenças apuradas entre o valor expresso em guias florestais de trânsito e o total que, de fato, chega às empresas. "Se esse argumento fosse válido, seria natural haver também situações em que um volume menor de carvão é entregue às siderúrgicas", rebate José Humberto Chaves, coordenador-geral de Autorização de Uso da Flora e Florestas do instituto. "Mas o que vimos foi um erro sempre tendencioso e bastante acentuado para mais."
Para fiscalizar as indústrias, um dos métodos do Ibama consiste em comparar a produção de ferro-gusa com os documentos de origem florestal que as guseiras possuem, justamente para ver se bate a conta com o carvão necessário – procedimento que, segundo alegações do setor produtivo, não considera inovações que reduzem seu consumo nos altos-fornos. O órgão nega o argumento e diz que o fator de conversão adotado pelas empresas é a base para o controle.
Novas fronteiras
Atualmente, áreas de produção de carvão chegam a estar mais de mil quilômetros distantes das siderúrgicas consumidoras. A atividade penetra por biomas muito afastados das usinas, como, por exemplo, a caatinga, onde o Ibama destruiu, em agosto do ano passado, dezenas de fornos ilegais na região de serra Talhada, em Pernambuco – foram identificadas, segundo o instituto, siderúrgicas da região sudeste como compradoras. Preocupações quanto à expansão da fronteira do carvão também remetem ao Piauí, onde cresce o carvoejamento para o Polo de Carajás. Em 2007, o Ministério Público Federal denunciou aquele que, de acordo com o órgão, foi o primeiro caso de trabalho escravo flagrado em carvoaria local vinculada à siderurgia.
Entre todos os biomas, o pantanal é hoje um dos principais focos de preocupação. O motivo é um robusto complexo siderúrgico que está se instalando em Corumbá (MS), no coração das terras pantaneiras. A mineração de ferro no município, onde atuam as brasileiras Vale e MMX, além da anglo-australiana Rio Tinto, incentivou a criação de indústrias de ferro-gusa e aço na região, algumas inclusive controladas por esses três grupos empresariais.
Mato Grosso do Sul já figura como importante fornecedor do polo guseiro de Minas Gerais. "A instalação do complexo minero-siderúrgico, desconsiderada a possibilidade de uso de carvão mineral, aumenta a pressão sobre as áreas remanescentes de florestas nativas, configurando-se um cenário de desenvolvimento claramente insustentável", relata texto de 2008 do Centro de Estudos em Sustentabilidade da Fundação Getúlio Vargas. Se for mantido o atual ritmo de desmate – que nem sequer considera a implantação das siderúrgicas –, prevê-se o desaparecimento da vegetação original do pantanal em pouco mais de 45 anos. Segundo o documento, foi explorada para fabricar carvão em Mato Grosso do Sul, somente entre 1997 e 2005, uma área nativa equivalente a 16% do estado.
Reação empresarial
A enxurrada de críticas à cadeia produtiva do carvão motivou, principalmente nos últimos anos, ações por parte das siderúrgicas. No Polo de Carajás, um exemplo é o Instituto Carvão Cidadão (ICC), que treina e audita carvoarias visando garantir o respeito às normas trabalhistas. Criada em 2004 pelas guseiras locais, a entidade mantém uma lista pública com mais de 300 carvoeiros reprovados pelas suas auditorias – e que, teoricamente, estão fora do mercado de venda à siderurgia. Ornedson Carneiro, presidente do instituto, afirma que o trabalho do ICC levou o polo a adotar uma base menor, porém mais qualificada, de fornecedores. Hoje, diz ele, mais de 90% da mão de obra que o abastece possui carteira assinada.
No entanto, permanecem dúvidas quanto à profundidade dessas melhorias. Um dos problemas é a dificuldade em saber se produtores descredenciados não estão retornando maquiados à cadeia produtiva, através da abertura de novas empresas. Também o papel dos intermediários no mercado de carvão é um obstáculo para controlar a situação dos trabalhadores. "Há carvoeiros grandes que compram dos pequenos e que depois negociam com as siderúrgicas", afirma Marcelo Campos, coordenador nacional do grupo móvel de fiscalização do MTE. Esse arranjo, a seu ver, é parte da estratégia de legitimação do setor. "As siderúrgicas querem diminuir os contatos, inclusive para se livrar dos problemas."
Pressionada pela opinião pública internacional, a Vale – principal fornecedora de minério de ferro às empresas brasileiras – também adotou medidas próprias relacionadas às guseiras. Em 2007, anunciou a suspensão de fornecimento a dez siderúrgicas que, segundo a multinacional, operavam fora da legalidade ambiental e trabalhista. A maioria das suspensões já foi revista e somente a mineira Itasider permanece sem receber o minério – procurada pela reportagem para comentar o assunto, a empresa não se manifestou.
Quando a questão é desmatamento, uma das apostas do Polo de Carajás é a adoção de fontes alternativas, como, por exemplo, o coco do babaçu – palmeira bastante comum na região –, para fabricar o carvão. A iniciativa mais uma vez esbarra em polêmicas, dessa vez envolvendo as quebradeiras de coco, extrativistas que sobrevivem à custa do aproveitamento do fruto. Segundo Maria Adelina Chagas, coordenadora-geral do Movimento Interestadual das Quebradeiras de Coco Babaçu (MIQCB), o atual arrendamento de babaçuais para abastecer as siderúrgicas é "um conflito terrível" enfrentado pelas trabalhadoras, pois impede o acesso a terras onde elas antes recolhiam o coco. Problemas Brasileiros procurou o Sindicato da Indústria de Ferro-Gusa do Maranhão, estado palco de grande parte das disputas, que não se pronunciou sobre o assunto.
Gás e reflorestamento
Na esfera das políticas públicas, a construção do Gasoduto Meio-Norte é o mais ambicioso projeto atual para atenuar a pressão florestal exercida pela siderurgia. Em fase adiantada de licenciamento, a obra, que parte do Ceará e deve passar pelos maiores centros guseiros de Carajás, pode levar à substituição de parcela do carvão utilizada para aquecer os altos-fornos. Numa estimativa conservadora, de acordo com estudo encomendado pelo Sindicato das Indústrias de Ferro-Gusa do Estado do Pará (Sindiferpa), sua viabilização reduziria em 8,4% a biomassa consumida pelas dez usinas de Marabá (PA) – projeções mais otimistas do setor falam em até 16%.
Pouco comum no Brasil, o ferro-esponja é um produto alternativo ao ferro-gusa feito a partir de técnica que usa o gás natural como agente redutor do minério – dispensando, dessa forma, o carvão. Maurílio Monteiro, pesquisador de temas relacionados ao Polo de Carajás e atual secretário de Desenvolvimento, Ciência e Tecnologia do Pará, acredita que o gasoduto pode, num segundo momento, viabilizar uma guinada do setor para essa outra matriz. "Periodicamente, os altos-fornos precisam ser reformados. Abre-se uma janela para que, em vez de realizar a reforma, as guseiras optem pela mudança de tecnologia", vislumbra ele.
A ideia, no entanto, não empolga Mauro Corrêa, diretor executivo do Sindiferpa, em cuja opinião o maior teor de impurezas do ferro-esponja torna-o menos competitivo no mercado. Ele faz ainda ampla defesa da siderurgia a carvão vegetal por tratar-se de uma fonte renovável. Estudos indicam, vale lembrar, que o carvão siderúrgico de biomassa, quando proveniente de reflorestamento, não contribui para o efeito estufa, ao contrário do carvão mineral e do gás natural. "O gusa brasileiro é verde", afirma. "Enquanto não temos 100% de carvão de áreas plantadas, é preciso buscar, de fato, alternativas. Mas a solução ideal é viabilizar o reflorestamento." Segundo Corrêa, há hoje no Pará 80 mil hectares reflorestados abastecendo as siderúrgicas. A meta é não mais depender das matas nativas a partir de 2015.
Seja por meio do plantio de áreas próprias ou do incentivo a terceiros, o reflorestamento é, sem dúvida, a menina dos olhos do setor produtivo quando o assunto é sustentabilidade. Em 2007, foi criado um fundo de investimentos bancado por nove guseiras de Carajás visando financiar empreendimentos do gênero. Também em Minas Gerais as empresas adotam um discurso pró-reflorestamento e, atualmente, costuram com o governo estadual um pacote de incentivos para, em dez anos, tornar-se independentes das matas nativas. Segundo o Sindifer, o polo local já planta cerca de 125 mil hectares por ano para alcançar esse objetivo.
A necessidade de florestas plantadas para suprir a siderurgia nacional é debate antigo – a própria lei prevê que grandes consumidores de matéria-prima florestal tenham cultivo equivalente a seu consumo. O fato de, após tantos anos, o reflorestamento ainda ser um gargalo gera desconfianças quanto ao comportamento das siderúrgicas. "Empresas instaladas em Carajás não cumpriram nenhum dos Planos Integrados Floresta/Indústria, nos quais são estabelecidas as diretrizes e metas relativas à origem do material a ser carbonizado", relata estudo realizado por Maurílio Monteiro. Situação semelhante, de acordo com ele, ocorre em Minas Gerais. "Lá também as exigências do Ibama para que siderúrgicas assegurassem, até 1992, o consumo de 70% de carvão originário de reflorestamentos, uma proporção que deveria atingir 100% no ano de 1995, foram sistematicamente desrespeitadas."
A reforma do Código Florestal Brasileiro é o que defende Vasconcellos, do Sindifer, para destravar o reflorestamento. Segundo ele, as grandes quantidades de terra alocadas a título de reserva legal e áreas de proteção são um entrave histórico à atividade. "Na Amazônia, é preciso comprar 100 hectares para reflorestar 20", exclama. Outra queixa remete ao montante oferecido por políticas de financiamento do Estado para fazer o plantio – "uma miséria", diz o representante do setor.
O carvão é o principal custo de produção do ferro-gusa, podendo ultrapassar 50% do total – supera, portanto, o próprio minério de ferro. Além dos altos investimentos necessários, as áreas cultivadas, via de regra, só estão aptas ao corte após sete anos. Tal conjuntura suscita perguntas sobre a real viabilidade econômica do reflorestamento, principalmente em usinas de menor porte e em polos dependentes da exportação, como Carajás – já que, no mercado internacional, o ferro-gusa brasileiro compete com outras matérias-primas e está sujeito aos preços impostos pelo mercado.
Além disso, há de se ponderar a potencial migração de pastagens para novas frentes de desmatamento com a alocação de milhões de hectares para produzir carvão. No norte do país, Xavier Plassat, da CPT, relata grande expansão da monocultura de reflorestamento, notadamente onde antes se criava gado. "O Bico do Papagaio [extremo-norte do Tocantins] está se cobrindo de eucalipto", conta. Em regiões onde há conflitos envolvendo grilagem e posse da terra, tal cultura, diz ele, favorece grandes fazendeiros ao inviabilizar quaisquer outras atividades produtivas nas áreas em litígio. "De certa forma, é melhor que uma cerca."
A relevância da siderurgia no Brasil, contudo, também conta com capítulos menos nobres, que remetem a impactos socioambientais muitas vezes pouco divulgados. Um deles está relacionado a uma matéria-prima cuja presença na cadeia produtiva do setor nem sequer é conhecida por boa parte da população: o carvão vegetal.
Esse insumo exerce dupla função nas fábricas. Como combustível, aquece os altos-fornos onde o minério de ferro é fundido. Além disso, durante a fusão, é um dos reagentes no processo que extrai o metal (Fe) do minério (Fe2O3). O ferro-gusa, produto final desse beneficiamento, é a principal matéria-prima para a fabricação do aço.
Ainda hoje, grande parte desse carvão provém de matas nativas. É feito em fornos rústicos, popularmente conhecidos como "rabo quente", nas regiões de fronteira agrícola do país. Desmatamento, trabalho escravo e conflitos territoriais são alguns dos problemas associados a esses empreendimentos – um obstáculo indigesto às pretensões de viabilizar novas fábricas baseadas no carvão vegetal. "Sua utilização, de forma compatível com as exigências da legislação ambiental, requer mecanismos cada vez mais rigorosos de controle de origem e de monitoramento das condições de produção do carvão adquirido no mercado", admite o Relatório de Sustentabilidade 2008 do Instituto Brasileiro de Siderurgia (IBS).
Evolução
Em parte por não possuir reservas qualificadas de carvão mineral, em parte por ser detentor de uma das maiores áreas florestais do mundo, o Brasil é, atualmente, o único país que adota a biomassa na siderurgia de forma expressiva – no cenário internacional, o carvão fóssil é, de longe, o principal insumo utilizado. Dados divulgados pelo IBS mostram que cerca de um terço do parque nacional recorre ao carvão vegetal. Nesse universo, os principais consumidores são as chamadas guseiras, indústrias de médio porte que não fabricam o aço, vendendo apenas o ferro-gusa para outras siderúrgicas e setores como o de autopeças.
O volume de matéria-prima demandado impressiona. Somente em 2007, segundo a Associação Mineira de Silvicultura (AMS), o consumo de carvão vegetal no Brasil foi de 9,2 milhões de toneladas – mais de 90% destinou-se ao setor siderúrgico. Para se ter uma ideia, são necessárias 48 árvores, conforme parâmetros do Ministério do Meio Ambiente, para produzir apenas uma tonelada de carvão. Em outras palavras, naquele ano mais de 440 milhões de árvores foram para o forno. Ainda de acordo com a AMS, aproximadamente 50% do que hoje é consumido advém de matas nativas – a outra metade é proveniente de áreas reflorestadas. A notória existência de um volumoso comércio ilegal, à margem do controle do Estado, torna no entanto duvidosa qualquer afirmação mais assertiva sobre a realidade desse percentual.
No século 19, as florestas próximas ao Quadrilátero Ferrífero mineiro já eram parte da equação que viabilizou as primeiras fundições importantes do país. O carvão vegetal foi a base do incipiente setor até a década de 1940, quando a Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) inaugurou o uso de carvão mineral importado para fabricar aço. Mais adequado a altos-fornos de grande capacidade, ele permitiu um substancial aumento na escala de produção. Empreendimentos que usam biomassa, contudo, não deixaram de existir, e, na década seguinte, multiplicaram-se com o advento da indústria automobilística paulista, que necessitava de ferro-gusa. Atualmente, são mais de 60 guseiras em Minas Gerais, 18 no Polo de Carajás – que perpassa o Pará e o Maranhão –, além de outras em estados como Mato Grosso do Sul e Espírito Santo.
Do cerrado ao bioma amazônico, no rastro da expansão dos altos-fornos, consolidou-se um mercado de carvão baseado numa vasta gama de fornecedores independentes, impulsionados, muitas vezes, por apoio técnico e financeiro das siderúrgicas. Nos dias atuais, as carvoarias estão fortemente integradas à economia das regiões onde atuam. É comum, por exemplo, fazendeiros permitirem empreendimentos do gênero em suas propriedades – obtendo, como pagamento, o desmate do terreno para a formação de pastos –, bem como o uso de restos de serrarias para queimar no carvoejamento.
Somente no Pará, segundo estimativa de 2007 do governo estadual, existem cerca de 25 mil carvoarias, número que ajuda a dimensionar a quantidade de pessoas envolvidas na atividade. "Em Açailândia [município maranhense com cinco siderúrgicas instaladas], há bairros inteiros que vivem do carvão", conta Xavier Plassat, coordenador da campanha nacional contra o trabalho escravo da Comissão Pastoral da Terra (CPT). A mão de obra é, em grande medida, formada por trabalhadores sem-terra que vivem de bicos, como serviços agropecuários e florestais temporários. Há, no entanto, situações diversas, incluindo a de moradores de assentamentos arregimentados para a atividade.
Impactos socioambientais
"Mesmo com o uso dos equipamentos de proteção, é uma tarefa sempre penosa", lembra Plassat. Acidentes com farpas de madeira, esforço muscular acentuado, muita fumaça, calor e fuligem são alguns elementos típicos do carvoejamento, cujo impacto na saúde, especialmente devido à poluição do ar, é tema de diversas pesquisas. Não bastasse isso, carvoarias são palco de denúncias frequentes envolvendo jornadas excessivas, alimentação inadequada e alojamentos insalubres – para não falar na corriqueira ausência de carteira assinada. Não raro, ocorrem situações ainda mais graves, como a retenção de salários e a chamada "peonagem" por dívidas, onde o trabalhador é coagido a permanecer no serviço para pagar supostos débitos de alimentação, transporte ou outros alegados por seus chefes.
Situações como essas fazem dos donos de carvoarias uma presença significativa na "lista suja" do trabalho escravo – um cadastro do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) com os empregadores flagrados incorrendo no crime. Entre os quase 200 nomes atualmente arrolados no documento, figuram, segundo levantamento da ONG Repórter Brasil, ao menos 36 produtores de carvão. Os casos remetem a sete estados: Bahia, Goiás, Maranhão, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Pará e Tocantins. De todos os ramos de atividade que integram a "lista suja", somente a pecuária tem mais representantes.
Também o desmatamento ilegal é motivo de constantes denúncias associadas ao carvão. Esse é um impacto de difícil mensuração, visto que parcela significativa dos empreendimentos trabalha à margem da lei, às vezes até sem existência formal. A alta mobilidade dos fornos rabo quente, que raramente ficam mais do que poucos meses em uma área, torna ainda mais difícil ligar carvoarias a seu rastro de passivos.
Para produzir carvão é preciso permissão dos órgãos ambientais, com a previsão da fonte de biomassa utilizada – área específica de desmate autorizado ou certa quantidade de resíduos de serraria, por exemplo –, dados que permitem, por sua vez, controlar o montante passível de ser fabricado e vendido. Relatos de fiscais, no entanto, descrevem uma refinada variedade de técnicas usadas para driblar esse controle. Um exemplo são as carvoarias que operam mais fornos do que o previsto em suas licenças ambientais, transportando, posteriormente, mais carvão do que o declarado nas guias florestais que acompanham a carga. Também ocorre a reutilização dessas guias, originalmente relacionadas a certa quantidade de matéria-prima, para acobertar o transporte de outro tanto proveniente de desmatamento ilegal – algo que está por trás inclusive do comércio desses papéis entre carvoeiros.
As ilegalidades respingam em cheio nas guseiras, já que a lei obriga os usuários de produtos florestais a comprovar a origem daquilo que consomem. Em abril de 2007, por exemplo, o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) lavrou R$ 150 milhões em multas durante inspeção em oito indústrias do Polo de Carajás. Em junho de 2008, o instituto bateu à porta de 60 siderúrgicas em Minas Gerais, Mato Grosso do Sul e Espírito Santo. Dessa vez, as autuações, relativas ao consumo de 800 mil metros cúbicos de carvão irregular, ultrapassaram R$ 400 milhões.
Paulino Cícero de Vasconcellos, presidente do Sindicato da Indústria do Ferro no Estado de Minas Gerais (Sindifer), classifica de incompetente a ação do Ibama e revela que o setor – como é de praxe em autuações do gênero – recorreu das multas. "Ninguém vai pagar, não há como", afirma. "Quando o cidadão faz a remessa da área de carvoejamento para a usina, ele não tem lá balança de precisão, está no meio do mato." Isso explica, segundo Vasconcellos, diferenças apuradas entre o valor expresso em guias florestais de trânsito e o total que, de fato, chega às empresas. "Se esse argumento fosse válido, seria natural haver também situações em que um volume menor de carvão é entregue às siderúrgicas", rebate José Humberto Chaves, coordenador-geral de Autorização de Uso da Flora e Florestas do instituto. "Mas o que vimos foi um erro sempre tendencioso e bastante acentuado para mais."
Para fiscalizar as indústrias, um dos métodos do Ibama consiste em comparar a produção de ferro-gusa com os documentos de origem florestal que as guseiras possuem, justamente para ver se bate a conta com o carvão necessário – procedimento que, segundo alegações do setor produtivo, não considera inovações que reduzem seu consumo nos altos-fornos. O órgão nega o argumento e diz que o fator de conversão adotado pelas empresas é a base para o controle.
Novas fronteiras
Atualmente, áreas de produção de carvão chegam a estar mais de mil quilômetros distantes das siderúrgicas consumidoras. A atividade penetra por biomas muito afastados das usinas, como, por exemplo, a caatinga, onde o Ibama destruiu, em agosto do ano passado, dezenas de fornos ilegais na região de serra Talhada, em Pernambuco – foram identificadas, segundo o instituto, siderúrgicas da região sudeste como compradoras. Preocupações quanto à expansão da fronteira do carvão também remetem ao Piauí, onde cresce o carvoejamento para o Polo de Carajás. Em 2007, o Ministério Público Federal denunciou aquele que, de acordo com o órgão, foi o primeiro caso de trabalho escravo flagrado em carvoaria local vinculada à siderurgia.
Entre todos os biomas, o pantanal é hoje um dos principais focos de preocupação. O motivo é um robusto complexo siderúrgico que está se instalando em Corumbá (MS), no coração das terras pantaneiras. A mineração de ferro no município, onde atuam as brasileiras Vale e MMX, além da anglo-australiana Rio Tinto, incentivou a criação de indústrias de ferro-gusa e aço na região, algumas inclusive controladas por esses três grupos empresariais.
Mato Grosso do Sul já figura como importante fornecedor do polo guseiro de Minas Gerais. "A instalação do complexo minero-siderúrgico, desconsiderada a possibilidade de uso de carvão mineral, aumenta a pressão sobre as áreas remanescentes de florestas nativas, configurando-se um cenário de desenvolvimento claramente insustentável", relata texto de 2008 do Centro de Estudos em Sustentabilidade da Fundação Getúlio Vargas. Se for mantido o atual ritmo de desmate – que nem sequer considera a implantação das siderúrgicas –, prevê-se o desaparecimento da vegetação original do pantanal em pouco mais de 45 anos. Segundo o documento, foi explorada para fabricar carvão em Mato Grosso do Sul, somente entre 1997 e 2005, uma área nativa equivalente a 16% do estado.
Reação empresarial
A enxurrada de críticas à cadeia produtiva do carvão motivou, principalmente nos últimos anos, ações por parte das siderúrgicas. No Polo de Carajás, um exemplo é o Instituto Carvão Cidadão (ICC), que treina e audita carvoarias visando garantir o respeito às normas trabalhistas. Criada em 2004 pelas guseiras locais, a entidade mantém uma lista pública com mais de 300 carvoeiros reprovados pelas suas auditorias – e que, teoricamente, estão fora do mercado de venda à siderurgia. Ornedson Carneiro, presidente do instituto, afirma que o trabalho do ICC levou o polo a adotar uma base menor, porém mais qualificada, de fornecedores. Hoje, diz ele, mais de 90% da mão de obra que o abastece possui carteira assinada.
No entanto, permanecem dúvidas quanto à profundidade dessas melhorias. Um dos problemas é a dificuldade em saber se produtores descredenciados não estão retornando maquiados à cadeia produtiva, através da abertura de novas empresas. Também o papel dos intermediários no mercado de carvão é um obstáculo para controlar a situação dos trabalhadores. "Há carvoeiros grandes que compram dos pequenos e que depois negociam com as siderúrgicas", afirma Marcelo Campos, coordenador nacional do grupo móvel de fiscalização do MTE. Esse arranjo, a seu ver, é parte da estratégia de legitimação do setor. "As siderúrgicas querem diminuir os contatos, inclusive para se livrar dos problemas."
Pressionada pela opinião pública internacional, a Vale – principal fornecedora de minério de ferro às empresas brasileiras – também adotou medidas próprias relacionadas às guseiras. Em 2007, anunciou a suspensão de fornecimento a dez siderúrgicas que, segundo a multinacional, operavam fora da legalidade ambiental e trabalhista. A maioria das suspensões já foi revista e somente a mineira Itasider permanece sem receber o minério – procurada pela reportagem para comentar o assunto, a empresa não se manifestou.
Quando a questão é desmatamento, uma das apostas do Polo de Carajás é a adoção de fontes alternativas, como, por exemplo, o coco do babaçu – palmeira bastante comum na região –, para fabricar o carvão. A iniciativa mais uma vez esbarra em polêmicas, dessa vez envolvendo as quebradeiras de coco, extrativistas que sobrevivem à custa do aproveitamento do fruto. Segundo Maria Adelina Chagas, coordenadora-geral do Movimento Interestadual das Quebradeiras de Coco Babaçu (MIQCB), o atual arrendamento de babaçuais para abastecer as siderúrgicas é "um conflito terrível" enfrentado pelas trabalhadoras, pois impede o acesso a terras onde elas antes recolhiam o coco. Problemas Brasileiros procurou o Sindicato da Indústria de Ferro-Gusa do Maranhão, estado palco de grande parte das disputas, que não se pronunciou sobre o assunto.
Gás e reflorestamento
Na esfera das políticas públicas, a construção do Gasoduto Meio-Norte é o mais ambicioso projeto atual para atenuar a pressão florestal exercida pela siderurgia. Em fase adiantada de licenciamento, a obra, que parte do Ceará e deve passar pelos maiores centros guseiros de Carajás, pode levar à substituição de parcela do carvão utilizada para aquecer os altos-fornos. Numa estimativa conservadora, de acordo com estudo encomendado pelo Sindicato das Indústrias de Ferro-Gusa do Estado do Pará (Sindiferpa), sua viabilização reduziria em 8,4% a biomassa consumida pelas dez usinas de Marabá (PA) – projeções mais otimistas do setor falam em até 16%.
Pouco comum no Brasil, o ferro-esponja é um produto alternativo ao ferro-gusa feito a partir de técnica que usa o gás natural como agente redutor do minério – dispensando, dessa forma, o carvão. Maurílio Monteiro, pesquisador de temas relacionados ao Polo de Carajás e atual secretário de Desenvolvimento, Ciência e Tecnologia do Pará, acredita que o gasoduto pode, num segundo momento, viabilizar uma guinada do setor para essa outra matriz. "Periodicamente, os altos-fornos precisam ser reformados. Abre-se uma janela para que, em vez de realizar a reforma, as guseiras optem pela mudança de tecnologia", vislumbra ele.
A ideia, no entanto, não empolga Mauro Corrêa, diretor executivo do Sindiferpa, em cuja opinião o maior teor de impurezas do ferro-esponja torna-o menos competitivo no mercado. Ele faz ainda ampla defesa da siderurgia a carvão vegetal por tratar-se de uma fonte renovável. Estudos indicam, vale lembrar, que o carvão siderúrgico de biomassa, quando proveniente de reflorestamento, não contribui para o efeito estufa, ao contrário do carvão mineral e do gás natural. "O gusa brasileiro é verde", afirma. "Enquanto não temos 100% de carvão de áreas plantadas, é preciso buscar, de fato, alternativas. Mas a solução ideal é viabilizar o reflorestamento." Segundo Corrêa, há hoje no Pará 80 mil hectares reflorestados abastecendo as siderúrgicas. A meta é não mais depender das matas nativas a partir de 2015.
Seja por meio do plantio de áreas próprias ou do incentivo a terceiros, o reflorestamento é, sem dúvida, a menina dos olhos do setor produtivo quando o assunto é sustentabilidade. Em 2007, foi criado um fundo de investimentos bancado por nove guseiras de Carajás visando financiar empreendimentos do gênero. Também em Minas Gerais as empresas adotam um discurso pró-reflorestamento e, atualmente, costuram com o governo estadual um pacote de incentivos para, em dez anos, tornar-se independentes das matas nativas. Segundo o Sindifer, o polo local já planta cerca de 125 mil hectares por ano para alcançar esse objetivo.
A necessidade de florestas plantadas para suprir a siderurgia nacional é debate antigo – a própria lei prevê que grandes consumidores de matéria-prima florestal tenham cultivo equivalente a seu consumo. O fato de, após tantos anos, o reflorestamento ainda ser um gargalo gera desconfianças quanto ao comportamento das siderúrgicas. "Empresas instaladas em Carajás não cumpriram nenhum dos Planos Integrados Floresta/Indústria, nos quais são estabelecidas as diretrizes e metas relativas à origem do material a ser carbonizado", relata estudo realizado por Maurílio Monteiro. Situação semelhante, de acordo com ele, ocorre em Minas Gerais. "Lá também as exigências do Ibama para que siderúrgicas assegurassem, até 1992, o consumo de 70% de carvão originário de reflorestamentos, uma proporção que deveria atingir 100% no ano de 1995, foram sistematicamente desrespeitadas."
A reforma do Código Florestal Brasileiro é o que defende Vasconcellos, do Sindifer, para destravar o reflorestamento. Segundo ele, as grandes quantidades de terra alocadas a título de reserva legal e áreas de proteção são um entrave histórico à atividade. "Na Amazônia, é preciso comprar 100 hectares para reflorestar 20", exclama. Outra queixa remete ao montante oferecido por políticas de financiamento do Estado para fazer o plantio – "uma miséria", diz o representante do setor.
O carvão é o principal custo de produção do ferro-gusa, podendo ultrapassar 50% do total – supera, portanto, o próprio minério de ferro. Além dos altos investimentos necessários, as áreas cultivadas, via de regra, só estão aptas ao corte após sete anos. Tal conjuntura suscita perguntas sobre a real viabilidade econômica do reflorestamento, principalmente em usinas de menor porte e em polos dependentes da exportação, como Carajás – já que, no mercado internacional, o ferro-gusa brasileiro compete com outras matérias-primas e está sujeito aos preços impostos pelo mercado.
Além disso, há de se ponderar a potencial migração de pastagens para novas frentes de desmatamento com a alocação de milhões de hectares para produzir carvão. No norte do país, Xavier Plassat, da CPT, relata grande expansão da monocultura de reflorestamento, notadamente onde antes se criava gado. "O Bico do Papagaio [extremo-norte do Tocantins] está se cobrindo de eucalipto", conta. Em regiões onde há conflitos envolvendo grilagem e posse da terra, tal cultura, diz ele, favorece grandes fazendeiros ao inviabilizar quaisquer outras atividades produtivas nas áreas em litígio. "De certa forma, é melhor que uma cerca."
O custo da energia
O custo da energiaPaisagens e vidas humanas sofrem com a busca febril por mais combustível.Por Michelle Nijhuis
Foto de Joel Sartore
Foto de Joel Sartore
No Wyoming, o fazendeiro Leo Ankney mantém distância das chamas que se alimentam de um veio de carvão em sua propriedade. "Acho que uns 4 hectares ficaram inaproveitáveis", diz. "É perigoso demais". Dezenas de incêndios subterrâneos ocorrem em minas de carvão abandonadas nos EUA.
Uma década atrás, quando me mudei para uma cidade pequena no Colorado, o carvão me mantinha aquecida à noite. No porão de minha casa alugada havia uma velha fornalha que consumia incontáveis pazadas de carvão e expelia um ar quente e repleto de partículas por orifícios no andar superior. A tonelada do mineral que eu comprava a cada outono era barata, pois eu vivia perto de sua fonte. A cerca de 15 quilômetros dali, trabalhadores em três minas garantiam fluxo constante de carvão.
De algum modo, esse posto avançado da economia global baseada em combustíveis fósseis tem sorte. Além de alguns silos de carvão mais altos e estradas que cruzam as mesetas, as minas subterrâneas mal são visíveis na região. E o carvão delas tem baixo teor de enxofre.
No entanto, minha fornalha e as dos meus vizinhos envolvem o vilarejo em uma nuvem medonha todo inverno, e contribuem para aquecer o planeta com suas emissões exageradas de dióxido de carbono. E o aquecimento de minha casa também tem um custo humano, que noto toda vez que olho pela janela da cozinha. Do outro lado da rua, na beira de um parque, há uma estátua de bronze representando um mineiro com uma picareta na mão. Logo abaixo de suas botas, uma placa lembra os quase 70 homens que morreram nas minas locais ao longo do último século. Hoje, com as máquinas substituindo os homens, tais mortes são mais raras, mas acontecem: a última fatalidade no vale ocorreu em 2007, e o monumento tem espaço para outros nomes.
Faz tempo que troquei minha pá de carvão por painéis solares, mas os mineiros do vale continuam se esfalfando no subsolo, e a geologia continua determinado o destino da região. A demanda por combustíveis menos poluentes despertou o interesse pelo gás natural das Montanhas Rochosas -incluindo o metano aprisionado entre os veios de carvão -, e um surto de exploração do gás agora se estende desde Montana até o Novo México. Dezenas de milhares de poços e a resultante rede de estradas novas, dutos e cercas perturbam a fauna e destroem os pastos, deixando furiosos tanto fazendeiros como caçadores. "O setor de petróleo e gás imiscui-se em toda a comunidade, em toda a paisagem", comenta Duke Cox, militante ambiental no oeste do Colorado.
Esses relatos têm seus ecos no outro lado do país, nos Apalaches, onde o topo dos morros é removido com explosivos de modo a expor os veios de carvão. Julia Bonds, a última pessoa a mudar-se de seu vilarejo - Marfork Hollow, na Virgínia Ocidental -, há oito anos, ainda se recorda das nuvens de pó de carvão, dos peixes mortos no riacho e da ameaça representada por um reservatório de escória viscosa a alguns quilômetros acima da cidadezinha. Outras pequenas cidades na região sofrem o mesmo destino. "Aqui é uma zona de guerra", diz Julia, hoje diretora do grupo ambientalista Coal River Mountain Watch.
Em Alberta, no Canadá, um grupo de empresas está explorando imensos depósitos de areia betuminosa, extraindo uma substância parecida com melaço que pode ser transformada - por meio de procedimentos que requerem muita energia - em petróleo cru refinável. A extração e o processamento da areia betuminosa canadense resultam em mais de 1 milhão de barris de petróleo por dia, fazendo com que as exportações desse produto para os Estados Unidos sejam atualmente superiores às da Arábia Saudita.
Nas lavras de areia betuminosa são usados os maiores caminhões e tratores do planeta, que revolvem o terreno, multiplicam as crateras e abrem um conjunto de tanques de rejeitos que ocupa uma área superior a 130 quilômetros quadrados. No verão passado, as crianças de Fort Chipewyan, remoto vilarejo ocupado por índios crees e chipewyans e situado a jusante da área de exploração da areia, capturaram um peixe com duas mandíbulas. Os moradores desconfiam de que toxinas liberadas pelos rejeitos estejam por trás de um surto local de vários tipos de câncer.
A América do Norte, evidentemente, é responsável por apenas uma parte do custo global da energia. Na China, onde o setor de mineração de carvão emprega 3 milhões de pessoas, milhares de mineiros - muitos deles trabalhadores migrantes, forçados a arriscar a vida em troca de salário regular - morrem em inundações, incêndios, desmoronamentos e explosões nas minas a cada ano. Apesar do endurecimento do governo, as tragédias continuam a acontecer. As doenças respiratórias são corriqueiras, e as chuvas ácidas, resultantes da queima do carvão, vêm devastando as florestas e as áreas de cultivo no país. Ainda mais terrível é a situação no delta do rio Níger, na Nigéria, uma área rica em petróleo na qual os vazamentos de óleo, as chuvas ácidas e a frenética construção de canais e oleodutos destruíram um dos maiores manguezais do mundo. Em vez prosperidade, o surto petrolífero do país resultou em corrupção política e miséria.
Mas a corrida pelos combustíveis fósseis prossegue acelerada, em parte para satisfazer uma voracidade mundial por energia - e em parte porque oferecem às populações locais um irresistível pacto diabólico. Para muitos vilarejos isolados, o setor de mineração oferece tentações: graças aos tributos pagos por uma companhia de gás, os alunos de uma escola pública de Pinedale, em Wyoming, têm acesso a um centro recreativo que custou 20 milhões de dólares e a salas de aula equipadas com avançados equipamentos.
O trabalho nas minas e nos equipamentos de perfuração, embora arriscado, é bem pago. E muitos trabalhadores têm orgulho em cumprir tarefas perigosas, levar adiante tradições familiares ou comunitárias e prover um produto essencial a seus concidadãos. Às vezes, eles consideram as mudanças não como saída, mas como ameaça a seu modo de vida.
Mas as mudanças já estão ocorrendo, e algumas delas implicam em opções mais amenas. Sob uma nova lei do Colorado, até 2020 as principais companhias elétricas do estado devem obter de fontes renováveis um quinto de toda a energia que fornecem. Turbinas eólicas e painéis solares estão sendo instalados em fazendas e sítios do Colorado, e postos de trabalho em setores poluentes agora estão migrando para atividades menos agressivas ao meio ambiente. Na pequena cidade em que vivo, à beira da área de extração de gás, a antiga escola secundária ainda é usada para treino de segurança dos carvoeiros. Mas, a 1 quilômetro dali, em um campus recém-construído da Solar Energy International, uma organização sem fins lucrativos, especialistas em energia renovável orientam empreiteiros, eletricistas e ocasional trabalhador aposentado dos setores de petróleo e gás para que tirem proveito financeiro desse novo tipo de corrida energética.
A geologia continua influenciando o destino, mas não por muito tempo.
Revista National Geographic - Especial Energia
De algum modo, esse posto avançado da economia global baseada em combustíveis fósseis tem sorte. Além de alguns silos de carvão mais altos e estradas que cruzam as mesetas, as minas subterrâneas mal são visíveis na região. E o carvão delas tem baixo teor de enxofre.
No entanto, minha fornalha e as dos meus vizinhos envolvem o vilarejo em uma nuvem medonha todo inverno, e contribuem para aquecer o planeta com suas emissões exageradas de dióxido de carbono. E o aquecimento de minha casa também tem um custo humano, que noto toda vez que olho pela janela da cozinha. Do outro lado da rua, na beira de um parque, há uma estátua de bronze representando um mineiro com uma picareta na mão. Logo abaixo de suas botas, uma placa lembra os quase 70 homens que morreram nas minas locais ao longo do último século. Hoje, com as máquinas substituindo os homens, tais mortes são mais raras, mas acontecem: a última fatalidade no vale ocorreu em 2007, e o monumento tem espaço para outros nomes.
Faz tempo que troquei minha pá de carvão por painéis solares, mas os mineiros do vale continuam se esfalfando no subsolo, e a geologia continua determinado o destino da região. A demanda por combustíveis menos poluentes despertou o interesse pelo gás natural das Montanhas Rochosas -incluindo o metano aprisionado entre os veios de carvão -, e um surto de exploração do gás agora se estende desde Montana até o Novo México. Dezenas de milhares de poços e a resultante rede de estradas novas, dutos e cercas perturbam a fauna e destroem os pastos, deixando furiosos tanto fazendeiros como caçadores. "O setor de petróleo e gás imiscui-se em toda a comunidade, em toda a paisagem", comenta Duke Cox, militante ambiental no oeste do Colorado.
Esses relatos têm seus ecos no outro lado do país, nos Apalaches, onde o topo dos morros é removido com explosivos de modo a expor os veios de carvão. Julia Bonds, a última pessoa a mudar-se de seu vilarejo - Marfork Hollow, na Virgínia Ocidental -, há oito anos, ainda se recorda das nuvens de pó de carvão, dos peixes mortos no riacho e da ameaça representada por um reservatório de escória viscosa a alguns quilômetros acima da cidadezinha. Outras pequenas cidades na região sofrem o mesmo destino. "Aqui é uma zona de guerra", diz Julia, hoje diretora do grupo ambientalista Coal River Mountain Watch.
Em Alberta, no Canadá, um grupo de empresas está explorando imensos depósitos de areia betuminosa, extraindo uma substância parecida com melaço que pode ser transformada - por meio de procedimentos que requerem muita energia - em petróleo cru refinável. A extração e o processamento da areia betuminosa canadense resultam em mais de 1 milhão de barris de petróleo por dia, fazendo com que as exportações desse produto para os Estados Unidos sejam atualmente superiores às da Arábia Saudita.
Nas lavras de areia betuminosa são usados os maiores caminhões e tratores do planeta, que revolvem o terreno, multiplicam as crateras e abrem um conjunto de tanques de rejeitos que ocupa uma área superior a 130 quilômetros quadrados. No verão passado, as crianças de Fort Chipewyan, remoto vilarejo ocupado por índios crees e chipewyans e situado a jusante da área de exploração da areia, capturaram um peixe com duas mandíbulas. Os moradores desconfiam de que toxinas liberadas pelos rejeitos estejam por trás de um surto local de vários tipos de câncer.
A América do Norte, evidentemente, é responsável por apenas uma parte do custo global da energia. Na China, onde o setor de mineração de carvão emprega 3 milhões de pessoas, milhares de mineiros - muitos deles trabalhadores migrantes, forçados a arriscar a vida em troca de salário regular - morrem em inundações, incêndios, desmoronamentos e explosões nas minas a cada ano. Apesar do endurecimento do governo, as tragédias continuam a acontecer. As doenças respiratórias são corriqueiras, e as chuvas ácidas, resultantes da queima do carvão, vêm devastando as florestas e as áreas de cultivo no país. Ainda mais terrível é a situação no delta do rio Níger, na Nigéria, uma área rica em petróleo na qual os vazamentos de óleo, as chuvas ácidas e a frenética construção de canais e oleodutos destruíram um dos maiores manguezais do mundo. Em vez prosperidade, o surto petrolífero do país resultou em corrupção política e miséria.
Mas a corrida pelos combustíveis fósseis prossegue acelerada, em parte para satisfazer uma voracidade mundial por energia - e em parte porque oferecem às populações locais um irresistível pacto diabólico. Para muitos vilarejos isolados, o setor de mineração oferece tentações: graças aos tributos pagos por uma companhia de gás, os alunos de uma escola pública de Pinedale, em Wyoming, têm acesso a um centro recreativo que custou 20 milhões de dólares e a salas de aula equipadas com avançados equipamentos.
O trabalho nas minas e nos equipamentos de perfuração, embora arriscado, é bem pago. E muitos trabalhadores têm orgulho em cumprir tarefas perigosas, levar adiante tradições familiares ou comunitárias e prover um produto essencial a seus concidadãos. Às vezes, eles consideram as mudanças não como saída, mas como ameaça a seu modo de vida.
Mas as mudanças já estão ocorrendo, e algumas delas implicam em opções mais amenas. Sob uma nova lei do Colorado, até 2020 as principais companhias elétricas do estado devem obter de fontes renováveis um quinto de toda a energia que fornecem. Turbinas eólicas e painéis solares estão sendo instalados em fazendas e sítios do Colorado, e postos de trabalho em setores poluentes agora estão migrando para atividades menos agressivas ao meio ambiente. Na pequena cidade em que vivo, à beira da área de extração de gás, a antiga escola secundária ainda é usada para treino de segurança dos carvoeiros. Mas, a 1 quilômetro dali, em um campus recém-construído da Solar Energy International, uma organização sem fins lucrativos, especialistas em energia renovável orientam empreiteiros, eletricistas e ocasional trabalhador aposentado dos setores de petróleo e gás para que tirem proveito financeiro desse novo tipo de corrida energética.
A geologia continua influenciando o destino, mas não por muito tempo.
Revista National Geographic - Especial Energia
Pior que gasolina
MATT COLLINS
O carvão líquido seria duas vezes mais poluente que esse combustível
por Os editores
Os congressistas de ambos os partidos nos Estados Unidos, estão propondo emendas para o chamado projeto de lei da independência energética, que subsidiaria fortemente a indústria na produção do carvão líquido como substituto do petróleo estrangeiro. (O projeto de lei original tem como objetivo aumentar a eficácia dos combustíveis em carros e caminhões leves, incentivar a produção de biocombustíveis e fornecer fundos para o desenvolvimento tecnológico para captação das emissões do dióxido de carbono das usinas.)
O senador Jeff Bingaman, democrata do Novo México, era contrário a grandes subsídios para combustíveis derivados do carvão até meados de junho, quando decidiu oferecer até US$ 10 bilhões em empréstimos para usinas de carvão líquido. Ao mesmo tempo, o senador Barack Obama, do estado de Illinois (rico em carvão), mudou abruptamente sua defesa da produção de combustível derivado de carvão para se concentrar em outro projeto de lei para reduzir a emissão de gases de efeito estufa e o índice de carbono em combustíveis.
As mudanças de posição de Bingaman e de Obama salientam a tensão entre forças para reduzir a dependência do combustível estrangeiro e retardar o aquecimento global. O carvão líquido – produzido quando o carvão é convertido em combustível de meios de transporte – influenciaria timidamente nas mudanças climáticas, produziria gases de efeito estufa – que levam ao aquecimento global – duas vezes mais que a gasolina.
A tecnologia de conversão está bem estabelecida (os alemães a usaram durante a Segunda Guerra Mundial), e o carvão líquido pode ser usado em carros e caminhões a diesel, assim como em motores de jatos e navios. Os executivos da indústria do carvão afirmam que podem competir com a gasolina se os preços do óleo forem no mínimo de US$ 50 o barril. No entanto, o carvão líquido traz danos ambientais e econômicos. Em relação ao ambiente, as propriedades poluentes do carvão – que começam com a mineração e permanecem após a queima – e as grandes quantidades de energia necessárias para liquefazê-lo significam que o carvão líquido produz mais que o dobro das emissões da gasolina comum, e quase o dobro das produzidas pelo diesel comum. Como os especialistas afirmaram, dirigir um minicarro com carvão líquido polui tanto quanto guiar um carro grande com gasolina comum.
Uma tonelada de carvão produz somente dois barris de combustível. Além do CO2 emitido ao usá-lo, o processo de produção gera quase uma tonelada de CO2 para cada barril do combustível líquido. Ou seja, uma tonelada do carvão que entra é igual a duas toneladas de CO2 que saem. Os congressistas e os defensores da indústria das usinas de carvão líquido argumentam que as mesmas tecnologias que podem capturar as emissões das usinas de queima de carvão estarão disponíveis para o carvão líquido. Mas mesmo se o carbono liberado durante a produção, de algum modo, fosse capturado e seqüestrado – uma tecnologia que ainda permanece não-provada em qualquer escala significativa – alguns estudos indicam que o carvão líquido ainda liberaria 4% a 8% a mais de poluentes que a gasolina comum.
O carvão líquido também é uma escolha econômica ruim. Os congressistas dos estados produtores de carvão propõem que os contribuintes garantam bilhões de dólares em empréstimos para construção de fábricas, preços mínimos para o novo combustível e grandes compras pelo governo nos próximos 25 anos. Seu mantra é que os combustíveis derivados do carvão são mais americanos que a gasolina . Mas não existe nenhuma usina de carvão líquido no país. Pesquisas do Massachusetts Institute of Technology estimam um gasto de US$ 70 bilhões para a construção de usinas em número suficiente para substituir 10% do consumo americano de gasolina. Especialistas em energia preocupam-se com a possibilidade de a escala dos incentivos levar a uma repetição do esforço desastroso para firmar uma indústria de combustíveis sintéticos, 30 anos atrás.
O país gastaria bilhões em empréstimos, incentivos de impostos e garantias de preço em uma tecnologia que produz mais gases do efeito estufa que a gasolina. Isso é inaceitável em um momento em que cientistas do mundo inteiro advertem sobre a necessidade dos cortes na emissão de gases, pelo menos em 60%, para prevenir as conseqüências do aquecimento global. Em vez de gastar bilhões para subsidiar uma indústria de poluentes, deveríamos investir na eficiência e nas tecnologias da energia renovável que podem nos ajudar a conter o aquecimento global hoje.
Scientific American Brasil
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