O mundo sem petróleo
Encontrá-lo está cada vez mais difícil; extraí-lo do fundo da terra ou do mar, caro e trabalhoso. Chegou a hora de pensar seriamente em substitutos, pois as reservas duram no máximo 70 anos.
David G. Howell, Kenneth J. Bird e Donald L. Gautier
No final da década de 50, quando os geólogos apresentaram a revolucionária teoria das placas tectônicas, já havia sido encontrada a metade de todo o petróleo existente na Terra que o homem poderá utilizar. Foi fácil descobri-lo. Hoje em dia, no entanto, a sua exploração concentra-se em depósitos localizados em pontos menos evidentes, e encontrá-los requer um esforço cada vez maior. A nova teoria, que apresenta a camada externa da Terra com uma espessura entre 50 e 150 quilômetros, dividida em placas que se movimentam vagarosa, mas incessantemente, acabou se tornando um providencial facilitador desse trabalho. A compreensão das condições geológicas torna mais fácil descobrir onde o petróleo se encontra; e, mais importante, ajuda também a saber onde ele não se encontra. Dessa forma, os geólogos especializados nessas pesquisas podem fazer estimativas mais confiáveis do total das reservas com as quais o homem poderá contar, no futuro. O resultado não é o anúncio de uma catástrofe iminente, mas um claro aviso de que chegou a hora de começar o planejamento de um mundo sem petróleo — na melhor das hipóteses, as reservas resistem até meados do próximo século.
Não foi à toa que o petróleo se tornou motivo de guerras e revoluções, fonte de riquezas e de degradação ambiental. Desbancando o carvão, ele logo se tornou o principal combustível que mantém em movimento a sociedade industrial moderna, com suas fábricas, cidades feericamente iluminadas, e cada vez maiores frotas de navios, aviões e automóveis correndo de um lado para outro. Descrito sumariamente, ele é uma substância, quase sempre em estado líquido, constituída de cadeias de átomos de carbono e hidrogênio. Forma-se na natureza por meio da separação de moléculas orgânicas comuns, citadas na maioria dos rótulos de alimentos que compramos no supermercado: ácidos graxos, carboidratos, açúcares, proteínas. Qualquer forma de vida pode fornecer estes ingredientes para a sua formação, mas o fitoplâncton — planta unicelular aquática — é de longe a fonte mais abundante.
Para que o petróleo se forme, é necessário que o fitoplâncton fique enterrado sob espessas camadas de rocha, com muito calor. As moléculas de ácidos graxos e de substâncias semelhantes são robustas, e podem permanecer inalteradas na rocha por milhões de anos. O calor do planeta, contudo, consegue acelerar seus átomos e romper suas ligações químicas, permitindo a transformação. A temperatura da camada externa da crosta terrestre aumenta cerca de 1 grau a cada 30 metros de profundidade. A cerca de 3 000 metros ela já é suficientemente alta para dar início à transformação das substâncias químicas orgânicas originárias do fitoplâncton. Não muito mais abaixo, contudo, a temperatura atinge níveis tão altos que as próprias moléculas do petróleo começam a se separar.
Para encontrar as reservas, entretanto, não basta procurar em locais onde sedimentos ricos em matéria orgânica jazem a cerca de 3 000 metros de profundidade. Em sua fase inicial de formação, o petróleo constitui-se de gotículas dispersas cuja exploração é inviável. Ele só será aproveitável quando essas gotículas se juntarem em enormes volumes. À medida que a pressão aumenta, o óleo é “espremido” para fora da formação rochosa. Como naquelas profundidades não existem grande buracos ou túneis através dos quais possam se movimentar, as gotículas escoam por uma rede de poros e fissuras microscópicas. Quanto maiores as aberturas, mais facilmente o petróleo viaja, mas o ritmo do movimento é sempre arrastadamente vagaroso, e pode ser medido em poucos centímetros ao ano.
Como ele é mais leve do que a rocha e a água que ali existem, consegue elevar-se airosamente à superfície, ou movimentar-se lateralmente em direção aos pontos de menor pressão, até ficar preso sob uma camada de rocha impenetrável. Se a camada abaixo dessa “tampa” for extremamente porosa, pode funcionar como uma esponja e encharcar-se de petróleo. Somente quando chega a uma estrutura geológica desse tipo ele se torna um recurso útil para os interesses humanos. Rochas subterrâneas em muitas configurações diferentes podem armazenar petróleo; mas quase tudo que se conseguiu explorar, até hoje, estava em formações curvas ou em forma de cúpula, chamadas anticlíneos, no jargão geológico.
Gerações de geólogos dedicados à pesquisa de reservas petrolíferas utilizaram mapeamentos geológicos de superfície e sondagens sísmicas para procurar esses anticlíneos. E aí o conhecimento da teoria das placas tectônicas foi providencial: elas explicam como esses anticlíneos estão distribuídos. As placas terrestres movimentam-se na mesma rapidez em que crescem as unhas dos nossos dedos, mas seus efeitos são suficientemente poderosos para provocar grandes terremotos e dar origem a vulcões e cordilheiras. As cúpulas e anticlíneos costumam ocorrer nos pontos em que as forças tectônicas espremem a crosta terrestre, em regiões onde tenha acontecido uma colisão de continentes ou onde a crosta oceânica esteja se movimentando em direção ao continente, ou ainda onde os continentes estejam se esticando em direções contrárias. Quando as camadas horizontais de rocha são puxadas ao longo de uma falha diagonal, algumas delas podem perder o apoio e desabar, tomando a forma de um arco.
A maioria dos depósitos está associada às áreas para onde convergem as placas. As enormes reservas do Oriente Médio encontram-se perto da zona de colisão entre as placas árabe e eurasiana. O petróleo ao norte da Cordilheira Brooks, no Alasca, e a leste dos Montes Urais, na Rússia, resulta da convergência de placas da crosta terrestre. Conhecer a teoria das placas tectônicas permite prever que podemos descobrir novos depósitos nos contrafortes da Cordilheira dos Andes na América do Sul, do lado continental, e nas bacias interiores da China.
A maior parte do petróleo restante se encontra nas áreas em que as placas se fenderam e se afastaram umas das outras. Os campos petrolíferos ao longo das costas brasileira e nigeriana do Oceano Atlântico, entre a Bretanha e a Noruega no Mar do Norte, ou ao largo da costa da Líbia no Mediterrâneo, são todos resultado de fendas continentais. Anticlíneos e outros ambientes favoráveis à formação de petróleo também podem se formar em regiões em que as placas deslizam umas por cima das outras, como ocorre na Falha de San Andreas, na Califórnia, mas essas ocorrências são raras.
A última descoberta de grandes depósitos de petróleo com certeza ainda não se realizou. Mas também é certo que o consumimos muito mais depressa do que ele consegue se formar e se acumular. Nosso suprimento se formou em unidades de tempo geológico — milênios, eras, éons — mas está sendo consumido em unidades de tempo humano — séculos, décadas, anos. Desde que as economias ocidentais começaram a depender sobretudo dele para a produção de energia e transporte, a humanidade passou a indagar quanto petróleo ainda existe. O futuro da civilização depende da resposta.
Mesmo com o auxílio da teoria das placas tectônicas, é impossível fazer esse cálculo com precisão. Há três componentes no suprimento mundial que precisam ser considerados. O primeiro é a produção — o petróleo que foi e está sendo extraído. O segundo são as reservas — o petróleo que está disponível e pode ser eficientemente extraído. O terceiro são as reservas ainda por descobrir, geralmente chamadas “recursos potenciais”. A estimativa das reservas mundiais conhecidas mal atinge a marca de 1 trilhão de barris. Até 1990, foram produzidos e consumidos 650 bilhões de barris; sabemos da existência de outros 950 bilhões em campos já descobertos, porém não explorados; supõe-se que outros 500 bilhões estejam à espera de serem descobertos.
Assim, o total do que já foi consumido, do que sabemos existir e da melhor estimativa para o que ainda está por ser encontrado mal atinge a casa dos 2 trilhões de barris de produto aproveitável. Esses números não são tão grandes quanto parecem. Os campos que estamos descobrindo são cada vez menores e o trabalho de perfuração necessário para sua exploração fica cada vez mais árduo e caro. Desde a década de 60, os Estados Unidos consomem mais petróleo do que produzem; esse déficit cresceu nos últimos trinta anos, a despeito de níveis de perfuração jamais atingidos. No final da década de 80, o país já importava mais do que produzia.
À taxa atual de consumo mundial de 20 bilhões de barris por ano, teríamos setenta anos de petróleo abundante. É provável que o consumo aumente à medida que os países em desenvolvimento atinjam padrões de vida mais altos. É difícil prever o que acontecerá, em termos sociais, políticos e econômicos, quando nos aproximarmos da última gota do produto — mas não é difícil imaginar, para quem conhece o passado de turbulências, guerras e conflitos que sempre envolveu sua posse e sua exploração. Precisamos aproveitar as reservas existentes para um prudente e meticuloso planejamento do futuro — um futuro sem petróleo.
Mil e uma utilidades
Petróleo existe na Terra nos estados sólido, líquido e gasoso — mas só o líquido tem merecido o direito ao uso do nome e o reconhecimento como grande benfeitor da humanidade (embora o gás já esteja ameaçando tomar-lhe a dianteira). Era conhecido e usado pelos povos mais antigos, sobretudo na forma de betume, que servia para muitas coisas, entre as quais construir estradas e calafetar embarcações. Ganhou importância no mundo moderno quando substituiu o óleo de baleia na iluminação pública das cidades eu-ropéias. Até então, aproveitava-se o petróleo que aflorava espontaneamente à flor da terra; o primeiro poço perfurado para extraí-lo foi obra do americano Edwin L. Drake, em Titusville, Pensilvânia, nos Estados Unidos, em 1859. Logo ele estava sendo extraído em toda parte — e a invenção do automóvel elevou-o à condição de mais importante fonte de energia da sociedade moderna.
Mas o petróleo serve para muito mais coisas do que simplesmente produzir gasolina. Refinado, ele se transforma também em querosene, óleo diesel, óleo lubrificante, solventes, tintas, asfalto, plásticos, borracha sintética, fibras, produtos de limpeza, gelatinas, remédios, explosivos e fertilizantes. Ao longo da História, produziu também incontáveis guerras, invasões, disputas territoriais, golpes de Estado, revoluções, cismas políticos. O Oriente Médio, os Estados Unidos e os territórios da antiga União So-viética são os maiores produtores — e os dois últimos igualmente os maiores consumidores.
Parentes próximos, mas inaproveitáveis
Além do petróleo convencional, disponível em campos que podem ser explorados pela simples perfuração de poços, há outros tipos que dependem de estudos, pesquisas e desenvolvimento tecnológico para serem utilizados. Por exemplo, o petróleo extrapesado do cinturão do Orinoco, na Venezuela, as areias de alcatrão de Athabasca, no oeste do Canadá, e os reservatórios de petróleo gelado e viscoso do Declive Norte do Alasca. O óleo da argila xistosa também é um recurso potencial, embora ainda não possa ser considerado verdadeiro petróleo — é uma rocha sedimentária rica em substâncias orgânicas que ainda não “ficou no forno” o tempo suficiente para chegar ao ponto. Podemos aquecê-la num forno de verdade e acelerar o processo, mas custaria quase três vezes mais do que a exploração de poços comuns. Uma coisa é certa: esses recursos não convencionais poderão se tornar importantes, no futuro, mas continuam cercados por incertezas econômicas e científicas. O mais certo é acreditar que eles jamais chegarão a ser aproveitados em larga escala.
Tudo o que você queria saber sobre pré-sal
Willian Vieira e Maurício Horta
De onde vem o pré-sal?
Há 130 milhões de anos a América do Sul e a África começavam a se separar fisicamente. E, na rachadura entre os dois continentes, um caldo de matéria orgânica foi se acumulando. Enterrado então por uma imensa camada de sal e por sedimentos, esse cemitério de plâncton cretáceo se tornaria o novo passe para o "país do futuro".
Esse óleo é bom?
O petróleo do pré-sal não é dos melhores, mas ainda assim é bem superior ao do pós-sal. Hoje, 70% dele é do tipo "pesado". Ou seja, tem enormes cadeias de carbono em sua composição. Para virar produtos de alto valor, como diesel, gasolina e lubrificantes, essas moléculas precisam ser quebradas em outras menores. Mas, como isso encarece muito o refino, ele acaba valendo bem menos. Já o pré-sal tem petróleo de densidade média - mais fácil de refinar, e mais valioso. Essa diferença de qualidade acontece por causa das temperaturas nas profundezas do pré-sal. O calor de 150 ºC não permitiu proliferar as bactérias que no pós-sal comeram as frações mais leves do óleo.
1. RACHA TECTÔNICO
Há 600 milhões de ano, o mundo era dividido em dois supercontinentes: a Laurásia e Gondwana. Mas os movimentos de placas tectônicas começaram a separá-los. Gondwana perdeu a Austrália, a Índia, a Arábia... e, há 130 milhões de anos, foi a vez de uma fenda separar a África da América do Sul.
2. LAGO DANTESCO
As regiões onde se formariam as bacias de Campos e de Santos foram varridas por terremotos, cheias de rios, desmoronamentos e tempestades. A cada catástrofe, enormes fluxos de sedimentos se depositaram no fundo da fenda. Assim se criou um lago estreito de água salobra de 800 km de comprimento.
3. ENSOPADO ORGÂNICO
Esse lago virou um enorme pântano rico em plâncton - organismos como bactérias e crustáceos microscópicos. Conforme essa matéria orgânica se depositava, ela se misturava a finas partículas de argila, areia, calcário e conchas. Formou-se então a rocha porosa em que o petróleo está armazenado.
4. O SAL DO PRÉ
Mas a atividade tectônica não parou por aí. Com o afastamento dos continentes, as águas do oceano passaram a invadir o lago, formando um mar longo e estreito. Assim que a água salgada evaporava, acumulava uma camada de sal no leito do mar. Com o tempo, o sal atingiu 2 mil m de profundidade.
5. HABEMUS OLEUM!
O mar continuou se alargando e formou o Atlântico Sul. Com o calor e sob a pressão da água, do leito oceânico, do sal e de rochas, a matéria orgânica virou petróleo nos últimos 20 milhões de anos.
Quais os desafios para extraí-lo?
ILHAS FLUTUANTES
As plataformas serão como navios ancorados a 3 km do leito do mar. Cada uma terá até 200 funcionários, que virão em super-helicópteros capazes de vencer distâncias para aviões: 300 km em 80 minutos.
FURA, FURA, FURA
Ainda não se sabe como as sondas vão vencer 2 km de sedimentos e 2 km de sal, que se comporta como uma massa plástica e impermeável teimosa.
DUTOS PODEROSOS
Para escoar o óleo, será necessário desenvolver dutos que aguentem pressões de 400 atmosferas, gases corrosivos, altas temperaturas e grandes trações (a plataforma fica balançando). E a um custo baixo.
ANTICHOQUE TÉRMICO
O óleo sai de 150 ºC lá de baixo do sal e chega a 4 ºC na lâmina d’água - e nesse resfriamento ele pode coagular e entupir os dutos. Falta ainda achar uma solução química para impedir essa formação de cristais.
GÁS, O PRESENTE MALDITO
Junto com o petróleo vem de brinde o gás natural. Maravilha? Não. Para transportar o gás, é necessário um caro gasoduto oceânico de 300 km ou liquefazê-lo na plataforma - processo que desperdiça energia.
Qual o tamanho da coisa?
Ninguém sabe. Mas as estimativas da Agência Nacional do Petróleo é de que, com o pré-sal, o Brasil tenha 50 bilhões de barris de petróleo, só nas áreas prospectadas. E, se depender de anúncios mirabolantes do Ministério de Minas e Energia, esse número pode atingir 150 bilhões de barris. Se for verdade, o Brasil ultrapassará o Irã como a 3ª maior reserva do mundo.
Na fileira da frente
Empresas com maior valor de mercado do mundo, em US$ bilhões.
Reservas brasileiras estimadas
QUEM VAI PAGAR A CONTA?
Os acionistas da Petrobras - incluindo o maior deles, o governo brasileiro. A Petrobras vinha emprestando grana para fazer seus imensos investimentos. Só que a dívida bateu em 34% de todo seu patrimônio. Com a corda no pescoço, não podia mais emprestar - o que ameaçou seus planos de investir mais US$ 224 bilhões até 2014. Só sobrava uma opção: criar novas ações e ver se investidores se interessariam. Deu certo. No dia 30 de setembro, a Petrobras ficou um Iraque inteiro mais rica e pulou de 21ª para 4ª maior empresa do mundo. Foi a capitalização da Petrobras - a maior da história.
Mas aí há um probleminha. Quando uma empresa emite ações, os papéis que os acionistas possuíam passam a representar uma porcentagem menor do novo total. E tudo o que o governo não queria é perder espaço na mais estratégica empresa do país. Ele foi então às compras. Sem poder tirar dinheiro da cartola, ele usou outra moeda: petróleo do pré-sal. Cedeu à Petrobras 5 bilhões de barris ainda debaixo da terra, e, em troca, aumentou sua participação de 40 para 48% das ações. Por seu lado, a Petrobras pagou US$ 8,51 por barril. Quando a empresa extraí-lo, vai valer mais - hoje, passa de US$ 80. Mesmo assim, isso custou à estatal R$ 74,88 bilhões, grana em parte emprestada do BNDES, por sua vez vinda da emissão de títulos do Tesouro. Ou seja, o governo pagou parte da conta.
E os tais royalties?
Se você encontrou petróleo ao fazer um buraco no quintal, não, não ficou rico. O que jorrar é da União. Para ter direito de explorá-lo, vale a mesma regra de gravar a música de outra pessoa: tem que pagar royalties. Hoje, 30% dos royalties vão para a União, 26,25% para estados produtores, 26,25% para municípios produtores, 8,75% para municípios atingidos pelo transporte do petróleo e 8,75% para demais estados e municípios. O argumento para essa divisão é que os royalties servem para compensar estados e municípios produtores com o que gastarem em infraestrutura, e compensar possíveis danos ambientais. Mas quem não mama chora: deputados de estados não produtores propuseram distribuir os royalties para todos - o que tiraria R$ 8 bilhões do Rio. Isso, claro, engatilhou uma guerra entre estados. O Congresso já aprovou a mudança, mas até o fechamento desta edição o então presidente Lula disse que a vetaria.
Como vão partilhar o tesouro?
DO VALE-TUDO...
1. Em 1997, FHC acabou com o monopólio da Petrobras; pode explorar óleo a empresa que comprar uma concessão.
2. Esse sistema parece uma mamata, mas não é bem assim: no pós-sal, o risco de investir horrores em prospecção e não achar nada de petróleo é alto.
3. Quem assumir esse risco faz o que bem entender com o óleo que achar, desde que pague royalties ao governo.
...À MÃO DO ESTADO
1. Como o risco de não ver óleo no pré-sal é baixo, o governo mudou a regra: licita um campo, que vai para quem oferecer mais lucro à União.
2. O contrato pode ser exclusivamente com a Petrobras. Se houver a participação de outras petroleiras, a estatal fica com a operação e uma participação de pelo menos 30% do consórcio.
3. Mesmo depois de extraído, o petróleo ainda pertence à União.
O que vão fazer com a grana?
Soa estranho, mas o melhor é tirar o dinheiro do Brasil. A exportação de petróleo inundaria o país de dólares, o que explodiria o valor do real. Ficaria então mais barato comprar produtos importados que os daqui. Isso levaria a indústria nacional para a cucuia e aumentaria o desemprego. O pré-sal seria então gasto para remediar problemas sociais que ele mesmo criou. É a doença holandesa - maldição batizada assim quando a exportação de gás na Holanda minou sua economia nos anos 70. Para se livrar dessa, o Brasil vai criar o "Fundo Social". Veja como será.
Vacina antidoença holandesa
Um fundão vai evitar a invasão de moeda estrangeira.
1. A parte da receita do pré-sal que cabe à União vai para o Fundo Social - uma poupança pública de longo prazo. A ideia é que esse fundo deposite grana fora do Brasil, o que compensaria a entrada de dólar vindo do petróleo.
2. O Fundo Social vai investir em títulos de governos estrangeiros, que têm baixo risco, e em ações de empresas fora do setor petrolífero. Assim, o fundo servirá de "colchão" quando o petróleo estiver em baixa.
3. Enquanto essa "poupança" deve continuar guardadinha, o governo deve sacar apenas seus rendimentos. Com essa grana, promete investir em tecnologia, educação, saúde, ambiente e combate à pobreza.
Pode dar tudo errado?
Sim, mas é pouco provável. Para a maioria dos países, o petróleo foi uma maldição. Felizmente a balança no Brasil pende para o lado bom
O pré-sal te dá asas
Sempre que o Brasil cresce, vira voo de galinha: o baixo investimento cria "gargalos" na economia. Mas o pré-sal aumentará esse investimento, o que pode sustentar o crescimento. Compare a porcentagem de investimentos no PIB de outros Brics.
Somos de fato autossuficientes?
Ainda não. Embora o Brasil extraia mais petróleo do que consome, o cálculo engana. Como parte das refinarias brasileiras foi construída nos anos 70 para o petróleo leve importado do Oriente Médio, não conseguimos refinar todo o nosso óleo pesado. E aí o que fazemos é como exportar laranja e importar suco. Mas 5 novas refinarias vão dar conta do mercado interno - e externo.
Na Arábia Saudita, o petróleo financia uma monarquia autoritária. Na Nigéria, alimenta conflitos étnico-religiosos. Na Venezuela, domina a economia ao ponto de a PDVSA, a "Petrobras" deles, virar um Estado dentro do Estado, e outro setores econômicos acabarem aniquilados. Mas é pouco provável que isso aconteça no Brasil. O país já era uma democracia estabelecida quando achou as megarreservas; sua economia é sólida e diversificada: apenas 8% do PIB vem do petróleo, contra 80% na Venezuela. E o Fundo Social deve evitar a doença holandesa.
Mas há margem para receio. O peso do setor do petróleo na economia aumenta sem parar - de 2,8% em 1996 foi para 8,1% em 2004, e a Petrobras mais que dobrou de tamanho. Isso antes de o pré-sal ser encontrado. Com o Estado controlando grande parte do setor, "o maior risco é o país não ter instituições fortes que impeçam a apropriação errônea desses recursos por grupos de poder", diz Maurício Canêdo , da FGV.
Brasilzão
• Fundo Social (FS) evita que o real se valorize demais ao aplicar receita do petróleo no exterior.
• Investimento do FS em educação e tecnologia torna o Brasil polo de inovação e criatividade.
• Indústrias naval, petroquímica, siderúrgica e petroleira de nível global, pois não foram protegidas da competição estrangeira.
• Brasil vira a 5ª maior economia do mundo em 2025.
Brasilistão
• 11,52% do PIB se concentram nas mãos da Petrobras.
• Esses recursos são apropriados por grupos de poder.
• Política protecionista alimenta uma indústria ineficiente e sem competitividade.
• Terminados os investimentos da exploração do pré-sal, essa indústria desaparece.
• Brasil continua esperando ser o país do futuro.
O que o petróleo trouxe em outros países?
Bem-estar social - Noruega
Exportação de petróleo - 1°
IDH - 4°
Índice de democracia - 5°
Recebeu de fato um bilhete premiado ao descobrir petróleo nos anos 60. Ainda que o setor petrolífero represente um quarto do PIB, um fundo soberano imunizou o país contra a doença holandesa - ele serve de colchão em crises e só rendimentos são gastos. A indústria não foi protegida por reservas de mercado, e se manteve competitiva.
RIQUEZA - Emirados Árabes Unidos
Exportação de petróleo - 3°
IDH - 32°
Índice de democracia - 150°
A descoberta de jazidas em 1958 transformou esses emirados atrasados em um dos maiores centros financeiros mundiais. Um dos ingredientes é o fundo soberano de Abu Dabi: US$ 627 bilhões acumulados desde 1976. Com seus rendimentos, o governo diversifica a economia local para quando o óleo acabar.
POPULISMO - Venezuela
Exportação de petróleo - 10°
IDH - 75°
Índice de democracia - 93°
Antes de Hugo Chávez, o petróleo concentrava renda. Depois, dele, concentrou poder no Estado. Com os lucros da estatal PDVSA, que detém 80% do PIB, Chávez financia o "socialismo do século 21": projetos sociais populistas, nacionalização da economia, expropriação de negócios e mudança na Constituição para se reeleger eternamente.
DITADURA - Arábia Saudita
Exportação de petróleo - 1°
IDH - 55°
Índice de democracia - 159°
A dona de um quarto do petróleo do mundo é uma monarquia conservadora que proíbe partidos políticos, torra 10% do PIB em gastos militares e financia extremistas islâmicos. O petróleo é responsável por 75% da economia, e a mistura de religião e dinheiro da estatal Saudi Aramco impossibilita qualquer mudança rumo à democracia.
TEOCRACIA - Irã
Exportação de petróleo - 8°
IDH - 70°
Índice de democracia - 139°
É governado por presidentes eleitos de forma desacreditada e por um conselho religioso conservador. O petróleo traz 80% do orçamento do governo, que subsidia desde o pão até a gasolina, alimenta um programa nuclear e financia grupos paramilitares no Oriente Médio. A indústria local é ineficiente e o desemprego, altíssimo.
CAOS - NigériA
Exportação de petróleo - 7°
IDH - 142°
Índice de democracia - 124°
O petróleo alimenta sangrentas disputas religiosas e étnicas e beneficia grupos ligados ao governo, mergulhado em corrupção. Aliados têm apoio para explorar jazidas sem investir em estrutura. O resultado é que, nos últimos 50 anos, já vazaram mais de 546 milhões de litros de petróleo por falta de estrutura ou por sabotagem política.
Onde vão surgir empregos?
INDÚSTRIA QUÍMICA (Nordeste e RJ)
ESTALEIROS (PE, CE, AL, BA, RJ, RS)
Em 2010 a indústria naval brasileira lançou ao mar o primeiro navio nacional em 13 anos. E a coisa vai estourar: por enquanto a Petrobras já encomendou 146 embarcações, com exigência de pelo menos 80% de conteúdo nacional - a US$ 5 bilhões. Isso sem contar plataformas - não se sabe quantas a Petrobras encomendará.
OUTRAS INDÚSTRIAS
A exploração do pré-sal tem trazido encomendas de equipamentos como helicópteros, submarinos, robôs, tudo mais ou menos made in Brazil, na marra. Isso pode trazer para cá centros de pesquisas tecnológicas de empresas estrangeiras - como a GE, que deve fazer no Rio seu 5º centro de pesquisas mundial, por US$ 150 milhões. Ele deve ter 300 funcionários, a maioria doutores.
EDUCAÇÃO, A VENCEDORA
Até 2012 a Petrobras quer contratar 207 mil profissionais. Para dar conta desse tsunami petroleiro, cerca de 100 novos cursos superiores voltados ao petróleo já pipocaram nos últimos dois anos, a maioria para tecnólogos. Mas o que mais falta é engenheiro: o déficit em 2012 será de 150 mil profissionais. Ainda assim, apenas 1 em cada 800 vestibulandos escolheram engenharia. E você? Vai perder essa?
Revista Superinteressante
Notícias Geografia Hoje
Petrobras anuncia jazida de petróleo e gás na AmazôniaRio de Janeiro, 3 fev (EFE).- A Petrobras anunciou nesta sexta-feira a descoberta de uma jazida de petróleo e gás natural na Bacia do Solimões, na região amazônica.
Segundo um comunicado da empresa, a reserva de hidrocarbonetos foi descoberta durante a perfuração do poço conhecido como Leste do Igarapé Chibata, no município de Coari, a 25 quilômetros da província petrolífera de Urucu e com uma profundidade final de 3.295 metros.
Os testes indicaram uma capacidade diária de produção de 1.400 barris de boa qualidade e 45 mil metros cúbicos de gás, precisou a Petrobras.
A companhia indicou que, se existir 'viabilidade econômica' para a exploração a partir das descobertas nessa zona, será 'criado um novo polo produtor de petróleo e gás natural na Bacia do Solimões'.Revista Veja
Segundo um comunicado da empresa, a reserva de hidrocarbonetos foi descoberta durante a perfuração do poço conhecido como Leste do Igarapé Chibata, no município de Coari, a 25 quilômetros da província petrolífera de Urucu e com uma profundidade final de 3.295 metros.
Os testes indicaram uma capacidade diária de produção de 1.400 barris de boa qualidade e 45 mil metros cúbicos de gás, precisou a Petrobras.
A companhia indicou que, se existir 'viabilidade econômica' para a exploração a partir das descobertas nessa zona, será 'criado um novo polo produtor de petróleo e gás natural na Bacia do Solimões'.Revista Veja
Israel - Terra de leite, mel e petróleo
Israel possui uma das maiores reservas de xisto betuminoso da Terra, e a quantidade de petróleo extraível do querogênio existente nessas rochas praticamente rivaliza com a da Arábia Saudita. O país pode conquistar a independência energética e mudar o xadrez político do Oriente Médio. Mas o custo ambiental é alto.
Eduardo Araia
Eduardo Araia
Uma piada popular entre os israelenses começa com a pergunta: por que Moisés demorou 40 anos para levar os judeus do Egito a Israel? Resposta: porque estava procurando o único lugar no Oriente Médio que não tinha petróleo nem gás. Pela via cômica revela-se uma das grandes vulnerabilidades de Israel, país com recursos energéticos nulos, enquanto a maioria das nações que o cercam nadam em petróleo. A dependência externa em relação ao combustível fóssil (praticamente 100%) e ao gás natural (70%), em meio a vizinhos no mínimo pouco dispostos a ajudá-lo, constitui há décadas um obstáculo logístico para lá de complicado. Esse quadro pode mudar radicalmente.
A sorte da bíblica "terra que mana leite e mel" no setor de hidrocarbonetos começou a virar em 2009, ano da descoberta de um grande campo de gás natural na costa do Mediterrâneo, denominado Tamar, com reservas estimadas em 240 bilhões de metros cúbicos. No ano seguinte veio uma nova surpresa agradável: outro campo no litoral, Leviathan, com reservas em torno de 450 bilhões de m³. Com entrada em operação comercial prevista respectivamente para 2012 e 2015, Tamar e Leviathan devem suprir todas as necessidades de gás de Israel por 50 anos.
Na verdade, as boas notícias estavam só começando. Enquanto as sondagens eram feitas, a empresa Israel Energy Initiatives (IEI), subsidiária da companhia de telecomunicações norte-americana IDT, aprofundava suas pesquisas sobre outra possibilidade: xisto betuminoso. No início da década de 1980, um estudo do Serviço Geológico de Israel havia assinalado que o país pode conter um dos maiores depósitos do mundo de xisto, com boas quantidades de querogênio, um complexo orgânico que contém petróleo.
A sorte da bíblica "terra que mana leite e mel" no setor de hidrocarbonetos começou a virar em 2009, ano da descoberta de um grande campo de gás natural na costa do Mediterrâneo, denominado Tamar, com reservas estimadas em 240 bilhões de metros cúbicos. No ano seguinte veio uma nova surpresa agradável: outro campo no litoral, Leviathan, com reservas em torno de 450 bilhões de m³. Com entrada em operação comercial prevista respectivamente para 2012 e 2015, Tamar e Leviathan devem suprir todas as necessidades de gás de Israel por 50 anos.
Na verdade, as boas notícias estavam só começando. Enquanto as sondagens eram feitas, a empresa Israel Energy Initiatives (IEI), subsidiária da companhia de telecomunicações norte-americana IDT, aprofundava suas pesquisas sobre outra possibilidade: xisto betuminoso. No início da década de 1980, um estudo do Serviço Geológico de Israel havia assinalado que o país pode conter um dos maiores depósitos do mundo de xisto, com boas quantidades de querogênio, um complexo orgânico que contém petróleo.
A IEI começou em 2009 a fazer perfurações numa área de 238 km² que obteve em licenciamento e, por enquanto, os resultados que obteve batem com "as mais altas expectativas" da empresa. As avaliações reforçam projeções de geólogos da IEI de que os depósitos de xisto betuminoso de Israel podem colocar o país numa posição proeminente entre os grandes produtores de petróleo do mundo.
"Numa estimativa conservadora, cerca de 250 bilhões de barris de petróleo estão contidos no xisto israelense - provavelmente o segundo ou terceiro maior depósito de todo o mundo", afirma o físico Harold Vinegar, cientista-chefe da IEI. "A Arábia Saudita (maior produtora global de petróleo) possui reservas de 260 bilhões de barris. Poucas pessoas perceberam que a indústria petrolífera aqui tem um tremendo potencial."
Vinegar merece ser levado a sério. Ex-funcionário da gigante anglo-holandesa Shell, onde trabalhou por 30 anos e foi cientista-chefe, participou ativamente da pesquisa da empresa com xisto betuminoso no supercampo da Bacia de Piceance, no Colorado (Estados Unidos). Ali se estima haver cerca de 800 bilhões de barris de petróleo recuperável, a uma profundidade média de 300 metros. A Shell ainda não extraiu petróleo do xisto do Colorado em bases comerciais, sobretudo por um problema ambiental - o principal aquífero da região de Piceance passa através do depósito de xisto. Mas foi ali que Vinegar desenvolveu uma técnica para baratear o custo da operação que está prestes a ser posta em prática (ver quadro a seguir).
Como tirar óleo de pedra
Extrair petróleo de xisto betuminoso é uma atividade cara e poluente. O método tradicional é o da mineração a céu aberto, cuja viabilidade econômica aumenta se a rocha estiver próxima da superfície. O xisto retirado é então aquecido entre 450°C e 500°C, para que o querogênio nele contido se converta em petróleo leve, de boa qualidade. O custo final do barril obtido por esse processo varia entre US$ 70 e US$ 100 - muito alto, numa época em que o preço do barril em Nova York ronda US$ 85.
Harold Vinegar afirma ter uma alternativa mais vantajosa, que desenvolveu para a Shell dos Estados Unidos. Ela envolve aquecedores horizontais que, colocados nos veios, trabalham a altas temperaturas, sem variações, durante meses. Com o calor liberado, as rochas circundantes levam três anos para transformar querogênio em petróleo, que pode ser bombeado para a superfície.
No projeto da IEI, os aquecedores seriam inicialmente alimentados por eletricidade obtida a partir do gás, abundante e barato nessas áreas, além de emitir quantidades relativamente baixas de gás carbônico. Depois, os aparelhos seriam substituídos por barras de sal fundido, igualmente caloríficas, uma tecnologia mais eficiente já empregada no subsolo de fábricas de produtos químicos e usinas de energia solar. Vinegar calcula que o barril de petróleo extraído dessa forma poderia custar até US$ 35.
Depois de se aposentar na Shell em 2008, Vinegar e sua mulher decidiram se mudar para Israel, onde ele pretendia lecionar. Mas o geólogo-chefe da IEI, Yuval Bartov, que o conhecia dos tempos do Colorado, tinha outros planos. Bartov convenceu o presidente da IDT, Howard Jonas, de que Vinegar era essencial para o projeto do xisto israelense e não demorou para o físico se juntar ao grupo.
Bartov e Vinegar concentram esforços numa área central de Israel, Adullam, onde o Serviço Geológico já havia identificado um veio de xisto betuminoso na década de 1980. Como a camada de rochas estava a cerca de 300 metros de profundidade, não interessou, na época. Vinegar e Bartov, porém, haviam trabalhado com essa mesma profundidade no Colorado e não a consideravam um obstáculo intransponível.
Os bons resultados das pesquisas têm mobilizado muita gente. Por um lado, a IDT, controladora da IEI, viu o preço de suas ações - que haviam baixado a US$ 0,66 na crise de 2008 - subir estratosfericamente para US$ 30 em meados deste ano. A companhia tem atraído investidores pesos-pesados, como o dono da News Corp., Rupert Murdoch, o financista britânico Jacob Rothschild, o ex-vice-presidente norte-americano Dick Cheney e o bilionário administrador de fundos Michael Steinhardt - que, aliás, é o atual presidente da IEI.
"Numa estimativa conservadora, cerca de 250 bilhões de barris de petróleo estão contidos no xisto israelense - provavelmente o segundo ou terceiro maior depósito de todo o mundo", afirma o físico Harold Vinegar, cientista-chefe da IEI. "A Arábia Saudita (maior produtora global de petróleo) possui reservas de 260 bilhões de barris. Poucas pessoas perceberam que a indústria petrolífera aqui tem um tremendo potencial."
Vinegar merece ser levado a sério. Ex-funcionário da gigante anglo-holandesa Shell, onde trabalhou por 30 anos e foi cientista-chefe, participou ativamente da pesquisa da empresa com xisto betuminoso no supercampo da Bacia de Piceance, no Colorado (Estados Unidos). Ali se estima haver cerca de 800 bilhões de barris de petróleo recuperável, a uma profundidade média de 300 metros. A Shell ainda não extraiu petróleo do xisto do Colorado em bases comerciais, sobretudo por um problema ambiental - o principal aquífero da região de Piceance passa através do depósito de xisto. Mas foi ali que Vinegar desenvolveu uma técnica para baratear o custo da operação que está prestes a ser posta em prática (ver quadro a seguir).
Como tirar óleo de pedra
Extrair petróleo de xisto betuminoso é uma atividade cara e poluente. O método tradicional é o da mineração a céu aberto, cuja viabilidade econômica aumenta se a rocha estiver próxima da superfície. O xisto retirado é então aquecido entre 450°C e 500°C, para que o querogênio nele contido se converta em petróleo leve, de boa qualidade. O custo final do barril obtido por esse processo varia entre US$ 70 e US$ 100 - muito alto, numa época em que o preço do barril em Nova York ronda US$ 85.
Harold Vinegar afirma ter uma alternativa mais vantajosa, que desenvolveu para a Shell dos Estados Unidos. Ela envolve aquecedores horizontais que, colocados nos veios, trabalham a altas temperaturas, sem variações, durante meses. Com o calor liberado, as rochas circundantes levam três anos para transformar querogênio em petróleo, que pode ser bombeado para a superfície.
No projeto da IEI, os aquecedores seriam inicialmente alimentados por eletricidade obtida a partir do gás, abundante e barato nessas áreas, além de emitir quantidades relativamente baixas de gás carbônico. Depois, os aparelhos seriam substituídos por barras de sal fundido, igualmente caloríficas, uma tecnologia mais eficiente já empregada no subsolo de fábricas de produtos químicos e usinas de energia solar. Vinegar calcula que o barril de petróleo extraído dessa forma poderia custar até US$ 35.
Depois de se aposentar na Shell em 2008, Vinegar e sua mulher decidiram se mudar para Israel, onde ele pretendia lecionar. Mas o geólogo-chefe da IEI, Yuval Bartov, que o conhecia dos tempos do Colorado, tinha outros planos. Bartov convenceu o presidente da IDT, Howard Jonas, de que Vinegar era essencial para o projeto do xisto israelense e não demorou para o físico se juntar ao grupo.
Bartov e Vinegar concentram esforços numa área central de Israel, Adullam, onde o Serviço Geológico já havia identificado um veio de xisto betuminoso na década de 1980. Como a camada de rochas estava a cerca de 300 metros de profundidade, não interessou, na época. Vinegar e Bartov, porém, haviam trabalhado com essa mesma profundidade no Colorado e não a consideravam um obstáculo intransponível.
Os bons resultados das pesquisas têm mobilizado muita gente. Por um lado, a IDT, controladora da IEI, viu o preço de suas ações - que haviam baixado a US$ 0,66 na crise de 2008 - subir estratosfericamente para US$ 30 em meados deste ano. A companhia tem atraído investidores pesos-pesados, como o dono da News Corp., Rupert Murdoch, o financista britânico Jacob Rothschild, o ex-vice-presidente norte-americano Dick Cheney e o bilionário administrador de fundos Michael Steinhardt - que, aliás, é o atual presidente da IEI.
Riqueza súbita
A dependência externa israelense de petróleo e gás contrasta com a fartura dos seus vizinhos (apresentada em reservas comprovadas). Mas se forem considerados o petróleo contido no xisto betuminoso e as descobertas de gás no litoral, o país passa a figurar entre os gigantes da região.
Do outro lado, habitantes da região e ecologistas já começaram a se movimentar para dificultar ao máximo o que consideram um crime ambiental. Adullam é conhecida pelas terras férteis e uma de suas partes, o Vale de Elah (onde, segundo a Bíblia, Davi matou Golias com uma pedrada), é chamada de "Vale do Napa israelense", pelos vinhos ali produzidos. Os agricultores estão compreensivelmente preocupados com as potenciais mudanças no ecossistema deflagradas pelas operações da IEI. Um dos principais aquíferos de Israel passa 200 metros abaixo do depósito de xisto. O principal temor é que o processo de extração acabe por contaminá-lo. Bartov e Vinegar juram que não: para eles, a camada de rochas que separa as duas ocorrências é impermeável e impedirá infiltrações. Mas essa argumentação ainda é vista com muita desconfiança. A água vale tanto ou mais que petróleo em Israel.
A dependência externa israelense de petróleo e gás contrasta com a fartura dos seus vizinhos (apresentada em reservas comprovadas). Mas se forem considerados o petróleo contido no xisto betuminoso e as descobertas de gás no litoral, o país passa a figurar entre os gigantes da região.
Do outro lado, habitantes da região e ecologistas já começaram a se movimentar para dificultar ao máximo o que consideram um crime ambiental. Adullam é conhecida pelas terras férteis e uma de suas partes, o Vale de Elah (onde, segundo a Bíblia, Davi matou Golias com uma pedrada), é chamada de "Vale do Napa israelense", pelos vinhos ali produzidos. Os agricultores estão compreensivelmente preocupados com as potenciais mudanças no ecossistema deflagradas pelas operações da IEI. Um dos principais aquíferos de Israel passa 200 metros abaixo do depósito de xisto. O principal temor é que o processo de extração acabe por contaminá-lo. Bartov e Vinegar juram que não: para eles, a camada de rochas que separa as duas ocorrências é impermeável e impedirá infiltrações. Mas essa argumentação ainda é vista com muita desconfiança. A água vale tanto ou mais que petróleo em Israel.
John Brown, da Zion Oil, procura poços inspirado pela Bíblia. Até agora, sem sucesso.
"Eles estão planejando uma indústria petrolífera experimental, suja e perigosa", diz a ecologista Orit Skutelsky, da Sociedade de Proteção da Natureza de Israel. "O país não é o lugar para esse tipo de indústria, especialmente esta parte dele." Chagit Tishler, professora que mora numa cooperativa próxima de Elah, compartilha dessa visão: "Há muitas incertezas e incógnitas. Eles (o pessoal da IEI) não estão sendo completamente honestos conosco. Não queremos ser cobaias." No Canadá, a exploração do xisto betuminoso gera muitas críticas e protestos.
Vários grupos ecologistas impetraram na Justiça ações contra o prosseguimento dos trabalhos da IEI, por enquanto sem resultados palpáveis. A Suprema Corte israelense decidiu que só examinará o caso a partir de abril de 2012. Com isso, a IEI poderá iniciar ainda este ano uma nova etapa dos trabalhos: a perfuração de três poços com três metros de espaço entre eles e o aquecimento das rochas durante 270 dias, como amostra do processo in loco que resultaria na extração de 2 mil barris de petróleo por dia.
A sequência do caminho, porém, não deverá ser nada fácil: a empresa terá de obter do Ministério do Interior uma licença de permissão de uso da terra, a qual será ou não aprovada a partir da avaliação do ministro e de um comitê de planejamento, integrado por representantes do Ministério de Proteção do Meio Ambiente e de comunidades locais. Bartov prevê dificuldades: "Achamos que o ministro do Meio Ambiente não quer que esse projeto aconteça", confessa. Sua esperança é que as razões geopolíticas - e a promessa de reduzir as emissões de gases de efeito estufa na exploração do xisto - vençam a resistência. "A independência energética de Israel se tornará algo muito importante para o Estado", diz Michael Steinhardt. Nos próximos meses Israel deverá decidir qual caminho seguir nessa encruzilhada.
Tentativas frustradas
Na década de 1930, geólogos britânicos procuraram petróleo infrutiferamente nas terras que viriam a constituir o Estado judeu na década seguinte. A busca parecia perto do fim em 1955, quando uma equipe norte-americana e israelense encontrou óleo de boa qualidade no campo de Heletz-Kokhav. Mas logo a boa-nova deu lugar à desilusão: nenhum outro campo foi descoberto e a produção de Heletz-Kokhav esgotou- se ao atingir 17,5 milhões de barris (cerca de três dias de produção da Arábia Saudita). Entre 1960 e 1985, a Israel National Oil perfurou 500 poços no país. Nenhum foi bem-sucedido. Depois de virar motivo de piada, a empresa interrompeu as perfurações em 1986.
A saída de cena foi a deixa para amadores movidos por motivos religiosos. O evangélico norte-americano Jim Spillman publicou um livro em 1981, The Great Treasure Hunt (A Grande Caçada ao Tesouro), no qual vê em versos do Velho Testamento indícios da presença do líquido precioso na região. A obra estimulou um conterrâneo, John Brown, executivo de uma indústria de ferramentas, a constituir a empresa Zion Oil and Gas para se dedicar à busca, que adquiriu direitos de perfuração no norte de Israel. Mas tampouco obteve sucesso.
Revista Planeta
"Eles estão planejando uma indústria petrolífera experimental, suja e perigosa", diz a ecologista Orit Skutelsky, da Sociedade de Proteção da Natureza de Israel. "O país não é o lugar para esse tipo de indústria, especialmente esta parte dele." Chagit Tishler, professora que mora numa cooperativa próxima de Elah, compartilha dessa visão: "Há muitas incertezas e incógnitas. Eles (o pessoal da IEI) não estão sendo completamente honestos conosco. Não queremos ser cobaias." No Canadá, a exploração do xisto betuminoso gera muitas críticas e protestos.
Vários grupos ecologistas impetraram na Justiça ações contra o prosseguimento dos trabalhos da IEI, por enquanto sem resultados palpáveis. A Suprema Corte israelense decidiu que só examinará o caso a partir de abril de 2012. Com isso, a IEI poderá iniciar ainda este ano uma nova etapa dos trabalhos: a perfuração de três poços com três metros de espaço entre eles e o aquecimento das rochas durante 270 dias, como amostra do processo in loco que resultaria na extração de 2 mil barris de petróleo por dia.
A sequência do caminho, porém, não deverá ser nada fácil: a empresa terá de obter do Ministério do Interior uma licença de permissão de uso da terra, a qual será ou não aprovada a partir da avaliação do ministro e de um comitê de planejamento, integrado por representantes do Ministério de Proteção do Meio Ambiente e de comunidades locais. Bartov prevê dificuldades: "Achamos que o ministro do Meio Ambiente não quer que esse projeto aconteça", confessa. Sua esperança é que as razões geopolíticas - e a promessa de reduzir as emissões de gases de efeito estufa na exploração do xisto - vençam a resistência. "A independência energética de Israel se tornará algo muito importante para o Estado", diz Michael Steinhardt. Nos próximos meses Israel deverá decidir qual caminho seguir nessa encruzilhada.
Tentativas frustradas
Na década de 1930, geólogos britânicos procuraram petróleo infrutiferamente nas terras que viriam a constituir o Estado judeu na década seguinte. A busca parecia perto do fim em 1955, quando uma equipe norte-americana e israelense encontrou óleo de boa qualidade no campo de Heletz-Kokhav. Mas logo a boa-nova deu lugar à desilusão: nenhum outro campo foi descoberto e a produção de Heletz-Kokhav esgotou- se ao atingir 17,5 milhões de barris (cerca de três dias de produção da Arábia Saudita). Entre 1960 e 1985, a Israel National Oil perfurou 500 poços no país. Nenhum foi bem-sucedido. Depois de virar motivo de piada, a empresa interrompeu as perfurações em 1986.
A saída de cena foi a deixa para amadores movidos por motivos religiosos. O evangélico norte-americano Jim Spillman publicou um livro em 1981, The Great Treasure Hunt (A Grande Caçada ao Tesouro), no qual vê em versos do Velho Testamento indícios da presença do líquido precioso na região. A obra estimulou um conterrâneo, John Brown, executivo de uma indústria de ferramentas, a constituir a empresa Zion Oil and Gas para se dedicar à busca, que adquiriu direitos de perfuração no norte de Israel. Mas tampouco obteve sucesso.
Revista Planeta
Se achar petróleo em casa, virarei um concorrente da Petrobras?
Jones Ross
Concorrente, não. Será mais uma espécie de sócio. Segundo a legislação brasileira, todo o petróleo que está no subsolo pertence ao governo federal. Nos Estados Unidos é diferente. Quem acha petróleo (ou gás natural) no quintal de casa pode ficar milionário dependendo do tamanho da reserva encontrada, já que a exploração fica a cargo de empresas privadas. Mas o sortudo cidadão brasileiro que deparar com petróleo em sua propriedade não ficará de mãos abanando. Ao encontrar o líquido, a Agência Nacional do Petróleo (ANP) fará uma licitação para escolher a empresa que ganhará o direito de explorar a jazida. O dono do terreno fica com uma parte do dinheiro gerado pela exploração, que pode variar entre 0,5% e 1%. Pode parecer pouco, mas com o barril de petróleo na casa do US$ 70 (quase R$ 130), se a jazida produzir mil barris por dia, o dono do terreno pode faturar quase R$ 20 mil em apenas um mês.
Petróleo sob o gelo
Petróleo sob o gelo
Canadá envia expedição ao Pólo Norte para provar que a riqueza do Ártico lhe pertence historicamenteLUCIANA SGARBI
Essa é, literalmente, uma guerra fria - e como em toda guerra as grandes potências não medem esforços para conquistar um imenso território. O que está em jogo é o gelo. Para entender o motivo da disputa, no entanto, é preciso mergulhar 4,3 quilômetros nas águas do Pólo Norte, na região do Ártico, porque é lá que está o objeto da cobiça. Explica- se: segundo a agência governamental americana US Geological Survey, 25% das reservas mundiais de petróleo estão localizadas ao norte do círculo polar. Trata-se de um novo eldorado que os países costeiros (Rússia, EUA, Canadá, Noruega, Dinamarca, Finlândia, Suécia e Islândia) podem reivindicar o direito de exploração. Ali estão dez bilhões de toneladas de petróleo e gás, ou seja, um quarto das reservas de todo o planeta, o equivalente a 400 bilhões de barris. As reservas da Arábia Saudita, atualmente o maior produtor mundial, são de 262 bilhões. Tanta riqueza ainda não tem dono e o Canadá tenta conquistá-la alegando que os canais que formam a Passagem Noroeste estão em sua área territorial. Em outras palavras, o governo canadense afirma ter direito a uma boa parte do petróleo que está sob o Ártico.
Localizado em águas internacionais, o Pólo Norte, na verdade, pertence a todo o mundo - portanto, não é particularmente de ninguém. Ele está sob a tutela da Convenção Internacional do Direito do Mar (órgão da ONU), que declara serem os fundos marinhos, situados além das jurisdições nacionais, "patrimônio comum da humanidade". Segundo a convenção, cinco países com territórios dentro do Círculo Ártico (Rússia, EUA, Canadá, Noruega e Dinamarca) estão limitados a uma zona de controle econômico de 320 quilômetros ao longo de sua costa. O Canadá, no entanto, diz ter direito a uma porção maior e, para tentar comprovar a sua tese, envia agora uma expedição em busca de vestígios de navios do século XIX que teriam usado uma misteriosa rota à qual o país diz ter direito.
Era o ano de 1845 quando o inglês John Franklin e mais 128 homens, sob seu comando e a bordo dos navios Erebus e Terror, foram vistos pela última vez ao tentarem encontrar a mítica Passagem Noroeste, capaz de encurtar a rota entre Atlântico e Pacífico. Eles desapareceram e até hoje esse é um dos grandes mistérios da conquista do Ártico. Essa tal rota jamais pôde ser explorada por causa das calotas polares, mas, agora, como as geleiras estão derretendo em decorrência do aquecimento global, torna-se mais viável a possibilidade de se explorar a região. Passados 150 anos, a Passagem Noroeste parece mais acessível do que nunca e há estimativas de especialistas de que até o verão de 2015 toda a sua área estará degelada. O envio da expedição foi anunciado pelo ministro do Meio Ambiente do Canadá, John Baird, com ares triunfais e bom humor: "Somos capazes de rivalizar com as aventuras de Indiana Jones." O principal objetivo da missão é desvendar o mistério do desaparecimento dos navios de Franklin, uma vez que, se forem encontrados vestígios das embarcações e ficar provado que ele de fato explorou a região onde hoje se sabe haver petróleo, é considerável ponto a mais para o governo canadense afirmar que o Ártico é seu. 03.Set.08
Revista ISTO É
Canadá envia expedição ao Pólo Norte para provar que a riqueza do Ártico lhe pertence historicamenteLUCIANA SGARBI
Essa é, literalmente, uma guerra fria - e como em toda guerra as grandes potências não medem esforços para conquistar um imenso território. O que está em jogo é o gelo. Para entender o motivo da disputa, no entanto, é preciso mergulhar 4,3 quilômetros nas águas do Pólo Norte, na região do Ártico, porque é lá que está o objeto da cobiça. Explica- se: segundo a agência governamental americana US Geological Survey, 25% das reservas mundiais de petróleo estão localizadas ao norte do círculo polar. Trata-se de um novo eldorado que os países costeiros (Rússia, EUA, Canadá, Noruega, Dinamarca, Finlândia, Suécia e Islândia) podem reivindicar o direito de exploração. Ali estão dez bilhões de toneladas de petróleo e gás, ou seja, um quarto das reservas de todo o planeta, o equivalente a 400 bilhões de barris. As reservas da Arábia Saudita, atualmente o maior produtor mundial, são de 262 bilhões. Tanta riqueza ainda não tem dono e o Canadá tenta conquistá-la alegando que os canais que formam a Passagem Noroeste estão em sua área territorial. Em outras palavras, o governo canadense afirma ter direito a uma boa parte do petróleo que está sob o Ártico.
Localizado em águas internacionais, o Pólo Norte, na verdade, pertence a todo o mundo - portanto, não é particularmente de ninguém. Ele está sob a tutela da Convenção Internacional do Direito do Mar (órgão da ONU), que declara serem os fundos marinhos, situados além das jurisdições nacionais, "patrimônio comum da humanidade". Segundo a convenção, cinco países com territórios dentro do Círculo Ártico (Rússia, EUA, Canadá, Noruega e Dinamarca) estão limitados a uma zona de controle econômico de 320 quilômetros ao longo de sua costa. O Canadá, no entanto, diz ter direito a uma porção maior e, para tentar comprovar a sua tese, envia agora uma expedição em busca de vestígios de navios do século XIX que teriam usado uma misteriosa rota à qual o país diz ter direito.
Era o ano de 1845 quando o inglês John Franklin e mais 128 homens, sob seu comando e a bordo dos navios Erebus e Terror, foram vistos pela última vez ao tentarem encontrar a mítica Passagem Noroeste, capaz de encurtar a rota entre Atlântico e Pacífico. Eles desapareceram e até hoje esse é um dos grandes mistérios da conquista do Ártico. Essa tal rota jamais pôde ser explorada por causa das calotas polares, mas, agora, como as geleiras estão derretendo em decorrência do aquecimento global, torna-se mais viável a possibilidade de se explorar a região. Passados 150 anos, a Passagem Noroeste parece mais acessível do que nunca e há estimativas de especialistas de que até o verão de 2015 toda a sua área estará degelada. O envio da expedição foi anunciado pelo ministro do Meio Ambiente do Canadá, John Baird, com ares triunfais e bom humor: "Somos capazes de rivalizar com as aventuras de Indiana Jones." O principal objetivo da missão é desvendar o mistério do desaparecimento dos navios de Franklin, uma vez que, se forem encontrados vestígios das embarcações e ficar provado que ele de fato explorou a região onde hoje se sabe haver petróleo, é considerável ponto a mais para o governo canadense afirmar que o Ártico é seu. 03.Set.08
Revista ISTO É
Guerra gelada
Guerra gelada
O aquecimento global derreteu o gelo do Ártico. E liberou um tesouro disputado por alguns dos países mais ricos do mundopor Vinicius Cherobino
Lá no topo do hemisfério Norte, onde centenas de ilhas pontilham um oceano quase sempre congelado, a rotina não é muito empolgante. A temperatura chega a -50°C, quase não há luz do sol por 5 meses e os 300 mil nativos vivem de caça e pesca. Um tédio esse Ártico. Mas vai continuar assim por pouco tempo. Militares, cientistas e empresas começaram a desembarcar na região para iniciar uma colonização em pleno século 21, talvez a última aventura do tipo para o homem neste planeta. Querem um tesouro recentemente aberto. E ainda sem dono.
Debaixo do gelo do Ártico há petróleo suficiente para encher 83 bilhões de barris. É o triplo do estimado para o pré-sal brasileiro. Tem também gás natural para abastecer o planeta todo por 14 anos. Isso dá ao Ártico 20% dos combustíveis fósseis ainda não explorados no mundo. E não para por aí: há minérios como ferro, carvão, urânio. E ouro. E diamantes. De olho na riqueza, Canadá, Estados Unidos, Noruega, Rússia e Groenlândia estão investindo em expedições científicas, propaganda, pressão militar e discussão diplomática para dividir a região. A última partilha de território dessa proporção aconteceu na virada para o século 20, quando europeus retalharam a África no auge do colonialismo.
A reserva ficou intacta até hoje porque era inalcançável. Além do frio rigoroso, dos longos dias com poucas horas de claridade, dos ventos fortes, o Ártico tem boa parte da extensão congelada. E o gelo impede uma exploração econômica de larga escala. Por isso, o máximo que os países vizinhos faziam era se alfinetar. Canadá e Dinamarca disputam há décadas a posse da ilha Hans, uma ilhota de 1,3 km2. Nada de agressivo. Só deixavam lá algo para marcar território. Começou com bandeiras, depois a disputa ficou mais informal. "Dinamarqueses deixam uma garrafa de schnapps [bebida típica do país]. Os canadenses, uma garrafa do tradicional uísque Canadian Club, com um cartaz que diz ‘Bem-vindo ao Canadá’", afirma o advogado responsável pelo Ministério das Relações Exteriores da Dinamarca, Peter Taksoe-Jensen.
O que aqueceu a briga foi o aquecimento global (com o perdão do trocadilho). Em janeiro de 2011, a extensão de gelo no Ártico era de 13,5 milhões de quilômetros quadrados, a menor para o mês desde o início dos registros, em 1979, pelo Centro de Dados sobre Gelo e Neve da Universidade de Colorado, em Boulder, nos EUA. E o gelo que sobrou chega a ser 40% mais fino dependendo da área.
Com menos gelo, o Ártico tornou-se finalmente acessível à exploração econômica de larga escala. Bem na hora em que o mundo mais precisa. Entre 1999 e 2011, o petróleo saltou de US$ 17 para US$ 115 por barril. Nas poucas novas reservas encontradas, como o pré-sal brasileiro, a exploração é difícil e cara. E nos maiores países produtores, no Norte da África e no Oriente Médio, a instabilidade política é uma ameaça ao suprimento.
Além disso, o aquecimento liberou uma passagem marítima ligando a Ásia à América do Norte e à Europa que é 7 mil metros mais curta do que o canal do Panamá, na América Central (veja mais no quadro ao lado). Isso significa um caminho menor para os navios que transportam mercadorias. "As perspectivas de exploração do Ártico foram de implausíveis para aparentemente inevitáveis", diz Barry Scott Zellen, aventureiro e estudioso do Ártico, no livro Arctic Doom, Arctic Boom (sem tradução em português). "Se, ou melhor, quando isso ocorrer, será a descoberta de um novo mundo que ficou oculto para o uso por longo tempo por causa do gelo e do frio."
Há muito em jogo. Mas o conflito pela posse vinha meio morno até 2007, quando a briga ficou acirrada. Artur Chilingarov, parlamentar russo e explorador polar, concluiu uma expedição ao chão oceânico do polo Norte fincando lá uma bandeira da Rússia. A ação foi vista como uma tentativa russa de reivindicar o controle da região. "Não estamos no século 15. Ninguém pode sair dizendo ‘Este território é meu’", afirmou na época à imprensa Peter MacKay, então ministro canadense das Relações Exteriores.
Foi dada a largada
MacKay pode até estar certo, mas depois disso cada país correu, sim, para garantir o seu. Em março, dois submarinos dos EUA estiveram no Ártico fazendo exercícios. "Demonstrar a presença dos Estados Unidos é importante", disse na ocasião Christopher Colvin, almirante da guarda costeira do país, à agência de notícias Reuters, ressaltando que os russos vêm aumentando sua presença no Ártico.
Em 2009, dois bombardeiros russos Tupolev TU-95 foram descobertos pelos radares da Otan sobrevoando o polo Norte e chegando ao mar de Beaufort (em disputa por Canadá e EUA). Dois aviões canadenses tentaram interceptá-los. No fim, tudo foi resolvido amigavelmente. Mas essa foi apenas uma entre várias sondagens no Ártico feitas por seus vizinhos. A ilha Hans, por exemplo, é sobrevoada constantemente por dinamarqueses e canadenses, o que já fez a imprensa canadense publicar editoriais com nomes como O Retorno dos Vikings.
As empresas também estão correndo atrás. Em janeiro de 2011, a britânica BP fechou um acordo com a Rosneft, estatal russa de petróleo. As duas pretendem explorar juntas o petróleo em águas da Rússia (o acordo está sob avaliação de órgãos reguladores). No fim de 2010, a escocesa Cairn Energy ganhou autorização da Groenlândia para fazer testes de perfuração ao norte da ilha. E a Noruega prepara leilão para liberar exploração em suas águas. Nesse ritmo, o petróleo do Ártico poderá chegar às bombas de combustível do hemisfério Norte em 10 anos, segundo as companhias envolvidas na exploração.
Enquanto isso, os países tentam ganhar suas batalhas nos tribunais. A divisão da região entre as nações que fazem fronteira está longe de ser consensual. Ao contrário da Antártica (que é uma massa de terra cercada por oceanos), o Ártico é composto principalmente de oceanos. E as discussões sobre quem é dono de uma parcela de água são mais complicadas do que para parcelas de terra. O debate é regulado por uma norma da ONU de 1982, a Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do Mar (CDM). Por essa lei, um país pode explorar economicamente os recursos naturais e os combustíveis fósseis que estiverem a até 370 quilômetros de sua costa.
Mas há uma brecha na legislação. Se um país reunir evidências geológicas de que sua plataforma continental se estende por mais de 370 quilômetros, ganha uma lambuja: pode explorar com exclusividade uma área até 648 quilômetros distante da costa. (Plataforma continental é a borda do continente, que segue por baixo do mar.) Esse é o argumento que os países interessados no Ártico preparam para apresentar no Tribunal Internacional para a Lei do Mar, da ONU. Noruega e Rússia já entregam provas a seu favor desde 2006 e 2007, respectivamente, e têm até 2014 para concluir a argumentação. O mesmo vale para a Dinamarca, representando a Groenlândia. O Canadá vai ao tribunal em 2013.
Os debates acontecem ainda no Conselho do Ártico, do qual fazem parte EUA, Canadá, Dinamarca, Noruega, Rússia, Islândia, Suécia e Finlândia. Com reuniões semestrais, o órgão serve para lavar a roupa suja em casa. No último encontro, os membros assinaram uma declaração garantindo que negociações serão feitas exaustivamente para evitar conflitos. "Os países se comprometeram a resolver todas as disputas por acordos. Somos bons vizinhos", diz Ole Samsing, representante da presidência do Conselho do Ártico.
A garantia dos países envolvidos de que não haverá conflito não está escrita em pedra. Os EUA partiram para a segunda guerra do Iraque, por exemplo, contra um veto do conselho de segurança da ONU. (E o país até hoje nem ratificou a Convenção sobre o Direito do Mar.) A importância dos recursos no Ártico é mais do que suficiente para manter a tensão.
Outra questão que deve gerar discussão é a ambiental. "Colocar mais pressão nessa região, que já sofre com o aquecimento global, aumenta o risco de colapso do ecossistema inteiro", afirma Katherine Richardson, professora de oceanografia da Universidade de Copenhague, na Dinamarca. Para Katherine, coordenadora de um trabalho do governo dinamarquês para buscar alternativas a combustíveis fósseis, mudanças no ambiente do Ártico podem ser letais para plantas, animais e pessoas que se acostumaram a viver lá. Como última fronteira de fato inexplorada da Terra, o Ártico é o palco de uma batalha ainda sem desfecho claro.
Canadá X EUA - Mar de BeaufortBriga por 21,4 km2 do oceano, travada na ONU. Canadá e EUA argumentam que suas plataformas continentais chegam até a área em questão.
Canadá x EUA e europeus - Passagem do noroeste
Caminho entre Ásia e Atlântico mais curto do que a rota pelo canal do Panamá. E mais profundo, o que permite a navegação de porta-aviões. O Canadá defende na ONU que a passagem está em suas águas. EUA e outros países dizem que a rota é internacional.
Canadá x Dinamarca - Ilha Hans
Única faixa de terra no Ártico disputada. É pleiteada pelos dois países desde 1933. Hoje o processo corre na ONU.
Groenlândia Independente x Dinamarca - Groenlândia
Controlada há dois séculos pela Dinamarca, a Groenlândia quer a independência. A autonomia depende de um referendo popular.
Noruega x Rússia - Mar de Barents
Após 40 anos de debates, os dois países fizeram um acordo em setembro de 2010 criando uma fronteira no mar. Até então havia uma moratória para exploração de petróleo e gás.
Para saber maisArctic Doom, Arctic Boom
Barry Scott Zellen, Praeger, 2009
Who Owns the Arctic
Michael Byers, Douglas & McIntyre, 2010
Revista Superinteressante
O aquecimento global derreteu o gelo do Ártico. E liberou um tesouro disputado por alguns dos países mais ricos do mundopor Vinicius Cherobino
Lá no topo do hemisfério Norte, onde centenas de ilhas pontilham um oceano quase sempre congelado, a rotina não é muito empolgante. A temperatura chega a -50°C, quase não há luz do sol por 5 meses e os 300 mil nativos vivem de caça e pesca. Um tédio esse Ártico. Mas vai continuar assim por pouco tempo. Militares, cientistas e empresas começaram a desembarcar na região para iniciar uma colonização em pleno século 21, talvez a última aventura do tipo para o homem neste planeta. Querem um tesouro recentemente aberto. E ainda sem dono.
Debaixo do gelo do Ártico há petróleo suficiente para encher 83 bilhões de barris. É o triplo do estimado para o pré-sal brasileiro. Tem também gás natural para abastecer o planeta todo por 14 anos. Isso dá ao Ártico 20% dos combustíveis fósseis ainda não explorados no mundo. E não para por aí: há minérios como ferro, carvão, urânio. E ouro. E diamantes. De olho na riqueza, Canadá, Estados Unidos, Noruega, Rússia e Groenlândia estão investindo em expedições científicas, propaganda, pressão militar e discussão diplomática para dividir a região. A última partilha de território dessa proporção aconteceu na virada para o século 20, quando europeus retalharam a África no auge do colonialismo.
A reserva ficou intacta até hoje porque era inalcançável. Além do frio rigoroso, dos longos dias com poucas horas de claridade, dos ventos fortes, o Ártico tem boa parte da extensão congelada. E o gelo impede uma exploração econômica de larga escala. Por isso, o máximo que os países vizinhos faziam era se alfinetar. Canadá e Dinamarca disputam há décadas a posse da ilha Hans, uma ilhota de 1,3 km2. Nada de agressivo. Só deixavam lá algo para marcar território. Começou com bandeiras, depois a disputa ficou mais informal. "Dinamarqueses deixam uma garrafa de schnapps [bebida típica do país]. Os canadenses, uma garrafa do tradicional uísque Canadian Club, com um cartaz que diz ‘Bem-vindo ao Canadá’", afirma o advogado responsável pelo Ministério das Relações Exteriores da Dinamarca, Peter Taksoe-Jensen.
O que aqueceu a briga foi o aquecimento global (com o perdão do trocadilho). Em janeiro de 2011, a extensão de gelo no Ártico era de 13,5 milhões de quilômetros quadrados, a menor para o mês desde o início dos registros, em 1979, pelo Centro de Dados sobre Gelo e Neve da Universidade de Colorado, em Boulder, nos EUA. E o gelo que sobrou chega a ser 40% mais fino dependendo da área.
Com menos gelo, o Ártico tornou-se finalmente acessível à exploração econômica de larga escala. Bem na hora em que o mundo mais precisa. Entre 1999 e 2011, o petróleo saltou de US$ 17 para US$ 115 por barril. Nas poucas novas reservas encontradas, como o pré-sal brasileiro, a exploração é difícil e cara. E nos maiores países produtores, no Norte da África e no Oriente Médio, a instabilidade política é uma ameaça ao suprimento.
Além disso, o aquecimento liberou uma passagem marítima ligando a Ásia à América do Norte e à Europa que é 7 mil metros mais curta do que o canal do Panamá, na América Central (veja mais no quadro ao lado). Isso significa um caminho menor para os navios que transportam mercadorias. "As perspectivas de exploração do Ártico foram de implausíveis para aparentemente inevitáveis", diz Barry Scott Zellen, aventureiro e estudioso do Ártico, no livro Arctic Doom, Arctic Boom (sem tradução em português). "Se, ou melhor, quando isso ocorrer, será a descoberta de um novo mundo que ficou oculto para o uso por longo tempo por causa do gelo e do frio."
Há muito em jogo. Mas o conflito pela posse vinha meio morno até 2007, quando a briga ficou acirrada. Artur Chilingarov, parlamentar russo e explorador polar, concluiu uma expedição ao chão oceânico do polo Norte fincando lá uma bandeira da Rússia. A ação foi vista como uma tentativa russa de reivindicar o controle da região. "Não estamos no século 15. Ninguém pode sair dizendo ‘Este território é meu’", afirmou na época à imprensa Peter MacKay, então ministro canadense das Relações Exteriores.
Foi dada a largada
MacKay pode até estar certo, mas depois disso cada país correu, sim, para garantir o seu. Em março, dois submarinos dos EUA estiveram no Ártico fazendo exercícios. "Demonstrar a presença dos Estados Unidos é importante", disse na ocasião Christopher Colvin, almirante da guarda costeira do país, à agência de notícias Reuters, ressaltando que os russos vêm aumentando sua presença no Ártico.
Em 2009, dois bombardeiros russos Tupolev TU-95 foram descobertos pelos radares da Otan sobrevoando o polo Norte e chegando ao mar de Beaufort (em disputa por Canadá e EUA). Dois aviões canadenses tentaram interceptá-los. No fim, tudo foi resolvido amigavelmente. Mas essa foi apenas uma entre várias sondagens no Ártico feitas por seus vizinhos. A ilha Hans, por exemplo, é sobrevoada constantemente por dinamarqueses e canadenses, o que já fez a imprensa canadense publicar editoriais com nomes como O Retorno dos Vikings.
As empresas também estão correndo atrás. Em janeiro de 2011, a britânica BP fechou um acordo com a Rosneft, estatal russa de petróleo. As duas pretendem explorar juntas o petróleo em águas da Rússia (o acordo está sob avaliação de órgãos reguladores). No fim de 2010, a escocesa Cairn Energy ganhou autorização da Groenlândia para fazer testes de perfuração ao norte da ilha. E a Noruega prepara leilão para liberar exploração em suas águas. Nesse ritmo, o petróleo do Ártico poderá chegar às bombas de combustível do hemisfério Norte em 10 anos, segundo as companhias envolvidas na exploração.
Enquanto isso, os países tentam ganhar suas batalhas nos tribunais. A divisão da região entre as nações que fazem fronteira está longe de ser consensual. Ao contrário da Antártica (que é uma massa de terra cercada por oceanos), o Ártico é composto principalmente de oceanos. E as discussões sobre quem é dono de uma parcela de água são mais complicadas do que para parcelas de terra. O debate é regulado por uma norma da ONU de 1982, a Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do Mar (CDM). Por essa lei, um país pode explorar economicamente os recursos naturais e os combustíveis fósseis que estiverem a até 370 quilômetros de sua costa.
Mas há uma brecha na legislação. Se um país reunir evidências geológicas de que sua plataforma continental se estende por mais de 370 quilômetros, ganha uma lambuja: pode explorar com exclusividade uma área até 648 quilômetros distante da costa. (Plataforma continental é a borda do continente, que segue por baixo do mar.) Esse é o argumento que os países interessados no Ártico preparam para apresentar no Tribunal Internacional para a Lei do Mar, da ONU. Noruega e Rússia já entregam provas a seu favor desde 2006 e 2007, respectivamente, e têm até 2014 para concluir a argumentação. O mesmo vale para a Dinamarca, representando a Groenlândia. O Canadá vai ao tribunal em 2013.
Os debates acontecem ainda no Conselho do Ártico, do qual fazem parte EUA, Canadá, Dinamarca, Noruega, Rússia, Islândia, Suécia e Finlândia. Com reuniões semestrais, o órgão serve para lavar a roupa suja em casa. No último encontro, os membros assinaram uma declaração garantindo que negociações serão feitas exaustivamente para evitar conflitos. "Os países se comprometeram a resolver todas as disputas por acordos. Somos bons vizinhos", diz Ole Samsing, representante da presidência do Conselho do Ártico.
A garantia dos países envolvidos de que não haverá conflito não está escrita em pedra. Os EUA partiram para a segunda guerra do Iraque, por exemplo, contra um veto do conselho de segurança da ONU. (E o país até hoje nem ratificou a Convenção sobre o Direito do Mar.) A importância dos recursos no Ártico é mais do que suficiente para manter a tensão.
Outra questão que deve gerar discussão é a ambiental. "Colocar mais pressão nessa região, que já sofre com o aquecimento global, aumenta o risco de colapso do ecossistema inteiro", afirma Katherine Richardson, professora de oceanografia da Universidade de Copenhague, na Dinamarca. Para Katherine, coordenadora de um trabalho do governo dinamarquês para buscar alternativas a combustíveis fósseis, mudanças no ambiente do Ártico podem ser letais para plantas, animais e pessoas que se acostumaram a viver lá. Como última fronteira de fato inexplorada da Terra, o Ártico é o palco de uma batalha ainda sem desfecho claro.
Canadá X EUA - Mar de BeaufortBriga por 21,4 km2 do oceano, travada na ONU. Canadá e EUA argumentam que suas plataformas continentais chegam até a área em questão.
Canadá x EUA e europeus - Passagem do noroeste
Caminho entre Ásia e Atlântico mais curto do que a rota pelo canal do Panamá. E mais profundo, o que permite a navegação de porta-aviões. O Canadá defende na ONU que a passagem está em suas águas. EUA e outros países dizem que a rota é internacional.
Canadá x Dinamarca - Ilha Hans
Única faixa de terra no Ártico disputada. É pleiteada pelos dois países desde 1933. Hoje o processo corre na ONU.
Groenlândia Independente x Dinamarca - Groenlândia
Controlada há dois séculos pela Dinamarca, a Groenlândia quer a independência. A autonomia depende de um referendo popular.
Noruega x Rússia - Mar de Barents
Após 40 anos de debates, os dois países fizeram um acordo em setembro de 2010 criando uma fronteira no mar. Até então havia uma moratória para exploração de petróleo e gás.
Para saber maisArctic Doom, Arctic Boom
Barry Scott Zellen, Praeger, 2009
Who Owns the Arctic
Michael Byers, Douglas & McIntyre, 2010
Revista Superinteressante
Vazamento é pior já visto na Nova Zelândia
Agência Brasil
Agência Brasil
O vazamento de petróleo de um navio que ficou preso em uma barreira de corais na Nova Zelândia se tornou o pior acidente ambiental marítimo da história do país, segundo o governo. Até 350 toneladas de óleo podem ter sido despejadas no mar desde o dia 5 - totalizando1,7 mil toneladas a bordo do navio Rena.
O vazamento já atingiu 6 quilômetros de praias na Baía de Plenty, afetando pássaros e pinguins em uma região famosa por sua beleza natural. Uma operação para remover o petróleo da embarcação teve de ser suspensa por causa do mau tempo.
A Baía de Plenty é considerada um paraíso pelos neozelandesas. As terras da região são consideradas fertéis e nelas são produzidas frutas tropicais, como kiwis, que são exportados. O verão costuma ser úmido e quente, com temperaturas em torno de 30 graus Celsius (ºC). No inverno, a temperatura atinge 15ºC.
Na baía, está o Parque Nacional de Urewera, onde existe um bosque com uma das maiores colônias de aves da Nova Zelândia. Nessa área também há a tribo dos jovens Maori e o Lago Waikaremoana.
Como o ocidente foi perfurado
Areias canadenses
Em 1999, o Canadá ultrapassou a Arábia Saudita como a maior fonte de importações de petróleo dos Estados Unidos e, atualmente, metade da produção de petróleo do país provém das chamadas areias petrolíferas ou betuminosas de Alberta: uma forma de petróleo encontrada numa mistura de areia, argila e betume que é explorada em minas ou extraída pelo bombeamento de vapor em poços. A Agência de Informações Energéticas do Departamento de Energia dos EUA prevê que a produção das areias petrolíferas do Canadá dobrará nos próximos cinco anos, acrescentando 1,3 milhão de barris por dia ao total. Mas a produção de petróleo de areias betuminosas é um negócio complexo e poluente; segundo a Agência de Proteção Ambiental americana, o processo de extração produz 82% mais emissões que a extração de petróleo convencional. Autoridades e executivos de companhias petrolíferas canadenses argumentaram que esses temores são exagerados - e, de fato, cálculos externos confiáveis encontraram impactos bem menores, mais próximos de 17% maiores que os do petróleo convencional. Os defensores das areias petrolíferas viram uma abertura, porém, no perpétuo nervosismo dos americanos sobre sua dependência de regimes autocráticos (bem como do Oriente Médio) e têm defendido cada vez mais o petróleo canadense como uma alternativa ao "petróleo de conflito". A proposta de construção do oleoduto Keystone XL, de 2,7 mil quilômetros, ligando as areias betuminosas de Alberta às refinarias do Golfo do México tornou-se o tema de uma batalha indireta sobre a sabedoria do desenvolvimento das areias betuminosas. Em junho, o Departamento dos Transportes dos EUA ordenou que um oleoduto irmão menor suspendesse as operações após uma série de vazamentos. Mas as companhias envolvidas no projeto dizem que vão exportar o petróleo, com ou sem o oleoduto.
Em agosto de 2005, geólogos brasileiros descobriram os primeiros traços de petróleo na Bacia de Santos. O petróleo está no que se conhece como uma reserva de pré-sal: um depósito localizado a uma profundidade de até 7 quilômetros, diretamente abaixo de uma camada de sal comprimido. Isso significa perfuração de petróleo no que ela tem de mais complexa, só executável na última década e graças a avanços na tecnologia, e somente com a expertise das maiores companhias petrolíferas do mundo (que mostraram muito interesse). Mas a recompensa potencial é imensa. O maior campo conhecido na Bacia de Santos - batizado como Lula em 2010 - é a descoberta de petróleo mais significativa na América Latina em muitas décadas. Geólogos acreditam que a bacia como um todo - ela própria apenas uma de várias perspectivas promissoras no pré-sal - poderia conter até 50 bilhões de barris de petróleo e gás, o suficiente para situar firmemente o Brasil entre os dez maiores produtores de petróleo do mundo. A produção atual (que ainda está no estágio de teste) é uma relativa bagatela - 36 mil barris por dia -, mas a Petrobrás vai investir quase US$ 33 bilhões em projetos do pré-sal nos próximos cinco anos, em antecipação da fartura que virá.
Acredita-se que haja uma fartura de hidrocarbonetos igual a todo o petróleo da Noruega e o gás natural do Canadá juntos embaixo das águas americanas no Golfo do México - e o desastre catastrófico com a plataforma Deepwater Horizon no ano passado provavelmente não será mais que um pequeno empecilho na corrida para explorá-la. O governo do presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, impôs uma moratória à perfuração em águas profundas depois que a explosão da plataforma provocou um vazamento de três meses e 4,9 milhões de barris - o pior da história americana -, mas a proibição foi levantada nesta primavera americana após a criação de novos regulamentos. Embora algumas áreas permaneçam interditadas, novas permissões começaram a ser concedidas em fevereiro. Até a BP, a companhia responsável pelo vazamento, está voltando ao jogo.
Petróleo de xisto
Foi o gás natural que originalmente provocou o interesse das empresas de petróleo pela formação de xisto de Eagle Ford, no sul do Texas. Mas, nos dois últimos anos, à medida que os preços do petróleo subiam gradualmente aos picos do começo de 2008, os produtores voltaram sua atenção para as reservas de petróleo de xisto no Estado da Estrela Solitária (Texas), que é extraído de formações rochosas com a polêmica técnica do fraturamento hidráulico. O Eagle Ford está produzindo atualmente 71 mil barris diários, mas a produção deve quintuplicar até 2015. Ainda mais extraordinária é a formação de xisto de Bakken, no subsolo de Dakota do Norte, Montana e Saskatchewan, que a US Geological Survey acredita que contenha entre 3 bilhões e 4,3 bilhões de barris de petróleo recuperável - 25 vezes o que geólogos acreditavam há uma década e meia. Há também o xisto de Niobrara, no Wyoming, que contém estimados 2 bilhões de barris de petróleo.
Xisto betuminoso
Geólogos sabem como extrair petróleo de xisto betuminoso (curiosamente, não é a mesma coisa que petróleo de xisto; o primeiro é o petróleo retido nas formações de rocha densas, mas porosas; o segundo é o petróleo realmente encontrado na própria rocha) desde 1830. O problema tem sido o custo. As companhias de petróleo tentaram fazê-lo no Colorado nos anos 70 e 80, mas o esforço terminou num desperdício multibilionário. Os preços do petróleo intermitentemente altos da última década, porém, trouxeram gigantes do petróleo, como a Shell, de volta ao que seria a maior reserva de petróleo do mundo, se ela puder descobrir como explorá-la lucrativamente. Os recursos de xisto betuminoso de Mountain West são três vezes maiores que as reservas de petróleo provadas da Arábia Saudita. Os esforços passados para obter o xisto betuminoso da região envolveram a mineração a céu aberto, uma técnica que se mostrou ambientalmente destrutiva e proibitivamente cara. Desta vez, o plano ambicioso da Shell envolve realmente aquecer a própria terra para transformar o querogênio - um composto químico incrustado na rocha - em petróleo e gás passíveis de extração. / TRADUÇÃO DE CELSO PACIORNIK
Jornal O Estado de S.Paulo
xisto betuminoso não vale nada.
ResponderExcluirA extração é suja e caríssima. As únicas reservas de gás da Palestina estão no mar de Gaza e foram registradas por Arafat no nome do Hamaz.
Israel nada tem.